A Minha Grande Utopia
A Minha Grande Utopia
Por: Lucas Rodrigues
O Reino de Gora

O Reino de Gora fica situado ao norte da Dalmácia, antes do condado de Lika-Senj, ao sul da atual cidade de Mogorić. Gora – em croata significa terra – foi assim batizado o reino por uma antiga disputa do povo dálmata com o povo do outro lado do Mar Adriático, mais precisamente da cidade de Ancona. Com a vitória dálmata, a região foi dada à família real Krkić – da Sérvia.

O Castelo Real se encontra na atual cidade de Rijeka, bem ao norte. Cidade importante por sua rota comercial com a Eslovênia e Itália. Seu porto recebe embarcações de todo o Mar Adriático. Rijeka passou a ser um centro não somente comercial, mas, também, de cultura e ensino.

O governo de Gora era também detentor da ilha de Krk, batizada pela família Krkić. A princípio, seu reino possuía apenas a ilha de Pag, com vista para seu reino pela região de Starigrad. Além da conquista de Rijeka, foi possível conquistar a ilha de Krk, um refúgio importante para a família real.

Assim como Rijeka, a ilha de Krk ganharia um castelo para abrigar a nobreza quando se situasse ali. Estava nascendo o castelo Frankopan, construído em pedra, com uma torre modesta que não passa dos cinco metros de altura, uma forte muralha, situado em uma região tranquila.

Gerações se passaram até chegar o reinado de Joachim – filho único do casal real Mathi e Sarah – se casou com uma jovem da família real polaca, Irina. Dessa união tiveram uma filha, Larissa – a princesa de Gora. Uma linda jovem de longos cabelos lisos castanhos claros e de olhos verdes, carregando em suas veias o sangue azul real – Plava Krv.

Bem distante dali, no extremo sul da Dalmácia, numa pequena aldeia de camponeses, estava Marki Luki Planinć. Um jovem aldeão, de cabelos castanhos claros, pele branca e olhos também castanhos claros. Os padrões de beleza agradavam a princesa de Gora. Contudo, ele não tinha Plava krv em suas veias, senão o crvena krv (sangue vermelho) de um camponês comum.

Ambos não se conheciam. Dificilmente isso ocorreria. Porque o dia a dia da princesa de Gora se limitava à vida no Castelo Real. Ela não precisava sair para nada. Raramente em algum encontro real em outro reino – muitos desses encontros entre famílias reais ocorriam na cidade de Zadar, capital do Reino da Dalmácia.

O Reino da Dalmácia estava tranquilo. Era braço direito do Reino de Gora. Ambos traçavam rotas de comércio na região do sul da atual Croácia até a Eslovênia e alimentavam um nobre acordo de paz. Até que vieram os húngaros. A região de Gora foi a mais dominada. Não foi algo escravizador, mas uma leve influência húngara estava tirando a autonomia do rei Joachim. Uma espécie de sub-reino poderia ser a nova realidade de Gora – reino que era tão próspero.

No entanto, o rei – em uma reunião com o reino magiar – teve a proposta da união dos povos. A ambiciosa estratégia húngara era expandir seu território, ao norte até os germânicos, e ao sul dominando o povo eslavo poderia estar se concretizando com esse acordo.

A conversa foi favorável ao rei Joachim e – sem mesmo a princesa Larissa saber – estava acordado o casamento entre Larissa e Kádár, o príncipe da Hungria. A notícia chegava ao Castelo Real como uma bomba. Agora estava em jogo o futuro da família e do Reino de Gora – Larissa precisava aceitar se casar com um homem duas vezes mais velho que ela.

Não era de sua vontade – sua mãe bem sabia disso – e por mais que manifestasse insatisfação, seu pai não lhe daria ouvidos. Devia se casar em outubro. Restavam apenas quatro meses para que o sim no altar fosse por ela pronunciado.

Larissa descreveu a seus dois mensageiros particulares – da casta dos mensageiros reais de Gora – todas as características de seu pretendente e que não queria se casar com o príncipe da Hungria. Apesar de contestada por eles, não voltou atrás de sua decisão.

Os mensageiros saíram por todo o Reino da Dalmácia em busca de alguém que satisfizesse as características descritas pela princesa. Até que – cansados de tanto percorrer o reino – chegara a uma aldeia de camponeses no extremo-sul da Dalmácia – ao sul de Dubrovnik.

Lá estava Luki Planinć, um jovem aldeão, trabalhador rural, de porte físico forte, cabelos e olhos castanhos claros, pele branca. Era ele! Sem dúvidas. Logo os dois mensageiros reais se aproximaram dele e lhe perguntaram o nome.

Marki Luki era muito educado e de temperamento sereno – isso agradava muito os mensageiros e com certeza agradaria a princesa. – Os convidou para entrar e comer bolo Imotski, que sua mãe Lode acabara de fazer.

Era tradição em sua casa todos os convidados comerem bolo Imotski, que era feito com as amêndoas produzidas nos fundos daquela humilde moradia e cultivada por Luki e seus irmãos.

Conversaram por longas horas – o sol já se punha atrás de Konavoski Dvori – e Marki Luki lhes convida para dormirem ali. Eles aceitam, pois a região era de grande mata fechada até se perder nas campinas altas fronteiriças ao Reino da Sérvia. Passariam a noite naquela aldeia, pois estavam muito distantes do Reino de Gora.

O Reino de Gora tinha uma forte união com o Reino da Dalmácia. Mas, devido a sua posição geográfica, era mais ambicionado entre todos os reinos dos Bálcãs. Agora estava sob ameaça do Reino da Hungria. Diante da proposta de casamento entre a filha do rei de Gora e do filho do rei da Hungria, os reinos poderiam se fundir. O resultado disso influenciaria totalmente o reino de Gora e poria em risco o Reino da Dalmácia e todo o antigo território croata.

O Reino de Gora tinha apenas um rio que o cortava, na sua nova capital Rijeka. Mas era banhado pelo Mar Adriático. Havia regiões arbóreas muito vastas, com grandes bosques. Também possuía vastas campinas.

Larissa gostava dos jardins de Gora. As lindas flores lhe encantavam. Das suas flores preferidas, se destacavam as fritilárias e a íris-croata – flores símbolo da paz e guerra na Croácia. Na verdade, em seu interior havia uma paz e uma guerra. A paz de estar dentro da fortaleza do castelo real e a guerra de ter que aceitar um casamento de negócios.

O Reino era geralmente de paz, mas estava vivendo agora um cenário crítico com rumores de guerra. Bastava a princesa Larissa recusar o acordo e a guerra eclodiria. Se o parecer húngaro mostrou-se favorável ao rei Joachim, desagradou à maioria dálmata que se opunha e se defendia ao sul.

Caso o Reino de Gora se “vendesse” aos magiares, o Reino da Dalmácia poderia quebrar a aliança de paz e guerrear contra o reino irmão. De certo que o faria, caso o novo Reino de Gora viesse a cobiçar as suas terras.

O Reino estava agora cercado de incertezas, distante de um acordo de paz. Em qualquer de uma das escolhas do rei, a guerra sairia. Isso porque se ele fechasse com o restante do reino, o exército húngaro invadiria pelo norte e primeiramente passaria por Gora.

Estava por eclodir uma guerra e o Reino de Gora bem no meio do combate. Se escolhesse por ficar do lado da Dalmácia, teria o exército Dálmata a seu favor – apesar de boa parte do exército ser fraca e necessitar de uma ajuda dos camponeses. – Caso contrário, entraria na guerra sem exército.

O Reino não tinha mais do que uma mera guarda real. Sua maior fonte de renda estava na venda de flores ao redor do castelo e pra todos os Bálcãs. Sua agricultura também era a fonte de sustento de todo o reino. Suas flores eram conhecidas em toda a região do Mar Adriático como as mais belas e mais perfumadas.

O comércio era feito com todos os povos ao redor e até mesmo com os indianos e persas – apesar destes últimos preferirem o comércio com o Reino da Bósnia. O sucesso levou a fama do Reino além das fronteiras, mas com ela também veio a exposição da família real de Gora. Larissa, a jovem princesa, não era mais desejada apenas pelos húngaros, mas também por príncipes de outros reinos. Afinal, a sua beleza se destacava em meio a outras moças de sua idade.

O Reino da Hungria estava logo ali com sua tropa e proposta pronta a entrar nas terras do norte. O acordo precisava sair em pouco tempo. Mesmo assim, com ou sem acordo, havia rumores de que os magiares invadiriam toda a Croácia em seu grande sonho de dominação.

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