Cheguei ao Nova Hotel, tenho certeza de que estava quase no limite de velocidade e,
possivelmente, aquele gole da bebida que tomei teria dado positivo para álcool, mas nãome importei, isso mostrava o quanto eu não gostava de mim mesmo. Fui até o quartopara o qual me disseram que deveria ir na mensagem e girei a maçaneta para entrardireto.O nome de Dylan ficou preso na minha garganta, pois fiquei um pouco chocada com asdecorações festivas na sala de estar da suíte, o grande sofá todo desarrumado, umagarrafa de champanhe vazia com duas taças na mesa de centro de vidro, balõescoloridos, confetes e uma grande faixa pendurada com os dizeres: "Feliz aniversário,
querida, eu também te amo ".A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi que eu possivelmente havia pegadoo quarto errado. Ao verificar o telefone em minha mão, fui checar as informaçõesquando um gemido vindo do quarto me congelou no lugar.Era muito óbvio o que eles estavam fazendo no quarto, mas, mais chocante ainda, eu poderia jurar que tinha ouvido o nome do meu namorado. Fiquei ali como uma estaca, debatendo se deveria ir embora
ou ficar e descobrir o que estava acontecendo naquele quarto de hotel. Eu era uma tolaapaixonada, mas mesmo meu QI não havia chegado a zero e várias conjecturas estavamse formando em minha mente, algo me dizia que, se eu olhasse para dentro daquelequarto, não haveria mais volta.Sempre me considerei uma mulher corajosa que não foge das dificuldades, portanto,
hoje não seria o dia de mudar, ou pelo menos foi o que eu pensei. A porta do quartoestava meio aberta, apenas uma pequena fresta pela qual os gemidos passavam e pelaqual eu podia observar em primeira mão toda a cena lá dentro, apesar da iluminaçãofraca.Sentado na beirada da cama larga estava o homem por quem eu esperava há cinco anos,com as calças ainda não completamente tiradas, puxadas até os tornozelos, meias esapatos calçados, amassando com as mãos as nádegas brancas de uma mulher queestava sentada ao lado de seu membro inchado, que entrava e saía fazendo sonsobscenos de respingos.A mulher gemeu mais alto ao sentir um de seus mamilos sendo sugado e acelerou osmovimentos do quadril, o cabelo loiro curto estava preso na nuca suada, a boca abertaem gemidos sensuais; aquele mesmo cabelo que eu acariciava com tanta frequênciaquando criança para confortá-la em noites de tempestade, aquela boca que todos os diasfalava palavras doces e enganosas em meus ouvidos.Era Elena que estava se balançando como uma prostituta em cima daquele bastardo do Dylan.
Os dois estavam no auge de sua paixão e não perceberam que eu os estava espionando
da porta. Muitas ideias passaram pela minha cabeça naqueles momentos: será que euentrei e os confrontei, será que fugi e esqueci tudo o que vi, será que estou em umpesadelo e tenho que acordar?Pensei em todo tipo de bobagem enquanto caminhava quase correndo até o estacionamento onde deixei o carro, porque, sim, no final das contas, fui embora e não os confrontei. Aparentemente, eu não era tão corajoso quanto pensava.
Liguei o carro com as mãos trêmulas e lágrimas grossas caindo dos meus olhos,enquanto tentava processar tudo o que tinha visto naquele hotel, enquanto analisava deoutra perspectiva muitas coisas que tinham acontecido e eu estava tão cega que nuncatinha percebido nada, desde quando eles estavam juntos, os dois estavam se divertindobrincando comigo enquanto cravavam punhais nas minhas costas, quantos dos nossossupostos amigos sabem sobre eles, quantos dos nossos supostos amigos sabem sobreeles, quantos dos nossos supostos amigos sabem sobre eles?Eu me sentia tão desolada, tão pequena. Um sentimento de abandono, de falta de amor e
baixa autoestima começou a se enraizar em meu coração. Será que meu destino é ficarsozinho no mundo, sem ninguém para me amar?Mas havia alguém que me amava, que sempre me apoiou, que tentou me alertar, e eu oafastei e me separei dele sob o veneno de Elena e Dylan. Mexi no meu celular,procurando o contato de Carlos, mas as lágrimas grossas limitaram minha visão. Com avisão embaçada, consegui encontrar o número do meu amigo, mas, quando estavaprestes a ligar para ele, uma luz repentina na janela ao meu lado e o toque constante deuma buzina foram a última lembrança que tive daquele dia horrível.*****
- Alexa, Alex... - Sinto a voz de Dylan me trazendo de volta ao presente e, quandoo ouço me chamar pelo meu diminutivo carinhoso, a bile se agita no meuestômago e quase tenho vontade de vomitar na cara dele.Felizmente, ele não tem tempo de dizer mais nada, porque o médico entra com a
enfermeira para me examinar e eu o ouço dizer que estou meio cambaleante, o médicodiz a ele que é normal por causa dos sedativos e dá instruções que eu mal entendoporque ainda me sinto meio tonta e então eles me dão um analgésico novamente que medeixa inconsciente em alguns minutos.Não sei quanto tempo se passou, mas eu podia ouvir as vozes de pessoas discutindo aolonge, queria mandá-las calar a boca para que eu pudesse continuar dormindo, masminha boca não se abria porque eu ainda estava meio drogado pelo remédio. Os sonsficaram mais claros e, a intervalos, ouvi a voz de um homem dizendo: "Você é umcanalha, não pense que não conheço sua espécie"... "Não me toque, você acha que porser mulher eu não vou me defender, você pode enganar seu primo, mas não acreditonessa sua atitude de lótus branca, você é mais venenosa do que uma cascavel...".- Cale a boca, vou chamar a segurança para tirá-lo daqui, ouço Dilan responder esei, pelo seu tom de voz, que ele está muito irritado no momento.- Você acha que é o rei do universo, Dylan Wilde? Este é o hospital da minhafamília, quero ver você e quantos outros filhos da puta vão me separar daAlexa- ouço Carlos responder e não consigo mais conter minhas emoções,sabendo que tenho apoio por perto.- Sisi - eu o chamo em um sussurro pelo apelido carinhoso que sempre dei a ele esinto que não posso mais falar porque o nó na garganta não me deixa falar.Braços quentes me abraçam e me confortam, percebo o quanto senti falta do meuamigo, do meu confidente, sinto que posso me soltar, desabafar todas as minhas queixase que alguém estará lá para me ajudar a juntar os pedaços quebrados da minha vida ereconstruí-la de forma mais forte e sólida.- Alex, querida, nunca mais faça isso comigo, eu quase tive um ataque cardíacoquando soube pelo meu pai que você tinha sido hospitalizado por causa de umacidente- ele diz acariciando minhas costas enquanto eu encho sua camisa delágrimas e ranho. Sinto seus braços se apertarem de repente e ele me puxa commais força contra ele: - Nem pense em se aproximar de mim, acredite ou não,essa mariquinha, como você diz, vai quebrar sua cara se você continuar amachucá-la.- Dylan e eu só queremos cuidar de Alexa, somos a família dela, você não precisa
ser tão agressiva- ouço a voz suave de Elena e, se eu não tivesse visto commeus próprios olhos, nunca pensaria que alguém que parece tão puritana einofensiva poderia engolir o pênis do meu próprio namorado de forma tãoagressiva.- Quero ficar sozinha com Carlos- eu disse, interrompendo os xingamentos queeu sabia que Carlos já tinha na ponta da língua.- Alex...- Dylan me diz com olhos preocupados que no passado teriam mecomovido, mas que nesses momentos me deixaram totalmente enojada.É incrível como você pode ir do amor ao ódio em tão pouco tempo, é verdade o
que dizem que entre o ódio e o amor há apenas uma linha tênue, pena que eu averifiquei da maneira mais cruel.- Tenho certeza de que você está cansado de cuidar de mim desta vez, então vá
para casa e dê um tempo, você pode ver que estou melhor- acrescentei nomelhor tom que pude, porque decidi que ainda não era hora de arrancar minhacara com eles- Carlos fica aqui e me ajuda.- Se é sua decisão, nós a respeitamos- Dylan responde, não muito feliz comminha abordagem a Carlos- Voltarei hoje à noite para cuidar de você- eleacrescenta e faz um gesto para se aproximar e me beijar, mas Sisi o interrompe.- Você sabe quantas bactérias existem em um beijo, quanto mais em um beijo deum animal? Você vai agravar a situação médica dele- ele diz e Dylan cerra ospunhos, depois olha para mim, mas eu mantenho minha atitude de "estoucansada e não vou chamar o Carlos para blefar, como fiz no passado paraacalmar a situação" então ele se vira e sai com raiva do quarto do hospital.- Precisa que eu traga alguma coisa de casa para você?- pergunta Elena, paradana porta, muito compreensiva e preocupada com minhas necessidades.- Um inseticida para você usar em si mesma, barata- murmura Carlos, e eu quaseri na cara de Elena com a sua piada.- Não é necessário, estou bem- respondo superficialmente, não querendodesperdiçar mais energia com seu jogo de duas caras hoje.- Agora que estamos sozinhos, preciso que você me diga honestamente, Alex, oque está acontecendo aqui- Carlos me confronta quando estamos sozinhos, comtoda a seriedade.Não olhe para sua atitude indiferente, esse homem, quando fala
sério, é algo a ser considerado, não é à toa que ele é um dos melhoresespecialistas em reabilitação médica do país.Respirei fundo e me lembrei de todos os acontecimentos para contar a Carlos. Ele não
me interrompeu, mas seu rosto estava mais feio do que chorar, eu nunca o tinha vistotão irritado.- Que filhos da puta, eu sabia que eles estavam tramando alguma coisa!- exclamou finalmente, rangendo os dentes - aqueles olhares furtivos, aquelerelacionamento extremamente bom, eles defendiam um ao outro, tão doces aponto de as pessoas que não os conheciam acharem que os dois eram namoradose você era primo deles. Eu não tinha provas da infidelidade dele, mas tambémnão tinha dúvidas; não vou dizer que eu avisei, mas eu avisei- acrescentou deforma insultante.- Sissi, me desculpe - eu disse, abaixando a cabeça com vergonha -, fui injustotodo esse tempo e, por minha causa, nosso relacionamento...- Alexa Reed De Luca, desde o ensino fundamental juramos com cuspe e lamaque seríamos melhores amigos para sempre e amigos brigam, cometem erros eperdoam. Eu também sou culpado por ter me afastado e deixado você nas mãosdaqueles sanguessugas que quase causaram sua morte. Sou grato por tê-lorecuperado e mais grato ainda por você estar em segurança. Só lamento que euestivesse certo, você sabe que o que eu mais quero é a sua felicidade.- Eu sei...- respondo com os olhos vermelhos e nos abraçamos com força.- E chega de choro, olha como você deixou minha camisa, mulher - ele me dizdepois do abraço emocionado, examinando sua camisa com pesar e eu sei queele está tentando me animar como só ele sabe fazer - você sabe que chegou umnovo cardiologista que é de morrer de tão bom que ele é, eu queria causar umaboa impressão e você arruinou meu futuro casamento - ele acrescentadramaticamente e finalmente arranca um sorriso genuíno dos meus lábios - Essaé minha garota. Agora pegue esses ovários, coloque-os de volta e vamos pensarem como vamos nos vingar desses Judas Iscariotes.