>ELIZABETH<
O choro começou suave, quase imperceptível, mas logo se transformou em algo mais profundo, como uma tempestade interna que não conseguia mais segurar.Sentada na beira da cama, com as mãos no rosto, as lágrimas escorriam sem parar. O peso da decisão que tomei, do término com Patrício, me esmagava, mas algo dentro de mim, uma voz que insistia em ser racional, tentava me convencer de que havia sido a escolha certa.Eu não poderia ser egoísta.Porém, a dor, a saudade de Patrício, o vazio de não tê-lo mais perto, era avassaladora. Eu o amava com todo o meu ser, mas as palavras de Estela... a forma como ela me ameaçava de forma sutil e oculta.As dificuldades entre nós, tudo parecia me empurrar para essa decisão. Eu queria que as coisas fossem diferentes.Eu queria acreditar que tudo poderia dar certo, mas não era mais assim. Eu não sabia como o destino poderia ser tão cruel ao ponto de armar essa armadilha, mas algo tinha se quebrado, e talvez>ELIZABETHQue ironia eu estava tentando reconstruir algo que estava em ruínas. Reconstruir algo para o bem de alguém que me fez tão mal.— Eu... não sei se fiz a coisa certa, mãe. Eu ainda o amo, mas eu tenho medo de que Allan nunca o perdoe. Eu tenho medo de que Estela possa fazer uma loucura por ciúmes — Minhas palavras saíram com dificuldade, como se cada sílaba fosse um peso.— Filha, eu não posso te prometer que isso é a decisão certa, mas posso dizer que é amor, você está abrindo mão de alguém que gosta porque acha que isso é o certo. É também importante saber quando é hora de dar um passo atrás e você decidiu que esse é o momento. Às vezes, essas coisas acontecem porque o amor precisa de espaço para se curar, para amadurecer, e esse espaço é fundamental para que ambos possam encontrar a verdadeira felicidade. Eu sei que você tem o coração grande, Liz, e é por isso que está sofrendo. Mas, ao tomar essa decisão, você está se cuidando e tentando cuidar deles
>ELIZABETHAo menos, essa situação me ensinou algo. Ela me ensinou o valor de amar alguém de verdade, ao ponto de colocá-lo em primeiro lugar, de ser fiel aos meus próprios sentimentos, e, acima de tudo, de me amar.O choro começou a cessar, e, pela primeira vez desde o término, uma pequena paz tomou conta de mim. Eu ainda tinha um longo caminho pela frente, mas sabia que não estava sozinha. Minha mãe, minhas amigas e, acima de tudo, eu mesma. Eu encontraria meu caminho novamente.— Eu vou conseguir, mãe. Eu sei que vou — disse finalmente, minha voz mais firme, apesar da dor ainda presente.Ela sorriu suavemente, me beijando a testa, antes de se levantar. — Eu sei que vai, meu amor. Agora, descanse. Você merece.Eu fechei os olhos, sentindo a leveza que vinha do apoio da minha mãe, e sabia que, mesmo que o caminho fosse difícil, eu não estava sozinha. Eu tinha a mim mesma, e isso deveria ser o suficiente para me fazer seguir em frente.Eu
>ELIZABETHOs dias se arrastaram pesados, como se o tempo se arrastasse lentamente, sem me dar nenhuma chance de respirar. Eu sabia que precisava tomar uma decisão, mas o medo de enfrentar Patrício novamente me paralisava. O que acontecia entre nós estava além de qualquer explicação simples. Eu não podia mais continuar naquele ambiente, naquele lugar que só me lembrava do que estava perdido, do que foi destruído entre nós.E se para Allan voltar eu teria que sair completamente da vida de Patrício, assim seria.Eu sabia que o afastamento era necessário, não só para ele, mas também para mim. Eu precisava estar em paz comigo mesma, mas eu jamais estaria sabendo que tive a chance de trazer Allan de volta e desperdicei.O peso das minhas emoções, da dor do término, da perda de algo que parecia tão certo e, de repente, se despedaçou diante dos meus olhos, estava me consumindo. Eu precisava de distância. Distância física e emocional. O medo de ver Patrí
>ELIZABETHEu sabia que, ao enviar aquele e-mail, estaria cortando mais um laço com o passado, mas era o que eu precisava fazer. Não queria mais ver Patrício naquele ambiente, se eu o visse acharia cedendo. Eu não poderiaNão queria mais encarar a dor de estar perto dele, sabendo que nossa história havia acabado de uma maneira que eu não havia planejado.Com um suspiro profundo, cliquei em "enviar". O som do clique pareceu o estalo de um livro sendo fechado, o fim de um capítulo que eu não sabia se era capaz de virar. Mas eu precisava fazer isso. Não podia mais viver no meio dessa dor, desse labirinto de sentimentos confusos.Levantei-me da cadeira, o corpo exausto, e caminhei até a janela. O céu estava nublado, e uma leve brisa batia nas árvores, mas eu não conseguia me concentrar na paisagem. Tudo parecia distante. Eu me sentia desconectada de tudo. Minha mente estava longe dali, pensando em como seguir adiante. Como reconstruir
>PATRÍCIOOs dias estavam escuros. Não havia mais o brilho que costumava existir nos momentos que compartilhava com Liz, nem o som de Allan andando pela casa. Eu sentia falta até de nossas brigas.Eu não sabia mais o que fazer, eu já havia procurado por ele em todos os lugares.O vazio era esmagador, e, embora eu tentasse manter a aparência de normalidade, era impossível enganar a mim mesmo. Tudo o que eu conhecia estava desmoronando. Minha casa, meu filho, minha vida com Liz... tudo parecia estar se desintegrando, se afastando de mim.Eu não queria pensar no que havia acontecido entre mim e Liz. Não queria me lembrar do peso do término, da dor de vê-la se afastando, de saber que ela não queria viver comigo , que não via mais a possibilidade de construirmos o que havíamos planejando. Eu me culpava o tempo todo. Sabia que tudo aquilo tinha sido meu erro, meu egoísmo, minha incapacidade de agir com clareza. Eu me sentia vazio, sem forças para
>PATRÍCIOFoi quando Fernando, preocupado, resolveu me procurar. Ele sabia que algo estava errado. Quando apareceu em minha porta, me encontrou como eu estava: mal, desleixado, com a cara fechada e os olhos embaçados pela bebida.— Patrício, você está bem? — Fernando perguntou, preocupado, ao entrar na casa. Ele me viu, o semblante cansado, os olhos vermelhos e o copo de uísque vazio na mesa.Eu olhei para ele, tentando parecer que estava bem, mas eu não conseguia esconder nada. A dor era evidente, e ele sabia disso.— Estou... estou tentando me manter de pé — respondi, a voz rouca, um pouco embargada pela ressaca e pelo peso da situação.— Não, você não está bem. Eu te conheço, Patrício. E isso aqui — ele fez um gesto com a mão, apontando para a garrafa vazia — não vai te ajudar. Você precisa se reerguer, não se afundar nisso.Eu queria gritar, dizer que ele não entendia, mas eu me calei. Fernando tinha razão. A bebida não ia mudar nada, não ia t
>POV TERCEIRA PESSOAFernando estava preocupado com Patrício, e não demorou para que todos começassem a perceber o quão fundo ele estava indo. Todos já haviam presenciado aquela versão de Patrício antes e sabiam que não era bom.Anos atrás, quando ninguém sabia sobre as maldades que Estela cometia com Patrício, ele era um adolescente rebelde e recluso. Vivia bêbado e drogado nas ruas.Muitas vezes Fernando tinha que ligar para Isabel e Álvaro pois não conseguia arrancar Patrício da sarjeta.Sua mãe chorava em oração toda noite, pedindo para que surgisse uma esperança e que seu único filho tomasse jeito.Quando conseguiram finalmente achar a fonte do problema e liberta-lo, custou, mas aos poucos Patrício foi melhorando. Até que se tornou um bom homem.Mas agora, parecia que aquela criança rebelde estava de volta, e a pior parte despertou completamente de seu filho.Fernando, Jerusa, Isabel e Álvaro ficaram ainda mais preocupados quando viram a s
>PATRÍCIOEu encarei o copo à minha frente, girando o líquido âmbar entre os dedos, sentindo o cheiro forte da bebida que já não fazia mais efeito como antes. Já estava entorpecido o suficiente para esquecer de tudo por alguns instantes, mas, ao mesmo tempo, sóbrio o bastante para saber que estava me destruindo.E, mesmo assim, continuei bebendo.— Você vai se matar desse jeito, Patrício.A voz de Fernando cortou o barulho abafado do bar. Eu ri, sem humor, levando o copo à boca e bebendo mais um gole.— Não seria tão ruim assim, né? — murmurei, sentindo a ardência na garganta.— Para com essa merda! — Ele bateu as mãos na mesa, atraindo alguns olhares. — Você se ouve falando? É isso que você quer? Morrer afogado em álcool porque perdeu a mulher que ama e seu filho desapareceu?Fechei os olhos por um instante, tentando bloquear a dor que as palavras dele despertaram.— O que mais eu posso fazer? — minha voz saiu fraca, quase um sussurro.