Emoções

Tive que sair um pouco antes do previsto. Não queria tocar naquele assunto. Estava preparada para aguardar pela minha dama de companhia. No entanto ela surpreendeu-me. 

— Princesa — fez uma mesura—, está se sentindo bem? É a primeira vez que vossa Alteza vem antes do combinado — perguntou Guilhermina, minha fiel dama de companhia. 

— Oh sim — respondi sem encara-la. Pensei que teria que esperar-te. 

— Não princesa, eu sempre chego mais cedo, caso resolva vir mais cedo. Ah, imagino que um de seus súditos tenha tocado no assunto proibido — ela fez aspas com os dedos. 

— Conhece-me muito bem Guilhermina! É sim, tocaram no assunto proibido. Sabe que não aprecio falar nesse assunto em particular. Só falo sobre isso abertamente com você. Pois para mim es como uma querida irmã. 

— Sinto-me honrada princesa. 

Eu adorava fazer longas caminhadas. Em pouco tempo já adentramos o castelo. 

Já passei direto para os meus aposentos. Aquele assunto deixou-me em um terrível estado de espírito. 

Após lavar-me, recostei em uma confortável poltrona e comecei ler um livro. Apesar de  amar os livros de romance, dei uma pausa neles por um tempo. Contentei com outros temas, precisava manter o foco no meu dever.

Ah! Não compartilhei o meu dever real. Como meu pai não tinha um filho homem para assumir o trono, eu precisava casar-me com um príncipe.  A única coisa que procurava no príncipe era  liderança. Devia isso ao meu pai e ao povo de Myrabel. Sendo assim, nada de livros românticos. 

Naquele dia eu lia um livro que ensinava sobre administração. 

Empolguei-me com o livro! O meu entendimento com certeza era inundado a cada parágrafo lido. 

De repente, ouvi batidas na porta. Saí para conferir, era um dos guardas reais. 

— Princesa — disse o guarda ao fazer uma mesura—, o rei solicita sua presença na sala de reuniões. 

Saí imediatamente, indo atender ao meu pai. Fiquei bem atordoada, ele nunca tinha sido tão formal comigo. 

— Solicitou minha presença meu pai? 

— Sim querida, aproxime-se — ele estendeu a mão para que eu segurasse. — lembra-se do Alberto? 

— Decerto que sim! — tentei agir com naturalidade. — meu amigo de infância. 

— Como sabe, aproxima-se o dia que será tomada em casamento. Como deve saber o Alberto, tornou-se um bom soldado. No entanto solicitei os seus serviços no palácio. Ele será seu guarda pessoal — senti meu coração disparar, mas eu jamais contrariaria meu pai. 

— Sei que gosta de aventurar-se, pelo reino. Não quero que sua honra seja maculada. Ela te seguirá como uma sombra, estás proibida de dispensar sua proteção. 

— Sim meu pai, farei tudo conforme o seu desejo — usei todo meu alto controle para não desabar. 

— Ele chegará para o desjejum. 

Assim que terminou a reunião com meu pai, apressei-me até o conforto dos meus aposentos e me derramei em lágrimas. Lágrimas de desespero! Certamente que eu não conseguiria pregar os olhos naquela noite. Foi sombria e tenebrosa com certeza. Li vários capítulos do Livro Sagrado! E orei em meio as lágrimas. “Senhor, faço das palavras do rei Davi as minhas! Clamo a Ti na minha angustia, livra-me, por tua graça.” 

Aquela oração acalentou o meu coração. 

No dia seguinte uma serva veio até meus aposentos, para aprontar-me para o desjejum. 

— Vou alimentar  nos meus aposentos hoje Zelda — disse para a serva. 

— Certamente minha princesa — fez uma mesura e saiu. 

Passei o dia nos meus aposentos. Todas as minhas refeições foram servidas ali mesmo. 

Minha dama de companhia acobertou-me, dizendo que eu não estava sentindo-me bem.  Fato verídico, eu estava longe de estar bem. 

A noite minha mãe veio até mim. 

— Minha querida, diga-me, o que tanto perturba-te? — perguntou minha mãe deveras preocupada. 

— Oh! Não gastes seu precioso tempo em preocupações comigo minha mãe — tentei ser forte. — amanhã estarei renovada como uma águia. 

Ela deixou-me, mas não antes de dar-me um beijo na testa. Coisa que ela fazia desde sempre. 

Procurei ajuda dos céus para sentir-me melhor. 

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No dia seguinte quando a Zelda veio ajudar-me, eu já estava devidamente arrumado. Tentei agir o mais natural possível. Sorrindo, mesmo que meu coração estivesse dilacerado pela dor. 

Seria privada da minha liberdade antes do previsto. Eu sabia que isso aconteceria, mas eu esperava que fosse depois do casamento. Prometi para mim mesma que agiria com naturalidade e docilidade com o Alberto. Como acostumava ser antes. 

Após o desjejum, dirigi-me para o jardim. As flores sempre acalmava-me. Como de costume as flores me acalmou, sentir seu perfume, contemplar o balançar de seus galhos movido pelo vento fazia-me lembrar do Senhor Criador. E isso era um consolo para qualquer dor que eu sentia, pois sabia que a presença Dele estava comigo. 

— Bom dia vossa Alteza — cumprimentou Alberto. Folgo em ver-te! 

Quando ouvi sua voz, meu desejo era sair correndo e esconder-me em algum lugar! Porém, como prometido portei-me como uma dama. 

— Bom dia Alberto — cumprimentei com um sorriso. 

Ele fez uma mesura e deixou um beijo no dorso da minha mão. Portou como um cavalheiro! 

Bem, foi o que pensei até seu próximo ato espalhafatoso. 

— Que vossa Alteza! — disse enquanto me levantava no ar com um abraço. 

Eu soltei um grito, não esperava por aquilo. Confesso que senti a  pele do meu rosto enrubescer pela vergonha do grito que soltei. 

— Meh, que saudade! — disse ele enquanto rodava abraçado comigo. 

— Também senti saudade! Pena que não posso chamar-te de anão de jardim mais, já que estás muito maior do que eu. Agora coloque-me no chão. 

— Que modos! Por um momento esqueci-me disso. 

— Pois bem, como aproxima-se o dia do casamento, meu pai quer ter certeza que ninguém maculará minha honra. E ficar abraçando-me seria um ato deveras desonroso. 

— Sinto-me envergonhado. Por um momento lembrei-me de quando éramos crianças... 

— Eu libero-te da sua culpa. 

— Meh, por ter ficado o dia inteiro nos seus aposentos, vou entender que não alegraste com a minha presença. 

— Ainda insiste no apelido de infância. 

— Ainda fico deveras confuso, diga-me duas coisas, não prive-me da verdade, eu imploro-te. 

— Sempre sou sincera. 

— Retire o que disse — disse sorrindo. — Vossa Alteza é uma princesa, mas é a rainha em esconder o que sente.  Ainda podemos ser bons amigos, eu perdoo-te pelo que fez. 

Senti meu coração apertar, e um nó se formar em minha garganta. Não poderia ser totalmente sincera com ele. Nunca! Só a Guilhermina me ajudaria com esse fardo. 

— Tentarei ser o mais perto possível da sinceridade. 

— Contento-me com isso. Começarei pela dúvida que permeia os meus pensamentos a três longos anos. Meh — ele pegou minhas duas mãos e olhou nos meus olhos. — por que não quisestes mais ser minha amiga? Esses três anos foram os piores da minha existência. 

Minhas lágrimas desceram sem a minha permissão. 

— Não alegro-me pelo que fiz — ele entregou-me um lenço que tirara do bolso. 

Aproveitei para livrar-me de suas mãos, (discretamente),  que seguram as minhas. 

Sentei-me debaixo de uma árvore e repousei a minha cabeça em seu tronco. Eu precisava ser sincera com ele, eu o devia isso. 

— A nossa amizade estava atrapalhando-me, a cumprir o meu dever de princesa — disse de um vez. 

— Não entendo, poderia ter dito-me na época e daríamos um jeito. 

— Perdoe-me, jamais voltarei  afastar-te. 

— Suas palavras são como uma doce canção aos meus ouvidos cansados, e meu coração ferido. 

— Encanta-me com vossas palavras requintadas! Esqueci-me de como és um exímio poeta. Faça sua segunda pergunta, por gentileza. 

Não estava preparada para responder mais nenhuma pergunta, mas eu devia isso a ele. 

— Pois bem princesa: porque não ficastes feliz com a minha volta? 

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