Jamile, uma mulher marcada por um passado vergonhoso. É mandada por seus pais para Marrocos, onde ela viverá com seu tio Ali Abdul Aila. Malvista por eles é forçada a trabalhar na casa como empregada. Um mal-entendido a coloca em maus lençóis. Surge então, Said Farrah Haji que se torna seu salvador. Amargo engano...
Ler maisAs horas foram se arrastando e, conforme os minutos passavam, minha preocupação se intensificava. Allah! Eu deveria ter entrado com ela! Andei de um lado para o outro na sala de espera do hospital. —Said. Jamile é forte. Ficará tudo bem. —Abiá me disse com Bashir no colo. As lembranças do meu passado eram fortes demais. Desviei meus olhos dela. Bashir estava lá, me dizendo que tudo podia dar errado. Suando frio, derrubando lágrimas, morrendo de medo, minhas respirações ficaram cada vez mais profundas. A ansiedade dançando em meus olhos, apesar de todo o meu esforço para me manter calmo. A enfermeira entrou na sala de espera. —Nasceu. Uma linda menina. Mãe e filha passam bem. Trêmulo, eu desabei na cadeira. —Posso vê-la? —Perguntei ansioso. —Sua filha? —Não! Minha esposa. —Por enquanto não. Ela está na sala de recuperação. Só quando ela for para o quarto. Assenti. —E minha filha? P
Jamile O palácio estava cheio. Segundo Said, ele não tinha nenhum parente vivo. Da parte dele, só um amigo chegado viria e a Staff do seu trabalho participariam da festa. Já da minha parte, meus dois tios que viriam acompanhado de suas famílias. Meus pais e minha irmã com seu marido marcariam presença também. Ah, claro, sem contar com Zafir que também compareceria à cerimônia. O espetáculo estava armado. Só que dessa vez eu não seria motivo de riso. O ritual que levaria três dias faríamos em um dia. Afinal, eu não era mais virgem, era separada e estava grávida. Por mim, nos casaríamos e pronto. Mas Said não pensava assim. Para ele, a festa encerraria um capítulo da minha vida de humilhações. Mostraria a todos o meu valor. Segundo ele, todos veriam o amor que ele sentia por mim em seus olhos e isso seria um marco em minha vida e na vida de meus familiares. Quando deu uma hora da tarde, eu já estava pronta. Abiá me ajudou com o
JamileTerça-feira, Said acordou cedo e pronto para encarar uma semana cheia de reuniões decisivas para que Sábado nos casássemos. Depois viajaríamos paraGrécia, onde curtiríamos nossa lua-de-mel com Bashir.Eu já tinha vomitado bastante, por isso eu ainda estava deitada vendo-o ajeitar a gravata em frente ao espelho.Said se sentou ao meu lado na cama.—Ficará bem?—Sim.—Hoje, não sairei do escritório. Qualquer coisa, peça para Abiá me ligar.Eu sorri para ele.—Habibi, gravidez não é doença.Said me estudou como os olhos antes de perguntar:—Está feliz?Said me a amava. Era surreal termos o mesmo sentimento. Mas estávamos realmente apaixonados.—Muito. Eu te amo, você me ama. Vamos nos casar. Estou gráv
KhadijaOuvi barulho vindo do corredor da sala e eu fiquei alerta. Naquele momento Zafir entrou na sala. Ao olhá-lo, eu me levantei. Corada. Ele estava extremamente lindo, como sempre. Senti um leve tremor percorrer-me. Me lembrando o jeito como tinha me pegado firme antes de sair para trabalhar, aquele corpo musculoso contra o meu, o seu beijo delicioso que me deixou de pernas bambas... Senti o desejo me varrer por dentro, denso e quente, quando imaginei como ficaria nua nos braços dele. Não era hora de pensar nisso! Afastei aqueles pensamentos. Eu estava o esperando para lhe contar tudo que ouvi de Tereza.Zafir aproximou-se de mim com olhar direto e eu me levantei, e o encarei séria.—O que foi, Khadija? Você nunca me espera aqui? Os gêmeos estão bem?—Ele me perguntou aflito.Eu o cortei com um beijo. Sua pasta caiu no chão. Pressionei meus lábios cont
KhadijaParei na porta do quarto dos bebês e espreitei para dentro para ver se estava tudo bem. A babá lia um livro numa poltrona ao lado dos dois berços. Ela sorriu para mim, acenando um tudo bem.Sorri para ela e fui resolver outro assunto, comer alguma coisa, pois meu estômago estava roncando de fome.—Eu colocava um anticoncepcional no suco dela, todo santo dia.Arrepiei da cabeça até os pés e estaquei na entrada da cozinha quando ouvi a conversa das duas empregadas. Ela colocou a assadeira no forno e definiu o timer.—Você fez isso com aquela bruxa?—Sim, por que você acha que ela não engravidava?Elas riram.Senti um aperto no estômago. Voltei a respirar fundo e tentei acalmar os meus pensamentos caóticos. Entrei na cozinha. As duas se assustaram quando me viram.—Eu ouvi toda
Duas semanas se passaram... Eu continuei minha jornada. Aquele jogo de gato e rato ia continuar indefinidamente e eu odiava isso tudo, mas dentro de mim uma voz me dizia que eu estava fazendo a coisa certa. Eu não tinha um maldito plano. Nem sei se a dura que eu estava dando nele iria adiantar. Mas era a única arma que eu tinha. Evitando o tempo todo Said, eu me privava de um desejo que exigia ser satisfeito. Às vezes topava com ele na casa. Ele estava sempre lindo. Dependendo do dia ele usava um Kandoora branco, mas a maioria das vezes, ele estava de terno. Quando eu via o semblante triste de Said, eu chegava a pensar que estava sendo muito radical com ele. Ficava me martirizando, pensando muito nisso. Mas então, me vinha meu outro eu. A sensação de puro déjà vu me dizendo que ele não me valorizava. Só de pensar nisso, a raiva começava a inundar-me. De qualquer forma, meu coração doía. E eu me perguntava: como podia doer tanto? Eu me incomodava com o jeito f
SaidSedução, manipulação, mentira, engano...Quatro palavras que eu detestava. Desde cedo entendi o que elas representavam, eu as tinha provado.Mulheres que me olhavam com carinho, tentando passar amor nos olhos, mas na verdade escondiam sua cobiça pelo meu alto poder aquisitivo. Pelo meu título.Amor?Muitas delas não teriam nem olhado para mim se eu não tivesse tudo que tenho.E agora isso!Idiota!Os olhos negros que tanto me chamaram atenção, olhavam para mim assustados. Tentando me convencer de sua inocência.Sim! Eu a amava, e por isso essa dor no meu peito.Meus pulmões ardiam, como se estivessem doentes. Meu coração estava estraçalhado.Percebi que fiquei muito tempo sem fala.— Te levarei agora ao hospital. Você fará um exame de sang
JamileMais tarde, Said entrou no quarto. Eu deixei o livro "Orgulho e Preconceito" no criado-mudo ao meu lado.—Allah! Como ele demorou para dormir.Eu sorri para Said.—Eu sei, ele está acostumado a dormir comigo.—Ele está muito mal-acostumado, isso sim. —Said resmungou se deitando ao meu lado.—Ele é muito novinho. Quando ele ficar maiorzinho, dormirá sozinho.Said me estudou com os olhos.—Você parece tão entendida de crianças?Eu sorri para ele.—Toda mulher nasce com esse instinto materno. Elas compreendem mais as crianças que os homens.Said assentiu, ainda com seus olhos avaliativos sobre mim.—E você? Como está se sentindo?Said estava tão estranho.—Eu estou bem, obrigada.Said me avaliou um pouco, antes de seus olhos ficarem
O mês passou rápido, eu e Said nos comportávamos como uma família feliz, que éramos. Os empregados já me olhavam como a senhora da casa. Bashir estava muito apegado a mim, como um filho por sua mãe, embora o tempo todo ele me chamasse de Jamile.Os dias que se seguiram, foram para mim os mais felizes de toda a minha vida, embora Said ainda não tocasse no assunto "casamento". Toda vez que eu pensava nisso, meu coração se apertava, mas nessa hora, eu sempre me lembrava da conversa que tivemos, que ele levaria a sério o nosso relacionamento. Talvez ele só precisasse de um tempo para se sentir seguro comigo.Agora à tarde, eu estava deitada na cama me sentindo estranha. Passei a manhã toda mal do estômago. Abiá já tinha me dado um chá de ervas para ver se eu melhorava, mas foi só eu sentir o cheiro que eu tive que correr até o banheiro v