CAPÍTULO 3: ENTREGAS RÁPIDAS

Constança passava instruções para sua equipe, era um trabalho simples, apenas uma entrega rápida de carregamentos especiais para os demônios residentes, explosivos e alguns outros brinquedinhos, eram ladrões especializados em obras de arte e bancos com grandes cofres.

-Hela, você fica no telhado com Astrid, Nansica acompanha Ludmilla e Cintia na entrega, comigo, e vocês meninas. - Sorriu para as três meninas gêmeas que eram seu principal trunfo, tamanha sua ferocidade. - Aguardem na caminhonete, se as coisas saírem do controle, meu sinal será esse - Ergueu a mão mostrando o dedo do meio, todas riram.

Seu celular tocou e ela atendeu, era Lucius, ainda parecia nervoso.

-Você resolveu?

-Sim, não se preocupe, ele não será mais problema.

-E quanto aquela carnificina de ontem?

-Você me conhece, eu gosto de deixar tudo muito claro, principalmente quando duvidam da honestidade das minhas meninas.

-Eu sei que eles nos acusaram sem provas, mas faça suas orações para que Mina não queira retaliar.

-Farei uma prece especial com nossos clientes desta noite, talvez o chefe deles até me ouça. - Riu e desligou o telefone, fazendo um sinal com a cabeça e saindo do grande armazém com seu carro, mais duas caminhonetes de garotas, fariam a escolta do caminhão repleto de explosivos.

O trajeto foi tranquilo, usavam sempre a mesma rota de entregas, controlada por seu pessoal na polícia, as entregas eram feitas em uma parte abandonada do porto, especial para aquele tipo de negócios. Estacionaram e aguardaram a chegada dos clientes, eles normalmente não eram muito pontuais, Constança se escorou em seu carro e acendeu um cigarro, aproveitando o ar frio da noite.

Em alguns minutos, três caminhonetes estacionavam em frente a elas. Desceram 7 demônios, dois homens e 5 mulheres, todos lindos como sempre, o que parecia o líder se aproximou sorrindo e abraçou Constança.

-Connie! Como você está? 

-Eduardo meu lindo! Agora que estou perto de você, tudo está perfeito. - Sorriu retribuindo o abraço. - Como vão os negócios?

-Você sabe, - deu de ombros entediado. - Museus para invadir e bancos para saquear. E você? Soube sobre ontem, fiquei orgulhoso!

-O que eu posso dizer, às vezes o pessoal do sangue precisa de uma lição.

-Faz você muito bem! - Piscou um olho. - E então, onde estão meus brinquedinhos?

Ela fez um sinal com a cabeça e duas meninas abriram o bagageiro do caminhão, duas demônias se aproximaram com maletas e rostos compenetrados.

-Soube que o casamento será em breve, como você está com isso?

-O noivado será neste final de semana, eu estou ótima, adoro festas de casamento, contanto que não seja do meu, e adoro, principalmente, os padrinhos cheios de bebida e nenhum pudor.

-Eu soube que eles são todos como Lucius! - fez um biquinho e revirou os olhos.

-Os irmãos e primos dele, sim, fortes e tatuados, pouco cérebro e bastante músculos, abertos para experiências incríveis com todas as espécies.

-Vou m****r a confirmação de presença ainda hoje então! - Riu e então ficou mais sério, levantando uma sobrancelha. - Meu chefe soube sobre a última noite, e notou a qualidade de seu desempenho, me disse que você é o tipo de mulher que ele gosta de ter em sua equipe.

-Seu chefe…

-Sim meu bem, esse mesmo. Se você quiser novos ares e novas oportunidades, posso agendar uma reunião.

Ela não respondeu, apenas o olhou séria e apertou os olhos, era bom ser reconhecida, ainda mais por ele, mas não tinha certeza se isso era uma boa ideia. Ele era feroz, perigoso, e muito poderoso, mas não recusaria nada ainda.

Tudo foi confirmado pelas especialistas em explosivos, Constança recebeu a mala de dinheiro e abraçou o amigo, se despediram e aguardaram eles saírem velozes com seus carros e o caminhão. Constança estava entrando em seu carro quando ouviu o barulho das caminhonetes, franziu a testa e pediu para que as meninas fizessem silêncio, olhou para cima e viu Hela fazendo um sinal com a mão. Levantou o braço e mostrou o dedo do meio, todas pegaram suas armas e se protegeram entre as portas dos carros. A essa altura o som já chegava aos ouvidos menos sensíveis das demais lobas.  

Quatro carros apinhados de vampiros pararam ruidosamente, já atirando, elas revidaram, e houve uma forte troca de tiros. 

-Hela e Astrid, vocês enxergam outra saída? - Apertou o comunicador na orelha.

-Sim chefe, eles vieram apenas com esse pessoal, o lado oposto está limpo.

-Ótimo. Entrem nos carros e saiam pelo outro lado, a primeira que conseguir pegar o telefone chama reforços! Eu fico junto com vocês, saio por último.

-Chefe eles estão atrás de você, é melhor que seja a primeira.

-Não, meu carro está fazendo uma boa barreira, e vocês têm mais oportunidades de escapar. - Um disparo acertou o vidro de seu carro, outros três a lataria. - Malditos sugadores de sangue! Estão enchendo ela de buracos!

O aviso fora dado assim que as primeiras conseguiram sair, Lucius tinha uma equipe de resgate sempre a postos, caso alguma transação desse errado. Eles chegavam rapidamente, mas não foram rápidos o suficiente dessa vez. Constança permanecia disparando, eram as últimas munições e sabia que não conseguiria entrar no carro ou andar com ele agora que estava cheio de buracos, e com os quatro pneus estourados. Apenas guardou a ultima bala para o tiro certeiro em Markos, o maldito chefe daquele pessoal especifico, coordenava a distribuição dos vampiros naquele lado da cidade, ela sabia que ele sempre ia pessoalmente nessas ocasiões, e esperava o momento de estourar sua cabeça. 

Mas não conseguiu, teve que usar a última na cabeça de um dos atiradores, que se aproximava demais dela. Astrid e Hela ainda estavam no telhado, e viram o momento em que Constança saiu de trás do carro e se transformou, suas roupas se desfizeram em vários pedaços, e uma grande loba com dentes imensos tomou o lugar da mulher. Ela correu arrancando cabeças com as unhas e arrancou o telhado do carro que estava mais atrás, onde o sádico Markos observava o tiroteio. Puxou ele pela cabeça, mas antes de terminar o trabalho, ele gritou apavorado e fez o disparo, ela gritou e saltou alguns metros para trás, a cabeça dele escapou de suas mãos, mas já estava fora do pescoço a essa altura.

Quando o reforço chegou, alguns segundos depois, todos os vampiros estavam mortos, Hela e Astrid desceram do telhado e foram até Constança, ela perdia muito sangue, e a infecção derivada da prata com que a munição de Markos fora confeccionada, já estava bastante avançada.

Elas a carregaram para o carro e a deitaram no banco traseiro, dirigindo em alta velocidade para o hospital. Era um prédio discreto distante do centro da cidade, com poucos funcionários, mas bem equipado. Foi levada para a sala de cirurgia, e rapidamente a bala foi retirada, mas seu estado era grave.

Lucius chegou pouco depois de ser avisado, voava com seu carro e ligava sem parar para seu pessoal intensificar a segurança de todos. Entrou no hospital com estardalhaço, pedindo notícias dela.

Astrid foi até ele, parecia preocupada.

-Foi uma bala de prata, eles retiraram mas a infecção já havia começado.

-Desgraçados! - Ele socou uma parede e controlou sua transformação. Uma médica caminhava pelo corredor com uma expressão cansada e triste, Lucius apenas sentiu as pernas fracas e seus olhos escureceram. - Doutora…

-Acalme-se Lucius, ela está viva, estável, a infecção está ativa mas controlada, precisamos de algumas horas para ter certeza de que está a salvo, mas fizemos tudo que podíamos.

-Eu posso ver ela?

-Mais um pouco meu querido, sente-se e aguarde, ela está na sala de recuperação, assim que for para o quarto você poderá entrar. - A médica colocou uma mão em seu ombro e piscou um olho tranquilizadora.

Ele sentou sacudindo a perna e mordendo os lábios. Seu telefone tocou e atendeu sem olhar.

-Lucius! Meu velho amigo, é um bom momento para conversarmos?

-Damian? Não sei, você acha bom o momento em que Constança está entre a vida e a morte depois de sofrer uma armadilha de seu pessoal? Como você ousa!? Com ousa!? - Levantou e falava baixo, sua voz assustadora. - Quis aquele encontro para devolver o celular para que? Por acaso colocou um rastreador no telefone dela? Para saber onde estava e enviar seus malditos chupadores de sangue para matá-la!

-O que!? Como assim? Não houve nenhuma ordem partindo de nós, ela… me diga onde ela está? Por favor, eu preciso vê-la.

-Vai se ferrar Damian, você, sua mãe e todos os bebedores de sangue que o servem! - Desligou o telefone com raiva, e andou de um lado para o outro, depois discou um número e falou depressa. - Aumentem a segurança do hospital, se alguém parecido com um desses vampiros aparecer, arranquem a porra da cabeça, antes mesmo de perguntar o nome!

Ainda demoraram algumas horas até que a médica autorizasse a entrada dele, assim que entrou no quarto, foi até ela e lhe deu um beijo na boca.

-Calma Lucius! Tá tudo bem, controla essa língua rapaz. - Ela riu e deixou ele beijar sua testa e seus lábios novamente.

-Eu pensei que… Ah deusa! Pensei mesmo que perderia você. - Ele segurou sua mão e a beijou fechando os olhos. - Como você se sente?

-Eu estou bem, fora de perigo segundo a médica, fica calmo vai. - Esperou que sentasse na cadeira ao lado da cama. - Você já sabe de onde partiu a ordem?

-Estou confirmando, mas Damian me ligou assim que você saiu da cirurgia, queria conversar.

-Foi ele? - Ela mordeu o lábio, mas disfarçou o melhor que podia.

-Tentou negar, disse que queria ver você, mas eu mandei que se ferrasse, com aquela mãe dele e todos os outros dragões. Deve ter colocado alguma coisa no seu telefone, onde ele está?

-Não faço ideia, acho que no meu carro. - Deu de ombros. - Não sei se as meninas lembraram de pegar.

Ouviram a batida na porta e Astrid colocou a cabeça para dentro do quarto, e uma mão com o celular dela vibrando.

-E ai chefe, tudo bem?

-Tudo ótimo, e as meninas?

-Sem ferimentos, tem um tal de Damian te ligando sem parar, eu não atendi mas resolvi avisar, não sabia se era algum cliente.

-Esse maldito tem muita coragem mesmo! - Lucius pegou o celular, que tocava novamente. - Seu desgraçado! Você ousa ligar para ela? Eu juro Damian, vou a…

-E aí? Tá ligando pra ver se seus meninos terminaram o serviço? - Ela tirou o celular das mãos de Lucius e falou franzindo a testa para o chefe, que neste momento tentava pegar o aparelho, o empurrou com o braço e levantou um dedo pedindo silêncio, tudo o que não precisavam era mais animosidade.

-Ah! Você está bem, eu nem acredito que está bem! Farei sacrifícios para agradecer, como você está?

-Tá de sacanagem? - Ela pareceu genuinamente surpresa com a reação dele. - Você me rastreou com aquela comédia do celular, vai ficar comemorando o fracasso dos seu pessoal agora?

-Não, eu jamais faria isso! Eu queria ver você novamente Constança, jamais daria ordens para que lhe atacassem, não coloquei nenhum rastreador! Se tivesse colocado ao menos poderia ir ver você agora, onde você está?

-Na puta que te pariu! Tá bem? Estou na puta que te pariu Damian! - Desligou o celular e bloqueou o número. - Não foi ele.

-Como assim não foi ele?

-Não foi, ele estava apavorado, e senti que não estava mentindo. Se quiser pode até m****r analisar meu telefone com nossos contatos na polícia, mas não acho que vão encontrar nada.

Ele fechou os olhos concordando, ela sempre sabia reconhecer uma mentira, mais um de seus dons elevados, além da audição e olfato.

-Então por que você bloqueou o número?

-Por que você acha? Esse ataque foi uma ótima desculpa pra ele sair do meu pé. - Lucius a olhou de lado e ela falou sem vontade. - Ele está bastante interessado, e eu perdi a oportunidade de dispensar ele, fiz merda, novamente, agora ele vai pensar que estou brava, vai esquecer essa bobagem. A sorte é que não sabe quem eu sou, então vai ser apenas uma lembrança de uma quase desconhecida que gosta de ter as mãos beijadas.

-O que?

-Nada Lucius, nada, agora você precisa ir resolver os problemas diplomáticos que vão surgir por esse ataque, lembre-se, são nossos maiores compradores. Não tente retaliar, e se eles pedirem minha cabeça, diga que vai me dispensar do serviço, entendeu?

-Eu não vou fazer isso!

-Você vai, sabe por que? Porque você é a porra do líder, escolhido pela minha irmã, sua chefe, ela não vai admitir uma briga com nosso maior cliente apenas por um ataque a mim. Se acalma e volta pra casa, cancele ordens de ataques, que eu sei que você deu, comunique a situação para ela, e diga que está tudo sob controle. Descanse esse corpinho lindo e se prepare para a festa do final de semana. Eu estou bem, amanhã vou embora, e talvez consiga até uma desculpa para não comparecer a sua festa de noivado. - Piscou um olho e fez sinal para que ele saísse. 

-Ainda podemos reativar o velho plano, desaparecer, para sempre. Ninguém conseguiria nos achar, conseguiríamos ficar jun… - Ela se ergueu com dificuldade e lhe deu um selinho.

-Eu não quero me casar com você, e você não quer se casar comigo, sossega esse fogo e volta pra casa. Foi só o medo de perder sua melhor funcionária, vai logo.

Ele não falou nada, mas se debruçou sobre ela e lhe deu um beijo demorado, aproveitou cada segundo, seu gosto era maravilhoso como se lembrava. Se afastou e sorriu triste.

-Eu ainda poderia aguentar sua fúria, a fúria da Alfa…

-Tudo que eu quero de você é calma para resolver os negócios, e que mande alguém pegar meu carro e consertar ele, para ontem, por favor…

Ele acenou e saiu, ela suspirou e tocou a campainha, precisava comer, estava faminta. Algumas horas depois recebeu a ligação da irmã, Katarina apareceu na tela do celular e Constança resmungou atendendo pouco antes de cair na caixa de mensagens.

-Oi Kat, tudo bem?

-Não exatamente, minha irmã mais nova acabou de sofrer um atentado! Como você está? 

-Eu estou bem, ótima na verdade, não foi nada grave, e a princípio não foi um ataque de cima, apenas um dos chefes de terceiro escalão, que se vingou de uma atitude que eu mesma tomei. O Lucius vai resolver tudo.

-Não me importo de quem é a culpa! Eles atacaram você, uma alfa de sangue real, isso não deve ser tolerado! - Respirou fundo se acalmando. - Amanhã estarei na cidade, e marcarei uma reunião com Mina, vamos resolver essa situação, eu quero a cabeça dos responsáveis, todos eles, até mesmo quem abasteceu os carros que transportaram os que a atacaram!

-Presta atenção Katarina! Você não vai fazer nada disso, vai se acalmar e parar de bancar a irmã protetora, nós já superamos essa fase e você sabe disso. - Sua voz saiu apressada e impaciente. - Vai deixar o Lucius resolver, eles não sabiam quem eu era, pensam que sou apenas uma das funcionárias, não retaliaram a alfa, retaliaram a traficante de armas! E eu não quero que saibam sobre mim, você me entendeu? Se você conversar com a Mina, ela vai saber quem eu sou, vamos reativar velhos ressentimentos, pense apenas que isso tem certa justiça poética, eles sempre quiseram se vingar de mim, conseguiram, mas não ficarão sabendo disso.

-Connie! Eu não vou…

-Você vai Katarina, eu não quero sua consideração com uma vingança que prejudicaria os negócios, a mamãe ficaria decepcionada com você se a ouvisse dizendo isso. E acredite em mim, de decepcionar ela eu entendo, pense em todo esforço que ela fez para criar esse negócio, não podemos botar tudo a perder por uma vingança sem sentido. Não foi a Mina ou seu filho que está assumindo, foi um funcionário, e eu arranquei a cabeça dele. Eu já resolvi!

-Estou pensando justamente em nossa mãe, se a garotinha dela fosse ferida ela enviaria exércitos para vingar o atentado. - Riu e suspirou cansada. - Eu não farei nada até amanhã depois que chegar e for visitar você no hospital, a Angelina também vai comigo, e acredito que já fique desta vez. 

-Ótimo, ela já deveria estar aqui, assumindo tudo com o Lucius, vejo vocês amanhã. E eu não sou mais a garotinha dela, já faz bastante tempo...

-Ele pareceu desesperado, o Lucius. Tem alguma coisa que você queira me contar?

-Eu jamais faria isso, e você pensar que eu faria só prova meu ponto, sua vingança não seria por sentimentalismos fraternais, apenas por status. Por isso, não minta para você e aja como a líder que é, foi para isso que a nossa mãe te treinou a vida inteira, para que você liderasse, não fingisse dor, a vantagem de ser líder é justamente essa, não precisar fingir! Agente se fala amanhã, boa viagem. - Desligou o telefone sem esperar respostas.

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