Capítulo 6

Greg

Fiquei por vários minutos encarando a porta depois que ela saiu. Qual o motivo dessa briga toda? Eu sei que vacilei de ter chamado Tess para ficar aqui comigo, mas aquelas palavras não eram necessárias. Não para mim, que faço de tudo para vê-la feliz. Faço mesmo? Essa era a pergunta que eu me fazia agora. Sim, faço sim! Quem não quer se ajudar agora é ela! Já perdi as contas das vezes que a chamei pra sair, fazer alguma coisa simples, mas ela sempre mantém essa armadura presa no corpo, que repele qualquer pessoa que tenta se aproximar. Troquei minha roupa e fui até à cozinha beber um pouco d’água. Quando passei, ela não me olhou, mas eu reparei. Estava enrolada no edredom e lendo, mas dessa vez, chorava. Fui direto pegar o copo e ouvi seu soluço baixinho, como se quisesse evitar com que eu a ouvisse. Parei no corredor do quarto. Eu não era

tão de ferro assim. Fiquei à sua frente e sentei no chão, aguardando alguma reação dela, mas nada aconteceu.

- Vai ficar magoada comigo?

- Não quero conversar com você.

- Por que não?

- Porque eu nunca deveria nem ter me tornado sua amiga!

- Não acredito que você está falando isso.

- Por quê? Ficou magoado? – ela estava sendo irônica.

- Vou ficar quieto...

- Seja homem e fala o que você quer me dizer! Fala logo!

- Sabe qual é o seu problema? Você se fechou nesse mundo e não deixa ninguém entrar! A vida continua Elizabeth, mesmo depois dos seus amigos terem morrido! Você deixou de ser você mesma desde o ocorrido. Pare de ser criança e aceite a vida como ela é! Se você se abater por

tudo de ruim que te acontecer, um dia você se suicida!

- Já acabou? – ela olhou diretamente nos meus olhos.

-Já.

- Agora é a sua vez de escutar. Você acha que é bom saber que você pensa isso tudo de mim? Acha que é fácil lidar com a perda de pessoas que eu amava? Acha que eu me sinto bem em saber que não me cuido mais como antes? Acha? A diferença é que pra mim, qualquer coisa está bom, eu não me importo mais com a vida! Você só me mostrou que é igual aos outros; sente pena de mim. Foi por isso que não queria me apegar a ninguém! Porque quando descobrissem minha história, só teriam pena.

- Será que é você que não sente pena de si própria? Quer se sentir a pobre coitada?

- Como você pode pensar isso de mim? Você acha que é fácil sentir o que eu sinto todo dia?

- E você, por acaso, tenta fazer com que fique mais fácil? - ela segurou seu rosto e começou a chorar.

- Como... Ousa... Falar isso para mim? Saia daqui Gregory, saia! – Bella começou a soluçar forte.

- Só tô falando o que você tinha que ouvir.

- Você é um idiota! Nunca deveria ter me aberto com você! – depois de nossa briga, tentei voltar para o quarto e esquecer aquela cena, mas percebi que tinha sido duro demais com ela. As minhas opiniões não precisavam ser tão expostas assim. Voltei para sala e Lizzie estava agarrada com uma almofada.

- Lizzie... – me sentei ao seu lado e ela não teve nenhuma reação a não ser chorar.

- O que você quer? Me humilhar mais?

- Nunca quis fazer isso, te prometo.

- Mas isso não te impediu de falar um monte de besteiras para mim.

- Eu sei, errei...

- Vamos conversar amanhã, por favor.

- Não posso deixar você assim. Entenda o meu lado também.

- Entender o seu lado? Que lado?

- O lado de “amigo” que não aguenta mais te ver sofrendo e não conseguir fazer nada para melhorar.

- Você tinha me melhorado, Gregory. Até hoje, quando destroçou qualquer pedaço que tinha sido reconstruído.

- Você tem que ver que a vida não parou pra você. Lizzie, você nasceu de novo aquele dia, tem noção do que é isso?

- Eu não nasci, eu morri! – segurei em seu rosto com as duas mãos.

- Não diga mais isso, por favor! Chega de ficar sofrendo com essa situação! Você não merece. Vem, vem cá. – peguei seus ombros com minha mão e a abracei. Não queria magoá-la.

- Você é a única pessoa que eu confio. Por favor, não faz mais isso comigo.

∞Sentimento Inibido

Lizzie

Não sei por quanto tempo ficamos abraçados, mas eu precisava dele para me acalmar. Qualquer raiva que eu tivesse, fora completamente arruinada. Me sentia muito mal de não conseguir mudar meu jeito, mas o que eu poderia fazer? Greg era importante pra mim como nenhuma outra pessoa foi nesse tempo. Me sentia muito bem ao lado dele e, sinceramente, não gostava de brigar assim com a única pessoa que confiava. Greg ficou fazendo carinho em minha nuca enquanto eu me agarrava a ele, tentando esquecer tudo que tinha acontecido.

- Lizzie, você é muito importante pra mim, mais até do que pensa. Se eu falei aquelas coisas, foi porque odeio te ver sempre presa a um passado que só está afetando o seu presente.

- Eu sei... – fiquei passando a mão em seu braço e percebi o quanto isso me agradava. – Eu não quero brigar com você... só quero que entenda que nem

tudo é fácil pra mim. – ele beijou minha cabeça.

- Mas por que você não me deixa te melhorar? Te faria tão bem...

- Você já me melhora, pode ter certeza.

- Vamos à boate sexta que vem, então?

- Greg, eu não gosto muito disso, você sabe. E eu não conheço seus amigos e muito menos quero atrapalhar você e a Tess. – pronunciar aquilo me deu um pouco de raiva.

- Que parte do “não namoro com ela” você não entendeu?

- Mesmo assim. Alguma coisa com ela você tem.

- Eu só fiquei com ela, tá? A gente não namora.

- Não precisa me dar satisfação.

- Você já quer brigar comigo de novo?

- Não, não falei em tom de briga. – ele começou a se afastar e segurei em seu braço. – Fique aqui comigo, por favor.

- Você tenta sempre se fazer de forte. É a primeira vez que vejo você pedindo “ajuda”.

- Então você me ajuda? – me afastei para olhar em seus olhos.

- Não sempre tentei? – dessa vez, eu que beijei seu rosto.

- Obrigado, de verdade. Acho que não tenho sido uma boa amiga ao longo desse tempo, né?

- Não se preocupe com isso. Por incrível que pareça, eu te entendo completamente.

- Eu gosto muito de você. De verdade. Você é o único em quem confio.

- Eu também gosto muito mesmo de você. Também é de verdade

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