Capítulo 3

Lídia Martín

Sangue, e sangue, vejo sangue por todos os lados, ele sai pela a porta do meu quarto, eu tento gritar mas não consigo, como se em vez de eu ser cega eu fosse muda, e vejo minha irmã com o corpo cheio de sangue.

ㅡ Você é a culpada, você não fez nada, A CULPA É TODA SUA.

Ela grita.

Sinto alguém me chacoalhar.

ㅡ Acorda Lídia! Você tá tendo um pesadelo.

Percebo que tudo foi mais um de meus pesadelos, e sinto minhas bochechas com lágrimas.

ㅡ Eu estou bem Julia, eu sempre tenho pesadelos.

ㅡ Você tem certeza que está bem? Escutei você gritar, pensei que alguém tinha invadido a casa.

ㅡ Não, tá tudo bem, obrigada por ter me acordado, você pode voltar a dormir.

ㅡ Vou durmir então, mas qualquer coisas me chama.

ㅡ Tá.

Ela sai do quarto e ouço a porta ser fechada.

Abraço meu próprio corpo e tento imaginar minha mãe me abraçando, mesmo ela não estando aqui. Isso me ajuda a acalmar.

Mas ainda assim não consigo durmir, então fico parada na cama esperando as horas passarem.

Depois de algumas horas ouço barulho na cozinha e prevejo que seja a Julia.

De repente escuto ela gritar e me levanto rapidamente preocupada.

E ela abre a porta do meu quarto brutalmente.

ㅡ Oque aconteceu ?

Pergunto preocupada.

ㅡ Lídia! Consegui pra você uma entrevista de emprego!

ㅡ Sério?Meu Deus eu não tô acreditando. Onde?

ㅡ É em uma delegacia, e o emprego é pra assistente.

ㅡ Nossa, vai ser muito bom pra eu conseguir contato nessa área policial, tem haver com minha faculdade de direito.

ㅡ Sim!Foi oque eu pensei, a entrevista é hoje, se arruma logo.

ㅡ Hoje?MAS já?Nem preparei nada!

ㅡ Sim é hoje, acho melhor você se apressar, a gente sai daqui meia hora.

Julia sai e me deixa sozinha para eu me arrumar.

Tomo um banho, e escova os dentes.

Coloco uma calça jeans, uma blusa preta e uma jaqueta de couro preta, coloco uma bolsa pequena beje, e meu tênis branco.

Será que eles vão me contratar, mesmo eu sendo cega? Apesar de tudo eu sei muito bem ser uma assistente, aprendi no orfanato, fui assistente da Madre Superiora, ela me falava coisas e eu não precisava nem anotar, eu decorava tudo então isso não é um problema, tenho experiência.

ㅡ LÍDIA, VAMO LOGO SE NÃO NÓS DUAS VAMOS SE ATRASAR!

Julia grita.

ㅡ JÁ TO INDO!

Grito de volta.

Coloco meu colar, ele é como meu amuleto da sorte, ganhei da minha mãe antes dela morrer, então meio que é como se ela ainda estivesse viva quando coloco ele.

Eu e Julia fomos na sua moto, eu fiquei morrendo de medo de andar nela, mas a Julia me convenceu a ir na moto.

ㅡ Pronto chegamos, é aqui.

ㅡ Tô morrendo de medo.

ㅡ Vai dá tudo certo, eles vão te amar!

ㅡ Espero que sim.

Falo com insegurança.

ㅡ Você quer que eu te ajude a ir até o lugar? Aí você já vai poder memorizar tudo.

ㅡ Pode ser.

Pego minha bengala e na outra mão a Julia me segura andando.

ㅡ Chegamos na recepção.

ㅡ 21 passos.

A Julia solta uma risada.

ㅡ Precisam de alguma coisa?

Ouço a voz de uma senhora.

ㅡ Olá, eu vim para uma entrevista de emprego de assistente.

Falo.

ㅡ Qual o seu nome?

Ela pergunta.

ㅡ Lídia Martin.

ㅡ Espere um pouco, tem uma moça fazendo a entrevista quando ela sair, eu te chamo.

ㅡ Eu espero então.

ㅡ Lídia, senta aqui. Eu vou ter que ir agora, eu não posso chegar atrasada no meu trabalho...

ㅡ Vai logo Julia, não se incomode comigo, eu sei me virar.

ㅡ Tá. Quando terminar, pede pra secretária te chamar um táxi pra você ir embora.

ㅡ Ok.Tchau.

Aceno.

ㅡ Tchau.

Ouço os passos dela cada vez mais distantes.

E espero alguém me chamar.

Passam alguns minutos e escuto a secretária me chamar.

ㅡ Senhorita Martin.

Me levanto.

ㅡ O delegado Hale está te esperando para a entrevista. Percebi que você é deficiente visual, precisa de ajuda?

ㅡ Não, consigo seguir você com o barulho dos seus passos. Aliás qual o seu nome?

ㅡ Nossa estou impressionada, me chamo Marisa.

ㅡ Lindo nome.

Sorrio pelo canto da boca.

ㅡ Obrigada menina.

Ela parece feliz.

ㅡ Vamos?

ㅡ Sim, vou te seguir.

Abro minha bengala e a sigo com o barulho dos seus passos, ouço pessoas falarem, e outros passos também, mas consigo diferenciar os passos dela por conta dela estar de salto.

ㅡ Chegamos. É nessa porta, ele está a sua espera.

ㅡ Está bem.

ㅡ Agora tenho que ir resolver algumas coisas. Mas saiba que estou torcendo muito pra você passar.

Ela diz a última frase sussurrando no meu ouvido.

E eu abro um sorriso.

Ela vai embora e fica só eu e a porta.

É Agora.

Bato duas vezes na porta.

ㅡ Entra.

Escuto uma voz grossa e com intensidade.

Acabo achando aquela voz bem familiar mas tento ignorar.

E abro a porta lentamente.

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