Baile

A noite estava linda! As estrelas dava um charme especial áquela escura noite.

Tinham muitas pessoas naquele dia. Graças aos Céus, o baile teve a participação dos súditos. Sendo assim, não seria uma noite extremamente longa e chata. 

Não, eu não apreciava tanto os bailes assim... eram sempre cheios de pessoas que não se importam com os outros. Vivem com aquele ar de superioridade! Detesto pessoas assim. 

Naquela noite eu pude contemplar vários rostos conhecidos, dos meus tão queridos súditos, que tenho o prazer de chamar de amigos. 

Os meus pais dançaram a primeira música, dando início ao baile de primavera. 

Como era um baile de primavera, o salão de festas foi devidamente decorado com muitos arranjos de flores naturais. Estava simplesmente harmonioso. 

Assim que meu pai terminou de dançar com a minha mãe ele convidou-me, para dançar com ele a próxima música. 

Sentia-me protegida e amparada por ele. Faria de tudo para agrada-lo e honra-lo. 

— Filha, não demorará muito. Enfim através de você, o reino de Myrabel terá um herdeiro! — disse o meu pai todo orgulhoso. 

— Cumprirei o meu dever com honra meu pai. 

Honra tem muita diferença de felicidade. Já que as palavras do meu pai causaram-me tristeza, e não alegria, naquele momento. Alegria também não tem nada a ver no cumprimento de um dever real. 

Assim que terminamos, foi a vez do príncipe Vitório, convidar-me para uma dança. 

— Princesa Esmeralda — disse ele — não vejo a hora de nos unírmos em laços matrimoniais. 

— Está muito perto príncipe Vitório — forcei um sorriso. 

Sim, esse era o meu prometido. Em meus cálculos e pesquisas ele era a melhor escolha para o reino de Myrabel! Então quando meu pai disse que seria ele o meu futuro esposo, achei ter sido uma boa escolha. Apesar dos pesares. 

E também, nossos filhos seriam bonitos, já que ele era dono de uma rara e estonteante beleza. Os cabelos eram como o ouro e olhos azuis como o céu. Seu rosto também tinha traços delicados. 

Assim que a música acabou e começou outra, o  Thomas, convidou-me para dançar. Ele era um de meus súditos, devem lembrar-se dele, da última reunião que fui no Vilarejo. 

Ao perceber que não era nenhum nobre ou realeza, o Vitório segurou mais forte minha cintura, como um sinal para ignorar o pedido do Thomas. O que eu deliberadamente fingi que não entendi, e fui dançar com o Thomas. 

A coragem que o Thomas teve em convidar-me, despertou a coragem dos outros. Recebi vários convites das pessoas que estavam comigo quase todas os dias nos Vilarejos. Aquele estava sendo o melhor de todos os bailes que já participei. Eu estava deveras feliz naquela noite em questão. 

Recebi vários convites para dançar, menos do Alberto. Por algum motivo ele não convidou-me. 

Bolei um plano. 

— Diga para o Alberto convidar-me para a próxima dança — disse para o padeiro que dançava comigo. 

Então, depois do meu pedido, ele convidou-me. 

— Porque não convidaste-me para uma dança? 

— Acho que não é adequado. 

— Beto, todos os meus súditos estão convidando-me para dançar, e está sendo deveras agradável. 

— Garanto que o príncipe Vitório não se agradou nem um pouco — respondeu-me, com um sorriso. 

— Ainda não sou casada com ele, não tenho que agrada-lo. 

Quando a música estava quase acabando, o príncipe Vitório interropeu. O Alberto saiu e continuei a dança com ele. 

— Estavas deveras feliz com aqueles plebeus. Essa será a última vez que dançará com a plebe. Guarde bem as minhas palavras — ele tinha um olhar de fúria. 

Eu não sabia como reagir. As ordens que eu recebia sempre vinham do meu pai, e eu as obedecia a risca. Nunca tinha recebido uma ordem de outro homem. 

Eu tinha várias coisas para falar. No entanto resolvi ficar calada. Senti meu nariz arder, como se as lágrimas fossem descer naquele momento. 

Claro que eu sabia que ele era assim, afinal de contas era filho do rei Fausto, famoso por sua crueldade. Mas jamais questionaria a escolha do meu pai. 

Após as palavras do príncipe Vitório, dei graças aos Céus quando o baile acabou. 

Fui direto para os meus aposentos. Estava cansada e também fui levada a pensar como seria a realidade do meu casamento. 

No dia seguinte, acordei com forças renovadas. Afinal de contas o dia seria deveras significativo. 

Reuni com meus pais para apreciar o desjejum. 

— Querida — chamou-me meu pai, com um olhar sério—, O príncipe Vitório pediu a minha permissão, para que fique em seu palácio, até o dia do casamento. Para acostumar-se. Partirá amanhã pela manha. 

— Como queira meu pai. 

Tive que usar até a última gota de alto controle, para não derramar-me em lágrimas ali mesmo. 

Dei graças aos Céus por já está no fim do desjejum. 

Assim que acabei fui direto para os meus aposentos. Lá era o meu esconderijo, onde eu poderia chorar sem ser importunada. 

— Guilhermina, mais um vez terei que escolher entre o amor e o dever! — lamentei em meio ao pranto. 

— Tenha fé princesa. Sei que o Altíssimo não te dará um fardo maior do que possa suportar. 

Joguei-me em meu leito, e chorei. Chorei como se não tivesse mais um amanhã. É, o príncipe Vitório falou sério no baile. Agora nem sei se voltarei a ver as pessoas dos Vilarejos de Myrabel. 

Ouvi batidas na porta. 

— Preciso ver a minha princesa — disse o Alberto já entrando para meus aposentos. 

A Guilhermina ficou pasma diante da ação do Alberto. Ela simplesmente fechou a porta após si, e ficou de pé observando. 

Ele sentou-se em uma cadeira que estava diante do meu leito. 

— Meh, não pode ser verdade — disse ele enquanto tirava os fios de cabelo que estavam grudados em meu rosto. — acompanhar-te-ei onde for. 

Minha aparência não estava nada bonita, olhos vermelhos, cabelos desgrenhados e muitos fios grudados em meu rosto, devido as lágrimas. 

— Achas mesmo que o príncipe Vitório permitirá sua presença em seu palácio?! 

Ele secou minhas lágrimas com um lenço que tinha no bolso. Como ele era gentil e cuidadoso! 

— Pode ir Alberto — disse a Guilhermina caindo em si. — eu cuido dela. 

— Minha princesa, prometeste-me que jamais voltaria afastar-me. 

Antes que eu o respondesse ouvi batidas na porta. Ele se levantou e foi atender. 

O que eu faria? Não queria que meus pais presenciasse aquele estado em que eu encontrava-me. Fiz a primeira coisa que pensei. 

Peguei um livro que estava sobre meu leito, abri em qualquer lugar e fingir estar lendo. 

— Filha querida — disse minha mãe carinhosamente. — percebi que não ficou feliz com a decisão do seu pai e do príncipe Vitório. 

— Não adianta adiar o inevitável minha mãe. Esse é o meu maior dever real — continuei lendo o livro, até passei um página para reforçar, a “realidade”. 

— Queria que não fosse preciso fazer isso. Pesa-me o coração por isso,  queria que o seu casamento fosse por amor e não por dever. 

— Tudo bem, sempre soube que seria assim. 

— Se seu pai não tivesse feito aquele documento em 1800, talvez agora o sacrifício não faria parte de sua vida. 

— Não penses assim, ele fez o certo. E sabemos que ele não pode fazer novamente, o povo de Myrabel presa muito as tradições. 

— Se não se agrada do príncipe Vitório, posso suplicar por ti ao rei, com certeza ele permitirá que case-se com outro. 

— Oh minha querida mãe! Agracia-me com sua preocupação e cuidado. Mas não preocupe, eu irei, prontamente. 

Ela não ficou muito tempo em meus aposentos. Saiu deixando um beijo em minha testa. 

Assim que ela saiu, levantei-me. Fui em direção ao espelho, arrumei-me apressadamente. 

— Vamos?! 

Alberto estava boquiaberto, com minha atitude. 

— Meh, alguns minutos atrás, o pranto tomava conta de todo o seu ser, e agora está como se nada tivesse acontecido? 

— Perdoe-me Beto, não era do meu agrado que vesse-me em um estado tão deplorável. 

— Não entendo, como consegue. 

— Não sou louca. Permito-me sentir por alguns minutos, depois recomponho-me. 

— Ela guarda tudo para se própria — disse Guilhermina não muito feliz. 

— Precisa desabafar minha princesa, isso não lhe faz bem. 

— Ficar falando não vai adiantar nada. É inevitável, então vamos, temos um dia cheio. 

Eu tinha que ser forte! Não podia entregar-me ao desespero. Embora meu coração tivesse dilacerado, precisava máscarar meus sentimentos com um sorriso. 

Ao chegar no nosso ponto de separação, lembrei-me com pesar de algo. Não era só eu que  seria afetada com essa decisão. 

— Oh Guilhermina, sinto muito por ter que ir comigo. Amo-te, mas assim que me casar liberar-te-ei. 

— Sinto-me honrada em ter seu amor — respondeu-me — para mim é uma honra acompanhar-te. 

— Oh querida! Como aprecio-te! Quero que passe o dia hoje, e a noite com sua família, e encontre-me no palácio pela manhã. 

Ela ficou satisfeita. Pude ver o brilho em seu olhar. 

Alberto e eu prosseguimos, precisávamos nos encontrar com os médicos. 

— Minha princesa, também irei com você. 

— Agradeço-te pela prontidão. Porém, tenho uma missão extremamente importante para dar-te. 

— Sabes que faço qualquer coisa por ti. 

— Quero que sejas eu... 

— Acho que precipitei-me, ao falar. — sorriu. 

— Quero que assuma o meu lugar, nos Vilarejos, ajudando-os. Eles não podem ficar desamparados.

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