Caminhos Traçados
Caminhos Traçados
Por: Danny Pereira
O Assassinato

Eu vi meus pais serem assassinados. Eu tinha apenas cinco anos quando tudo aconteceu, mas lembro de cada detalhe. 

Estava aos prantos embaixo da minha cama, enquanto meus pais estavam na sala com um ladrão, que havia entrado em nossa casa. Assim que meus pais escutaram um barulho vindo dos fundos, eles pediram pra eu me esconder no meu quarto, mesmo com muito medo eu obedeci. Escuto muitos gritos, minha mãe estava chorando e meu pai tentava conversar com o ladrão. Eu cubro meus ouvidos para não escutar. Eles gritam muito, o bandido fala muito palavrão para meus pais, naquela época eu não sabia o significado de nenhum deles. Me sinto perdida, sem saber o que fazer, resolvo ir pé por pé até a porta do meu quarto, que dava de frente pra sala onde eles estavam, ninguém me vê mas eu os vejo, minha mãe chorava muito e meu pai tentava acalmá-la, e de repente…

Pum… Pum… Pum… Pum...

Eram tiros. Eu só tinha 5 anos, não entendi o que estava acontecendo, mas me desespero, começo a tremer muito. Meus pais estavam mortos. Eu os vi morrerem. Com muito medo eu resolvo me esconder novamente embaixo da minha cama. Ouço alguns barulhos na sala. Tenho medo que o ladrão me encontre. E de repente tudo fica um completo silêncio.

Minutos depois escuto várias sirenes, era a polícia. Escutei um enorme barulho. Eles arrombaram a porta da minha casa, e então escutei vozes. Estava muito assustada. De repente eu avisto pernas, alguém havia entrado no meu quarto. Espio sem que me vejam, era um policial, algo me diz que eu posso confiar nele.

- Me ajuda, tio. - Peço aos prantos.

Ele me olha. O olho muito assustada.

- Hey, venha aqui. - Ele diz ao me tirar de debaixo da cama.

- Qual o seu nome? - Me pergunta.

- Kimberly. - Falo aos prantos. 

- O meu é Ruggero, mas pode me chamar de Rugge.

- Cadê os meus pais? - Pergunto temendo a resposta.

Ele não responde, apenas baixa a cabeça em silêncio. Acho que eu entendi o porquê da reação dele.

- Venha, vou te tirar daqui. - Me diz.

Ele me pega no colo. O abraço bem forte no pescoço. Ainda estou muito assustada. Passamos pela sala, vejo dois corpos ensanguentados, eram meus pais. Desabo a chorar e a tremer. O policial cobre meus olhos, foi a pior cena que eu já vi na vida.

Ele me coloca dentro da viatura, põe o cinto em mim e me pede pra eu aguardar por um instante. Não consigo dizer nada, apenas fico com a imagem dos meus pais mortos na cabeça. Vocês conseguem imaginar o que é isso para uma criança de 5 anos? Não queiram!

Minutos depois chega um carro do IML, vejo quando algumas pessoas saem do carro e entram na minha casa, eles levam os corpos dos meus pais e colocam dentro do carro, eu apenas observo tudo. Nesse dia eu deixei de acreditar em Deus, se Ele existisse nada disso teria acontecido.

Algum tempo depois, três policiais entram no carro. Olho para eles e sinto um pouco de medo, não sei pra onde eles me levariam.

- Vai ficar tudo bem. - Diz Rugge.

''Não, não vai.'' - Penso.

Fico lembrando do momento de pavor que vivi minutos atrás, ainda não acredito que isso esteja acontecendo. Acabo dormindo. Tive pesadelo com aquela cena horrível dos meus pais sendo assassinados.

Ao me acordar, percebo que não estou no carro. Estava em uma casa, mas não era a minha.

- Mãe! Pai! - Grito.

De repente ele aparece. O policial, Ruggero.

- Oi. - Fala.

- Quero os meus pais. - Digo. 

Ainda tinha esperança de que aquilo tivesse sido um terrível pesadelo. Mas não era.

- Oh, pequena, eu queria tanto que isso não tivesse acontecido, mas infelizmente os seus pais viraram estrelinhas.

- Então não foi pesadelo? - Pergunto.

Ele nega com a cabeça.

Começo a chorar e o abraço.

- Hey, me conte, você tem tios, avós, algum parente?

- Não. Os únicos avós que eu conheci morreram faz um tempo, e meus pais não tem irmãos. Eu não tenho ninguém, tio.

- Oh, baixinha...

Ele me olha com tamanha ternura. O olho com os olhos lacrimejados, Tinha medo do que podia acontecer comigo agora que eu não tinha ninguém no mundo.

Rugge me dá bolachas e um leite quentinho pra eu comer. Não estava com fome, mas tento comer um pouco. 

Ele me coloca para dormir em um quarto bem amplo, observo tudo a minha volta, e me sinto pequena naquele lugar. 

- Onde você vai dormir, tio? - Pergunto.

- Na sala. Minha casa é de só um quarto. Qualquer coisa você me chama, tá bem? 

Aceno a cabeça positivamente. Ele dá um sorriso e sai do quarto. Olho para os lados, sinto medo. Me cubro até a cabeça. Tive pesadelo a noite toda com meus pais. 

- Tio! - Grito ao acordar na manhã seguinte.

Rugge vêm rapidamente até o quarto, parecia preocupado.

- O que houve? 

- Tive pesadelo. 

- Tá tudo bem, querida. Vamos levantar?

Aceno a cabeça positivamente. Rugge e eu comemos cereais com leite de café da manhã. Olho para ele, enquanto come aquele cereais. Acho que eu havia gostado dele, parecia legal e bonzinho, como era meu papai.

- Tio, você tem namorada? - Pergunto.

- Não, não mais, querida.

- E filhos?

- Tinha. - Respondeu com um semblante triste. - Eu tinha uma linda e doce esposa e um filho de 3 anos, mas infelizmente eles morreram em um acidente de carro há 2 anos.

Acho que entendia a dor dele, era a mesma que eu estava sentindo. Eu não conseguia parar de pensar nos meus pais e nos momentos felizes que tive com eles durante os meus 5 anos de vida. Tento ao máximo parar de pensar nisso.

- Querida, vá tomar banho, iremos sair.

- Pra onde?

- Depois eu te conto. - Ele diz. - Você sabe tomar banho sozinha?

Nego com a cabeça. Minha mamãe ou meu papai que costumavam me dar banho, as vezes eu também tomava com eles e gostava, a gente se divertia bastante, as vezes fazíamos espuma com o sabonete e ficávamos brincando, era engraçado. Mas agora, isso nunca mais aconteceria.

- Quer ajuda?

- Não! Você é homem e não pode me ver. - Digo seriamente. - Eu vou aprender a tomar banho sozinha.

Ele dá uma risadinha.

- Você tá certa. Comprei uma roupinha pra você, está em cima da cama, depois você coloca. 

Vou para o banho e tento pela primeira vez tomar banho sozinha. E era assim que eu estava, sozinha.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo