Capítulo 3
Aquela noite foi a primeira vez que realmente pensei em deixar Elliot.

Eu o amava. Mas não aguentava mais esse tipo de amor que vinha com humilhação e manipulação.

Mesmo assim, Elliot conseguiu me convencer.

Ele afirmou que me amava, mas não queria gerar mais conflitos ao enfrentar os pais em pleno feriado, alegando que Owen ainda era jovem demais para perder a mãe.

Ele fez tudo parecer nobre, estratégico e necessário.

Então... Eu acreditei nele.

Até porque eu temia perder aquela família, a mesma que eu havia passado anos tentando manter unida, sustentando-a apenas com as minhas próprias mãos.

Por isso, fiquei.

Mordi a língua, contive meus instintos e quase me convenci de que estava exagerando.

Que a presença de Lila em nossas vidas era inofensiva. Que eu era que precisava me esforçar mais…

Eventualmente, parei de me defender completamente.

Já que ninguém nunca me ouvia.

O passado me assombrava como um fantasma, e cada lembrança dos momentos em que eu deveria ter ido embora, mas permaneci, ou em que deveria ter me escolhido, mas não o fiz, invadia meu peito, afogando-me em uma mistura sufocante de vergonha e arrependimento.

E então, a voz de Owen me trouxe de volta ao presente:

— Mamãe má! — Gritou ele, com o rosto vermelho coberto de lágrimas. — Se você deixar a Lila triste, nunca mais vou te chamar de mamãe!

Olhei para ele, forçando um sorriso que doía no rosto.

— Como eu poderia deixá-la triste? — Respondi suavemente. — Estou indo embora, para que vocês três possam viver felizes para sempre.

...

As crianças, como sempre, eram inocentes e excessivamente honestas.

Owen ficou radiante:

— É mesmo? Lila vai morar comigo e com o papai?

Lila interveio rapidamente, tentando amenizar o momento:

— Owen, querido, não diga isso. Não posso morar com vocês. Olivia é sua mãe.

No segundo seguinte, ela virou para mim, com uma falsa culpa estampada em seu rosto:

— Não leve a sério o que ele disse. Não estou aqui para arruinar seu casamento ou assumir o controle de sua família.

Eu não respondi.

Então, no gesto mais performático de todos, ela pegou minha mão:

— Se minha presença aqui te incomoda. — Disse ela, com a voz trêmula. — Eu vou embora.

Antes que pudesse terminar, Elliot se apressou, como um cavaleiro entrando em batalha.

— Bobagem! — Exclamou ele, puxando-a gentilmente para seus braços. — Fui eu quem disse à Lila que ela poderia ficar conosco por alguns dias, portanto, não direcione a culpa a ela, mas sim a mim.

Lila se aninhou contra ele e ergueu o rosto cheio de lágrimas:

— Não, me culpe! Eu sempre faço vocês dois brigarem.

E então, bem na hora certa, Owen começou a chorar:

— Não! Mamãe má! Eu quero a Lila aqui!

Que perfeito. Os três, como se tivessem ensaiado a cena.

O pai amoroso. A visita de coração mole. A criança leal.

Era uma pena que o papel de Olivia não coubesse mais no roteiro deles.

— Guardem o drama. Estou indo embora agora. — Informei com um sorriso frio, pronta para partir.

— Por que você precisa ser uma megera em tudo? — Elliot esbravejou. — Não vê que a Lila está pálida? Ela está doente!

— Ela está gripada. — Acrescentou ele, como se isso justificasse tudo. — Pensei que ela estivesse sozinha e, por esse motivo, a convidei para vir. Só estávamos tentando cuidar dela, então não há necessidade de tanta agressividade.

Soltei uma risada lenta e amarga:

— Se você ficou surdo, Elliot, talvez devesse consultar um médico, porque, desde que a Lila entrou por aquela porta, eu mal disse uma palavra. Mas, é claro, pode chamar isso de agressividade.

Virei-me e, antes de sair, meu olhar se deteve uma última vez nos três.

— Não esqueça de assinar os papéis do divórcio.

...

Houve um tempo, depois do casamento, em que eu fui feliz ali.

Até que uma noite, Elliot me disse que Lila queria nos visitar.

Lembro-me bem da minha reação: irritei-me, gritei e, sem hesitar, disse que não.

Porque ela já tinha se infiltrado em todos os cantos da minha vida. E aquela casa era o último espaço que ainda sentia como meu.

Elliot acabou cedendo, mas permaneceu frio comigo por semanas, mergulhado em um mês de silêncio, distanciamento e suspiros carregados de amargura.

Essa guerra fria só terminou quando descobri que estava grávida.

De todas as pessoas em minha vida, Elliot sabia o que aquela casa significava para mim.

Portanto, se eu estava saindo naquele momento, ele sabia que eu não estava blefando ou fazendo birra.

Ele chegou a correr atrás de mim, mas parou assim que ouviu a voz de Owen.

— A testa da Lila está quente de novo. — Disse ele. — Papai, ela está com febre?

Sem hesitar, Elliot se afastou de mim e carregou Lila em seus braços. Eles correram para o carro enquanto eu saía na chuva torrencial, indo em direção à estrada principal.

Era quase impossível conseguir um táxi, especialmente porque eu estava completamente encharcada, com o cabelo grudado no rosto e as roupas pesadas de água.

Fiquei ali, tremendo, invisível.

E então vi o carro passar.

O de Elliot.

Owen estava sentado no banco de trás, colocando gentilmente a mão na testa de Lila. Ela, é claro, se reclinou no banco do passageiro com os olhos fechados, assumindo a pose de uma perfeita donzela em perigo.

E, por uma fração de segundo, eu pude jurar que... Vi.

Aquele sorrisinho presunçoso em seu rosto.

Ela tinha vencido novamente. Ou pelo menos, achava que tinha.

O que ela não sabia era que eu não me importava mais.

Já que meu marido não acreditava em mim e meu filho não me amava, que ficassem com ela

Pois era exatamente isso que sempre desejaram, não era?
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