Sophia era filha biológica dos meus pais, mas quando ela tinha três anos, meus pais enfrentaram uma crise financeira. Depois que a casa foi tomada pelos credores, Sophia fugiu de casa.
Ela desapareceu e acabou em um orfanato, onde se apresentou como órfã para conseguir abrigo com uma família rica.
Ela nem se despediu. Simplesmente desapareceu numa noite. Meus pais ficaram arrasados. Eles estavam organizando uma festa surpresa de aniversário para ela naquele mês.
Até que recentemente, os pais adotivos dela faliram.
Quando soube que estávamos planejando uma viagem de luxo pela Europa, ela voltou a entrar em contato com meus pais, alegando que havia sido sequestrada naquela época.
Depois que meus pais se mudaram para a favela, encontraram a mim. Eu tinha apenas 3 anos, mas já apresentava sinais de transformação precoce, indicando que tinha potencial para me tornar uma Gama.
E provei que estavam certos, com meu impressionante histórico de combate.
Fui eu quem pagou a dívida de 500 mil dólares da família, recebendo recompensas contínuas do nosso Alfa pelas minhas habilidades de luta excepcionais.
Meus pais só me aceitaram como filha porque viram em mim uma oportunidade. Outros guerreiros zombavam deles, chamando-os de parasitas.
Mas eu não me importava. Achava que, sendo família, não devíamos contar quem dava mais — o laço de sangue deveria bastar.
No fim das contas, essa família me devia tudo.
Desde o nascimento de Sam, fui responsável por cuidar dele. Eu cozinhava para ele, lavava suas roupas e o levava para os treinos. Trabalhava numa lanchonete local para pagar os estudos dele.
Quando me tornei Gama, passei a cobrir todas as despesas dele. Só o treinamento particular de combate custava 5 mil dólares por mês — isso só com as aulas extras.
Comprei roupas de marca para ele, para que não se sentisse inferior aos outros jovens lobos da Alcateia.
Hoje ele tem 15 anos, e eu o crio há cinco. Por posição, sou irmã dele, mas na prática, sempre fui mais como uma mãe.
Quanto aos meus pais — eu dei tudo para eles.
Eles não tinham poupança. A renda deles era ridícula. Então, todos os meses eu dava 5 mil dólares do que ganhava em combate.
Comprei um carro de luxo para o uso diário deles. Paguei todas as contas médicas — reumatismo da minha mãe, problema cardíaco do meu pai.
Cuidava de todas as despesas da casa e das três refeições por dia.
Além de planejar essa viagem à Europa, organizei também um plano de saúde premium no exterior e acomodações especiais para que eles viajassem com conforto. Só o seguro de viagem custou uma fortuna. E eu nunca reclamei.
Mais do que filha, eu era o pilar financeiro deles — um caixa eletrônico que ainda cozinhava e limpava.
Até o prédio comercial que o Alfa me deu complementava a renda da família. Meus inquilinos incluíam alguns dos lobos mais poderosos de três territórios.
Cada vitória em combate me rendia grandes recompensas. E eu me forçava a melhorar cada vez mais, só para continuar sustentando essa família.
E havia Alexander, meu companheiro. Quando nos reconhecemos no Ritual da Luz da Lua, há três anos, ele não tinha nada. A família dele era ainda mais pobre que a minha.
Fui eu quem comprou o primeiro equipamento de combate decente dele. Paguei pelos treinos. Dei suporte enquanto ele tentava subir de posição dentro da Alcateia.
Todos os meses, eu dava 3 mil dólares para ajudar a família dele. Os tratamentos médicos da mãe dele foram todos pagos por mim.
Até dei entrada numa casinha para eles no ano passado.
Tudo porque ele era meu companheiro, escolhido pela Deusa. Nunca reclamei de sustentá-lo. Achei que era isso que os companheiros faziam — cuidavam um do outro.
Depois de tudo o que fiz por essa família e por Alexander, eles ainda trataram melhor a filha biológica do que a mim.
Sophia sorriu ao se aproximar. A pulseira que usava provavelmente valia mais do que meus pais ganhavam em dois meses.
— Me desculpe, irmã. Se eu soubesse que minha chegada te obrigaria a dormir na neve, talvez eu tivesse recusado o convite.
Ela continuou:
— Me ofereci para ficar na cabine padrão, mas eles não quiseram me deixar no ar frio do norte, porque sou mais frágil. Espero que entenda.
Sam estava pendurado no braço dela como um cachorrinho faminto. O mesmo Sam que eu criei e mimei com as minhas próprias mãos.
— Claro! Aquele frio é perigoso. E se você tiver uma transformação descontrolada? Diferente da minha irmã — olha pra ela, parece uma loba furiosa. Até os lobos renegados fogem dela.
Todos riram.
Eles sabiam perfeitamente que quem tinha a condição sensível ao frio era eu.
Mesmo assim, não hesitaram em mandar a Gama deles, a provedora, dormir num lugar que podia colocar toda nossa espécie em risco.
Alexander ficou ali, em silêncio, sem me defender. O homem que, três meses atrás, prometeu me proteger com a própria vida durante nosso pré-ritual de acasalamento.
Meus pais perceberam que meu semblante escureceu e suavizaram o tom:
— Escuta, a gente sabe que não é o ideal, mas não tivemos escolha ao te colocar pra dormir fora. Aquele curso de combate avançado que você queria fazer — vai lá e faz. Não se preocupe com os custos.
Estendi a mão:
— Tudo bem. Então me deem a taxa de inscrição. 50 mil dólares. Agora.
— Tudo isso! Você devia estar grata por estarmos deixando você gastar seu próprio dinheiro. Não abusa!
Revirei os olhos:
— Desde quando eu preciso da permissão de vocês pra gastar meu dinheiro? Quanto vocês contribuem pra essa casa todo mês?
O rosto dos meus pais ficou vermelho.
— É necessário falar disso em família?
Eles contribuíam com 3 mil dólares por mês. Eu contribuía com 50 mil.
Nem um presente de transformação me deram.
Fui eu quem pagou os 500 mil dólares de dívida da família e quem organizou essa viagem de luxo à Europa. Só a viagem custou 5 milhões de dólares.
O estilo de vida confortável dessa família vinha dos meus combates.
Outros membros da Alcateia viam isso. Sussurravam que essa família vivia do dinheiro da filha.
Já que amavam tanto a filha biológica, talvez fosse ela quem deveria sustentá-los.
Vamos ver quanto tempo conseguiriam manter o estilo de vida com a renda de uma Ômega que nem consegue se transformar.
Alexander deu um passo à frente, passando o braço pelos ombros de Sophia num gesto que fez minha loba rosnar por dentro.
— Talvez eu possa ajudar com os passeios. — Disse ele, sorrindo para ela. — Conheço alguns lugares incríveis na Europa que não estão nos guias turísticos.
Olhei pra ele em choque. Meu peito apertou. Não podia acreditar no que via. O equipamento de treino que ele usava — que eu comprei no mês passado — custava mais do que ele já ganhou na vida.
Logo, os pais adotivos de Sophia também entraram, já discutindo quais passeios não seriam “bons o suficiente” para os padrões deles.
— Vamos precisar melhorar essas acomodações. — Disse a mãe adotiva de Sophia, torcendo o nariz para as reservas em hotéis cinco estrelas que eu tinha escolhido com tanto cuidado. — É tudo tão… comum.
Meu pai assentiu, animado:
— O que você quiser! Agora essa é a sua viagem em família.
Pigarriei:
— Na verdade, essa é a minha viagem. Todas as reservas estão no meu nome.
Todos congelaram. Eles não tinham pensado nesse pequeno detalhe.
Minha mãe foi a primeira a se recompor:
— Bom, sobre isso… Achamos que o melhor seria você transferir todas as reservas para a Sophia. Afinal, ela é nossa verdadeira herdeira.
Eu não podia acreditar no que estava ouvindo.
— Vocês querem que eu dê a ela a viagem de meio milhão de dólares? A viagem pela qual quase morri?
— É o mínimo depois de tudo que fizemos por você. — Disse meu pai, sem conseguir me encarar.
Alexander se adiantou, desviando o olhar:
— Pensa nisso, Alexa. Isso significaria muito pra todo mundo.
Sam entrou na conversa, com uma expressão sincera:
— Mana, por favor? Pela família?