Aldória

Contém gatilhos

Pensei por um instante, não sabia se seria adequando expressar-me, de forma tão direta. Por fim, decidi. 

— Sim — respirei fundo. Nunca tinha dito aquilo em voz alta. — queria me casar por amor! Viu? Tolice. Isso era de quando entendia menos os meus deveres reais. 

— Não acho tolice. És a pessoa mais forte, corajosa, bondosa e altruísta que conheço. Se tem alguém que merece casar por amor, essa pessoa e vossa Alteza, Meh. Por falar nisso, não quero ser  imoral, mas preciso perguntar-te: já pensou na noite de núpcias? Quer dizer... sabe o que acontece? 

— Apesar de nunca ter estado com nenhum homem, não sou tola. Sei que sabes muito bem desses acontecimentos. 

— Sei, mas não por experiência. Nunca estive com nenhuma mulher. Sou um homem honrado. Sigo o Livro Sagrado. Quero estar só com a mulher que for a minha esposa. E casar-me-ei por amor. 

— Oh! Não sabia que seguia essa parte. 

— Minha princesa, por falar sobre isso... 

— Perdoe-me por interrompe-lo, mas preciso dizer: sei que é só o meu título, porém quando pronuncias “minha princesa” sinto como se fosse algo mais, algo bem próximo de um elogio... talvez. Pronto, prossiga, por gentileza. 

— Então... o príncipe Vitório não é um cristão, mesmo assim se casará com ele? 

— Sei que o Altíssimo irá perdoar-me. Ele sabe que não faço por pretensão. Mas como forma de dever. 

Desviei o meu olhar por um instante. Quando olhei novamente para o Alberto, ele segurava algo deveras interessante em suas mãos. Era uma caixinha pequena, e estava envolta em um tecido dourado. Ele estendeu a mão e entregou-me. Abri e notei que era uma caixinha de música. 

— Que preciosidade! É a música que dançamos no baile! Muito atencioso! Eu apreciei imensamente. 

— Alegra-me, saber disso. É uma lembrança para seu aniversário. Será na semana que vem, e não poderei vê-la no dia, então resolvi entregar-te hoje.  

Aquela piquenique foi maravilhoso! Mas, infelizmente chegou a hora de voltarmos. Iria jantar com meus pais naquela noite. 

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O dia amanheceu frio e sombrio. O sol não quis brilhar, parecia que ele estava triste por min. Sei que é muita pretensão pensar assim. 

Minha carruagem já estava pronta. 

Abracei meus pais e deixei um beijo em seus rostos. 

Alberto e Guilhermina entraram comigo na carruagem. Tinha muitos guardas reais que acompanhavam-nos. Nenhum de nós disse palavra alguma na viagem inteira. 

Ao chegarmos no palácio do príncipe Vitório, o reino de Aldória. Ele aguardava-me, na entrada do castelo. Depois soube que seus pais tinham saído e só voltariam para o almoço. 

Ele graciosamente abriu a porta da carruagem e estendeu a sua mão, para ajudar-me a descer. 

— Espero que tenha feito boa viagem princesa Esmeralda. 

— Fiz sim, agradecida. 

O Alberto desceu e começou a seguir-me. Porém ele foi parado pelo príncipe Vitório. 

— Seus serviços não são mais necessários. Meus guardas e eu cuidaremos da segurança da minha prometida apartir de agora. Já acertei tudo com o rei Felipo. Pode voltar para Myrabel. Ah! Não aproxime-se dela, ou sofrerá as consequências. 

Ele então fez uma mesura e voltou para a carruagem. Senti um ardor imenso no nariz, não sabia se conseguiria conter-me. 

— Princesa — sussurrou Guilhermina—, o Todo Poderoso está no controle de tudo, não te esqueças. 

Sim! O Deus Todo Poderoso está olhando por mim. As palavras dela, deu-me ânimo e conforto. 

— Este são os seus aposentos — disse o príncipe Vitório — sua serva dormirá com as minhas criadas. 

— Como queira, príncipe Vitório. 

O quarto era deveras agradabilíssimo!  O que mais chamou minha atenção foram os livros. Tinha uma prateleira cheia deles. Aquilo seria minha salvação. 

Dei graças aos Céus, pois na hora do almoço os pais do Vitório já tinham regressado. O rei Fausto era um homem muito carrancudo, parecia que vivia em constante ódio. Já a rainha Evangeline tinha um semblante adorável. Os olhos eram lindos. Seus filhos herdaram isso dela. Eles tinham mais filhos, O príncipe Vitório era o mais velho, sendo assim o herdeiro de Aldória. Tinha um outro filho, dois anos mais novo do que o Vitório. Esse parecia ter herdado não só os olhos, como também a gentileza da rainha Evangeline. Que era o caso também da princesa Tábata. Ela tinha os olhos e cabelos castanhos do pai, mas a docilidade da mãe. Tinham outras duas filhas, no entanto, já haviam casado. 

Assim que Guilhermina e eu nos juntamos a ele para o almoço, senti os olhos do príncipe Vitório arderem em mim. 

— Princesa Esmeralda — chamou o príncipe Vitório encarando-me. — peça para que sua serva retire-se da mesa, e se alimente com os criados na cozinha. 

— Ela não é minha serva, é minha dama de companhia. 

— Se não tem sangue real correndo nas veias, ou um título por merecimento, continua sendo servo. 

Naquele momento queria expressar-me de uma maneira que ele jamais esqueceria. Pressionei o meu maxilar, para ter certeza que não falaria nada. Olhei de soslaio para a Guilhermina e ela retirou-se. Quanta humilhação, pobre Guilhermina. 

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Quando já encontrava-me, em meus aposentos, ouvi batidas na porta. Guilhermina prontamente atendeu. Era o príncipe Vitório. 

— Poderia pedir sua serva para deixar-nos a sós? Preciso falar-lhe. 

Ela nem esperou que eu pedisse e já saiu. 

— Mande a sua serva de volta para Myrabel. Diga simplesmente que seus serviços não são mais necessários. Não quero ela perambulando pelo meu palácio. Não gosto de servos que não sabem o lugar que lhes cabe. 

— Ela sempre esteve comigo. 

— Já está na hora das mudanças. Vou estar do lado de fora ouvindo se mandará mesmo que se vá. 

Assim que terminou de pronunciar a sentença, ele retirou-se. 

Guilhermina entrou sem entender o que havia acontecido. 

— Guilhermina — eu segurei em suas mãos. — Sabes que amo-te como uma irmã. Mas, preciso que volte para Myrabel e siga sua vida. 

— Princesa, não entendo-te. Sabes que seguirei-te por onde quer que fores. 

— Eu sei, mas agora tudo que eu preciso que faças é isso. Vou ficar bem, creio que não sairei muito, e se for sair a princesa Tábata poderá acompanhar-me. 

Procurei conter-me. Eu estava pronta para prosseguir. 

A minha vida sem a Guilhermina não seria nada fácil. Foi um tormento ter que fazer isso, mas no fundo é mesmo o melhor para ela. Guilhermina não merecia ser tratada como o príncipe tratava. 

Assim que a Guilhermina saiu, o príncipe Vitório voltou aos meus aposentos. 

— Nunca mais ouse responder-me. Desonraste-me hoje, diante dos meus pais, e por que, por um serva idiota. 

Ele apertava a minha bochecha com sua mão, enquanto falava. 

Graças aos Céus, ele saiu dos meus aposentos. 

— Princesa Esmeralda — chamou a rainha Evangeline, do outro lado da porta. — vamos dar um passeio, gostaria muito da sua companhia. 

E agora? O meu rosto ainda encontrava-se vermelho, devido o príncipe ter apertado. 

Eu mudei o penteado. Deixei o cabelo solto, e as mexas tapavam parte do meu rosto. Assim aceitei o convite. 

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— Sei que não é uma mudança fácil princesa — disse a rainha Evangeline, gentilmente. — mas logo se acostumará com a sua nova vida. Estou aqui para ajudar-te, no que precisar. Por falar nisso, onde se encontra sua dama de companhia? 

— Agradeço rainha Evangeline. Ah, a Guilhermina?! Eu a dispensei. Ela voltou para Myrabel. 

— Oh! Isso não é comum. Precisas de alguém para acompanha-la. O certo mesmo seria se tivesse um guarda pessoal do seu reino aqui, ele certificaria que estamos tratando-lhe com respeito. Anunciarei ao rei Fausto hoje mesmo. 

— Não vossa Majestade, agradeço o cuidado, mas ficarei bem. Sei que a guarda real de Aldória fará isso. 

— Sinto-me honrada por sua confiança. 

O passeio foi muito agradável! Porém, ao aproximar-me do castelo, meu coração já ficou deveras apertado. Queria contar tudo para rainha. isso porém não era algo simples, era uma acusação contra o príncipe herdeiro. 

Quando entrei em meus aposentos assustei-me profundamente. Deparei com o príncipe Vitório assentado em uma poltrona. Quase senti meu coração saltar pela boca. 

— Onde estava? — perguntou. 

— Sua mãe, a rainha, convidou-me para um passeio. 

— Sei que isso foi apenas uma desculpa para difamar-me com minha mãe. 

— Não fiz isso príncipe Vitório. 

Quando pronunciei essas palavras senti a pele do minha face arder e queimar. Ele deu-me um tapa tão forte, que fiquei meio tonta. 

— Não sairá mais sem minha permissão. 

Não derramei nem sequer um lágrima em sua presença. Ele não as merecia. Encontrava-me de mãos atadas. Aquele casamento não poderia acontecer, mas se de alguma maneira eu falasse todo o ocorrido, meu pai ficaria furioso! Sei que não cogitaria em quebrar seu a acordo de paz com Aldória. Se tem algo que preso é a paz. Suportaria  dor e humilhação se fosse necessário para mantê-la. 

Dia pós dia, recusava os convites da rainha. Eu não saia nem até os jardins do palácio. Mesmo assim, ele não ficava satisfeito comigo. 

— Nunca te perdoarei pela humilhação no dia do baile. Humilhaste-me, dançando com a plebe. E pensas que não vi o sorriso em seu rosto quando dançavas  com o seu guarda pessoal? — disse o príncipe enfurecido. 

Então, enfim ele revelou o seu rancor. Ele sentia ciúmes do Alberto. E agora, punia-me por isso. 

Preferi não responder. Mantive meu silêncio. 

Naquele dia, mais tarde, recebi a ilustre visita da princesa Tábata em meus aposentos. 

— Porque odeia-nos tanto? 

— Não odeio. 

— Diz que não nos odeia e sempre recusa nossos convites, só se junta a nós para fazer as principais refeições. Prove que não odeia-me e vem comigo ao jardim, é tudo que lhe peço. 

— Irei sim. 

Seu sorriso se abriu, iluminado o ambiente. 

Ela segurou a minha mão, e fomos para o jardim. 

Sei que seria punida por aquela minha rebeldia, mas não podia deixar que princesa achasse que eu a odiava, e também, eu já estava pálida, de tanto ficar trancada. 

Adentramos o meus aposentos sorrindo! Por um momento esqueci-me de tudo. Um momento muito pequeno, já que o príncipe Vitório aguardava-me em meus aposentos. 

— Dê-nos licença minha irmã. Preciso conversar com a princesa Esmeralda. 

Ela saiu Imediatamente. Eu  sabia do que se tratava a sua “conversa”, mas não tive medo, só uma raiva muito grande. 

— Desobedeceste-me. Falei que não era pra sair sem minha permissão. 

Claro que todos já sabem como tudo terminou, com mais agressões. Eu não chorava nem implorava, e isso fazia sua raiva aumentar. Sentia-me, mais uma vez entre o amor e o dever, mas dessa vez era o amor por meu povo, não podia vê-los sofrer nas mãos do príncipe Vitório. Ele não seria um bom rei, disso eu sabia. O meu dever seria relatar todos os fatos ao meu pai, mas e se isso resultasse em uma guerra? Não queria uma guerra. 

Comecei a faltar nas refeições. Não conseguia encarar todos, e não suportava estar próxima ao príncipe Vitório. 

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Um certo dia, após não me juntar a eles para o almoço. Ouvi batidas na porta. Já senti raiva. 

— Esmeralda, é a Tábata. Posso entrar em seus aposentos. 

A sua doce voz resoou. 

— De certo que sim, princesa — disse abrindo a porta para que adentrasse. 

Em suas mãos tinha uma bandeja, com um deliciosa refeição. 

— Trouxe seu almoço. 

Eu tive que esforçar-me, para não ser gulosa. Minha fome era tanta que eu queria comer o mais rápido possível. 

Ela simplesmente observava-me. 

— Se não estás doente e pelo visto tinha fome, porque não se juntou a nós para a refeição? 

Dei graças aos Céus por minha boca se encontrar entupida de comida. 

— Não precisa responder-me, eu sei o motivo — disse ela com pesar na voz. — arrependi-me amargamente por ter a convidado para o jardim naquele dia. Naquele dia eu saí, mas fiquei ouvindo, desculpe-me sou deveras curiosa. Mas o que ouvi deixou-me de coração partido. Ouvi quando ele agredia-te, e saber que eu era culpada doeu-me, o coração. Então resolvi afastar-me, se não podia ajuda-la, não queria piorar a situação. 

— Agradeço pela refeição princesa. E, suporto tudo isso por que não quero uma guerra, temo que a reação do meu pai não será muito boa. 

— São cartas? — apontou para os papéis que estavam espalhados em meu leito. — És muito querida! Posso ler uma? 

— De certo que pode. 

Assim que terminei a refeição uma criada veio e levou a bandeja. Tábata estava muito empolgada lendo minhas cartas. 

— És muito aventureira! Todas essas pessoa... elas amam-te. Isso é lindo! 

— Princesa Esmeralda — chamou o príncipe Vitório. 

Meu coração disparou! pude ver o medo no olhar da princesa Tábata. 

— O que farei?  — ela sussurrou. 

Eu a escondi o mais rápido que pude, ela entrou dentro de um cesto ornamental, e coloquei um buquê de flores em cima. 

Abri a porta e vi que ele não estava nada feliz. 

— Por que demorou até atender-me? 

—  Perdoe-me. 

— Sei que esteve com alguém — olhou pela janela. — quem esteve aqui? Já disse que não quero que fique encontrando-se com minha mãe e minha irmã. 

— Lembro-me. 

— Quem esteve aqui, minha irmã? 

Eu fiz silêncio. 

— Diga-me, eu ordeno! 

Continuei em silêncio. 

Ele se enfureceu e agrediu-me, dessa vez senti o sabor do sangue. Minha boca havia sido ferida pelo golpe. 

— Diga-me, quem esteve aqui? E que cartas são essas? Estás escrevendo para seu guardinha? Aquele insolente! Não quero que escreva mais. Não sei a necessidade que tem, uma mulher saber a escrita. — disse enquanto amassava uma das cartas. — Vou sair a serviço real, volto para o chá da tarde. Não saia de seus aposentos antes disso. 

Ele saiu de meus aposentos e como sempre, não derramei nenhuma lágrima nem implorei. Assim que o vi passar pelos portões do palácio eu tirei a Tábata do esconderijo. 

Ela estava aos pratos. 

— Perdoe-me Esmeralda — disse enquanto passava os braços em torno do seu pescoço. — só lhe causo dor. 

— Não diga isso, aprecio muito sua amizade. 

Ela pegou um lenço de ceda, umedeceu em água e começou limpar o sangue da minha boca. 

— Dormirei essa noite aqui. Não vou deixar-te sozinha. Meu irmão é um louco. Todos sabem que meu pai é cruel, mas ele era assim com os prisioneiros de guerra. Jamais com pessoas próximas a ele. Meu irmão, no entanto, parece que não tem coração. Tenho uma ideia. 

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