A Trégua
A Trégua
Por: AnnyPN
Capitulo 1

Faço faculdade a quase dois anos na Faculdade Pontifícia de Florianópolis. Estudei bastante pra chegar aqui, minha família apesar de não ser pobre não tinha dinheiro pra pagar a faculdade que tanto sonhava desde os meus 15 anos.

Sempre amei as diversas línguas que existem as redor do mundo e logo que pude quis aprender algumas, e então quando descobri o curso de relações internacionais me apaixonei e quis aquilo para minha vida. Mas como disse, eu não tinha dinheiro suficiente pra bancar meu sonho. Nos últimos três anos de colégio, me dediquei muito para conseguir uma bolsa no Enem. Perdi uma certa parte da minha adolescência, festas e diversão que todos os jovens gostam, eu perdi dezenas delas pra estudar.

Meu último ano de colégio foi mais sofrido que todos os outros com certeza, estudei sem parar e no final do ano fiz a prova que me apavorava desde o começo. Acabei por conseguir a bolsa na cidade de Florianópolis, nunca fui tão feliz.

No começo do ano seguinte me mudei e morar em outra cidade, era mais caro do que imaginei. Então sempre que podia trabalhava para ajudar meus pais. Sobre eles, são as melhores pessoas que conheço, são casados a 30 anos e sempre me apoiaram no meu sonho. Nunca me deixaram duvidar que conseguiria. Tenho uma irmã, Veronica e um irmão, Jace. Os dois são mais velhos que eu. Minha irmã é formada em nutrição e meu irmão é bombeiro. Todos moram na minha cidade natal, São Miguel dos Milagres – Rio Grande do Sul, eles amam nossa cidade e sempre quiseram ficar lá, mas eu apesar de amá-la, nunca me vi morando lá.

Eu agora já me acostumei com o ritmo de cidade grande, mais no começo foi complicado, era muito diferente de tudo que conhecia. Como disse antes eu tive que começar a trabalhar e muitas vezes dava aulas particulares para colegas da faculdade. E em uma dessas aulas eu conheci a Juliana, que hoje é uma grande amiga e sua família me ajudou bastante nesse tempo que estou aqui.

Hoje vim no aeroporto com a Ju para buscar seu irmão que chega de Boston hoje, a família dela diferente da minha tem bastante dinheiro, eles são donos de uma marca de roupa muito famosa, Albuquerque's , tem filiais ao redor do mundo e o irmão estava comandando uma em Boston mais agora resolveu voltar e aqui estamos nos.

-- Selena me ajuda a achar meu irmão!

-- Como que vou te ajudar a encontra-lo se nunca o vi? Não tem como Ju. – Respondo rindo pelo pequeno desespero de Ju.

-- Ahhh, sei lá. Faz alguma coisa pra me ajudar, nesse monte de gente não dá pra ver nad... ACHEIII. – Grita ao mesmo tempo que passa correndo por mim.

-- Nem acredito que esta de volta irmão, que saudade estava de ti. – Ju diz a um homem bastante alto e bonito. Eles são bem parecidos fisicamente penso enquanto vejo o abraço entre irmãos.

-- Também estava com saudades pequena.

-- bom, irmão essa é a Selena minha amiga que sempre me ajuda na faculdade, Selena esse é meu irmão Sebastian.

-- É um prazer. – Digo estendendo a mão.

Neste momento ele olha pra mim e vejo suas feições mudaram drasticamente, a felicidade que tinha enquanto abraçava a irmã se vai no momento em que olha pra mim. Seu olhar era um olhar de dor e... raiva? Isso só pode ser coisa da minha cabeça, ele nem ao menos me conhecia, porque sentiria raiva? – Igualmente. – Responde pegando em minha mão, mas sinto que aquelas palavras são mais falsas que nota de três reais.

Depois das apresentações e de todo aquele trabalho para pegar as malas fomos rumo ao carro, no caminho de volta os irmãos foram conversando enquanto eu apenas escutava. – Você vai pra festa de boas-vindas também não vai Selena? – Ju me pergunta olhando pelo retrovisor.

- Acho melhor não Ju, tenho muitas coisas para fazer para entregar na faculdade amanhã que ainda não terminei. – Fora o fato que seu irmão não foi nem um pouco com a minha cara, acrescento em pensamento.

Antes mesmo de terminar de falar ela me lançou um daqueles olhares que sabia que eu estava mentindo, com a gente sempre foi assim desde o começo, sempre sabíamos quando a outra estava mentindo. Eu realmente não queria ir à festa, nunca fui boa em ficar com muitas pessoas ao meu redor, e lá teria muitas pessoas das quais só conheceriam, Ju, e seus pais.

- Tudo bem então, te deixo no seu apartamento.

- Obrigada!

Quando chegamos em frente ao meu prédio desejei boas-vindas ao irmão e me despedi de Ju, descendo do carro logo em seguida. Antes mesmo de entrar em meu apartamento, meu celular vibra em meu bolso.

-Porque não quis vir pra festa? Agora eu quero a verdade.

- Ju, das pessoas que estão nessa festa eu só conheço você e o seus pais, e além de tudo sabe que não me sinto bem no meio de tanta gente e acho que seu irmão não gostou muito da minha cara não.

- Claro que gostou, ele tem aquela cara azeda mesmo rsrs. Mas já que não veio hoje, quero você aqui amanhã, meus pais resolveram fazer churrasco e disseram que é pra você vir SEM FALTA SELENA.

Não estava gostando daquela ideia, mas pelo que conhecia da Ju ela viria me buscar e levar a força se dissesse que não ia. Então não tinha muita escolha.

- Estarei aí Ju. Agora vou dormir, ate amanha amiga.

- Até.

Desliguei meu celular e o coloquei pra carregar logo em seguida. Fui tomar banho e logo deitei para dormir. Esse churrasco não era boa ideia e eu sabia disso, o tal irmão tinha cara de problemas e eu já os tinhas o bastante para duas vidas...Peguei no sono com esses pensamentos.

Acordei no dia seguinte com meu relógio marcando 07:13, nem no sábado eu conseguia dormir ate tarde. Obrigado relógio biológico, valeu mesmo. Resolvi ir correr no parque que ficava a alguns minutos de casa e optei por ignorar as mensagens de Juliana que me falando do horário que deveria ir e se iria mesmo. Vai que ela esquece e eu não preciso ir? Corro durante uma hora em média, quando estou voltando para meu prédio vejo o carro do pai de Ju parado lá. Triste engano pensar que ela esqueceria.

-- Achou mesmo que me ignorar fosse boa ideia? – indaga quando chego na porta no prédio.

-- Bom dia pra você também Juliana, e eu acho melhor mesmo eu não ir. Estou meio mal do estomago sabe. – Minto descaradamente enquanto subo as escadas do prédio com uma juliana nada feliz atrás de mim.

-- Não tem problema, lã tem banheiro e você precisa aprender a mentir. Você sempre vem com esses papinhos quando te chamo pra sair.

-- Por favor, da próxima eu prometo que vou.

-- você sempre diz isso e nunca vai, anda logo. Dessa vez você não me engana. – Gemo de frustração enquanto abro a porta do apartamento.

-- Ok, preciso tomar banho antes de ir.

-- Então vai! Está esperando o que?

-- Grossa. – Digo indo ao banheiro.

Quando saio do banheiro encontro apenas um bilhete pregado na geladeira.

"tive que ir antes e não deu pra te esperar, minha mãe me ligou e me pediu pra passar no mercado pra ela e se esperasse iria enrolar demais. Meu irmão passa pra te pegar em 30 min. Não tente fugir, se não vier com ele eu volto aí e te trago pelo cabelo. E traga roupa de banho."

Sebastian vai vir me buscar? Roupa de banho? Isso só piora a cada instante. Como lavei meu cabelo o deixo solto mesmo e coloco uma jardineira e tênis. Pegando uma bolsa e colocando apenas documento e um par de roupa caso precise. Penso na roupa de banho, mas nem pensar vou ficar seminua na frente das pessoas, nunca. fecho minha bolsa e desço pra esperar o Sebastian.

Ao chegar em frente ao prédio, no instante seguinte um carro para em minha frente. Espero a janela ser abaixado mesmo sabendo quem esta no carro. – Oi. – Digo quando a janela é aberta.

Ele apenas me responde com um manejo de cabeça. – Entra, não tenho o dia todo. – Indaga grosseiramente.

Se eu achava que ele não tinha gostado de mim, agora tinha certeza. Queria mesmo era meter um soco em sua cara, mas apenas entrei no carro com ódio em minhas veias. Quem ele pensa que é pra falar assim comigo? E o que eu fiz pra ele?

--Quanto você quer? – ele pergunta do nada, alguns minutos depois.

-- Como? Não entendi o que quis dizer.

-- quanto você quer? Para ficar longe da minha irmã. É só isso que gente como você quer, não é?

Ele estava mesmo me oferecendo dinheiro pra ficar longe da irmã? Quem aquele idiota achava que era? – Gente como eu? – indago vermelha de raiva.

- É, gente como você. Conheço seu tipo, acha que não sei que só é amiga dela pelo dinheiro que meus pais têm? Então vamos acabar com isso logo, diga quanto quer e fique longe deles de uma vez. Não tente parecer que não é isso que quer pois eu sei que é. – diz com uma tranquilidade assustadora enquanto dirige.

- Para o carro. – Não sou obrigada a ouvir isso. Mal me conhece e acha que pode dizer quem eu sou.

- Pare de se fazer de boa, já disse que comigo não cola garota. – diz agora pela primeira vez olhando pra mim.

- EU FALEI PARA VOCÊ PARAR O CARRO. – Respiro algumas vezes antes de continuar. – Você me conhece a menos de 24 horas e acha que pode dizer que tipo de pessoa eu sou? Só porque você tem dinheiro não significa que eu o queira. Não sou amiga da sua irmã a quase dois anos por causa de dinheiro. Você não é ninguém para me julgar e achar que me conhece. Agora pare a merda desse carro ou eu juro que vou pular. – disse com toda a calma que consegui e sem dizer nada ele para o carro, desço batendo a porta do carro e olhando sem saber onde estou. Começo a caminhar enquanto procuro meu celular dentro da bolsa, acumulando toda a força que tenho para não chorar no meio da rua.

Quando penso que ele foi embora escuto a porta sem aberto atrás de mim, continuo andando o mais rápido que posso até sentir meu braço sem puxado. – Espera, eu não quis julgar você, peço desculpas. – Como é que é? Ele me diz todas aquelas coisas e agora pede desculpas? Esse cara é bipolar?

-- Nos dois sabemos que você quis dizer todas aquelas coisas, se é por preocupação por eu contar pra sua irmã fiquei tranquilo que ela não saberá dessa conversa "legal" que tivemos – digo fazendo aspas com as mãos.

-- Olha, eu realmente não quis dizer tais coisas e sei que não lhe conheço para dizer e por favor entre no carro, prometi para minha irmã que lhe levaria nem que seja carregada. – Ele fala como se não tivesse me chamado de interesseira a 5 minutos atrás. Ao perceber minha relutância para entrar no carro acrescenta – Por minha irmã, por favor. – Acabo cedendo e entrando no carro.

Passamos todo o resto do percurso em silencio, nem ao menos olhei pra ele, apesar de sentir seus olhos em mim algumas vezes durante o trajeto. Ao chegar em frente a casa de Ju eu quase não esperei o carro parar e saltei pra fora. Quanto mais longe melhor.

Mas minha felicidade não foi muito longe pois antes mesmo de entrar na casa sinto uma mão rodear meu braço me fazendo virar. – Espero que acredite em minhas desculpas e que essa conversa fique entre nós. – disse olhando em meus olhos. Porque eu não conseguia acreditar em suas palavras? Seus olhos mostravam totalmente o contrario que suas palavras diziam.

-- Está tudo bem, e de mim ninguém vai saber nada. – disse por fim.

-- Ótimo. – disse soltando meu braço e entrando na casa.

Porque eu sentia que ele aquele assunto não acabaria por ali? E eu sem sombra de duvidas teria muitos problemas com aquilo? 

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