A luz dela

#Conde William

Ando de um lado para o outro, angustiado, furioso, machucado, como um animal enjaulado. Como um animal que perdeu seu bem mais precioso, sua liberdade.

Inferno!

Jogo as coisas da mesa no chão, tentando aliviar o aperto no meu peito que parece que vai me sufocar desde que falei aquelas palavras cruéis com ela.

A imagem do seu rosto me acompanha a cada instante. A lembrança do seu olhar decepcionado e magoado me feriu. A medida que os dias se transformaram em semanas, sem uma palavra petulante ou um sorriso seu, sinto as trevas que antes habitavam minha alma voltarem com mais força, sem sua luz, estou condenado novamente a escuridão.

A solidão.

Fiz a coisa certa. Repito essa frase na minha mente tentando me convencer de que tenho razão, que não posso alimentar qualquer fantasia amorosa, qualquer esperança de um futuro feliz, de amar.

O amor me destruiu.

Sento-me na minha cadeira confortável e observo a neve caindo em mais um fim de tarde frio em Londres. Vejo a livro que Madalena deixou em cima da mesa, o pego e tiro de dentro a foto minha e de Letícia. Observo aqueles dois sujeitos estranhos, abraçados e sorridentes. Não me reconheço mais nesse homem orgulhoso e otimista. Parece que não sou mais eu, que nunca foi, na verdade.

Vejo a linda figura feminina, Letícia era realmente uma mulher incrivelmente linda por fora, mas eu descobri da pior maneira possível que sua beleza exterior mascarava a frieza da sua alma gananciosa. Hoje consigo ver que nunca a amei de verdade, eu estava encantado por sua beleza e desesperado para encontra o 'amor' que não percebe que tudo não passou de uma ilusão.

Nunca seria feliz ao lado dela, sei disso hoje. Mesmo que o acidente não tivesse acontecido e nós tivéssemos nos casado, não teríamos permanecidos juntos. Pego a foto que eu nem lembrava mais da existência e jogo na pequena lareira do meu escritório, dando fim aquela maldita lembrança.

Eu sou um homem quebrado.

Levanto-me da minha cadeira e fico a observa da janela a paisagem lá fora, distante.

Intocável.

Houve um tempo que tudo o que eu desejava era poder construir uma família.

A minha família.

Apesar de todas as responsabilidades e obrigações que envolviam o título da família, meus pais me ensinaram o valor da família, do amor e do companheirismo. Eles eram felizes! Quando a minha mãe morreu vítima de um câncer de ovário, meu pai morreu junto com ela.

O corpo dele estava vivo, mas a sua alma tinha partido junto com a minha mãe. Ele nunca mais sorriu novamente. Não demorou muito para partir também, cerca de dois anos depois me deixou órfão, não sem antes me lembrar da importância para um homem de encontrar a sua outra metade e o sentimento de completude que resulta desse encontro.

A partir desse dia, isso se tornou o meu principal objetivo e por isso fui tão precipitado achando que tinha encontrado a minha outra metade ao lado de Letícia.

Nunca foi ela.

Convenci-me com o passar dos anos que eu nunca mais encontraria o amor. Que o meu destino era a solidão, a escuridão. Tudo até ela aparecer, e com apenas um encontro mexer comigo como nenhuma outra em qualquer época da minha vida.

Nesse momento, eu senti medo. O temível conde desfigurado sentiu medo de uma criaturinha encantadora de um metro e meio de altura.

Sinto um arrepio passar pelo meu corpo ao lembrar que a tive em meus braços, que tomei seus lábios carnudos nos meus e fui do inferno ao céu em questão de segundos.

Um desejo primitivo se apossou do meu corpo, cada terminação nervosa do meu corpo clamou pelo dela. Como um viciado em uma droga, eu precisava dela pra poder respirar.

Caralho!

Seu corpo volumoso, tão diferente do que estava acostumado, pareceu se moldar ao meu completamente. Lembro dos seus seios grandes se apertarem ao meu peitoral e minha boca saliva de vontade de tê-los em minha boca, em minha mão.

Droga!

E do que adianta tudo isso? Eu não posso esquecer o que eu sou hoje, um homem marcado na alma, um homem desfigurado, cruel. Meu coração endurecido não pode ter lugar para alguém tão delicada como ela, não mais.

Encontrava-me tão perdido em pensamentos que não percebe como a noite tornou-se nebulosa e fria. Observo as horas, o relógio de bolso do meu pai marca as 22h:30min, sigo para a cozinha da mansão, sei que nesse horário todos já se retiraram e o lugar está escuro. Sento-me na cadeira longe da lareira que ainda aquece o espaço, no fundo sei que tudo o que eu quero é vê-la.

Alguns instantes passam até que eu vejo a porta dos fundos ser aberta e uma lufada gélida de ar invadir o ambiente, me deixando imediatamente em alerta. Primeiro sinto seu cheiro tão próprio, rosas, depois vejo sua figura pequena e voluptuosa adentrar o espaço praguejando baixinho.

Mesmo com tão pouca claridade consigo ver o quanto está linda e...

Molhada?!

Tive a confirmação quando ela tropeçou na possa de gelo/água que formou em seus pés e, por puro instinto, eu consigo segurá-la antes de cair. Senti sua respiração acelerar quando meus braços circularam sua cintura a mantendo em pé e próxima do meu corpo. Não resisti á vontade de aspirar seu cheiro, e imediatamente meu corpo responde ao seu.

_ Precisa ficar atenta, pequenina. _ sussurrei com a voz embargada de desejo em seu ouvido causando um arrepio em sua pele escura. _ não quero que se machuque, _ confessei mais para mim do que pra ela.

Mas, como resposta ela se afastou dos meus braços, deixando o frio e o vazio no seu lugar.

_ Você tem um jeito estranho de não me querer ver machucada, _ ela disse ressentida _ saiba que tem palavras que machucam mais do que quedas, conde. _ completou ácida.

Eu sabia que merecia isso depois de tudo o que eu disse, de tê-la machucado.

_ Eu não sou um bom homem, Madalena. – afirmei uma verdade crucial para ela, _ passei tanto tempo sozinho com meus demônios que esqueci como ser bom. _ era verdade, eu não era mais o alguém que um dia fui _ mas, não quero machucar você! Fere-me vê-la machucada.

O silêncio foi a sua resposta. Mesmo na escuridão, sentia o seu olhar vasculhando o quanto de verdade tinha minhas palavras.

_ Mas, parece inevitável te machucar. _ pontuei me aproximando dela, ousei estender a minha mão e tocar a sua face e vê o lugar molhado por suas lágrimas, _ não consigo ser forte o suficiente para me afastar, você é como um raio de luz na escuridão que vive até tê-la.

_ Não se afaste! _ ela respondeu chorosa se jogando em meus braços. _ não se afaste, porque não existe luz sem trevas, a luz só faz sentido quando tem o que iluminar.

Sorri com a paz que inundou meu coração com suas palavras. Ela era minha luz e eu a escuridão que dava sentido a sua existência. Como resposta a puxei para um beijo apaixonado.

Um beijo que selava o recomeço.

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