1.Nas alturas

Em seu quarto, Christian se aprontava para sair com seu melhor amigo David, comemorariam o ultimo dia de férias. Haviam combinado de ir ao centro da cidade onde um parque de diversões estava de passagem, ele estava pondo sua colônia com fragrância de baunilha, sua favorita, quando seu celular tocou, ao olhar o display era David.

- Você já está pronto Christian? - perguntou seu amigo animado.

- Estou, você já esta vindo? - respondeu monotonamente. A ideia de ir ao centro tinha sido completamente de David.

- Sim, já estou indo. Minha mãe pensa que temos dez anos e insistiu em nos levar, acredita nisso? Ultimamente ela esta tão grudenta comigo, me segue em todo lugar que pode, como se estivesse me espionando, não sei o que ela espera que eu vá fazer. Se você se importar eu dou um jeito de despistá-la? - disse empolgado com a ideia como se esperasse apoio.

- Ta tranquilo... Quer dizer, eu gosto muito da Sra. Gabriela, mas ela vai nos deixar sozinhos no centro, certo? - Supervisão de pessoas mais velhas não combinam com diversão pensou Christian.

- Não, ela vai nos deixar lá e depois nos buscar. - explicou. - Como eu disse, resolveu grudar em mim. Agora diz se eu mereço?

- Para com o drama cara - riu descontraído. - Que horas ela viria.

- Ás nove. - respondeu ele meio aborrecido.

- Tudo bem, considerando que temos aula amanhã...

- Ha, preciso encontrar um amigo mais baderneiro, você já ta pensando na aula de amanhã? - David suspirou. - indo pra ai, tchau.

- Para com isso cara - ele riu do comentário de David - Ok, tchau. - Respondeu, enquanto encerrava a chamada.

Christian caminhou até o espelho enquanto olhava o relógio, eram dezoito horas, observou ele e parou a mirar seu próprio reflexo enquanto se distraia em pensamentos.

Sua pele tinha um tom escuro de canela, cabelos ondulados até suas sobrancelhas, olhos castanho-mel, alto e meio atlético, talvez pelas aulas de natação no colégio.

Ele usava aquela noite uma camisa branca de mangas até os pulsos e calças jeans escura acinzentada. Um sentimento lhe ocorreu ao se olhar no espelho, algo como um pressentimento de que estava fazendo algo premeditado, um sentimento forte de que deveria sair aquela noite, talvez por isso David o convencera tão facilmente desta vez. Enquanto caminhava ate a porta esbarrou na cadeira a frente da pequena mesa com seu computador, ainda distraído com seus pensamentos, seu quarto de cor azul, ficava no nível superior da casa, onde também havia uma sacada com vista para rua.

Depois de alguns instantes ao sair do seu quarto, enquanto descia as escadas ouviu a mãe de David buzinar lá fora.

- Você já esta indo Christian? - a sua mãe Hellena, perguntou o interceptando ao fim da escada.

- Sim, a mãe do David já está ai fora esperando, ela irá nos levar e trazer de volta mais tarde.

- Eu os levaria querido, mas como a Gabriela já se comprometeu... - disse ela enquanto Christian sentia um tom de ciúmes.

- Na verdade, eu não entendo vocês mães, - ele disse levantando o dedo indicador - eu e o David temos quinze anos e vocês parecem esquecer - e sorriu ao dizer.

- Está bem, que horas você volta?

- Depois das nove.

- Precisa de dinheiro?

- Não mãe, ainda tenho o suficiente do ultimo final de semana, obrigado.

- Então, boa diversão. - ouviram Gabriela buzinar novamente - É melhor você ir querido, te amo filho.

- Também te amo, até mais tarde. - disse caminhando até a porta.

Hellena era morena os cabelos negros e compridos, olhos cor de mel e não muito alta.

Ao chegar a varanda da frente, o carro cinza da mãe de David já estava esperando-o, o que o fez se apreçar correndo.

- Boa noite Sra. Gabriela... Quero dizer... Gabriela, desculpe - disse Christian rindo, ao lembrar que A Sra. Gabriela não gostava que ele a chamasse de Sra.

- Tudo bem Christian, um dia você acostuma. - ela disse, sorridente como sempre.

- Entra logo ai Chris! - alegrou-se David ao cumprimentar seu amigo.

- Já to indo! - respondeu Christian na mesma animação, o carisma de David era contagiante.

- Entra logo ai, a noite passa rápido - disse, abrindo a porta da frente e passando para o banco de trás para ir junto com Christian.

Levaram de cinco a dez minutos para chegarem ao parque de diversões de Sol Nascente, era esse o nome da cidade. Na frente do parque muitas pessoas somavam-se ao barulho e a uma grande movimentação.

- Vocês tem certeza que não querem que eu fique? - insistiu a Sra. Gabriela pela milésima vez.

- Não! - Responderam Christian e David ao mesmo tempo. Os três riram por isso.

- Está bem, está bem, divirtam-se então.

- Pode deixar! - responderam rindo.

A Sra. Gabriela então foi embora enquanto os garotos entravam no parque por entre a multidão que ali se encontrava.

Enquanto caminhavam observavam muitas pessoas diferentes, adolescentes e crianças fazendo bagunça e correndo para todo lado. O cheiro de doces e frituras no ar atraindo até um estomago cheio, muitas luzes em diversas cores se espalhavam pelos brinquedos e em fios sobre suas cabeças, um lugar agradável e divertido bem como um parque de diversões deve ser.

- Tá legal, em que vamos andar primeiro, montanha russa, queda livre, morte súbita? - perguntou David em euforia. Ele era da mesma altura que Christian, um pouco mais que um metro e setenta, cabelo castanho desalinhado e olhos verdes.

- Sei lá, pode ser na roda-gigante - respondeu ele sem ter certeza.

- Eu esperava algo mais emocionante, mas podemos começar pela roda-gigante, mas só porque ela é realmente grande - concordou David, apontando para o brinquedo - e vamos logo para bilheteria, que deve ter uma tremenda fila. - disse, enquanto agarrava o braço de Christian e o arrastava pela multidão a dentro.

- Calma David! - gritou Christian em protesto entre tropeços.

- Então anda depressa, odeio filas cara! - respondeu sorrindo.

Como David havia dito a fila para bilheteria estava realmente grande, já estavam imaginando esperar tanto mas perceberam que a fila estava andando depressa. Naquele momento o olhar de Christian foi atraído por algo, um garoto alto de pele clara, os cabelos negros e caído sobre os olhos de um escuro profundo que o encarou por um instante, o seu andar sofisticado ao lado de uma garota com o mesmo tom de pele, seus cabelos negros e lisos ate a sua cintura, um pouco mais baixa que o garoto, o qual apressou ainda mais o seu passo, antes de sumirem de vista ele virou o rosto em um ato meio arrogante o que irritou um pouco Christian, a garota no entanto piscou um de seus olhos azuis e sorriu para ele, que retribuiu o sorriso meio sem jeito.

Christian sentiu uma dorzinha em sua cintura e demorou um segundo para perceber que era David o cutucando.

- Ai! O que foi? - reclamou, afastando a mão de David.

- Você viu aqueles dois? - perguntou ele que como Christian também os tinha notado.

- Sim, o que tem eles? - disse, enquanto endireitava sua camisa.

- Você os conhece? Foi impressão minha ou a garota piscou para você. - David perguntou a curiosidade estampada em seu rosto.

- Tive a mesma impressão mas não tenho certeza.

- Sei... Olha, é a nossa vez.

Christian não havia percebido que já tinham chegado a bilheteria. Compraram os bilhetes e foram para infelicidade de Christian para outra fila, a da roda gigante, mas desta vez era uma fila pequena. Quando faltava um pouco mais que cinco pessoas, ele percebeu alguém atrás dele, e ao se virar percebeu que eram eles, os dois garotos da ultima fila, então se virou de volta bruscamente, uma reação um tanto exagerada pensou ele. Logo após sentiu uma mão em seu ombro acompanhada de uma voz.

- Olá? - era a garota falando, então se virou para ela.

- Olá- respondeu meio tenso.

- Meu nome é Sophia, e o seu? - ela sorria enquanto falava.

- É... Christian. - nesse momento David percebeu a conversa e se virou. - e esse é meu amigo David. - continuou apontando para seu amigo

- Olá David, me chamo Sophia - disse ela, enquanto David corava.

- Prazer Sophia. - falou ele sorrindo sem jeito.

- Esse é meu irmão, Petrus. - ela gesticulou para o garoto.

- Oi Petrus. - Disse enquanto pensava entrementes como Petrus o olhava, como se o estivesse avaliando e não gostou disso.

- Oi - ele respondeu secamente em uma voz suave e controlada.

David apenas fez um aceno com a mão que foi educadamente retribuído por Petrus.

- Você se importa se eu passar na sua frente Christian? - começou Sophia - É que pela contagem eu irei na próxima volta e estou com um pouco de medo, essa roda gigante é muito alta, e já estou perdendo a coragem. - completou relutante.

- Claro, tudo bem. - concordou.

- Obrigado. - ela sorriu passando a frente de Christian.

Continuaram a conversar por alguns minutos, Petrus sempre calado apenas observando, quando chegou a vez das pessoas a frente deles andarem no brinquedo, as pessoas de Christian para trás ficaram para próxima volta.

- Você não se importa que eu vá primeiro Chris? - David perguntou.

- Claro que não. - respondeu sorrindo, percebendo que David queria ficar mais próximo de Sophia e jamais iria atrapalhar.

- Que bom então - ele disse indo se sentar ao lado de Sophia.

Depois de alguns minutos Sophia e David já aviam terminado sua volta no brinquedo e saiam pelo outro lado, enquanto Christian acompanhado de Petrus para seu desconforto, seguia para sua vez.

O brinquedo começou a girar e depois de um tempo aconteceu o que sempre se espera de uma roda gigante, ela parou justamente com eles no ponto mais alto, o assento oscilou com a parada repentina fazendo Christian enrijecer involuntariamente enquanto segurava a barra de proteção o mais forte que os nervos da sua mão poderiam aguentar, nem mesmo ele esperava essa reação.

- Calma ai. - disse Petrus pondo a mão sobre o ombro de Christian. - é muito alto pra você?

-Estou calmo, não é a altura, foi só o susto. - explicou estranhando a súbita simpatia de Petrus.

- Tudo bem então? - perguntou por fim, a antiga expressão esnobe vestindo o seu rosto novamente.

- Tudo. - respondeu, quando o brinquedo ameaçou a recomeçar a girar e parou.

As pessoas que estavam também na roda gigante, até mesmo as que estavam na fila lá embaixo para próxima volta começaram a reclamar por o que agora se tornará um problema. Em um impulso irracional de distração Christian se inclinou para frente para olhar para baixo em busca de alguém para reclamar.

- O que está a... - mas ele não terminou a frase, o que aconteceu em seguida foi muito rápido, no instante em que se inclinou a barra de proteção se destravou e um frio mortal invadiu o seu estomago, enquanto sentia que estava caindo.

Ele fechou os olhos enquanto esperava o pior, mas no mesmo instante sentiu algo segurar sua mão e ao abrir os olhos viu que era Petrus que o mantinha seguro com uma mão enquanto a outra segurava a parte inferior do banco do brinquedo que oscilava de um lado para o outro.

- Não me solta! - gritou Christian que agora segurava com as duas mãos, pensando o quão desesperado tinha soado.

- E porque faria isso? - Disse Petrus agora sorrindo como se a situação fosse engraçada.

Entrementes eles perceberam os gritos de pavor ao redor deles, reconhecendo entre as vozes a de David e Sophia. O vento aumentou o que fez Christian se sentir um pouco tonto.

- Aguentem firme! - alguém gritava lá embaixo, eles olharam e reconheceram como o controlador do brinquedo que tentava manter a calma. - Já vou descer vocês!

- Quem esta com pressa, não é? - Petrus falou para Christian, que notara que ele nem parecia fazer esforço para mantê-lo suspenso, e apenas sorriu nervoso em resposta.

Começaram a descê-los e segundo a segundo o chão parecia mais próximo até estarem a centímetros dele. Nesse momento o brinquedo tremeu e Petrus se soltou com o tremor caindo junto a Christian sobre o chão.

- É, chegamos... - disse ele rindo e fazendo Christian sorrir também como David fazia, talvez Petrus não parecesse de muitos amigos, mas por dentro parecia um cara legal, pensou.O vento pareceu mais forte de repente e as pessoas se aproximavam deles depressa.

- Hei! Vocês estão bem? - um homem desconhecido perguntou.

Petrus se levantou e estendeu a mão para ajudar Christian a se levantar também. Sophia e David chegaram no local, ela não parecia abalada, observou Christian, mas David estava eufórico a preocupação estampada em seus olhos.

- Você esta bem cara? - perguntou ele.

- Estou legal.

- Foi tudo tão rápido, no momento em que olhamos para cima vocês já estavam pendurados. - continuava ele coçando a cabeça.

-É, eu sei... - Christian agora prestava atenção em Petrus e Sophia que pareciam preocupados e discutiam algo. Ele notou também uma queda de luz, os postes e enfeites luminosos piscavam e algumas lâmpadas soltaram até faíscas e queimaram. Em seguida ele teve a impressão de ouvir Sophia dizer algo como "eles estão aqui",e depois começarem a andar em direção a saída do parque.

- Onde você vai garoto?! - alguém gritou atrás dele para Petrus, e ele não respondeu.

- Vem comigo. - disse Christian para David e correram na mesma direção em que os outros tinham ido.

- Hei! Você também! - gritaram agora para Christian, mas ele também não deu ouvidos.

- A onde estamos indo Chris? - David perguntou enquanto corria junto a Christian.

- Atrás de Petrus e Sophia - respondeu.

- Olha eles ali! - disse David apontando, e correram até eles.

- Hei, vocês! - gritou Christian enquanto se aproximava - Porque saíram assim desse jeito?

- Nós temos que ir agora - disse Sophia parando por um minuto enquanto Petrus a esperava agora com a velha expressão fechada novamente. - Mas vamos nos encontrar outra vez.

- Mas... - Christian tentou dizer, mas eles já haviam voltado a correr e desta vez ele não os seguiu.

- Estranho não acha? - comentou David.

- É... Estranho. - respondeu, enquanto observa os dois sumirem ao longe.

- Acho melhor nós irmos pra casa, e além do mais as pessoas vão te encher de perguntas.

- É, você tem razão, liga pra sua mãe. - disse enquanto caminhavam para fora do parque.

- Esqueci meu celular no quarto antes de vir - passava as mãos no bolso enquanto dizia.

- Também esqueci o meu.

- Acho que podemos ir para casa a pé, ainda não é muito tarde. - sugeriu David.

- Mas a sua mãe não vai se importar?

- Explico a ela depois.

- Então vamos. - concordou.

Os dois garotos seguiram para rua, as pessoas que estavam por ali olhavam para Christian e apontavam com expressões horrorizadas, mas logo eles estavam longe delas ao virar a esquina, o que fez Christian se sentir bem melhor.

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