WIS — Esperança em forma de Workshop

Este ano tive a felicidade de participar do WIS—Workshop Internacional da Escola de Séries. O evento é promovido pela Escola de Séries e este ano foi online por causa da pandemia.

Foram cinco dias com estrelas nacionais e internacionais como roteiristas, produtores, diretores e vários profissionais que trabalham para que tenhamos tantas séries na televisão. Além disso, tivemos dois dias de pitching onde vários projetos de série foram apresentados e receberam importantes feedback.

Eu jamais esperava participar de um evento tão maravilhoso num ano louco como 2020. E para aumentar minha loucura não consegui tirar alguns dias no trabalho para me dedicar exclusivamente ao evento.

Fiquei numa corda bamba entre relatórios e masterclasses, entre painéis e atendimentos. Algumas vezes me sentindo bêbada

de alegria e em outras como equilibrista no trabalho (que bom que tudo funcionou). E as palavras (bêbada e equilibrista) em destaque não são coincidências. Adoro Aldir Blanc, João Bosco e Chaplin. E assim parece viver o povo brasileiro, música e esperança regadas com muito humor.

Como faço parte desse povo que dá nó em pingo d’água, minha série foi selecionada para um pitching. E se eu tivesse que fazer uma trilha sonora para 2020, não faltaria o Funk “Ah eu tô maluco” do Movimento Funk Club.

Gostei de tudo que vi, mas do que eu entendi é que a palavra de ordem é autenticidade. Se você sonha com o mercado internacional, faça algo com uma cara local. Invista no que você conhece e no que acredita. Seja humilde, vi grandes nomes falando isso. É importante estar aberto para ouvir e sobretudo para mudar.

A mesa sobre a experiência da Nigéria com o CEO Enyi Omeruah e a roteirista Eno Udo-Affia foi inspiradora para o Brasil. Eles nos estimularam muito a escrever, a produzir, a buscar, mesmo que faltem recursos. Moral da história: não basta ter persistência em sonhar, pois para realizar é necessário botar a mão na massa.

Criatividade e busca de novos formatos foram palavras recorrentes em várias mesas. E essas dicas valem para muitos projetos, inclusive fora do audiovisual. Outra temática que achei muito interessante foi sobre a importância adquirida pelos personagens nas narrativas modernas trazendo mudanças mesmo para séries procedurais, conforme explicado pela Supervisora de Dramaturgia Juliana Soares.

Adorei as mesas com produtores e roteiristas nacionais. Lembro de uma época em assistia um monte de enlatados norte-americanos na TV Globo e jamais imaginei que o Brasil fosse caminhar tanto. Como sou esperançosa acredito que esse é só o começo.

Fiz questão de anotar a frase que Fabio Seidl falou “a simplicidade é oxigênio das ideias”. Vou colar essa frase perto do computador. E tivemos uma aula importante sobre séries de impacto social com a roteirista Júlia Spadaccini que trouxe muita clareza ao explicar que dramático é diferente de pesado e panfletário.

Pode parecer que estou falando muito, mas ainda não consegui falar nem 10% do que foi o evento. E por causa do trabalho, não consegui assistir tudo, vou precisar rever várias masterclasses porque foi muito conteúdo. Me senti fazendo uma pós-graduação em uma semana.

Como foi bom ver a Erika Green Swafford. Uma roteirista negra e tão bem sucedida. Ela me tocou profundamente quando falou que dizia que era roteirista quando ainda não era remunerada. Me senti livre para fazer o mesmo. E ela explicou: “se isso me traz felicidade porque não vou falar?”.

Eu pude vivenciar no WIS o que se falou sobre autenticidade. O que o seu projeto fala sobre você? Qual sua ligação com ele? Essa é uma das chaves para que ele seja autêntico. É claro que estudo e pesquisa também são fundamentais.

E eu que gosto de humor, muitas vezes me sinto a própria piada, pois pago vários micos. Além disso, sou assistente social, o que me permite conhecer nosso povo, seu riso solto e sua criatividade. Minha série vai nessa linha e (até onde o nervosismo me permitiu entender) teve boa recepção. Algo bem louco quando penso que foi o primeiro projeto de série que escrevi.

É óbvio que essa recepção não veio por sorte. Estudar na Escola de Séries e ouvir as orientações de Sonia Rodrigues é algo que faz diferença. E para a mim fez toda a diferença. Ela poliu meus excessos, me vez rever ideias e colaborou para que meu Sitcom tivesse mais leveza, algo que quase sempre busco quando escrevo.

Graças a dica da roteirista Alice Name-Bomtempo, dias depois do evento, tive a oportunidade de ver o filme Ilha de Glenda Nicácio e Ary Rosa (que merece uma crônica só para ele). E me identifiquei com o personagem que quer ser cineasta e vive sonhando por aí. Pelo menos, eu não sou traficante como ele. Embora eu tente “vender” no trabalho a ideia de que as famílias podem resolver seus conflitos através do diálogo. Não sei se isso é algum tipo de droga, mas acredito na substância da ideia.

Mas, assim como no filme Ilha, sonho em contar as minhas histórias há muitos anos e nada melhor que a música “Clube da Esquina n. 2” (inesquecível canção de Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges) e que faz parte da trilha sonora do filme para fechar este texto, pois os sonhos não envelhecem e o WIS renovou as esperanças que insistem em permanecer na minha alma.

Num ano tão difícil e atípico como 2020, o WIS trouxe uma mensagem muito importante: Acredite na história que você pode contar, mas seja humilde. Assim você pode melhorar e conseguir se comunicar com seu público ou com quem você deseja. E isto é válido não somente para roteiros. Que possamos construir melhores narrativas nessa experiência que chamamos de vida.

 

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