Nikolay, no passado, foi um homem honrado e dedicado. Sempre teve um forte senso de justiça acreditando que poderia colocar atrás das grades um grupo de criminosos que rondava a cidade, mas a infidelidade de seus irmãos fez sua vida ruir diante de seus próprios olhos. Tomado pelo ódio, deixou tudo o que acreditava para se tornar Durval – El Toro, um mafioso sanguinário que busca vingança contra aqueles que o traiu, mas será que ele conseguirá honrar todas as promessas feitas sobre o corpo de sua esposa? Às vezes o destino nos prega peças interessantes e coloca à prova aquilo que acreditamos.
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Ele não busca reconhecimento, sucesso ou fama.
Ele busca vingança.
Prólogo
Aqueles lindos olhos claros que mais parecem um oceano de águas limpas e turbulentas me encaram assustados e com uma súplica silenciosa por socorro. Inutilmente tento soltar as correntes que prendem meus pulsos na barra de ferro atrás das minhas costas.
O pequeno corpo escultural que se encaixa perfeitamente ao meu é brutalmente estuprado diante dos meus olhos, sem que eu nada possa fazer. Por mais que eu grite, implore e ofereça minha vida em troca da dela, recebo chutes e pancadas. Sou obrigado a assistir toda maldade dos homens que um dia confiei, acreditei e jurei lealdade.
Os meus próprios companheiros e amigos mancham a pureza e inocência daquela alma cheia de vida que me encara com um pedido de perdão. O desespero estampado em seu olhar me desfaz em pedaços, não poder fazer nada me mata lentamente. Nenhuma mulher merece passar por isso, nem vivenciar tanta dor. Incapaz, tenho que assistir sem conseguir mover um único músculo do meu corpo para ajudá-la.
Por que? Eles deveriam protegê-la, assim como aos seus colegas de trabalho. Como policiais deveriam ser a justiça e não a desgraça, mas tudo aquilo que sempre acreditei, desmorona diante dos meus olhos.
Se eu desistisse das investigações, nada teria acontecido com Lana, mas a minha teimosia me levou a perdição, machucou quem eu mais amo. Eu deveria estar em seu lugar, deveria morrer por ela, morrer a protegendo, mas não, ela está lá, em meu lugar. Lana não merece maldade alguma, sempre foi uma mulher gentil e dedicada, ela não deveria pagar pelos meus erros.
Eu quero me soltar e matá-los friamente, quero rasgar suas gargantas lentamente, mas eu não posso.
Não posso ajudá-la, não posso salvá-la.
Me debato nas correntes soltando um rugido desesperado que queima minha garganta, um soco forte vem de encontro ao meu rosto e nem mesmo assim paro.
As algemas não cedem, por mais que as force, elas permanecem firmes. Vendo que eu não pararia quieto, um dos homens de Jacob atinge o lado esquerdo da minha face com um metal pontiagudo. Sou obrigado a fechar meus olhos ao sentir o metal rasgar minha pele. O sangue quente escorre pelo meu rosto e por um momento acredito ter perdido a visão, mas a dor física é irrelevante comparado ao desespero que comprime meu peito.
Atordoado e incapaz, encaro os seus lindos olhos azuis fixos aos meus. As lágrimas incessantes escorrem por sua face e os gritos de desespero já não rompem mais seus lábios.
Lana está cansada de lutar, exausta de tantas torturas e investidas brutais contra o seu corpo pequeno. Olhos que sempre foram tão puros e cheios de vida, agora me encaram vazios. Com as últimas forças que lhe resta, estica sua mão em minha direção sussurrando um pedido de desculpas, enquanto desfalece diante de mim.
— Você não pode me deixar... — Sussurro sem acreditar no que estava acontecendo.
O desespero domina cada parte do meu corpo, me sufoca e mata lentamente. Ela não pode desistir da vida, não me pode deixar.
— Não pode me deixar! — Grito forçando as correntes contra os meus pulsos na inútil tentativa de escapar.
Deixo minhas lágrimas correrem livres, querendo trazê-la de volta para mim. Querendo sentir seu corpo colado ao meu, seu sorriso tímido de todas as manhãs marcado por suas covinhas, mas de nada adianta.
— Lana! — Grito mais uma vez.
Meu corpo estremece ao sentir sua alma partir e restar apenas seu corpo sem vida diante de mim.
Acordo em um sobressalto agarrando os lençóis com força suficiente para rasgá-los. O ar entra em meus pulmões com força, queimando minhas narinas, suor escorre pela minha testa e o vento frio da janela entreaberta deixa arrepiado os pelos do meu corpo.
Ofegante e cansado, fecho os olhos passando as mãos no rosto na tentativa de tirar aquelas imagens da minha mente, esquecê-las, mas nada adianta.
Encaro o teto observando seu tom azulado pela pouca claridade da luz da lua que entra pela janela. Transtornado, espero minha respiração se acalmar enquanto sou obrigado a vivenciar aquelas imagens mais uma vez em minha mente.
Mais calmo, me viro para olhar o relógio sobre a escrivaninha ao lado da cama, suspiro pesadamente ao ver que consegui dormir apenas uma hora e meia. Fecho os olhos passando as mãos na testa ao perceber que meu tempo de sono está diminuindo gradativamente. Ultimamente os sonhos estão mais intensos e reais do que o normal, como se quisessem me punir dia após dia.
Cansado e aturdido demais para permanecer ali, me sento na cama com certa dificuldade. Apoio as mãos no rosto novamente, a fim de dispersar aquelas imagens da minha mente, mas não seria tão simples assim.
Atordoado com o pesadelo recente, apoio-me nos móveis à minha volta para chegar até a cômoda. Derrubo alguns vidros de perfume ao puxar com brutalidade as gavetas, apressadamente pego os pequenos frascos de remédios controlados e sem paciência jogo os calmantes dentro da boca, engolindo-os de uma vez.
Respiro profundamente na tentativa de estabilizar meus sentimentos para finalmente iniciar meus afazeres do dia.
Um pouco desnorteado, sigo para o banheiro entrando embaixo do chuveiro com as roupas que tinha no corpo. A água fria escorre pela minha pele quente tencionando ainda mais meus músculos e aos poucos, minha mente cansada e abatida se alivia, acalmando aquele sentimento de incapacidade e dor latente.
Retiro minhas roupas as jogando em um canto qualquer, aproveitando para tomar um banho demorado, para ser sincero mais demorado do que gostaria, porém serviu para esfriar minha cabeça, acalmar a ansiedade e diminuir a sede de vingança.
Preciso manter a calma para não fazer qualquer investida impensada. Resta apenas um dos assassinos da minha esposa, e terei a honra de matar com minhas próprias mãos como fiz com os outros três e farei com qualquer um que tentar me impedir. Mas tenho que organizar friamente meus planos para pegá-lo sem falhas.
Ao sair do banho visto uma calça de moletom e opto por ficar sem camisa. Seco rapidamente os cabelos com uma toalha os deixando bagunçados e despenteados sem me importar com aparências.
Toda noite é a mesma coisa, procuro me afundar no meu trabalho para não ter tempo de dormir, contudo o cansaço domina meu corpo e acabo cedendo a necessidade de descansar. Mas a cada dia que se passa a morte de Lana retorna em pesadelos brutais e dolorosos.
Ela era uma mulher doce, simpática e extrovertida, seu maior sonho era ser mãe. Mas infelizmente tudo nos foi tirado naquela noite.
Como o dia começaria bem mais cedo do que o normal, sigo para minha academia, preciso descontar o ódio que circula em minhas veias e com certeza seria no saco de pancadas.
As horas se arrastam lentamente e só paro o treino ao sentir o cansaço tomar conta dos meus músculos. Ofegante enxugo o suor que escorre em minha testa, arfando em busca de um pouco ar e paz, mas de nada adianta, as imagens continuam mais vivas em minha mente do que eu gostaria.
Vendo que nem mesmo a academia me tiraria aquela sensação de inquietude, tomo mais um banho e visto uma roupa social jogando meu sobretudo por cima dos ombros, encaixo perfeitamente o chapéu Fedora sobre a cabeça escondendo minha cicatriz. Mesmo sabendo que meus homens não me importunam dentro de casa, gosto do conforto e da paz que meu chapéu traz. É como se ele escondesse os meus pecados, as falhas e lavasse a minha alma. Uma falsa sensação que traz o mínimo de paz ao meu coração
Sigo para o escritório sentindo finalmente os efeitos do remédio acalmando a tensão constante do meu corpo. Acomodo-me em frente à mesa e observo os inúmeros papéis sobre ela, sem muita vontade de lê-los ou assiná-los.
Seria um longo dia, mas com certeza as investigações para a conclusão da minha vingança renderiam e fariam cada minuto valer a pena.
Falta pouco, muito pouco, para que eu consiga chegar a um dos principais responsáveis pela morte de Lana e eu faço questão de destruí-lo, lenta e dolorosamente sem um pingo de piedade.
Me tornei Durval — El T**o apenas para ter o imenso prazer de sentir o sangue quente daqueles homens escorrer pelas minhas mãos, como já fiz com os outros três e seus capangas.
Não poupei esforços, criatividade e vidas para arrancar a verdade de cada um deles. Pagaram com seus corpos todas as dores que minha preciosa esposa sentiu. E agora só falta mais um para completar minha vingança.
Aperto os papéis em minhas mãos os amassando e nem mesmo os remédios manipulados de Lourenço são capazes de conter o ódio que domina o meu peito.
O escritório fica sufocante diante desses sentimentos que me sugam, sou obrigado a jogar os papéis sobre a mesa e caminhar para a cozinha na tentativa de me acalmar.
Já está amanhecendo e isso é ruim, pois não gosto e muito menos permito que meus homens me vejam nesse estado de descontrole. Eles me respeitam pelo poder e autoridade que passo, mas neste momento sou apenas um homem quebrado e perdido com um forte desejo de vingança.
Seguro a garrafa de whisky disposta sobre a pia a virando em longos goles. O líquido forte desce queimando minha garganta, me trazendo uma sensação de alívio momentânea.
A mistura dos calmantes com o álcool não é uma das melhores combinações, causam efeitos adversos, mas neste momento queria apenas esquecer aqueles olhos que suplicavam por socorro.
Já se passaram dezessete anos e nada, absolutamente nada em minha vida mudou, a dor, o desespero, a angústia, o sofrimento, os pesadelos, tudo é tão real como se a cada dia eu vivesse novamente o dia de sua morte.
E assim sou forçado a viver essa mesma história dia após dia, esperando que cada um daqueles homens queime no fogo do inferno assim como eu queimarei, pois eu sei que para mim já não há mais salvação.
Três anos depois.O vento gelado de dezembro bate contra meu rosto. O chapéu posicionado milimetricamente sobre minha cabeça ameaça sair com a brisa forte, mas permanece em seu devido lugar enquanto caminho entre as pedras.Em silêncio e com os pensamentos longe troco os passos lentamente sobre a neve que recobre o chão. As árvores altas e de copas grandes deixam aquele lugar um pouco mais apresentável, bonito e digamos que sofisticado, mas ainda triste e pesado.O dia nublado não torna as coisas mais fáceis, apenas me deixa mais ansioso e preocupado. A mais de dez anos não venho aqui e sei que estou em falta com ela, mas também sei que lhe devo sérias satisfações.Com um suspiro pesado e a mente borbulhando pensamentos do passado e presente, enfio as mãos no bolso do sobretudo tentando me aquecer, não do frio
Me apoio na mesa vendo Diones largado sobre as correntes quase morto. Seguro a faca que estava sobre a mesa parando em sua frente enquanto encaro os olhos azuis suplicantes de Lana em minha mente.Por vários minutos encaro o corpo de Diones segurando a faca em mãos revivendo o passado, me lembrando de cada detalhe daquela fatídica e desgastante noite e tomado pelo ódio lascivo cravo a faca em seu peito sabendo que atingiria seu coração.Eu já estava cansado de tudo aquilo, cansado do meu passado e das dores que carrego dele, naquele momento só queria terminar o que comecei há mais de dezoito anos atrás e finalmente seguir em frente.Mesmo sem conseguir me encarar, engasgado com o próprio sangue que escorria por sua boca, Diones destrói meu psicológico com uma única frase antes de começar a convulsionar.— Ela acreditava que você poderia sal
DurvalPasso pelo saguão e encontro Matheo fazendo a guarda do local como havia ordenado.— Senhor. — Cumprimenta formalmente ao me ver se aproximando.— As coisas serão mais rápidas Matheo, não quero manter Diones aqui por muito tempo, então vamos usar o andar inferior hoje. — Digito a senha no painel eletrônico e a porta se abre me dando passagem para as escadas.— Quer que preparemos os carros e as motos para a caçada na floresta? — Matheo pergunta ansioso.— Não será necessário. Não quero dar a Diones o prazer de uma morte rápida, se usarmos a caçada um tiro pode ser fatal e isso seria pouco para ele, eu quero vê-lo sofrer. — Afirmo voltando minha atenção para as escadas.— Às suas ordens, senhor. — Matheo mantém a postura ereta e eu sigo o
Aqueles olhos puros e preocupados se fixam nos meus com tamanha profundidade que me lembro dos primeiros dias dela nesta casa. Como sempre, seus olhos tempestuosos parecem desvendar minha alma.— Eu confio em você. — Um doce sorriso surge em seus lábios e o som da campainha faz Olívia ter um sobressalto e começar a chorar.— Acalme Olívia que eu recepciono Jennah. — Sigo para sala de recepção após um aceno de concordância de Alexia que balança nossa pequena em seus braços tentando acalmá-la.Abro a porta e vejo Jennah fardada reclamando dos meus homens.— Eu sei o caminho até a porta. — Seus olhos escuros se voltam para mim irritados. — Seus homens não são muito receptivos.— Fardada, com a viatura da polícia na porta da minha casa sabendo quem eu sou. Acho que eles te recepcionaram muito bem.
DurvalA risada rompe a minha garganta enquanto saltito animado ao redor de Diones.Meu peito vibra, meu coração acelera e os hormônios da felicidade fazem a festa dentro do meu organismo.— Eu juro. — Faço uma pausa dramática. — Juro que não queria sentir tamanha felicidade em te ver sangrar, mas é mais forte do que eu. — Encosto os fios desencapados em sua pele vendo seu corpo chacoalhar com o choque capaz de machucá-lo, mas não o matar.— Eu esperei tantos anos por esse momento. — Grito observando seu corpo largado nas correntes.As novas feridas de chicotadas pintam seu corpo velho em tons de vermelho vivo.— Esta é uma verdade obra de arte. — Afirmo analisando o corte mais profundo e os mais superficiais desabrochando em vergões e feridas grosseiras.— Tenho que concordar. — R&oc
Seus olhos cheios de ódios se voltam para mim enquanto ele puxa o ar pela boca com força.— Mas já está cansado? — Sorrio sentindo meu peito vibrar. — Estamos apenas começando, meu querido amigo.— Eles virão atrás de mim. Eu sei disso. — Tosse algumas vezes.— Não! — Sorrio batendo uma pequena faca na palma da minha mão. — Você é um fugitivo, eles não vão te procurar aqui. — Afirmo. — Na realidade eles nem sabem que isso existe. — Testículo o local. — Esse lugar é fora de rota, uma mansão abandonada fora dos mapas, fica no meio do nada, bem longe de tudo e todos. Poucos sabem desta localidade. Então, eles não irão chegar até aqui. — Gesticulo com indiferença. — Eu nem sou suspeito. — Balanço os ombros fazendo uma careta en
Último capítulo