Contando uma história

O rei bondoso sofria com tamanha tristeza! Não só por não ser agraciado com um herdeiro. Tinha também o fato consequente de presenciar a perca do sorriso de sua bela esposa. Ela tivera algumas ideias, levada pelo desespero, e angústia que agora eram seus companheiros íntimos. 

— Oh meu esposo! Sinto-me tão inútil! — disse a esposa com melancolia. — quisera eu que as histórias dos livros fossem reais. Sem hesitar, eu usaria a feitiçaria de uma bruxa e daria minha vida! Em troca ela me agraciaria com um filho. 

— Minha amada, não te perturbes com esses  pensamentos. No tempo certo os Céus nos abençoará com um herdeiro. 

— Minha fé se esvanece a cada nascer do sol. Temo que não viverei pra apreciar muitas primaveras. Acho que seria de bom tamanho, se tivesse um herdeiro com outra mulher. 

— Nem em meus piores pesadelos cogitarei algo tão descabido. 

A rainha não fazia por mal. Porém, o desespero a fazia pronunciar as palavras sem muita sabedoria. Afinal de contas, nenhuma esposa em sã consciência pensaria em algo tão escandaloso.  

No Concilio, os outros homens importunavam o rei bondoso. Segundo eles a intenção era ajudar. 

— Majestade, isso que sua esposa lhe propôs não é algo descabido, se ela não pode gerar um filho não pode negar o direito de um herdeiro, o reino precisa de um. Se ela não tem capacidade pra fazer o seu papel, outra fará por ela — disse um dos condes, depois deu uma gargalhada. 

Gargalhada e palavras das quais se arrependera amargamente. 

O rei em um momento de fúria, levantou-se, empunhou a sua espada e chamou o conde para briga. 

— Como ousa insultar minha rainha com palavras tão degradantes? 

Graças aos Céus o conde humilhou-se perante o rei, e não iniciaram um duelo. 

Eles no entanto, continuaram a insistir no mesmo assunto. Como se fosse algo que os afetaria de alguma forma. 

— O problema ainda persiste, Majestade — disse o Olavio, rei de Árago. — Não quero importunar-te, só preocupo-me contigo. Que os Céus não permita, mas e se algo grave lhe acontecer? Seu povo, seu reino ficarão desprovidos de proteção. 

— Agradeço demasiadamente suas palavras, rei Olávio! Sinto-me honrado com sua preocupação. Ah, acabaste de dar-me uma ideia grandiosa! Chame um escrivão. 

Todos o observavam sem entender do que se tratara aquela tal ideia grandiosa. 

Em instantes o escrivão se apresentou. O rei bondoso começou a ditar o que era para registrar. 

— Fica registrado que apartir de hoje, dia 25 de Agosto do ano de 1.800, que na minha morte, ou se por algum motivo eu não for mais qualificado e ainda não tiver alguém que herde o meu trono, a minha esposa, rainha Theodora assumirá o trono. Assim o digo e assim será. 

Ouve um certo tumulto entre os homens. Um deles foi mais corajoso e pronunciou: 

— Isso não pode acontecer, seria um ato de escândalo! As tradições não podem ser quebradas — o conselheiro do rei bondoso disse com muita reverência. 

— Ela não consegue dar-te herdeiro, e ainda assim, tem a ousadia de deixar de seguir a tradição? — disse o conde Romero do reino de Árago. 

— Conde, quem garante que o problema não está comigo? 

— De modo algum creio em algo tão descabido. Somos homens, somos superiores. Os Céus jamais nos castigaria com tamanha humilhação! — disse o rei Fausto, famoso por sua crueldade. 

— Senhores cavalheiros; ao meu ver os Céus nos trata como bem lhe parecer. E, quanto as tradições, elas podiam funcionar para nossos pais, mas eles não passaram pelo que estou passando. Pronto, já está selado com o meu anel real — disse enquanto apertava o seu anel na cera quente. 

Claro que não ficaram felizes com o ocorrido. 

Sem sombra de dúvida agora o Concilio torceria para que o rei tivesse uma vida longa e saudável. Já que não iriam querer a presença de uma mulher, que ao ver deles estaria maculando aquele local. 

Mais uma vez graças aos céus a paz não foi rompida entre os reinos. Mesmo depois de algo tão “ escandaloso” ao ver deles. 

Em uma certa manhã de primavera, a rainha adoeceu. Pobre rainha nunca o desânimo e mal estar tomara conta assim do seu corpo. O rei foi chamado. 

— Oh minha rainha, espero que não desfaleça! Meu coração não suportaria tamanha tristeza. 

— Majestade — uma das servas fez uma mesura — não necessita que se abale assim. Ela está ótima! 

— Como pode dizer-me isso? Ela não come, vomita e teve até desmaio! 

— Pode agradecer aos Céus! A doença dela tem uma boa explicação. A rainha está esperando um filho, vossa Majestade! 

Tamanha era a felicidade do rei que ele ficou emudecido! Se aproximou da rainha e a envolveu em um carinhoso abraço. Pobre serva, ficou envergonhada por ter visto a intimidade das Majestades. Sei que parece tolice, mas os reis e rainhas não tem o hábito de trocar carinhos enquanto são vistos. 

Aquele bebê ainda no ventre da rainha, trouxe de volta a sua felicidade! Os meses passaram rápidos! Logo a barriga dela tinha quase o tamanho de uma melancia, e o formato também se assemelha muito. 

Algumas parteiras do reino afirmaram que seria um menino! “ O formato da barriga é de menino, disso eu tenho certeza” diziam elas. 

Enfim o dia do parto chegou! 

Os cidadãos que habitavam próximo ao reino foram e permaneceram no pátio do palácio. Todas queriam contemplar o príncipe herdeiro! Após um sofrimento incomum, enfim o bebê veio ao mundo! Após fazer o necessário, o neném foi envolvido em panos e entregue ao rei. 

Como ele estava feliz! Era o que faltava para ter sua felicidade completa. 

Após contemplar a criança, o rei a levou até a sacada do palácio para que os seus súditos pudessem alegar-se com ele. 

— Viva o príncipe herdeiro! Viva o príncipe herdeiro! — os súditos comemoraram. 

— Queridos súditos! Esse é um dia de esplêndida alegria! Os céus nos abençoou com uma linda e doce menina! Isso mesmo! Contemplem a vossa princesa! 

Os súditos disfarçaram a decepção. E comemoraram a chegada da princesa. Eles queriam um príncipe, para que herdasse o trono. 

— Oh! Como a chamaremos? Ela é linda e delicada como uma flor! Vou chamar-te de Jasmim! Não. És preciosa, minha jóia mais rara! Tens uma beleza rara pequena princesa, cabelos negros como o corvo, e esses olhos! São como duas lindas esmeraldas! Oh! Esse será seu nome pequena minha. Lhe chamaremos de Esmeralda! Isso! Princesa Esmeralda! 

— Ah! Já sei que história é essa Alteza! É sobre a família real de Myrabel! — interrompeu-me uma garotinha. 

— Muito esperta pequena Ana! Agora irei continuar a história da minha família! Meus pais sentiram-se realizados em mim. No início eu sentia-me uma menina normal, com brincadeiras deveras não tão comum assim. Eu tinha um amigo, o nome dele era Alberto. Dono de lindos cabelos ruivos! Ele tinha um olhar gentil! Como brincávamos! Dentro dos muros do castelo brincávamos de escalar árvores, cavalgar, arco e flecha, de esconde-esconde. Tive uma boa infância, apreciei cada momento oportuno. 

— Alteza, preciso indagar: porque falas do seu amigo de infância no passado? 

— Ronivon, quando nos tornamos maiores, as responsabilidades tendem a falar mais alto — senti um aperto no coração por aquela lembrança. 

— Agracie-nos com essa história princesa. 

— Existem histórias que não devem ser contadas, mas sim guardadas como verdadeiros tesouros em nossos corações. Olha só — olhei no relógio de bolso — Já está na hora de ir, não posso atrasar-me para o chá da tarde.

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