3. Coelinha

Valentina Carvalho

— O que você estava fazendo? - ele me pergunta.

— Eu estava tentando fugir, me prenderam no quarto lá em cima - tentei explicar para ele - Eu peguei o carro que o hotel tinha me enviado, mas o homem me dopou e eu acordei naquele quarto lá em cima - aponto com o dedo - Eles prenderam você também?

Eu nunca imaginei que fosse ver aquele rosto novamente, mas ali estava ele, o cara que eu tinha esbarrado no aeroporto e beijado no banheiro do avião. Meu coração dispara ao vê-lo, e não posso negar que uma parte de mim tem vontade de beijá-lo novamente. Seus olhos verdes me olham com estranheza, como se não entendesse o que estou pensando.

— Você também está preso aqui? - pergunto, tentando disfarçar a emoção em minha voz - Venha, vamos ver se a porta está aberta.

Sem pensar duas vezes, seguro a mão dele e o puxo em direção à porta. Sinto uma conexão instantânea com ele, como se estivéssemos destinados a nos encontrar novamente. 

— Vamos, não podemos ficar aqui parados, digo ao cara bonitão ao meu lado - Precisamos encontrar uma saída.

A adrenalina corre em minhas veias e ele sorriu, não entendi aquela reação dele, enquanto estávamos em perigo e o homem rindo. Será que eu disse algo engraçado?

Desci as escadas, vez ou outra algum segurança passava e eu me encolhia na escada para não ser vista, já o grandalhão descia como se fosse um rei. E a casa realmente parecia um palácio.

— Não deixe eles verem você ou não vamos conseguir sair daqui - puxo ele para que ninguém nos veja.

Assim que encontrei o caminho para o primeiro andar, meus olhos se fixaram na grande porta de saída. Um sorriso involuntário se formou em meus lábios. Em pouco tempo, eu estaria livre daquele lugar. Se o bonitão não quisesse ir comigo, eu daria um jeito de sair dessa prisão.

Mas o homem à minha frente tinha outros planos. Sem dizer uma palavra, ele desceu as escadas. Enquanto eu me dirigia à porta, senti braços fortes me envolverem e, de repente, estava jogada sobre seus ombros.

— O que você tá fazendo? - gritei, começando a bater nele para me soltar.

Ignorando meus protestos, ele me levou até um escritório. Entrou, trancou a porta e me colocou sentada em uma cadeira. Levantei-me imediatamente, o pânico se instalando. Ele estava com o pessoal do hotel? Minha mente era uma bagunça de perguntas sem respostas.

— Valentina Carvalho - como meu nome saiu da boca dele fez meu coração parar. Imediatamente, me virei para encarar o rosto bonito que estava sentado na poltrona, olhando para mim. - Não tente fugir, minha coelhinha assustada - ele me entrega um lenço - Seu cabelo está sujo, acho que algum pássaro fez cocô em você.

— Que merda é essa de coelhinha? Quem está me prendendo nessa casa? - minha voz saiu mais fraca do que eu gostaria.

Ele se inclinou para frente, seus olhos escuros fixos nos meus. — Temos muito o que conversar.

O suspense se instalou no ar, deixando um gosto amargo de medo e incerteza. Eu estava presa, mas não sabia por quê. E o homem à minha frente parecia ser a única pessoa que poderia me dar as respostas que eu tanto procurava.

— Valentina Carvalho, 25 anos, administra uma empresa de móveis no interior de São Paulo - ele começou, fazendo uma pausa enquanto eu arregalava os olhos em choque. — Foi traída pelo noivo, o seu casamento estava marcado para daqui a cinco dias e estão todos a sua procura.

— Como você... Sabe de tudo isso? - minha voz mal passava de um sussurro.

— Você é um livro aberto, querida. Descobri sobre sua vida antes mesmo de colocar os pés em Istambul. Sei que gastou suas economias para comprar a passagem e que é a filha mais velha...

— O que você quer comigo? - interrompi, a confusão e o medo se misturando em minha voz. — Por que você pesquisou sobre minha vida e o mais importante, o que eu estou fazendo aqui?

Ele riu, um som baixo e rouco que enviou calafrios pela minha espinha. 

— Para uma garota que todos pensam ser uma boba, você faz perguntas demais - ele se levantou e encostou na mesa de mogno do escritório, cruzando os braços. — Antes que você comece a tentar fugir, sua mãe já sabe que você está comigo. Sente-se, vamos conversar um pouco.

— Você falou com a minha mãe? - minha voz saiu estrangulada, a realidade da situação começando a se instalar.

Ele apenas acenou com a cabeça, um sorriso misterioso brincando em seus lábios. Eu estava presa, e o homem à minha frente parecia ter todas as respostas. Mas eu estava pronta para ouvir? Ainda não sabia. Mas uma coisa era certa: eu precisava descobrir o que estava acontecendo. E rápido.

O homem que eu quase tinha transado no banheiro do avião sabia tudo sobre minha vida. Acho que sabia o valor exato de quanto eu tenho no banco. Como ele sabia que meu noivo havia me traído? Arrumei meus óculos, sentindo a necessidade de entender o que estava acontecendo ali naquele escritório.

— Como sabe da traição do meu noivo? - minha voz tremia, misturando-se com a confusão e o desespero.

Ele apenas sorriu de forma irônica. — Acho que todos sabiam, minha querida, menos você. Sua mãe me contou. Ela estava preocupada com você, e seu ex-noivo estava lá no momento em que liguei. Também falei com ele.

— Você falou com o Danilo? - minha voz saiu trêmula, a decepção se misturando com a raiva.

Ele assentiu, sua expressão impassível. — Como você pode ficar tantos anos, noiva de um cara como aquele Valentina? - Ele voltou até a mesa, sentou-se e abriu uma gaveta. Em seguida, retirou um envelope e me entregou. — Dentro deste envelope tem algo que seu pai e sua mãe esconderam de você. Abra.

Com as mãos trêmulas, peguei o envelope e abri, retirando vários papéis de lá de dentro. Eram exames médicos. Meus olhos percorreram cada um deles, e o diagnóstico dizia que aquela pessoa estava com câncer. Mas foi quando olhei o nome escrito que um buraco se abriu em meu peito. Eu não podia ter ideia de que tudo isso estava acontecendo bem debaixo dos meus olhos, e eu não havia percebido.

— De onde você tirou isso? - minha voz saiu embargada pelas lágrimas que começavam a inundar meus olhos.

Ele inclinou a cabeça, seu olhar penetrante. — Do hospital onde seu pai faz tratamento.

— Ele está com câncer? - minha voz falhou, a dor se espalhando por todo o meu ser. — E por que não me disseram nada?

— Eu não posso responder a essa pergunta. Sei que seus pais estão passando por uma crise financeira.

Recuei na poltrona, me sentindo frágil e desamparada. Meu olhar se perdeu em algum ponto vago da sala. Eu tinha pegado minhas economias e ido para a Turquia, enquanto meus pais estavam enfrentando dificuldades financeiras. Meu pai precisava de cada centavo para seu tratamento.

— Seu pai, além do tratamento, gastou o resto do dinheiro no seu casamento, e a conta bancária dele está vazia. - as palavras do homem ecoaram em minha mente, como uma faca afiada cortando meu coração.

Não pude acreditar no que estava ouvindo. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, e a dor se misturava com a culpa. Como minha família pôde esconder a doença do meu pai de mim? Como pude ser tão ingênua e não perceber o que estava acontecendo ao meu redor?

Chorei na frente do homem que acabara de conhecer, desabando sob o peso da revelação. Minha vida tinha virado de cabeça para baixo em questão de minutos. Agora, eu precisava encontrar uma maneira de lidar com os segredos revelados e consertar os erros que cometi. Mas será que ainda há tempo?

— Preciso voltar para o Brasil - disse decidida, me levantando e indo em direção à porta do escritório.

Mas ele se colocou em meu caminho, bloqueando minha saída. Seu olhar era intenso, cheio de mistério e talvez até um pouco de perigo.

— Minha coelhinha, você não vai sair daqui - sua voz soou firme e autoritária. E dei um passo para trás.

Fiquei perplexa. Como assim eu não ia sair dali? O que ele estava planejando afinal? A confusão em minha mente só aumentava.

— O quê? Como não vou sair daqui? - perguntei, minha voz carregada de desespero e frustração. — Afinal, o que eu estou fazendo aqui?

Ele sorriu de forma enigmática, como se soubesse algo que eu não sabia. 

— Eu quero ajudá-la Valentina. Sente-se, coelhinha, e ouça o que eu tenho para lhe propor. Garanto a você que será benéfico para nós dois.

Um ar de suspense pairava no escritório, deixando-me curiosa e, ao mesmo tempo, temerosa. O que ele estava tramando? Será que eu poderia confiar nele? Minha mente estava cheia de dúvidas, mas algo me dizia que eu não tinha muitas opções. Eu precisava ouvir o que ele tinha a dizer, mesmo que isso significasse entrar em território desconhecido.

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