O desconhecido encantador

#Madalena

Me perdi pelo caminho

Mas não paro, não

Já chorei mares e rios

Mas não afogo não

(Dona de mim, Iza)

Sinto-me perdida!

Ando vagarosamente pelas ruas movimentadas de Londres. Um vai e vem de pessoas apressadas faz um contraste com os passos lentos que me atrevo a fazer.

Passos paciente, cansados, sem direção.

Quando tudo virou essa confusão mesmo? Tenho impressão que perde o fio condutor da minha vida, dos meus sentimentos, do meu coração.

Tudo por causa dele!

Está frio, como sempre, eu diria ao apertar mais o meu velho casaco vermelho e o gorro preto no meu pescoço, enquanto sigo para um dos meus lugares preferidos nessa cidade: a biblioteca.

Adentro o lugar e imediatamente o calor faz meu corpo anteriormente tenso relaxar. Venho sempre que posso aqui. Sigo pelos longos corredores repletos de livros e deixo minhas mãos passearem por eles. Adoro o poder que eles têm de me fazer esquecer a realidade, de por um instante, ser e viver coisas inimagináveis para alguém como eu. Os meus preferidos são os romances históricos, já lê tantos que perde as contas.

Pensando nisso, lembro do pequeno exemplar do Morro dos ventos uivantes que carrego na bolsa, como uma lembrança palpável de que tudo que vive naquela mansão foi real, porque às vezes parece que estou dentro de um desses meus livros de romances históricos clichês.

Sorri com a ideia.

Mas, sinto o sorriso se desfazer em meus lábios carnudos a medida que me lembro que não sou uma mocinha dos contos de fadas, minha vida não é perfeita e não existe um príncipe para me salvar.

Não!

Existe uma mulher totalmente fora dos padrões para as princesas, que passou por tanta coisa na vida, que lutou tanto tempo sozinha, que teve que aprender a matar os seus próprios dragões.

Sozinha!

Sinto lágrimas se formarem teimosamente em meus olhos, e um velho e conhecido aperto no peito ao me lembrar dos meus pais. Mais do que serem pais maravilhosos, eles eram a minha referência de casal perfeito.

De amor verdadeiro.

Lembro de uma vez, era tarde, uma noite chuvosa de domingo e tínhamos ficado em casa e assistimos ao meu filme preferido, na época, Um amor para recordar. Depois que o filme acabou, eu e minha mãe estávamos com os olhos vermelhos do choro e meu pai sorria com a cena, ela ficou brava com ele por isso. Depois eles me levaram para o meu quarto, que eu adorava por causa da decoração exageradamente colorida que minha mãe tinha pintado com tanto carinho, e leram uma parte de uma história e eu dormi, não sem antes senti o beijo deles na minha testa ao me desejarem boa noite.

A chuva me assustou algum instante depois, ou eu não estava com tanto sono assim, não sei ao certo. Lembro que desci a escada com o máximo de silêncio possível e parei ao ver a cena encantadora a minha frente, os meus pais dançavam pela sala semi-escura ao som de uma velha música preferida da minha mãe, Se eu não ti amasse tanto assim. A minha mãe sorria ao ser conduzida pelos braços do meu pai, que exibia aquele sorriso que fazia qualquer pessoa se derreter.

Não tinha nada além deles dois e o amor imenso que sentiam um pelo outro, refletido ali nos olhos deles.

Eu nunca esqueci essa cena, porque naquela noite eu desejei, sentada em um degrau da escada, que um dia encontrasse alguém que me amasse daquela forma.

Ao longo dos meus 25 anos, nunca tinha sentido nada parecido com aquilo, nada até conhecer ele...

O conde!

Perdida em pensamentos, lembranças e questões, acabo esbarrando em algo sólido como uma parede, duro e firme. Tombei para trás e esperei o impacto do meu corpo indo ao chão, mais isso não aconteceu porque mãos firmes seguraram a minha cintura impedindo a queda. Observo aquele que me salvou de um vexame e sorriu um tanto constrangida. A figura imponente parece quase se divertir com a minha expressão, ele é um desses homens impossíveis de não serem notados. Ostenta um corpo atlético de mais de um metro e noventa de altura, distribuídos em músculos bem cobertos por um terno bem alinhado, deixando evidente que dinheiro não é um problema para ele. O seu rosto bem esculpido exibe um par de olhos castanhos que combinam com os cabelos um pouco cumpridos, sobrancelhas bem desenhadas e cílios longos são incrivelmente compatíveis com o formato do rosto, além disso, a barba bem desenhada dá um destaque aos lábios firmes, que exibem um pequeno sorriso ao perceberem minha analise.

Fiquei constrangida, ainda mais quando percebi a nossa proximidade.

_ Espero que não tenha se machucado, senhorita?! _ o estranho falou, mostrando que a sua voz grave completava o conjunto da obra.

_ Eu...quero dizer... sinto muito por isso. _ disse gaguejando constrangida. _ eu estava distraída e não te vê, _ disse sorrindo fracamente, como um pedido de desculpas.

_ Devo dizer que não é todo dia que sou 'atropelado' por uma moça, _ ele disse sorrindo, aliviando a tensão do momento, _ mas achei interessante a experiência, _ completou. _ gostaria de saber o nome daquela que me deixou alerta para os perigos do tráfego na biblioteca!

_ Vai me processar?! – responde rindo, enquanto arruma a minha bolsa marrom no ombro. _ porque já vou avisando que não tenho dinheiro para te indenizar. _ disse para ele, tendo como resposta uma risada espontânea.

_ Juro que não vou fazer isso, não quero o seu dinheiro, mais quem sabe você não me acompanha em um café, como um pedido de desculpas por atentar contra minha vida. – ele sugeriu enquanto caminhávamos pelo corredor em direção a recepção.

_ Meu nome é Madalena, _ disse oferecendo a minha mão para um cumprimento.

_ É um prazer conhecê-la, Madalena. _ ele disse apertando a minha mão, a dele era tão macia e quente, diferente da minha que tinha calos fruto do trabalho pesado. _ eu me chamo John Thompson.

Seguimos para fora da biblioteca e eu descobri que aquele não mais estranho homem era uma companhia agradável, reconfortante. Descobria que ele se tornaria uma parte essencial da minha história algum tempo depois.

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