Capítulo 5

Lívia Campos

O uber que pegamos na portaria do nosso prédio era dirigido por uma mulher, assim como todos os outros que ja pegamos, pois temos um certo medo e insegurança de andar com motoristas do sexo masculino. Essa é uma das coisas que abalam minha felicidade diária. 

O medo que as mulheres possuem ao andar sozinhas na rua, andar de uber com motoristas homens, e até mesmo quando se esta em uma festa desacompanhada é uma das piores sensações que ja tive. A insegurança costumeira que uma mulher sente diariamente é acompanhada de mais um monte de sentimentos que te fazem sentir desprotegida. Homens são um tanto quanto despressíveis por não aceitarem um não como resposta, e acham que a mulher é obrigada a aceitar de boa suas vontades. 

Mas NÃO É ASSIM! As mulheres só devem fazer algo se for de sua própria vontade e se estiver consciente, caso não seja uma dessas opções é considerado errado. Não devemos normalizar o fato de milhões de mulheres estarem sendo estupradas e sendo obrigadas a se calar diante de um homem de merda. Os insultos, como comentários sobre o corpo a roupa usada por nós, não devem ser considerados normais, pois a partir do momento que lhe tira o conforto é porque não esta certo. E não é somente pelas mulheres mais recatadas, e também para as mais soltas. 

Por tanto eu e Taylor nos sentimos muito mais confortáveis em andar de uber com uma motorista do sexo feminino, temos mais segurança e ficamos mais a vontade também. Como sabemos que hoje iríamos beber, decidimos vir de uber para não sofrer nenhum acidente por estar dirigindo bêbadas, por que isso é errado, óbvio. E como estamos decididas em beber, uber é a melhor opção.

Não demoramos mais de trinta minutos para chegar no pub onde trabalha o pretendente de Taylor, ou seu crush como ela diz, já que faz dias que ela fala dele pra mim. O pub estava bem movimentado e com a música alta, e nós adentramos o local atraindo a atenção de algumas pessoas, mas fomos direto pro bar. 

- Quem é seu novo alvo? - Pergunto no ouvido de Taylor um pouco alto devido ao volume da música. 

- Aquele ali. - Taylor aponta discretamente pro rapaz alto, de cabelo e barba preta, com os ombros largos e braços fortes. 

- Uau. - Balanço a cabeça em sinal de aprovação e a minha prima sorri maliciosa. 

Taylor chama o barman que ela esta interessada e o rapaz vem até a gente com um sorriso no rosto e olhos fixos na loira maluca. 

- O que vão querer? - Ele pergunta e só então noto que seus olhos são pretos e bem bonitos. Taylor tem bom gosto ás vezes. 

- Vou querer um drink de vodca com morango bem forte. - Tay responde e olha pra mim rapidamente voltando sua atenção para o barman. 

- Quero uma cerveja preta. - Peço a minha bebida preferida e ele assente se afastando para pegar nossos pedidos. O barman olhava as vezes para Taylor e eu pude sentir a minha prima satisfeita. 

- Aqui está garotas. - Ele estende pra nós nossas bebidas minutos depois. O rapaz cochicha algo no ouvido de Taylor e ela responde com um aceno de cabeça e um sorriso perfeito na face.

- Vamos nos divertir morena! - Minha prima grita em meu ouvido me arrastando pro meio do pub.

Um diferencia desse pub é que possui uma pista pequena de dança, e mesmo não tendo muitas pessoas dançando - Já que esse não é muito o foco do estabelecimento e das pessoas que estão presentes aqui - nós vamos pra pista.

- Eu não quero dançar Taylor! - Reclamo no ouvido da loira e ela revira os olhos.

- Só uma e eu te deixo em paz. - Suspiro derrotada e deixo ela me guiar até o meio da pista.

Levo minha cerveja até a boca e dou um gole, sentindo o líquido queimar minha garganta. Não reconheço a música que está tocando, mas acabo entrando no clima com Taylor. Nós balançamos nosso corpo no mesmo ritmo da música, e com meu gingado brasileiro até rebolo um pouco. Quando a música acaba eu dou um beijo na bochecha de Taylor e me afasto, procurando um local mais vazio onde posso me sentar. Avisto uma cadeira vazia próxima ao balcão do barman e vou direto pra lá. Acabo chamando o chush da minha prima para pegar mais uma cerveja preta.

Enquanto tomo a bebida alcoólica aos poucos e aprecio seu gosto deixo meus pensamentos me guiarem.

Minha vida nunca foi fácil. Sempre fui conhecida por ir atrás dos meus sonhos, nem que seja um bicicleta da Barbie - quando eu era criança- ou abrir a minha própria confeitaria como tenho agora. Nunca deixei de fato as coisas me abalarem, eu preciso sempre colocar um sorriso no rosto e seguir em frente, pois meu dia pode estar péssimo mas provavelmente o dia de alguém está pior e pode ser o meu sorriso que vai alegrar um pouco do seu dia. Não posso dizer que por todo o caminho que percorri nunca derramei uma lágrima, pois isso seria uma mentira muito grande, mas sempre disfarcei minhas dores muito bem.

"Mesmo com o coração quebrado ela sorri, porque é melhor fingir um sorriso do que explicar uma dor."

- Licença? - Me assusto com a voz atrás de mim e me viro para ver quem é.

O choque percorre nossas feições. É o mesmo rapaz que foi ontem na minha Confeitaria, o dono dos olhos azuis que me encantaram e do cabelo castanho claro que tenho vontade de passar os dedos delicadamente para sentir cada fio por entre os dedos. Sua boca se abre em um O chocado por ter se encontrado comigo.

- Niall Hayes. - Sou a primeira a dizer quebrando o silêncio entre nós. - É um prazer lhe rever.

- Lívia Campos... Eu que deveria dizer isso! - Sorrimos um pro outro. - Tudo bem?

- Tudo sim e você?

- Melhor agora. - Solto uma risada. - Hum, está sozinha?

- Sim e não. Vim com minha prima, mas ela deve estar pegando o barman agora, já que ele também sumiu. - Niall ri e balança a cabeça.

- Bem, posso lhe fazer companhia então? - Afirmo sorrindo. Seu olhar cai sobre a minha garrafa de cerveja na mão e ele sorri de canto. - Você gosta de cerveja preta?

- Claro, é minha bebida preferida! Vinho também, mas isso só em casa. E você?

- É minha preferida também! - Sorrio pra ele e o mesmo chama um barman. - Duas cervejas pretas por favor.

- Ah eu ainda não acabei com essa. - Digo apontando pra garrafa em minha mão que tem um pouco menos da metade somente. Niall me lança um olhar como quem diz pra mim terminar e eu dou de ombros levando a garrafa até a boca e bebendo o resto.

- A próxima é por minha conta. - Ele diz e só então noto o quanto seu corpo está perto do meu devido a quantidade de pessoas próximas ao bar. Isso faz meu corpo de aquecer.

- Okay. E você, está sozinho?

- Ah sim, hoje sim. Eu precisava sair um pouco e moro aqui perto, então decidi vir. - Afirmo sorrindo mas não respondo já que o barman trouxe nossas cervejas. Niall me entrega a minha. - Isso aqui tá muito cheio, quer sair um pouco?

- Pra onde? - Pergunto indecisa se devo ou não confiar nele.

- Relaxa, não vou fazer nada com você. E tenho certeza que vai gostar desse lugar.

Suspiro profundamente e decido ceder e ir com Niall. Caso ele tente alguma coisa eu sei uns golpes de auto defesa e posso dar um chute no meio de suas pernas. Mas para minha surpresa Niall me guia com uma mão na cintura - sem ser invasivo - até os fundos do pub, onde tem algumas pessoas, mas está bem mais vazio e fresco do que lá dentro. O pub possui um deck de madeira bem grande e com vista para um pequeno lago, bem semelhante ao que tem próximo a minha Confeitaria.

- Gostou? - Ele pergunta me olhando atentamente.

- Gostei. É bem bonito aqui. - Sorrio pra ele e o mesmo retribui.

Niall é um homem muito bonito e charmoso, ainda mais sob a luz da lua. Seus olhos ficam mais brilhantes e azuis, se é que isso for possível. Talvez Niall seja um dos homens mais bonitos que já vi.

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