VICTORIA:O ar na sala do tribunal estava pesado, carregado de tensões e verdades prestes a explodir. Observei Carlos sentado do outro lado, com aquele sorriso arrogante que tanto passei a desprezar. Ao seu lado, Ana, minha suposta melhor amiga, evitava deliberadamente meu olhar. A traição tem rosto de mulher, pensei amargamente. O murmúrio das vinte pessoas presentes foi diminuindo gradativamente quando o oficial bateu três vezes no chão com seu bastão ceremonial. O secretário judicial, um homem magro de cabelo grisalho, levantou-se com parcimônia. O deslizar de sua toga negra contra a madeira criou um sussurro que reverberou no silêncio expectante. Ele ajustou os óculos com um gesto que denotava anos de prática e, após se limpar a garganta, começou a letania oficial: —No Juízo de Primeira Instância número cinco de Madrid, sendo as dez horas do quinze de setembro de dois mil e vinte e cinco, se constitui a sala para a audiência do caso duzentos e sete do... Engoli em seco; era

O silêncio tomou conta da cafeteria. Carlos brincava com a aliança de ouro em sua mão, com um sorriso zombeteiro, enquanto Ana deu dois passos em minha direção, acreditando-se intocável. Não me movi, mostrando a eles que não os temia, embora desejasse dar-lhes um tapa ali mesmo. —Olha quem fala de armadilhas —disparei, fulminando Ana com o olhar—. A mesma mulher que compartilha a cama com o homem que jurou me amar enquanto arquitetava minha humilhação. O que foi, Ana? Com ciúmes de que não consegue me tirar meu nome, minha vida e minha dignidade? Se algo eu aprendi ao enfrentá-los, era que nunca deveria permitir que vissem minhas fraquezas. Era verdade, eles sabiam muito da menina mimada que fui para papai e mamãe, aquela que, com beijos e abraços, fazia de meus pais o que queria e que todos esses anos haviam usado como uma ingênua que arcava com todos os caprichos deles. Mas agora meus olhos estavam abertos e eu sabia exatamente quem eram. Carlos soltou uma breve risada que ape

RICARDO:Olhei para esta mulher à minha frente, que representava tudo o que mais odiava na vida. Uma menina rica que se achava merecedora de tudo e que ao seu redor todos deviam servi-la. Girei sobre mim mesmo e me afastei furioso; começaria do zero. Se uma vez consegui, farei de novo. Por que eu tinha que me ver envolvido com esta garotinha mimada? Não! Não faria! Até aqui cheguei! Caminhei furioso em direção ao lugar onde havia deixado meu carro. Justo quando virei uma esquina, ouvi vozes; não sei por que, mas parei e fiquei ouvindo. —Você disse que estava destruído! Maldita seja! —gritava a voz de um homem que reconheci. Era Carlos, o ex de Victoria—. Por que você teve que antecipar o plano sem me avisar? —Carlos, acalme-se. Ela estava pensando em ir naquele dia para a casa dos pais dela, por isso fiz sem te avisar —era a voz de Ana, a ex-melhor amiga—. Também porque Santiago me chamou e tinha que ser naquela noite. Ricardo havia aceitado ir a esse lugar. Não reclame, tudo sa

VICTORIA: Fiquei rígida entre os braços de Ricardo, incapaz de reagir. Suas palavras deslizaram pelo meu ouvido como um bálsamo tentando aliviar meu tormento, mas a fissura em minha alma parecia profunda demais. A fotografia tremia entre minhas mãos e, embora a continuação lógica fosse guardá-la, simplesmente não consegui soltá-la. Abracei-a contra meu peito e toda a dor que não sabia que tinha escondida saiu naquele momento. Estava viajando quando o acidente aconteceu; quando voltei, meu tio assumiu tudo. Não consegui chorar o quanto queria, sempre com Carlos e Ana me dizendo para ser forte. Não voltei a esta casa até hoje, e é quando a perda de meus amados pais se tornou real. Chorava, chorava e chorava nos braços de Ricardo, sem poder me conter. A grande dor que experimentava não me deixava parar. Ele me abraçava com força, dizendo palavras que já não compreendia. Por fim, ele me virou e deixou que eu enterrasse meu rosto em seu peito. Depois, vendo que eu não me acalmava, el

RICARDO:Estava confuso, queria manter a distância entre Victoria e eu, mas cada vez nos aproximávamos mais. Primeiro porque não pude deixá-la sozinha e recomeçar; depois, ao vê-la chorando, a abracei e meu coração quase parou. Havia assinado um contrato com ela: a defenderia, casaria com ela para recuperar meu negócio e, em seguida, nos separaríamos. Um negócio, um simples negócio como qualquer outro. Mas agora sentia que estava me unindo mais e mais a ela. E não era algo que eu queria. Eu amava outra mulher, Victoria estava saindo de um casamento desastroso; não quero fazer ela sofrer. Repetia para mim mesmo que deveria manter as coisas dentro do escopo de nosso acordo. Então, ela se mostrara para mim não como a rica e caprichosa garotinha que achava que era, mas como uma mulher quebrada e vulnerável, e eu… tinha saído em seu auxílio, como um cavaleiro em um resgate. Afastei-me dela instintivamente ao ver como ela me olhava novamente, esperando que eu dissesse que estava errada,