Doutores

O Beto ficou pasmo, com o pedido que lhe fiz. 

— Minha princesa, não sei se serei uma boa escolha. 

— Não diga tamanha tolice. A liderança está no seu sangue, reconheço um bom líder quando vejo. Confio em ti, sei que terá bom êxito. Deixarei tudo acertado com os guardas dos tesouros reais. 

— Suas palavras fazem-me sentir esperto e importante. 

— Só digo a verdade! O que meus olhos contemplam. Ah, gostaria de convidar-te para um piquenique hoje a tarde. Lá falaremos sobre sua missão. 

— Será uma grande honra! 

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Logo que chegamos ao nosso destino a carruagem parou. Assim que adentramos o estabelecimento pude notar umas figuras... digamos... diferentes. Uns homens que eu nunca tinha visto. 

Secretamente agradeci aos céus, por estar acompanhada pelo Alberto. 

Mas a meu leve temor, foi esvaindo a maneira que conversávamos. 

Essas figuras interessantes, eram os médicos. 

— Vossa Alteza, senti-me honrado pelo convite. 

— Agradeço-vos, por terem vindo. Qual é sua graça? — olhei para o que tinha conversado comigo. 

Ele tinha os fios de cabelo grisalhos, e parece que nunca os penteava, já que parecia que cada fio escolhia a direção que queria, sendo que a maioria ficava para cima. 

— Sou o doutor Floriano. encantado em conhecê-la vossa beleza, quer dizer, vossa Alteza. És magnífica! Estou deveras animado... 

— Silêncio velho tolo — interropeu, o outro médico, que era baixinho e rechonchudo. — não viemos aqui para cortejar a princesa, e sim para trabalhar. 

— Ora essa! Que audácia dirigir-se a mim dessa maneira! 

— Calma senhores — disse o terceiro com voz agradável. — vamos portar-nos, como cavalheiros. 

Ele  aproximou-se, e deixou um beijo no dorso da minha mão. 

— Sou o doutor Nicolau. Ao vosso dispor Alteza. 

Oh! Pelo menos aauele, era melhor com as palavras. 

Quando o Nicolau sorria a sua barriga se balançava, e ele tinha o hábito de passar a mão na sua careca, enquanto conversava. 

— Ainda não sei o vosso nome — olhei para o que era rechonchudo. 

— Oh! Pode chamar-me de Damião. Ao seu dispor princesa. 

Ele também deixou um beijo no dorso da minha mão. 

— Alegro-me, por estarem dispostos a falarem com uma mulher. 

— Não qualquer mulher! — disse Floriano. —  És a magnífica princesa de Myrabel! Sua beleza e seus atos bondosos lhe precedem vossa Lindeza real... Alteza. 

Os outros dois médicos olharam-no com um certo desprezo. Pude notar que não aprovavam o seu jeito espalhafatoso. No entanto, ele fazia-me rir, com a maneira de ser. Todo espalhafatoso e embaraçando com as palavras. 

— Tem três Vilarejos que precisam da presença de um médico. Algum de vocês tem escolha de onde quer trabalhar? 

— Eu prefiro o que tenha menos pessoas. Não aprecio muita a presença de pessoas. 

— Doutor Floriano; se não aprecias a presença de pessoas, nãos achas que estás no ramo errado? — perguntei-lhe. 

— Não vossa Alteza, quando lhes dou remédio rapidamente vão embora. Vão mais rápido ainda se for uma bela injeção — ele sorriu. 

— Não fico confortável com isso. Eu amo as pessoas, quero que elas sejam cuidados com amor e dedicação, se não conseguirem fazer isso. Podem retirar-se. 

Eles se entreolharam por um tempo, depois voltaram a encarar-me. 

— Ele é um bom médico — defendeu o Nicolau. — só sente-se rejeitado pelas pessoas, e isso faz com que aja imprópriamente. 

— Todos nós nos sentindo assim, com respeito as pessoas — completou Damião. 

— Ok! Não entendo, são médicos! Um trabalho tão nobre. 

— Ora Alteza, diga se não somos as pessoas mais feias e esquisitas que já avistou?! — disse Damião. — Um velho tão alto e magro que parece que vai se quebrar ao meio, pra completar os cabelos parecem nunca ter visto pente. Um senhor que tem a barriga tão grande que parece estar prestes a tem uma criança, e tem o hábito de alisar a careca. Ah, e tem eu, tão baixo e gordo que torço para não cair em um ladeira. Senão, sabe-se lá onde vou parar. 

— Vos acho uma graça! Imagino que sejam bons no que fazem, e tem muito amor para compartilhar. 

Acho que minhas palavras surtiram efeito. Pude ver uns sorrisinhos, meio sem jeito se formarem em seus rostos. 

— Podem descansar por hoje, já providenciei o pagamento da  hospedaria. Descansem, amanhã virá alguém para levá-los aos Vilarejos onde prestarão serviços. Tudo já estará devidamente organizado para as vossas chegadas.

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Assim que terminei de falar com os doutores, dirigi-me ao Vilarejo das Praias. Eu havia mandado uma mensagem aos outros Vilarejos, pedindo que encontrassem-me lá. Ele fica bem no meio, e isso faz dele o local de ponto de encontro nessa região. 

— Deixaste-me impressionado hoje, minha princesa. Tens o dom da palavra. Consegues falar livremente com as pessoas, mesmo em situações não tão comuns — disse Alberto, com um olhar meio estranho. 

Ao chegar  no vilarejo todos já estavam reunidos, mas desta vez, como tinha muita gente nos reunimos na praça do vilarejo. 

Todos os olhares estavam voltados para mim. 

— Agradeço-lhes, Por reunirem-se em tão pouco tempo. É com pesar que digo-vos, que o dia da minha partida chegou, bem antes do previsto. Terei que partir amanhã para o reino do príncipe Vitório. Ele pediu ao meu pai permissão para que eu ficasse no seu palácio, até o casamento. É com muito pesar que despeço-me de vós. Lembrem-se de mim nas vossas orações, estarão sempre em meu coração e em minhas orações. deixarei o Alberto para ajudar-vos. Ele terá acesso ao castelo e poderá assim, suprir-vos, no que lhes faltar. Os médicos vieram, encontrei-me com eles hoje. Peço que não julgue-os, segundo a aparência, mas ajude-os a se adaptarem e se sentirem em casa. Sinto-me honrada por ter passado este tempo com vocês. 

— Não queremos que vá princesa — disse o padeiro. 

— Esse é o meu maior dever, casar-me. Assim, enfim, Myrabel terá um herdeiro. 

— Era pra sentir-nos agraciados e felizes — Thomas começou. — acho que falo por todos quando digo que não nos alegramos com isso. O que adianta ganharmos um herdeiro para o trono de Myrabel e perdermos a nossa princesa?! 

As palavras deles comoveram-me, com certeza. No entanto, precisava ser forte, por eles, pelo meu povo. Despedi-me deles e voltei para o palácio. 

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O Alberto viu o quanto eu estava arrasada. Ele sempre tem as palavras certas para dizer-me. 

— Sei que precisa de um momento minha princesa. Irei dar-te espaço. 

Após dizer isso, ele desceu da carruagem e ficou na frente, junto com o condutor. 

Ok Céus! Eu precisava mesmo daquele momento. Sentia-me inundada de uma enorme onde de tristeza. Permiti que as lágrimas rolassem, permiti-me sentir todas aquelas emoções que tanto machucavam-me. Alguns minutos foram necessário. Assim que recompus-me, pedi para que ele voltasse. 

— Então, e se o príncipe Vitório não pedir para eu afastar-me, como cuidarei de tudo? 

— Pensarei em algo, caso não ocorra como o planejado. 

A preocupação do Alberto era imensa, podia sentir ele em luta para não perguntar-me nada. Só não sabia até quando ele resistiria. 

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Chegou a hora do piquenique! Aquela, provavelmente seria a última vez que eu teria liberdade para conversar com o Alberto. Pelo que conheço do príncipe Vitório, ele não me permitiria ver o Alberto. 

Estou muito triste por estar deixando meus pais, no entanto agarro-me a esperança de voltar vê-los. Nem em meus piores pesadelos eu consigo imaginar o príncipe Vitório impedindo-me de ver meus pais. 

Por isso, eu estou passando esse tempo em forma de despedida com as pessoas que fazem parte da minha liberdade. 

Chegamos ao local do piquenique. Era um dos lugares que mais frequentamos na nossa infância. Era um riacho com águas tranquilas e cristalinas, árvores frondosas e flores  silvestres. Apreciávamos deveras aquele lugar. Sinto pena dos guardas reais, quando recordo-me, da minha infância. Eles tinham que acompanhar-me, em minhas aventuras e peraltices. 

Quando chegamos, tudo estavam devidamente arrumado. Deliciosas guloseimas! Tinham umas almofadas, para que nos sentíssemos mais confortáveis. 

— Está tudo tão lindo e delicioso! — comentou Alberto, enquanto comia um doce. 

— Oh! Alegro-me imensamente por ter apreciado. Levarei os seus cumprimentos a Zelda. Não posso deixar de notar, que não estás usando seus trajes de costume. 

— Como convidaste-me, senti o desejo de vestir adequadamente. Espero que não se importe. 

— Estás deveras encantador. 

Ele sorriu meio sem jeito ao ouvir minhas palavras. 

— Posso pedir que fale comigo abertamente apenas uma coisa? — pigarreou. 

— Ora, sim! Só não posso garantir que serei. 

— Diga-me, apenas um sonho seu. 

— Não ocupo o meu tempo precioso com isso Beto. 

— Não acho que seja real, todo mundo tem. 

— Sim, eu tenho. Apenas um. Ou melhor, tinha. Pois o sonho só continua sendo sonho enquanto pelo menos, pensamos nele. 

— Irá dizer-me qual é? 

  

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