Elisa
Elisa
Por: Luciola Mattos
Introdução:

No dia em que minha mãe finalmente morreu eu deveria ter chorado, deveria ter ficado triste...

Não me entenda mal, minha mãe sofreu por um ano, presa naquele hospital, ela lutou bravamente, se agarrou com forma a vida. Foram dezesseis infartos, cento e vinte e nove dias em coma, três cirurgias... 

Um ano de dor e sofrimento...

Quando me ligaram dizendo que ela tinha ido embora eu senti um alívio, finalmente ela tinha descansado, finalmente o sofrimento dela havia acabado. O meu estava só começando...

Foi difícil contar aos meus irmãos, pior ainda ter assistir o sofrimento deles.

Então depois de um mês de descanso as dividas chegaram. Nossa única renda era a pensão deixada pelo meu pai. O dinheiro do seguro da minha mãe ajudou até mais do imaginei, consegui pagar as despesas do hospital, do funeral e os meses da escola dos meus irmãos que estava em atraso. Fiz compras para nossa casa. 

Com o dinheiro da pensão do meu pai eu só conseguiria pagar a escola e energia. 

A faculdade que eu cursava estava atrasada e minha saída era parar de estudar e apenas trabalhar. Pelo menos nós não passaríamos fome. 

Tive muita sorte porque o Sr Edmond permitiu que eu cursasse a faculdade mesmo sem dinheiro, ele conheceu meu pai durante a juventude quando ambos foram para o Iraque juntos. Segundo o reitor meu pai havia salvado a vida dele, um herói de guerra. 

Eu tinha orgulho do meu pai, apesar de culpa-lo todos os dias por ter morrido em campo de batalha, ele salvou vidas em troca da sua própria. Quando a maldita guerra acabou enviaram uma bandeira e duas medalhas para que enterrassemos um caixão vazio. 

Minha mãe assumiu o papel de ambos se desdobrando entre o emprego, cuidado da casa e três filhos. Mesmo depois de descobrir que estava com o maldito câncer ela continuou forte e quando não pode mais trabalhar ela ainda nos confortava todos os dias. 

Ela prometeu a Erick nunca nos abandonar, mas eu sabia a verdade. Os médicos haviam dado a ela três meses de vida, ela ainda lutou por um ano. 

Meus irmãos passaram por várias fases. Raiva, rebeldia, ódio e finalmente a aceitação. Estava grata porque apesar de tudo tínhamos união. 

Erick estava na escola com treze anos, Jane acabado de entrar no ensino médio. Quando ela descobriu a realidade de nossa situação, ficou uma semana sem falar comigo depois de discutirmos. No fundo ela tinha razão eu deveria ter divido com eles e talvez isso ajudasse...

Ella começou a fazer alguns serviços como babá e por algumas vezes o pouco dinheiro que ganhava era tudo que tínhamos para comer. 

Então chegou o dia em que meu irmão descobriu que nossas vidas estavam sobre uma granada prestes a explodir, ele não falou com nenhuma de nós, conseguiu um emprego entregando o jornal, quis sair da escola particular em que estudava. 

Nessa época as coisas pareciam estar melhorando até a assistente social aparecer exatamente no dia em que nosso gás e energia haviam sido cortados. Eu tinha quinze dias para pagar 340 mil em dívidas. 

Nada, nenhum dos nossos esforços tinha sido o suficiente. 

Então aceitei a única proposta que nos salvaria, fiz algo que nunca, jamais pensei em fazer. 

Eu aceitei a proposta que ele havia feito. 

Quando sai pela porta da minha casa deixei para trás minha irmã chorando e meu irmão com muita raiva. 

Eu nunca mais fui a mesma pessoa, vendi muito mais que o meu corpo, vendi minha dignidade e honra. 

O dinheiro pagou todas as nossas dívidas, mas não foi capaz de apagar minha consciência, não foi capaz de me fazer esquecer. 

Se eu fechasse os olhos era capaz de sentir sua boca, seus cabelos entra meus dedos, sua mãos em meu corpo e sua respiração batendo em minha pele. Eu estava marcada para sempre.


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