Acordei e fiquei um tempo olhando a Ana dormir. Por alguns segundos pensei na sorte que eu tenho de ter encontrado essa mulher. Fiquei ali deitado, ouvindo a respiração tranquila dela, admirando… e pensando em como minha vida virou de cabeça pra baixo em tão pouco tempo. Mas de um jeito bom. Um jeito que me devolveu a mim mesmo.Quando ela entrou no box comigo, já chegou com aquele jeitinho que desmonta qualquer defesa que eu ainda tente ter. Tomamos banho juntos, nos entregamos como sempre. Depois nos arrumamos e descemos as escadas com ela agarrada no meu braço, meio dormindo ainda — a gravidez deixa ela assim, sonolenta de manhã. Eu ria sozinho, porque ela fechava os olhos no meio do caminho.Mas bastou chegar na sala pra minha paz ir embora.Meu pai, minha mãe… e o Pietro. Todos tomando café, Mariana servindo. A Ana só percebeu quando já estávamos perto. Senti a tensão na hora. Meu corpo travou sozinho. Eu sabia que esse reencontro ia ser um teste — pra ela, pra mim, pra todo mund

Eu tenho 28 anos e vim para a Itália ainda com 18. Aqui fiz minha faculdade de Turismo e, no ano passado, terminei Relações Internacionais. Sempre gostei muito de estudar. Aprendi cedo a falar inglês e francês. Minha mãe fez questão que minha irmã e eu estudássemos em bons colégios e falássemos duas línguas. Nós duas fizemos inglês; eu escolhi francês e ela, espanhol.Minha irmã é advogada. Casou cedo e teve filhos gêmeos, começou a namorar ainda na adolescência, firmou quando estava na faculdade. O marido dela também fez Direito, mas passou em concurso e hoje é promotor.Eu? Eu não me vejo mais voltando para o Brasil. Gosto da minha vida aqui, gosto do que construí. Ganho muito bem na empresa onde trabalho, estou estabelecida e amo a Itália.Morei seis meses na França, e esse também foi um dos motivos de ter feito francês. Lá conheci o Gilberto — meu Gil — um italiano que virou meu irmão. Ele fazia Marketing Digital, depois se especializou em automação e gestão de mídia social aqui n

A gravidez trouxe não só a felicidade da descoberta dos gêmeos.Trouxe também uma bandeira de paz… ou pelo menos uma trégua entre o Luigi e o Marcos. E, com o Pietro, mais ainda. Eles estão se entendendo. O Marcos está mais leve. Um certo alívio daquela disputa que eles achavam que existia — mas que, pra mim, sempre foi muito mais falta de diálogo. Faltou um dizer ao outro o que estava doendo.A Carla até me agradeceu por ter aberto essa porta entre os homens da vida dela.Segundo ela, todos eles são fechados à sua maneira e sofrem calados. Têm essa máscara de proteção.Ela me disse também que muita gente a vê como uma mulher submissa, mas ela não se sente assim. Foi escolha dela ser esposa e mãe em vez de seguir na carreira. E ela se realiza desse jeito. Sempre foi amada e cuidada. O Luigi, assim como os filhos, são um homem para quem ama e outro nos negócios.Só que, nesse sonho de ver os filhos o sucedendo, ele se perdeu.E só agora achou o caminho de volta — tudo por amor. Agora

Depois que Ana e Celly se despedem na porta do restaurante, a Celly se afasta alguns metros para fazer a ligação ao Geovani —Ela liga, animada como sempre:— Carinho! Então… mais tarde vamos na arquiteta, a Ana pediu pra acompanhar ela. A Ana quer decidir tudo hoje, porque tá morta de cansaço.Ela ri.— Coitada… grávida de gêmeos, né? Tudo em dobro.Geovani está junto com Marcos e André no carro. Os três voltando de uma reunião. O carro está em viva-voz.— Tá ótimo, carinho — o Geovani responde.E é aí que ela abre a boca e fala demais:— Mas ó… fiquei preocupada hoje, viu? A Ana passou mal. Se o Téo não a ajuda na hora… ela tinha ido pro chão.Pausa.— Ela teve uma queda de pressão feia antes de eu chegar. O Téo segurou ela, levou até a mesa…No carro, Marcos fecha a mão no volante que não está dirigindo, porque está no banco de passageiro. André olha pra ele de canto. O clima pesa.E Celly continua, sem perceber nada:— E olha… que o Marcos não nos ouça, hein? Porque mesmo grávida

Eu não precisava prometer ao Marcos ser sempre sincera com ele, porque eu sem dúvidas serei sempre. Mas, diante de tudo que sei que ele passou, resolvi fazer a promessa.Ficamos nos braços um do outro por mais um tempo. Ele me contou sobre a viagem, que foi ótima. Hoje ele e Geovani terão uma reunião a sós; só depois o André a Rita e eu participaremos.Como ele vai um pouco mais tarde — e é o padrão — falou que era para eu e a Rita começarmos no mesmo horário. Quando mandei mensagem para avisar a ela, adorou e disse que estava precisando mesmo.Estamos com nosso trabalho em dia e até algumas coisas adiantadas. Nós duas funcionamos muito bem juntas.Aproveitei as horas em casa e o coloquei a par das coisas que decidi da casa dele.— Quando você vai conseguir dizer “nossa casa”? — ele perguntou.Fiquei olhando para ele e pensando quando. Eu não sei por que ainda não consigo dizer e sentir que é nossa.Ele pediu para eu esperar um minuto na sala. Eu estava pronta para ir para o trabalho,