CAPÍTULO TRÊS

Encolhida, com os joelhos sendo apertados por meus braços, observei a garrafa de sangue e senti meu âmago salivar, assim como minhas presas com aquele líquido vermelho. Mas, eu me recusava a ser como aqueles monstros. Eu não queria me entregar aquela fome horrível e me tornar vítima de todos aquele caos, do ser demoníaco em meu interior que necessitava daquilo. Eu queria acreditar que poderia ser melhor do que toda aquela situação.  

Olhei pela lua que entrava pelos vitrais coloridos. Ironicamente, percebi que estávamos em um forte construído como Igreja de base. Meu quarto agora era mais espaçoso, se estendendo por alguns metros, as paredes de um papel de parede vermelho florido, a cama macia com colchas e almofadas confortáveis marrom escura, havia um pequeno closet, abastecido com as roupas que Dean - um caçador grandalhão, loiro e de olhos verdes desconfiados - havia me trazido. Apenas segui sem dizer nada, totalmente saudável para andar, os ferimentos agora pareciam leves arranhões em minha pele tão branca. A cura do vampirismo havia me tornado ilesa ao que havia passado na carne humana. 

Estava vestida com calças escuras de linho, ficavam quase justas nas pernas, pois eu era alta e meias de lã cor de vinho que eram macias. Uma camisa larga de botões preta e a única coisa que me incomodava era meu cabelo, que havia sido arrancado em tufos nas pontas e no fundo, eu sempre odiara ter cabelo grande. Não achava prático nem fácil de cuidar. Gostava somente porque todas as noites antes de dormir, Clarice ficava horas cuidando dele, passando produtos e receitas caseiras para manter a maciez e brilho. Agora não passavam de cabelos de sabugo, duros e cheios de nós. 

Ignorando minha fome cada vez mais latente, caminhei para o pequeno box, onde havia uma banheira de madeira para me banhar, algumas toalhas, um pente de ferro desenhado e uma tesoura. Me olhei no espelho e vi que um zumbi me encarava, com olheiras, um cabelo escuro pesado destruído e alma podre. 

Peguei a tesoura e rapidamente comecei a tirar mecha por mecha.

Não me importei que estava assumindo um corte que jamais passaria por minha cabeça, mas a cada parte que caía ao chão de madeira, me sentia menos pesada e mais liberta. Toda a dor que eu carregava em meu peito ainda estava ali, me sufocando como se eu borbulhasse emm meu próprio sangue. 

Terminei e me encarei no espelho. 

Diante de mim estava uma mulher desconhecida. Não me reconhecia olhando meus traços tão pronunciados - não sabia se era algoque se moldava com a transformação - mas de alguma forma havia me tornado bela, perigosa e exalava uma sensualidade sensorial por meu rosto anguloso e olhos azuis cor de cobalto. Meu cabelo não passava de uma franja lateral desfiada até o queixo com as laterais quase raspadas. Cortei durante tanto tempo o cabelo de papai, que cortar em mim mesma não havia sido um problema. E mesmo sendo um corte totalmente masculino, aquilo me trouxe conforto, como se de algum jeito eu me encaixasse naquela persona. 

Meu estômago roncou mais uma vez. Rosnei como um animal faminto e vi a mudança, tão terrível e sobrenatural no espelho. As veias de meus olhos saltaram como calombos trêmulos e pulsantes, bombeando sangue para meus olhos e dilatando minhas pupilas. Não houve dor quando as presas afiadas apontaram em minha gengiva e puxei meus lábios para ver o quão compridas, assim como pontudas eram. 

Você vai esperar morrer para se alimentar? Uma parte teimosa de minha mente gritava e insistia para que eu corresse beber do sangue na garrafa. Quis que eu sentisse repulsa e nojo, mas só o que me apertou foi a garganta seca e árida. 

Coloquei a tesoura em cima do balcão e me virei, olhando para a garrafa.

Meus olhos ainda que com as veias saltadas, encheu de lágrimas, sabendo que eu não resistiria para me alimentar. E antes que me desse conta, pisquei e estava ao lado da cama, atravessando o quarto em um átimo - uma parte de meu cérebro observou aquilo com fascínio e um pavor mudo - e estendi minha mão, pegando o recipiente de vidro que brilhava com as lamparinas. Duas lágrimas escorreram, meu controle em não querer me transformar em um monstro, indo por água abaixo. Sem pensar mais, girei a tampa e virei a garrafa engolindo em goles longos, barulhentos e gemi de um prazer absurdo.

Fechei meu olhos e foi como se eu estivesse tomando o licor mais requintado de toda a minha existência. E não tinha sabor de sangue, como um humano notaria em seu paladar com gosto terroso e metálico, aquele sangue tinha sabor de vida, de poder e um êxtase beirando ao frenesi. Minhas veias bombearam para dentro de meu corpo, espalhando e sobrepujando meu sistema com aquela coisa deliciosa. Gotas escorreram pelas laterais de meus lábios e tomei até a último resquício. 

Joguei a garrafa no chão e limpei a boca com o punho. 

Eu ainda estava com fome, assim que me virei para ir para a porta, pedir mais comida para Aly, um homem estava parado ali e provavelmente com a distração de meu alimento, eu não havia ouvido-o. 

- Você tem que prestar mais atenção aos seus sentidos. Eu poderia ter atacado você e nem teria percebido. - ele disse. 

Ele havia sido o homem encarregado de me trazer para este novo quarto. 

Ele era alto, um corpo atlético, pela gola da camisa, era visível os músculos. Os cabelos de um castanho claro, praticamente loiro bagunçado para cima. Os olhos de um verde cor de folhas ao sol. O rosto quadrado tinha uma barba rala e ele parecia sério demais para demonstrar um sorriso, mas estranhamente estampou um sorrisinho de canto, levantando uma das sobrancelhas. 

- Sou Dean Smith. Lobo. Você é vampira? Como se chama? - ele indagou. 

Rosnei e minhas presas ainda estavam ali. 

- Não deveria estar lá fora? - questionei, sem ânimo para conversinhas. 

Ele riu ruidosamente com sua voz rouca gripada. 

- Sim, mas ouvi os goles de sua fome, achei que poderia querer mais. - ele levantou os ombros. 

Ao ouvir a menção a mais sangue, levantei uma sobrancelha. 

- E pode conseguir? - perguntei, desconfiada. 

Ele assentiu. 

- Venha comigo silenciosamente. O conselho deve estar na sala de reuniões. - ele inclinou a cabeça para a direita. 

Rapidamente, sem pensar duas vezes segui-o. 

Não confiava em Dean, mas ao falar de comida… Eu queria mais sangue. 

Saí para o corredor longo de meu quarto e ele já esperava na dobra da esquina das escadas. Como ele se movia tão rápido e quieto? Mas, tentei fazer o menos possível de barulho e descalça fui atrás daquele homem estranho. 

Nós descemos as escadas e observei pelos vitrais coloridos de que realmente se tratava de uma igreja gigante - provavelmente uma catedral antiga gótica pelas paredes escuras. A escuridão era tênue, pela luz da lua que adentrava pelos ambientes, saletas e corredores, conforme andamos por toda igreja atrás de sangue. Dean seguia na frente, olhando pelos cômodos para que não ninguém nos visse e quando finalmente chegamos ao primeiro andar, indo para uma hall lateral e ele olhou para os lados mais uma vez antes de abrir duas portas pesadas de madeira maciça. Ele me puxou para dentro pelo braço e meus olhos piscaram para uma penumbra estranha. Meus sentidos extra sensoriais entraram em ação avaliando o ambiente, e isso deveria soar surreal para minha mente, mas era tão natural toda aquela precaução para aquele novo corpo que não me importei. 

Meus olhos se adaptaram as sombras, transformando em uma semi escuridão, as coisas foram se transformando em sombras azuis escuras ou cinzas chumbo do ambiente e avistei Dean mais a frente vasculhando um baú ao fundo da adega. Um pequeno barulho de garrafas se chocando soou e ele xingou baixinho. Conseguiu pegar duas garrafas longas e cheias de sangue, pelo cheiro que exalou. Ele se aproximou e me estendeu uma. Avaliei racionalmente e vi que realmente era sangue. Em um piscar de olhos já tinha virado a garrafa goela abaixo. 

Dean riu sussurrando. 

- Você vai dar trabalho. - ele observou. 

Limpei os lábios com o sangue escorrendo e entreguei a garrafa vazia para ele. Meu sistema estava transbordando prazer com todo aquele líquido, mas eu mal havia tido tempo de processar a digestão. Apenas estava saciada. Bem, temporariamente.

- É por isso que me trouxe aqui?

A forma nublada e cinza dele assentiu. 

- Também, mas quando subi com você, gostei de algo em seus olhos. Me lembra da minha irmã. E o porque estou dizendo é ainda absurdo. Se perguntar para qualquer um aqui, vão dizer que sou bronco e um porco arrogante. Vi a mesma postura em seus ombros. - ele apontou para mim. 

Trinquei meu maxilar. 

- E por isso deveria confiar em você? - debochei. 

Ele riu novamente. 

- Claro que não. Passou por um trauma fodido. Você quer enfiar essas suas garras na primeira pesssoa que ver. Fico feliz que não foi em mim ou Aly. Que queremos te ajudar. Mas, quando finalmente soltar essa fera que tem aí dentro… - ele riu, mas não parecia achar graça. - Deus nos ajude. - e apontou para a cruz acima de minha cabeça.  

Fiquei durante longos segundos encarando-o.

Que outra escolha eu tinha se não tentar confiar nele? 

Não fora Dean que fugiu com a mulher que amava, levando-a para uma emboscada de monstros, fazendo com que eles a cortassem em tiras. 

Continuei fria, mas estendi a mão para ele. Pensei em dizer meu nome, Artemísia Braham, mas eu não era mais uma Braham. Meu pai havia morrido e minha mãe era uma desgraçada. O que poderia esperar usando meu sobrenome? 

Lembrei de meu pai, me comparando com a Deusa Ártemis. O som da voz dele em meus ouvidos. 

- Ah, minha Ártemis! Você irá desbravar mundos, minha querida. Olha o que faz com uma faca serrada. - ele riu ao escavar uma tumba comigo. 

Empinei o rosto para Dean. 

- Sou Ártemis.

***

No dia seguinte, fui acordada por um toque baixo em minha porta. Aprendi que mesmo apesar da alma sombria eu dormia fragilmente como humana. Ainda que minha mente ainda continuasse trabalhando e estando alerta a qualquer barulho, depois que Dean havia me deixado esperta com meus sentidos sempre em atenção. Depois que havíamos bebido mais duas garrafas, voltamos para o quarto e percebi que ele era o sentinela que guardava o posto noturno de meu quarto por proteção. Mas, eu sabia que era apenas para garantir que eu não surtasse nessa nova forma. 

Me levantei, coçando os olhos e ajeitando o cabelo curtíssimo e bagunçado. Estava com um pijama grande masculino limpo e claro. Rapidamente cheguei até a porta e tinha que controlar esse passo sobrenatural tão avidamente sombrio. 

- Achei que poderíamos treinar algo como luta ou espadas. - Dean estava encostado no batente e vestido com roupas escuras.

Os olhos estavam frios e em expectativa. 

- Me dê um minuto. - fechei a porta em sua cara e voltei para o quarto.

Eu deveria confiar nele? 

Bem, aquela altura eu já poderia imaginar que ele não conseguiria me matar tão fácil por eu ser uma vampira, não se tinha me ajudado a me alimentar escondido. E além do que, eu amava treinar com meu pai. Sabia empunhar perfeitamente espadas pesadas, usar minhas pernas longas em um combate corpo a corpo e me defender nos punhos se precisasse. Não tinha meus membros definidos à toa. Praticava exercícios escondidos. 

Corri para o closet, peguei minhas calças escuras apertadas, uma camisa limpa branca de mangas largas e botas de cano baixo que ficavam um pouco grandes, mas eram compensadas pelas meias grossas. Somente me olhei no espelho para ver minha cara limpa, pálida e ajeitei uma última vez meu cabelo que se você olhasse de longe lembraria tranquilamente o de homem mais magro e alto. 

Dean sorriu quando abri a porta. O sorriso ameaçador, com os dentes visíveis, mas não me intimidei. 

- Você é a primeira mulher que conheço que se arruma tão rápido. E não passa toda aquela coisa na cara. - ele fez um gesto das mãos rebocando o rosto. 

Por dentro, me sentia morta. Desprovida de sentimentos, agora nem mais espaço para as lágrimas depois de tudo que havia chorado nesses últimos dois dias. Como se a aceitação estivesse caindo sobre meus ombros como uma manta. Que outra escolha eu tinha? Mas, pelo jeito ainda havia espaço para o senso de humor. Repuxei muito sutilmente o canto de um dos lábios. 

- Não sou qualquer mulher. 

Dean fez uma cara de aprovação, levantando a sobrancelha direita e seus lábios formaram uma linha fina. 

- Vamos ver do que essa mulher é capaz. 

Ele ergueu os braços para que eu o seguisse. 

Durante o dia, aquela fortaleza não parecia tão sombria quanto achei que fosse quando atravessei com Dean ontem a noite. Nós descemos as escadas e dessa vez pessoas transitavam ali e por aqui. Seus cheiros traziam suas formas claramente míticas, não sendo nada humanas. Segui de cabeça erguida e alguns homens demonstraram curiosidade pela mulher alta que andava sinuosamente como um rio escuro e misterioso. Não retribui nenhum, diferente das mulheres que foram apenas três que vi, mas usavam vestidos e provavelmente seriam serviçais pelos aventais e tocas. Então o machismo reinava até mesmo em caçadores. Era óbvio. 

Depois de atravessarmos até um corredor afastado de pedras cinzentas, Dean abriu a entrada de portas duplas de madeira pesada, indicando que eu entrasse em um cômodo longo e claro. 

Entrei, surpresa com os grandes janelões abertos pelo Sol que entrava. Era um longo salão com tetos altíssimos e abobados. Pinturas de anjos contemplavam em cada curva e um candelabro de contas de cristais estava pendurado ao meio. Vi uma cruz de madeira pendurada na parede do norte e a encarei. 

- Antiga capela de missas principal. Mas, como pode ver nos ocupamos primeiro. - Dean riu. 

Olhei para ele e Dean estava aos fundos, onde alguns baús estavam amontoados. Fui até ele, curiosa pelo que ele estava abrindo. 

- Pegue a arma que achar mais atraente. São doações da Igreja anglicana para nossas missões. - ele empurrou um baú e virou a trinca de ferro. 

Feno estava jogado por todos os lados dentro dela, mas ele tirou uma arma que eram como arremessos de metal pontiagudo. Jogou de volta na caixa e achou uma espada de ferro simples. Enquanto ele a examinava, parti para o baú ao seu lado e senti minhas garras crescendo antes mesmo que estivesse pensando nelas racionalmente. Finquei uma garra no cadeado e puxei. Sem nenhum esforço ele quebrou e fiquei encantada com a força que existia em um simples movimento. 

Abri e vasculhei seu conteúdo. Meus dedos de volta ao normal, tocaram algo de metal e xinguei quando meus dedos foram cortados superficialmente. Deslizei até achar o cabo e puxei a espada pesada. Empunhei força, mas nada que parecesse demais para esse corpo novo e abri os lábios surpresa ao ver o que tinha pegado. 

O sol iluminava o ambiente trazendo luz para o metal antigo e trabalhado. A espada era bem maior que meu braço, grosseira de certa forma ao longo de sua lâmina. Mas a parte afiada era mais fina que um fio de cabelo, e tão bem lapidada quanto um diamante. Seu cabo era macio e desenhado para mãos compridas como as minhas. Em seu centro, o desenho de uma fênix com o rabo enrolado pela lâmina tinha um pequeno diamante de sangue incrustado em sua testa. 

- Nossa porque você achou isso e eu essa coisinha que mais parece um palito de dente? - Dean arregalou os olhos para a espada em minhas mãos. 

Dei de ombros e ele suspirou. 

- Vai dessa forma mesmo. Suponho que saiba esgrima, não é? - ele indagou e assenti. Dean começou a caminhar para o centro da antiga capela, se colocando em cima de uns tapumes de madeira fina como se servissem para amortecer quedas. - Me mostre tudo que entende de esgrima. Vou tentar pegar leve com você. 

Assenti mais uma vez e me coloquei em posição. Ajeitando as pernas e os braços. Segurei com firmeza e empenho a espada, sentindo uma vibração estranha em meus dedos. Cortei o ar com ela, rápido como um raio e ela entornou um tinir fino, como um violino. Ergui as sobrancelhas e olhei para Dean, esperando que ele avançasse. 

Ele já estava em guarda, só esperando o momento certo. Virei um passo para sua esquerda e ele para minha direita. Nós viramos como dois oponentes poderosos. Uma mecha caiu sobre meu rosto e balancei o rosto para tirá-la. Nesse momento, ele aproveitou parapara avançar para frente, empunhei a espada por baixo e ela se chocou com a dele, trazendo um ruído ensurdecedor. Ele sorriu, sua face a centímetros da minha. Dean me empurrou e rosnei indo para cima dele, que recuou se defendendo com a ponta da espada, mas usei minha rapidez a meu favor. Dean não era mais do cinco centímetros mais alto que eu, apesar de ter um corpo forte. 

Em uma sequência de cortes violentos contra ele, me tornei o próprio ataque investindo sem piedade, a um Dean que havia tirado o sorriso presunçoso da cara e estava indo cada vez mais para trás. 

Ouvi a porta sendo aberta do salão, e Aly entrando por ela. Aly parou pouco depois da entrada e cruzou os braços, nos observando. Não deixei que aquilo me distraísse e me forcei a ir cada vez mais para cima de Dean. Os braços dele tremiam defendendo sua retaguarda e nossas espadas se encontravam, trazendo algo como rochas colidindo quando se tocavam. 

Meus membros estavam sendo fluídos, e ao invés de me cansar, estavam trazendo adrenalina em meu ser. Uma sensação de prazer ao exterminar um inimigo em combate. A espada parecia ser uma extensão de minhas vontades e meu corpo, trabalhando lado a lado com minha raiva que estava sendo colocada para fora. Rosnei e Dean de repente bateu com as costas na parede. Gritei e puxei a espada em sua direção. Era claro, que eu não mataria. No entanto, a óbvia vantagem de poder foi sensacional. 

Enterrei a espada entre dois tijolos e eles trepidaram, rachando e soltando poeira. 

Respirei fundo e senti meu coração batendo como um louco. Palmas soaram e Dean olhou-me de olhos arregalados. O verde espantado e surpreso. Nós nos viramos para Aly, que estava próximo e riu, colocando as mãos na boca, chocada como Dean.

- Você é incrível! - Aly exclamou. 

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