Dylan Hale
Já entrevistei cinco garotas, mas até agora não estou satisfeito com nenhuma, duas delas não sabem nada de assistente e as outras só vieram pra dar em cima de mim, até que eu gostei, mas eu preciso de alguém que realmente me ajude e não me atrapalhe.
A secretária Marisa me avisou que temos mais uma opção, mas já não estou muito animado.
Enquanto espero a garota chegar, resolvo terminar de preencher umas fichas que eu tinha que entregar ainda hoje.
Alguns minutos se passam e ouço alguém bater na porta. Creio que seja a garota.
ㅡ Entra.
Falo em um tom alto.Continuo a preencher as fichas.
Escuto a porta abrir.ㅡ A senhorita pode se sentar.
Falo enquanto termino a última palavra que falta na ficha.ㅡ Oi, vim pra entrevista de emprego.
Escuto uma voz doce e delicada.E meus olhos desviam das fichas até a porta.
Ela, a garota de cabelos ruivos e olhos verdes, a mesma que vi no shopping, está agora no meu escritório.
Depois de segundos a encarando, ela nem me olhou nos olhos.
Ela começa a andar em minha direção e percebo que usa uma bengala.
Oh droga eu sou muito burro, a garota é deficiente visual!
Quando vou me levantar pra ajudá-la, ela já chega a cadeira e se senta nela.
ㅡ Er... Eu não imaginava que...
ㅡ Que eu fosse cega?
Ela fala normalmente.Resolvo mudar de assunto, já estou mais que constrangido.
ㅡ Enfim, qual o seu nome?
Tento manter a postura, afinal essa é uma entrevista de emprego.ㅡ Lídia Martin.
O nome é mais que perfeito, acho que nunca vi ninguém chamada assim, é um nome o tanto peculiar.
ㅡ Então Lídia, acha que é apta para este trabalho?
Vejo sua expressão mudar pra raiva.
ㅡ O senhor acha que por eu ser cega eu não consiga trabalhar? Saiba que está muito errado se pensa assim, e outra é capaz de eu ter trabalhado muito mais do que muitas pessoas " normais".
ㅡ Eu não quis dizer isso.
Falo em um tom de raiva.A minha paciência é simplesmente zero.
Vejo que ela tem a língua afiada.
ㅡ Eu sei que quis, enfim já estou acostumada.
Ela suspira.ㅡ Você já trabalhou na área de assistente?
ㅡ Sim, eu já fui assistente da Madre Superiora, por uns 2 anos.
ㅡ Hum, eu preciso de alguém que me ajude a me organizar melhor, e que me ajude a não me atrasar e esquecer coisas que tenho que fazer, com tanto trabalho acabo sendo esquecido e perco compromissos muito importantes.
ㅡ Se esse for o problema, nem precisa se preocupar, sou muita boa em memorizar as coisas, nem preciso anotar. E tenha certeza que sou super organizada.
ㅡ Você memoriza facilmente?
Pergunto com desdém.Só pode ser brincadeira.
ㅡ Sim, quer que eu prove?Leia um texto agora mesmo.
Sério isso? Não tô acreditando que estou perdendo o meu tempo.
Procuro um livro qualquer, e abro em uma página aleatória.
ㅡ “Aprenda a lidar com a solidão. Aprenda a conhecer a solidão. Acostume-se a ela, pela primeira vez na sua vida. Bem-vinda à experiência humana. Mas nunca mais use o corpo ou as emoções de outra pessoa como um modo de satisfazer seus próprios anseios não realizados.“
Olho para ela e vejo sua expressão pensativa.
Claro que ela não vai conseguir falar as mesmas palavras, só pode tá de brincadeira com a minha cara.
ㅡ Tá eu acho que você já pode ir...
ㅡ “Aprenda a lidar com a solidão. Aprenda a conhecer a solidão. Acostume-se a ela, pela primeira vez na sua vida. Bem-vinda à experiência humana. Mas nunca mais use o corpo ou as emoções de outra pessoa como um modo de satisfazer seus próprios anseios não realizados.“
Ela repete tudo perfeitamente.
ㅡ Como é possível?
ㅡ É nem eu mesma sei como é possível.
ㅡ Precisarei enviar emails e você terá que ter um computador, como que...
ㅡ Ah isso não é um problema, com a ajuda de um programa que lê em voz alta cada palavra escrita numa página de internet eu posso fazer qualquer coisa, e eu era a melhor aluna na matéria de informática no ensino médio. E trabalhei no escritório da minha escola também por alguns meses.
ㅡ Está bem, eu acho que você é a única opção que tenho, você está contratada.
ㅡ Sério mesmo?
Ela me pergunta surpresa.ㅡ Sim, você pode falar com a Marisa minha secretaria, para você assinar o contrato.
ㅡ Ok, muito obrigada.
ㅡ Posso ir?
ㅡ Precisa de ajuda?
ㅡ Não, eu já memorizei o caminho.
ㅡ Pode ir, te vejo amanhã às 8:00.
Ela se levanta e sai sendo guiada pela bengala.
Quando ela fecha a porta, solto o ar, acho que segurei minha respiração por muito tempo.
Eu nunca imaginei que a garota do shopping não enxergasse, estou até agora chocado. E ela me pareceu a mais clalificada pro cargo mesmo sendo deficiente visual. Ela me trouxe confiança, espero não ter errado a minha escolha.