Perla não parou de me ligar, o tempo todo querendo conversar sobre minha separação foi obrigada a ser grossa com ela, para que ela me deixasse em paz. Para conseguir o meu sossego enviei para ela uma generosa quantia em dinheiro, deixando bem claro que seria a última vez, que aquele dinheiro era para pagar as dívidas e se acertar até conseguir um emprego. O dia começou agitado, hoje era o grande dia de Laura, Matteo estaria de volta. Seu voo chegaria uma hora antes da festa, ele passaria em um hotel para se arrumar e iria direto para o clube onde seria o baile. Laura estava radiante, seu sorriso era contagiante, assim como sua felicidade. Enrico entrou no meu quarto sem permissão sequer bateu na porta, estava no closet terminando de me vestir. — Você vai chegar comigo, tenho um anúncio importante a fazer, você vai estar ao meu lado — Informou. — Vai anunciar nosso divórcio? — Questione. Ele me olhou de soslaio com um sorriso falso no rosto. — Não querida, você é minha esposa e vai c
Fui embora antes do fim da festa, aquele lugar estava me sufocando, precisava me afastar de Matteo e pôr a cabeça no lugar. Como isso pôde acontecer comigo? Todos esses anos de casamento nunca saí com outro homem e quando faço ele é justamente irmão de Enrico. Tudo aquilo estava me enlouquecendo. Entrei no banheiro deixando as roupas espalhadas pelo chão, caminhei até a banheira vazia e abri a água fria, a sensação de gelo por todo meu corpo me fazia distrair a mente. De uma coisa eu tinha certeza, me mudaria daquela casa no dia seguinte. Despertar naquela manhã não foi fácil, cada fragmento da noite passada estava na minha mente passando como um filme. Precisava desabafar, contar para alguém o que aconteceu, mas o medo dos julgamentos me paralisava. Uma das funcionárias da casa foi até meu quarto, Laura havia pedido a ela que me levasse café da manhã e avisasse que ela não passaria o dia em casa, fiquei aliviada, por mais que apreciasse sua companhia , hoje não era um bom dia para i
Finalmente, saí daquele hospital. O dia de retornar para casa poderia ter sido ótimo, se Enrico não tivesse armado um teatro com a imprensa — a cara dele fazer isso, o marido perfeito e exemplar que busca a esposa no hospital após ela ter sofrido um acidente doméstico ao tropeçar em um tapete. Ele me levou na cadeira de rodas até o carro, enquanto um fotógrafo registrava tudo. O que ele não era capaz de fazer por causa da imagem?Enrico não dirigiu sequer um olhar em minha direção, passou a maior parte do tempo no carro mexendo no celular. Não fiz nenhuma questão de que ele se dirigisse a mim, mas o mínimo que ele poderia fazer era perguntar se estava tudo bem.— Amanhã vamos a um jantar com uns investidores; use sua tarde e arrume uma roupa à altura, são pessoas importantes — disse ele, sem tirar o olho da tela do celular.— Sou mesmo obrigada a ir? — questionei.— Sim.— Eu acabei de sair do hospital, preciso descansar… eu não quero sair de casa.— Você vai e ponto — a minha voz cada
Vejo Enrico se afastando, saindo do saguão. Meus olhos o seguem, discretamente, enquanto ele se esgueira para fora no meio da festa. Não posso deixar de notar a elegância silenciosa de seus movimentos, uma presença que agora se ausenta. Poucos instantes depois, Ursula segue pelo mesmo caminho. Meu coração palpita com uma mistura de surpresa e desconfiança. Será que eles perderam mesmo o medo de serem vistos juntos? A festa ao meu redor continua, mas minha atenção está presa naquele enigma, naquela porta por onde os dois desapareceram.De trás da pilastra, observo Enrico e Ursula. Como ele pode ser tão cara de pau? Nega o divórcio, mas aqui está, beijando-a apaixonadamente, como se ela fosse a única mulher do mundo. Meu coração aperta, e a raiva se mistura com a tristeza. Ele nunca me amou, nunca nos amou de verdade. Por que me prender nesse casamento fracassado? A cena diante de mim é como um soco no estômago. Enrico a toca com adoração, e seu sorriso é sincero quando está com ela. É
O salão estava cheio era sempre assim, todo ano a mesma palhaçada, gente falsa e hipócrita. Todos se dizem finos, elegantes, a favor da moral e dos bons costumes, mas só quem convive de perto com eles, sabe a podridão que é esse mundo. Estamos todos reunidos hoje para comemorar o aniversário do meu marido, Enrico Bragon. Caminho pelo salão com uma taça de champagne nas mãos, as pessoas sorriem para mim com seus sorrisos falsos aos quais retribuo com a mesma falsidade. Meus olhos passam por todos os rostos, à procura do meu marido, mas ele não está em nenhum lugar.Isso é a cara dele, sumir do nada. Nos primeiros meses de casamento não acontecia, eu sempre sabia onde ele estava, mas de uns tempos para cá, as coisas mudaram. Entramos em crise, mas na frente de todos temos de manter as aparências, pois ele como grande empresário bem sucedido não pode ter seu nome envolvido em escândalos. Cumprimento algumas pessoas que nunca vi na vida, mas todas elas sabem quem eu sou e sorriem para mi
Uma semana depois… Hoje finalmente Laura vai retornar para casa, acordei bem cedo para buscá-la no hospital. A ansiedade está me matando, quero tê-la logo em casa. Todos esses dias sem ela aqui tem sido angustiantes, me esforcei ao máximo para acompanhá-la a todo momento e não deixá-la sequer um minuto sozinha. Essa foi a única noite que não passei no hospital com ela, acabei permitindo que uma enfermeira fosse contratada para acompanhá-la, estava cansada demais. Laura faz um esforço enorme para parecer estar bem, mas sei que ela não está. Ela passou a semana na expectativa da chegada do filho, o que não aconteceu. Quando contei a ela que o filho viria, seu rosto se iluminou em alegria, mas com o passar dos dias a alegria foi substituída por uma enorme frustração. Liguei diversas vezes para Matteo no número que ela me deu e nem as ligações ele atendeu mais. Me senti muito mal com a situação, pois ele me falou que viria e eu passei o recado para Laura, causando nela a esperança de v
Capítulo 3O despertador tocou antes das cinco da manhã, continuei quieta e imóvel na cama, percebi Enrico se levantando e indo em direção ao banheiro. Fingi estar dormindo. Enquanto ele se arrumava no closet seu celular tocou, ele veio até a cama conferir se eu estava mesmo dormindo, quando se deu por convencido atendeu o celular. — Bom dia, meu amor! Já estou pronto, nos vemos no aeroporto — Pude ouvir ele sussurrando. — Não vejo a hora de estarmos juntos!Há algum tempo atrás essas palavras me quebraram, me deixaram para baixo por vários dias, mas agora não sinto absolutamente nada, não sinto tristeza, decepção, simplesmente nada, e como se fosse um estranho falando ao telefone com sua amada esposa ou namorada, não meu marido conversando com a amante. Em algum momento durante todos esses anos de casamento nosso amor acabou, ou eu me cansei de viver com migalhas, nesse momento tenho mais certeza do que nunca de que quero o divórcio. Não consegui mais dormir depois que Enrico saiu,
O álcool no meu organismo estava fraco, não estava bêbada, apenas um pouco alta completamente ciente de todas as minhas ações. Estava em plena consciência de estar em um bar flertando com um desconhecido. Uma mecha do meu cabelo caiu sobre meu rosto enquanto sorria de uma piada que o asiático fez, alguma coisa sem graça, mas que me fez sorrir. Ele levou a mão até meu cabelo e prendeu a mecha solta atrás da minha orelha, meus olhos se prenderam aos seus naquele momento, meu corpo se arrepiou por inteiro. Enrico e eu não tínhamos relações a um tempo, não há tesão meu por ele, e sei que ele também não me deseja, só me procura para falar que quer um filho, esse é seu único interesse. — Dança comigo? — Perguntou o estranho de forma educada. Até parece que ele leu meus pensamentos. Acenei que sim com a cabeça, seus dedos se enlaçaram aos meus e ele nos guiou para a pista de dança. Sempre gostei de dançar, desde que era criança. Na adolescência ensaiava passos com meu pai, adorava assistir