Naquela manhã, assim que cheguei na enfermaria, havia uma fila de crianças, trazidas por Rarith.
Uma funcionária passou por ali e franziu a testa, rindo:
- Por acaso isto é uma fila para enfermaria?
- Sim. – Rarith respondeu, sorrindo.
- Nunca vi a enfermaria tão movimentada. – Me olhou de forma divertida e saiu.
Suspirei e fitei os rostinhos ansiosos e animados e perguntei diretamente para Rarith:
- Não me diga que eles estão com os corações partidos!
- Estou com dor no rim. – Um pirralho, não tendo mais que cinco anos, justificou.
- E eu no umbigo. – Disse com propriedade o menor deles, com todos os dentes de leite na boca, parecendo recém completar sua arcada dentária.
Respirei fundo e abri a porta da enfermaria, não os deixando entrar:
- Levarei os curativos no recreio, combinado? Não posso
- Senhor Litrow, eu ainda sou uma mulher casada. O divórcio ainda não está assinado. Gabe está resistente... E... Eu sequer consegui um advogado que queira me ajudar.- Você gosta dele?- Gosto! Mas... Sei que preciso seguir em frente. Aliás, “eu quero” seguir em frente. Ao mesmo tempo não posso negociar com o senhor o emprego em troca de sairmos juntos ou nos relacionarmos. Achei que foi tudo... Muito rápido entre nós, tipo mal nos conhecemos, me convidou para sair... E fica... O tempo todo me deixando confusa, como se quisesse me dizer algo que nunca diz. E já sei do que se trata.- Do que se trata?- Eu e você... Tipo... Sair e... Transar!Ele riu:- Deus que me livre!Estreitei os olhos, confusa:- Sou... Tão horrível assim? Então... Por que me convidou para sair?- Deixei claro que tínhamos que conversa
Deparei-me com Rarith, que me encarou, estreitando os olhos, surpresa com o que via. Separei-me rapidamente de Jai e perguntei:- Oi, querida... Você... Está bem?- Só vim me despedir de você. – disse, vindo até mim e me dando um abraço.Peguei-a no colo e dei-lhe um beijo:- Até amanhã.- Até amanhã, Olívia.A soltei e Rarith encaminhou-se até a porta novamente. Antes de fechá-la olhou para Jai e depois para mim, desconfiada:- Você está curando o coração do diretor também, Olívia?Respirei fundo, sentindo um frio percorrer minha espinha. Claro que ela contaria a Gabe e ele entenderia tudo errado. E não, eu não estava disposta a compartilhar minha vida pessoal e meu maior segredo com ele... Que não merecia saber.- Sim, estou curando o coração do diret
Desta vez Gabe era inocente, embora tivesse sido o primeiro a mencionar a culpa do meu pai quanto ao meu passado, que até então eu me recusava a aceitar.- Não... Só estou aqui... “Divagando”. – Usei a mesma palavra que ele.- Coração, você é tudo para mim! – ele me abraçou de novo.- No que está trabalhando?- Eu... Estou montando um projeto para uma concessionária de rodovias que está em crescimento. – Pareceu empolgado.Será que ele realmente estava trabalhando e se envolveu com alguma mulher somente depois que saiu do trabalho?Na manhã seguinte, Jai avisou que o exame de irmandade estava agendado para daqui há dez dias.Ao final do turno, eu estava ajeitando minhas coisas para ir embora quando ouvi uma batida na porta, que se abriu. E lá estava ele: Gabe Clifford, em seu terno
Cheguei na residência de Aneliese Clifford exatamente às 20 horas, conforme o convite. Fui atendida pela governanta:- A senhora Clifford a espera – avisou, dando-me passagem.Segui a mulher de meia idade, que me levou até a sala de estar íntimo. Lá estavam Aneliese, Rarith e... Rowan. Quando o olhar daquele homem posou sobre mim, cheguei a sentir náusea. Lembrei das ameaças que havia me feito e fiquei a me perguntar se alguém sabia do quanto ele me repudiava.Certamente Aneliese não tinha o mesmo pensamento que o marido, ou não teria me convidado para o jantar, nem demonstraria toda gentileza e carinho sempre que me via.Rarith correu na minha direção e abaixei-me levemente, pegando-a no colo. Recebi um abraço forte e um beijo na bochecha:- Você veio, Olívia!- Sim! – A apertei entre meus braços.Aneliese recebeu
- Eu... Vou verificar se o jantar está como solicitei. – Aneliese levantou-se e fiz o mesmo.- Posso acompanhá-la? – Pedi.- Claro! Será um prazer mostrar-lhe minha cozinha e a pessoa que faz o milagre lá dentro. – Sorriu, enganchando o braço no meu.- Tio Gabe, vem comigo para a sala de legos?- Legos! – Gabe vibrou – Eu já disse que amo montar peças de legos?Fui para a cozinha com Aneliese, que me apresentou sua cozinheira. O cheiro de comida boa pairava no ar, me dando água na boca. Enquanto ela escolhia os pratos que iriam para a mesa, perguntei:- Você está bem?- Sim... Por que não estaria? – Sorriu.- Está mais magra... E pálida.- Trabalhei muito... Na viagem.- Para onde você foi?- Estados Unidos.- No que você trabalha?- Fui... Ajudar Rowan a fe
- Sim. E a princípio eu não tinha nada contra Mônica, mesmo ela não fazendo nada a não ser ficar grudada em Gabe o tempo todo. E, embora meu irmão nunca tenha sido muito próximo de nós, o tempo que esteve com ela conseguiu ser ainda pior. Gabe sempre se dedicou muito ao trabalho e aos estudos. Foi moldado para isto, por nosso pai. Mesmo garoto, ele nunca pôde se divertir ou fazer coisas de garotos normais de sua idade. Sempre foi um mini adulto. E Jorel só conseguiu ser diferente porque ficou órfão cedo... E mesmo eu não entendendo nada de maternidade, lhe dei liberdade para ser adolescente... E talvez a liberdade tenha sido excessiva, já que ele não criou responsabilidades até hoje – suspirou – Enfim... Gabe não sabe ser diferente... Porque ele nunca teve oportunidade de fazer isto.- Mas... E as coisas que ele fez com Mônica?- Viajou
POV GABE Como assim Rowan puxou minha esposa para um beijo? E caralho, demorado demais para o meu gosto! Eu estava tão atento que percebi que quando ele foi soltar a mão de Olívia, ela segurou-a por um tempo enquanto o encarava e notei suas unhas cravando na palma das mãos de meu cunhado. Que porra era aquela? Assim que se soltaram, Rowan deu um passo para trás, sério, e fechou as mãos, a respiração visivelmente acelerada. A governanta abriu a porta e Olívia saiu praticamente correndo, fazendo com que eu fosse atrás, sem tempo para me despedir de Aneliese e Rarith. Olívia pegou o caminho em direção ao portão de saída da propriedade, como se fosse perto o suficiente para ir a pé. A segui: - Ok, se não quer ir comigo embora, posso levá-la ao menos até a rua, para que possa pegar um táxi. Ela continuou caminhando, como se não me ouvisse. Tentei alcançá-la e quando cheguei perto chuchu começou a correr, parecendo totalmente desnorteada. Corri atrás dela, como se estivéssemos numa com
Peguei-o pela gravata e o puxei pelos poucos degraus de escada, levando-o para a área do playground. Ele murmurava algo, mas eu não estava somente cego... Também estava surdo. - Eu esqueci de quebrar o seu nariz, por isto voltei! Dizendo aquilo soquei seu nariz com toda minha força, sentindo o sangue espirrar na minha roupa, atingindo também meu rosto. Rowan começou a gritar e tapei sua boca com força, sabendo que o sangue em breve o sufocaria e o desgraçado morreria nos meus braços, já que o segurei de costas para mim. Sussurrei em seu ouvido: - Nunca mais toque na minha esposa. Se abrir a boca para falar com ela, você morre. Se seus olhos estiverem sobre ela, você morre. Se eu o encontrar no mesmo ambiente que ela, você morre. Entendeu? Como ele não conseguia responder, eu mesmo movi sua cabeça para cima e para baixo, como sinal de afirmação. - Bom garoto! – Soltei-o com força, fazendo com que se desequilibrasse e caísse no chão. Rowan estava de quatro no chão, vendo o própr