O Bar Bourbon

Capítulo 1

19 de setembro de 2008 :

Bohemian Bourbon é um bar exageradamente descolado das ruas da famosa Washington, as noites da grande cidade sempre terminavam ou começavam ali, naquele bar, todo revestido com guitarras, uma cabeça de javali grudada na parede, luzes de neon vermelhas e roxas, e um rap monstruoso com a voz do Kanye West saindo das caixas de som.

Rhea D'onson havia descoberto aquele lugar por acaso, em uma das vezes em que esteve em brigas envolvendo dinheiro, seu refúgio foi correr para dentro do bar e se esconder em baixo do balcão, enquanto Ricki, o apostador, procurava ela com uma arma em sua mão.

- Saia daí, sua ladra! - Ele gritava, vasculhando todo o local, para mata-la. Mas é claro que Rhea usou seu dom e voltou no tempo, para deixar de apostar naquele cavalo que a quase matou. Desde então, Bohemian Bourbon, passou a ser seu lugar favorito.

Naquela noite não poderia ter sido diferente, Rhea estava sentada no balcão e pediu uma cuba libre, enquanto cantava uma das garçonetes novas. Foi quando uma garota entrou pela porta do Bohemian.

Todos olharam em sua direção enquanto ela entrava e passava dentre as pessoas até chegar no bar, onde Rhea estava sentada. A jovem garota era extremamente linda, olhos castanhos esverdeados, cabelos ondulados da cor de mel.

Naquele instante, Rhea esqueceu completamente a garçonete morena e linda com quem ela estava flertando a minutos atrás.

Ela esqueceu tudo, completamente. Seus olhos acompanhavam aquela garota desconhecida sentar ao seu lado:

- Uma dose de vodka pura, por favor! - A garota pediu para a garçonete que estava a sua frente, essa que havia acabado de chegar.

- Você não tem cara de quem tem 21 anos. Não pode beber aqui. - Disse a garçonete novata.

Rhea ainda encarando a garçonete, retirou sua carteira de habilitação do bolso. Mostrando de uma determinada distância a moça.

- Me desculpe. Temos sempre que ficar espertas com isso por aqui, sabe como é, a capital da Casa Branca. As leis por aqui são mais severas.

- Não tem problema. - Rhea disse, sorrindo. - A vodka, por favor. - Ela insistiu. - Noite difícil? - Perguntou Rhea, tentando puxar papo, com a garota ao lado.

- Defina difícil. - Ela disse.

- A julgar pelo seu drink, diria que você ta de saco cheio de alguma coisa e só quer beber para esquecer seus problemas.

- Vocês aqui de Washington são muito engraçados! Acham que podem adivinhar tudo.. - disse a jovem, enquanto tomava um gole da vodka que ela havia pedido.

- Hmm.. Você até que tem razão, mas eu não sou daqui. Sou de Memphis.

- Sério? Sou de San Francisco. - Respondeu a garota.

- E qual é seu nome, moça de San Francisco?

- Melanie. E o seu?

- Rhea D'onson. Muito prazer! -Disse Rhea, estendendo a mão para Melanie. A garota apertou a mão de Rhea, com um sorriso envergonhado em seu rosto. De fato ela tinha se sentido mal em ter generalizado Rhea com as pessoas que ela havia conhecido na capital.

Na hora do estresse, nem havia passado pela cabeça dela que aquela garota poderia ter vindo de outro canto do mundo. Não era culpa dela. Naquele dia, justo naquele dia, Melanie havia recebido um não bem grande do patrão de seu estágio, quando ela tentou pedir para que ele à efetiva-se na empresa de arquitetura.

Segundo a própria Melanie, ela havia feito um bom trabalho durante esse últimos oito meses e meio, e mais do que qualquer outra pessoa ela merecia aquele emprego. Mas segundo seu antigo patrão, aquele estágio era realmente temporário. E na empresa dele só trabalhavam aqueles que já possuíam um diploma de arquitetura tirado com honras.

Como uma boa garota de 21 anos, Melanie o mandou ir a merda e saiu com a cabeça erguida e um sentimento de desprezo, de dentro daquele prédio muito bem construído.

A arquitetura era uma paixão e um sonho. Mas naquela tarde, extremamente estressante e caótica, o sonho de ser arquiteta estava destruído. Realmente destruído. E como Rhea, o Bohemian Bourbon foi o seu refúgio:

- Então, quando eu dei por mim, tinha mandado ele ir a merda! - Melanie contava rindo.

- Você é minha heroína, Melanie Crosby. - Disse Rhea, enquanto engolia outra dose de vodka pura. As duas já estavam completamente bêbadas mas ambas estavam adorando aquela sensação de que se conheciam à anos. O que era uma das vantagens de se ficar bêbada, depois de alguns goles todo mundo vira melhores amigos.

- É... Mas agora eu tenho que voltar para San Francisco.. Para a casa da mamãe e do papai.

- E quando é que você vai?

- Daqui uma semana.

- Tem alguns dias para se divertir ainda!

- É, pois é. Desde que cheguei a Washington, o que eu tenho feito é só trabalhar e trabalhar. - Disse Melanie, tomando mais uma dose de vodka.

- Por isso anda tão estressada, Melanie Crosby! Precisa se divertir.

- Preciso fazer várias coisas, Rhea.

- Tipo quais? - Perguntou Rhea, interessada.

- Transar, por exemplo. - Respondeu Melanie, de imediato. Rhea que estava engolindo outra dose de vodka, engasgou ao ouvir a resposta sincera da garota.

- Compreendo.. - Disse Rhea, virando o copo de ponta cabeça. Aquele era um sinal claro de que ela queria pedir a conta. Foi uma invenção do velho Bourbon para evitar toda aquela gritaria e euforia. Quando as pessoas queriam pedir a conta era só virar os copos de ponta cabeça, que logo uma garçonete já viria com sua conta em mãos. Era genial e muito prático. - Bom, foi um prazer te conhecer, Melanie.

Rhea se levantou da onde estava sentada e saiu em direção à porta de saída do bar. Melanie logo virou seu copo de ponta cabeça e deixou uma nota de 50 em baixo dele. Ela andou de pressa até alcançar Rhea que já estava quase dando partida em sua Harley preta.

- Hey! Rhea! Espere! - Gritou Melanie. Rhea ao perceber, desligou sua moto e desceu para ir de encontro à garota.

- O que foi?

- É só isso? Quer dizer, você flertou comigo a noite inteira pra nada? Nem vai se dignar a me chamar para sair?

- Faz parte da minha tática! - Respondeu Rhea, sorrindo.

- Tática?

- É.. Eu não sou daquelas que se aproveitam das oportunidades. Eu conversei com você e sai do bar, sem nem sequer te chamar para sair... - Disse Rhea -...Então, se você viesse atrás de mim, quer dizer que está tão interessada quanto eu.

- Você é sempre tão convencida assim?

- Me prove que não tenha dado certo, Melanie.

- É.. Deu certo... Então, você pode me pegar na sexta, as nove.

- Combinado, então. - Respondeu Rhea, enquanto pegava um cartão no seu bolso. - Aqui o meu telefone, me mande uma mensagem com o endereço.

- Tudo bem, até sexta, então.

- Até! Foi um prazer te conhecer.

- Vamos ver se realmente foi um prazer mesmo.

Rhea ficou ali, olhando Melanie voltar para dentro do bar, para provavelmente comer alguma coisa enquanto esperava um táxi. Seus olhos se encheram d'água e um sorriso logo se estampou em seu rosto. Aquilo tudo era muito nostálgico e lhe causava um pouco de dor.

Ao voltar para seu apartamento, ela estacionou a moto na garagem e se concentrou em uma única data : 7 de julho de 2017

Ela fechou os olhos e prendeu o fôlego, logo um formigamento tomou conta de seu corpo e um som estrondoso invadiu seus pensamentos. Rhea voltou para sua realidade, agora ela tinha 27 anos de novo.

Após se recuperar de sua viagem no tempo, ela subiu pelo elevador até o último andar. Abriu a porta e entrou, colocando o seu capacete em cima de uma mesa cor vinho, junto com as chaves de sua moto:

- Você foi vê-la de novo, não foi?

- Ah! Oi, Mike! - Disse Rhea, tirando o seu casaco e indo até a cozinha tomar um copo d'água.

- Rhea, não pode ficar voltando no tempo para reviver o dia que conheceu Melanie! Quanto mais você demorar para aceitar que vocês não estão mais juntas, pior vai ser para você.

- Vê se me deixa em paz, Mike. Eu estou com um terrível dor de cabeça!

- É claro que está! Só nessa semana você voltou no tempo 5 vezes. Sua mente deve estar exausta! E você precisa parar com isso.

- Pois é.. Eu vou dormir! Boa noite, Mike.

- Rhea.. Por favor...

- Eu disse boa noite, Mike.

- Boa noite. - Respondeu o irmão mais velho de Rhea, indignado.

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