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Vinícius ficou sem reação. Na lembrança que tinha de Luna, ela quase nunca recusava um pedido dele, por mais absurdo que fosse, ela sempre dava um jeito de atender.

Era raro, raríssimo, ouvir um “não” vindo dela.

Camila soltou uma risadinha irônica:

— Fui bem inconveniente, né? Já tô dando trabalho demais só de estar hospedada aqui. Ainda querer comida feita pela Luna, aí já é sonhar alto.

Dizendo isso, virou-se para sair.

Matteo, no entanto, começou a chorar e a bater em Luna, revoltado:

— Mãe ruim! Não pode maltratar a Camila!

Vinícius segurou Camila pelo braço, tentando acalmá-la, e se virou para Luna com o olhar duro:

— Ainda tá brava por causa de hoje de manhã? Já falei que a Camila só veio buscar um carregador. Por que essa implicância toda?

Luna manteve o rosto inexpressivo.

— Não tô bem. Tô sem forças pra cozinhar.

— Mãe, você tá doente? — Matteo arregalou os olhos, depois tapou a boca com nojo.

— Por que você não avisou antes? E se passar alguma coisa pra Camila? Ela já tem a saúde frágil!

Ele puxou a manga da camisa de Vinícius com insistência:

— Pai, a gente precisa levar a Camila no médico pra ela tomar um remédio. Não pode arriscar!

— Matteo, tá tudo bem, não precisa... — Disse Camila, suavemente.

Mas Vinícius a olhou com ternura e respondeu:

— Vamos ouvir o Matteo. Não adianta você bancar a forte. Você sempre demora pra melhorar quando fica doente.

E assim, os três saíram de mãos dadas pela porta.

Na sala, restaram apenas Luna... e os pãezinhos novamente frios sobre a mesa.

Depois de tantos anos morando juntos, nem o marido, nem o próprio filho foram capazes de perguntar se ela estava bem. Pior, estavam levando Camila pra comprar remédio contra uma doença que ela nem tinha.

Luna jogou fora a comida. Ficou alguns minutos parada, olhando o nada.

Então, o celular vibrou. Uma mensagem de Vinícius:

[Vamos passar no mercado. Vem de carro buscar a gente.]

Quando Luna chegou, só encontrou Camila e Matteo esperando.

— Camila, quero sorvete! — Disse Matteo, animado.

Camila apertou de leve o rostinho dele, com carinho:

— Claro, meu amor. Se você quer, a gente compra. — Disse ela.

Luna franziu a testa e se aproximou para intervir:

— Matteo, esqueceu o que o médico falou? Seu estômago não aguenta. Você não pode tomar sorvete. — Disse ela, séria.

O rostinho alegre do menino desabou na hora.

— Ah, Luna... é só um sorvete. Dá pra não exagerar? — Disse Camila, com um tom leve, mas cheio de desdém.

O semblante de Luna escureceu:

— Isso é assunto da minha casa. Não cabe a você se meter. — Respondeu com firmeza.

Assim que terminou de falar, Vinícius apareceu.

Camila se virou pra ele com um olhar magoado:

— Vinícius, eu só queria comprar um sorvete pro Matteo, mas a Luna não deixou.

Luna manteve a calma e explicou em voz firme:

— O médico acabou de dizer que ele pode comer outros lanches por enquanto. Sorvete, só quando melhorar.

Vinícius não suportava ver Camila sendo contrariada. Fechou a cara na hora:

— Desse jeito, o Matteo só vai pegar mais implicância com você. Custava deixar ele provar um pedaço e você comer o resto? A Camila só quis ajudar, não precisava exagerar tanto.

As palavras dele acertaram Luna como uma facada. Nunca imaginou que Vinícius seria capaz de passar por cima até da saúde do próprio filho só pra defender Camila.

E ainda fazia questão de atacar justo onde mais doía.

Ela deu um sorriso amargo, mas não retrucou.

Foi então que entendeu, com toda clareza:

Desde que Camila voltara, ela se tornara apenas uma estranha naquela casa.

Não importava o quanto fizesse, o quanto tentasse, nunca seria suficiente. Na cabeça deles, Camila sempre estaria acima de tudo.
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