Clara e Eva são filhas de duas grandes amigas e nasceram quase ao mesmo tempo. As meninas crescem juntas e se tornam uma dupla inseparável, sustentando uma amizade verdadeira e criando laços mais fortes do que o próprio sangue. Até que um acontecimento na infância das meninas transforma os seus destinos, fazendo com que Clara se sinta culpada pelo sofrimento de Eva e passe a abdicar da sua própria vida em prol da felicidade da amiga. Mas o caminho que une essas mulheres é repleto de curvas traiçoeiras e coloca mais um grande obstáculo em suas trajetórias. Lindo e gentil, Leonardo desperta a paixão de Clara e Eva, colocando-as em lados opostos e exigindo escolhas muito difíceis de serem feitas. O que falará mais alto nesse turbilhão de emoções? Será a culpa, a amizade ou o amor verdadeiro?
Leer más1991
Bianca
Estou a caminho do hospital e, estranhamente, me sinto calma. Achei que fosse enlouquecer quando a bolsa estourasse, mas, de alguma maneira, estou inundada pela paz. Não posso dizer o mesmo do meu marido. Roberto está eufórico e absolutamente histérico. Não sabe o que faz, o que fala e, principalmente, onde põe as mãos. Chega a ser bonitinho vê-lo assim; parece um menino assustado. Nem acredito que o grande dia chegou e que, em pouco tempo, terei a minha menina nos braços. Sei que tudo vai mudar a partir de agora e fico grata por isso.
Quando chego ao hospital, o meu obstetra me examina e constata que já estou com 10 cm de dilatação. As contrações estão cada vez mais próximas e doloridas. Já na sala de parto, sinto que a minha bebê está pronta para estrear no mundo e, após forçar algumas vezes, percebo o seu corpo pequeno deslizando para fora de mim, avançando em direção à luz e mergulhando de cabeça em sua nova e empolgante jornada.
É a sensação mais mágica que já pude experimentar. A dor vai embora de maneira abrupta e dá lugar a um sentimento avassalador: o amor de mãe. Roberto está com o rosto coberto de lágrimas, extremamente emocionado e enternecido. Ficamos os três abraçados, em silêncio, reverenciando esse momento tão sublime.
Minha filha Clara é exatamente da maneira que a imaginei: linda, expressiva e, como o seu nome indica, luminosa. Já ostenta uma vasta cabeleira negra, com fios bem lisinhos, que contrasta com a sua pele branca. E o que falar dos olhos? São negros como a noite, mas repletos de um brilho muito próprio, uma luz que prende a atenção e encanta à primeira vista. Dizem que olhos de recém-nascidos mudam muito, mas eu duvido que os dela irão se modificar.
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Quando as coisas ficam mais calmas, peço para Roberto ligar para os meus pais e para Ellen, minha melhor amiga, que também está prestes a ter a sua bebê. Infelizmente, os meus sogros não são mais vivos, então a minha menininha só terá os avós maternos.
Meu marido desliga o telefone com um sorriso surpreso no rosto e me conta que a minha fiel escudeira acaba de entrar em trabalho de parto. Mal posso acreditar que a filhinha de Ellen nascerá no mesmo dia de Clara, como se fossem irmãs gêmeas de mães diferentes! Mas é assim mesmo que as imagino: juntas, ligadas, unidas para sempre. Quero que façam companhia uma para outra, dividam dores, compartilhem alegrias e, o principal, que se amem de forma incondicional. Já consigo visualizar as duas garotinhas correndo, sorridentes e elétricas, confidentes e parceiras.
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Meus pais chegam ao hospital extasiados. Minha mãe chora, e o meu pai tenta permanecer controlado enquanto se depara com a pequena Clara. É uma cena muito emocionante, que enche o meu coração de alegria. Eles também aproveitam para visitar Ellen e a sua bebê, já que estamos na mesma maternidade e só a alguns quartos de distância uma da outra.
Recebo flores, presentes e várias outras surpresas de amigos queridos. Todo mundo quer comemorar a chegada da nossa princesa, enchendo-a de mimos e agrados. No dia seguinte aos nascimentos, já estou caminhando pelos corredores e, volta e meia, indo ao quarto de Ellen para bajular a minha sobrinha do coração. Eva é uma graça: ruivinha, com pequenas sardas e os olhos levemente acinzentados. Ela já é uma espécie de segunda filha para mim, assim como a sua mãe é a irmã que eu não tive de maneira biológica; a família que escolhi para estar ao meu lado. É muito mágico que nós duas tenhamos dado à luz no mesmo dia; chega a ser um milagre.
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Os primeiros meses passam em um piscar de olhos. Ficamos perdidos em mamadas, fraldas e muitas noites sem dormir. Mas todo o cansaço é compensado pelos sorrisos da Clarinha, que são capazes de derreter até os corações mais frios. Aliás, o barulho das suas gargalhadas já é o meu som preferido em todo o mundo; ele me acalma, me acalenta e me alegra demais. Minha filha é o maior presente que já pude ganhar.
É maravilhoso viver este momento ao lado da minha melhor amiga e dividir com ela as conquistas diárias das bebês. Fazemos tudo para que elas fiquem sempre juntas: damos banhos comunitários, levamos ao parquinho no mesmo horário e até deixamos que dividam o bercinho. Estimulamos essa irmandade que, mesmo sem origem genética, é visceral.
Não sinto a necessidade de ter um segundo filho porque sei, no fundo da minha alma, que a minha menina nunca será sozinha. Ela e Eva sempre estarão juntas e de mãos dadas para atravessar a jornada da vida. E isso me enche de paz.
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Hoje, é o aniversário de dois anos da duplinha, e, como no ano passado, vamos fazer uma festinha conjunta. Eu e Ellen decidimos que sempre comemoraremos a data das meninas em comunhão, afinal, elas são tão agarradas que até parecem uma só. O mais curioso é que, apesar de todo o grude que as une, elas são muito diferentes, tanto do ponto de vista físico quanto no que diz respeito à personalidade.
Mesmo sendo tão pequeninas, já fica claro como possuem temperamentos divergentes. Enquanto a minha Clara é tímida e muito meiga, Eva é aquela criança que gosta de plateia e vibra com os aplausos. Ela sempre está prestando atenção nos outros e nos efeitos que as suas gracinhas causam. Para Clara, qualquer roupinha está boa e toda comida é gostosa. Já Eva escolhe cada peça e alimento com convicção e, quando cisma com algo, ninguém consegue convencê-la do contrário.
Visualmente, as meninas também são puro contraste. Clara tem uma beleza que marca: cabelos pretos e brilhantes, muito lisos e com uma linda franja; olhos negros repletos de luz; e uma risada que ilumina todo o ambiente. Eva, por sua vez, é dona de cabelos ruivos, levemente ondulados; olhos lindos, meio cinzentos; e um sorriso que nunca mostra os dentes. É como se ela apenas sugerisse que está sorrindo, sem realmente fazê-lo.
De certa forma, as duas meninas se completam. É lindo de ver como se ajudam e o quanto se amam. Vai muito além de qualquer laço sanguíneo, e tenho certeza de que será por toda a vida.
2021Eva, 30 anosVolto de um passeio magnífico na Grand Place, em Bruxelas. Já faz mais de dois anos que moro em Londres, e é muito bom poder circular pelos países da Europa com tanta facilidade. A única coisa chata é a epidemia do novo coronavírus, que tem feito com que todo mundo fique trancado em casa, com várias etapas de lockdown. Mas estamos vivendo um período mais tranquilo, com queda de contaminações e de mortes. Muita gente já foi vacinada por aqui, o que está garantindo mais flexibilidade. É maravilhoso poder ir e vir, mudar de lugar com frequência e abraçar o mundo.A melhor coisa que me aconteceu foi ter conhecido John. Ele é gato, gostoso e completamente alucinado por mim. Faz todas as minhas vontades, paga todas as minhas extravagâncias e me dá uma vida de rainha
2019Clara, 28 anosFaz oito meses que eu e Leonardo somos um casal; seis meses que conseguimos a guarda compartilhada de JP; quatro meses que o divórcio de Leo saiu; e três meses que temos uma casa para chamar de nossa. Nossa, sim, porque agora compramos um apartamento juntos. É maior e tem a nossa cara. Tudo foi escolhido em conjunto, e cada pequeno detalhe tem a marca do nosso amor. Além disso, realizei o sonho de morar em um lugar projetado pelo Leo, o melhor arquiteto que conheço. O espaço ficou clean e aconchegante, com conforto, praticidade e beleza. É uma cobertura linear, então temos um espaço fantástico ao ar livre, com churrasqueira, piscina e até uma pequena sauna. No nosso quarto, há uma banheira de ofurô, que é um dos meus locais favoritos do apartamento. É lá que relaxo depois de um dia exa
2018Clara, 27 anosJá faz um dia e meio que não tenho notícias de Leo. A única coisa que sei é que ele saiu de casa porque Eva foi cara de pau o suficiente para me enviar uma mensagem desaforada. Ela teve o desplante de dizer que eu estou destruindo a vida do João Pedro. Só que, dessa vez, não vou me deixar dominar pela culpa. Eu sei que apenas fiz o que era certo; não havia outra alternativa.Apesar de estar em paz com a minha decisão, sinto-me aflita pelo que vai acontecer daqui em diante. Tenho medo de como Leonardo vai agir, e o sumiço dele só tem contribuído para aumentar essa angústia.Tento me concentrar no trabalho para não enlouquecer. Aproveito para me inteirar de tudo o que aconteceu na minha ausência e para começar a produzir novas colunas para a revista. Envio o rascunh
2018Clara, 27 anos Ainda estou com as chaves do apartamento de Eva e Leonardo, então entro sem tocar a campainha. Quero pegá-la desprevenida e não dar tempo para que se arme ainda mais.Abro a porta devagar, tentando não fazer barulho. A sala está vazia, mas escuto uma cantoria baixa, com alguns assobios, vindo do quarto de casal. Fico imediatamente irritada por flagrá-la feliz, enquanto eu estou inundada em ressentimento e decepção. Mas o que eu podia esperar?Respiro fundo e vou em direção à minha irmã. Quando chego à entrada do quarto, avisto Eva de pé, dançando sozinha pelo cômodo. A raiva me domina ao ver a sua alegria e tenho o ímpeto de voar em seu pescoço e resolver, de forma física, tudo aquilo que estou segurando em meu peito.Eva está tã
2018Clara, 27 anos Entro em casa, cansada da viagem, e vou direto tomar um banho. Amanhã mesmo volto à revista e envio o primeiro esboço do livro para a editora. Mas, hoje, preciso limpar a minha casa e a minha vida das sombras de Eva.Desfaço as malas, coloco a roupa para lavar e dou um jeito no apartamento. Procuro as caixas em que guardo recordações e tiro delas todas as lembranças que tenho da nossa convivência: cartinhas, bilhetes, fotos, colagens e uma série de bugigangas que, para mim, tinham muito valor. Não quero mais nada disso, pois é tudo ilusão, mentira, farsa. Chega de viver uma relação unilateral e de valorizar uma pessoa que, na verdade, me odeia. Arranco as nossas fotos juntas dos painéis e tiro da parede um quadro de quando tínhamos 15 anos. Estou, literalmente, exorcizando Eva
2018Clara, 27 anosOs dias passam, e começo, bem aos pouquinhos, a colocar a minha cabeça no lugar. Preciso aceitar que vivi uma história forjada, repleta de manipulações e inverdades. Mais do que isso, tenho de aprender a reconstruir a minha vida, seguir em frente, fazendo um futuro totalmente diferente para mim.Penso muito em Leonardo e em como fomos enganados por tanto tempo. Pela primeira vez em cinco anos, posso admitir para mim mesma, sem nenhum remorso, que eu o amo. Eu mereço ser feliz e fazer escolhas que coloquem o meu bem-estar em primeiro lugar. É hora de pensar em mim e de ser a minha própria prioridade. Não é fácil, pois passei vinte anos aprendendo a calar as minhas vontades e a retrair as minhas opiniões. Em duas décadas, eu nunca dei voz às minhas necessidades nem ouvi o meu coraç&ati
Último capítulo