CAPÍTULO 0080Algumas viagens de negócios me arrancavam o couro, mas eram necessárias. Nova York sempre me sugava energia. O céu nublado, as reuniões intermináveis, os jantares com investidores que achavam que me conheciam melhor do que eu mesmo… nada disso era novidade. Eu estava acostumado a lidar com pressão, a ser a pedra inabalável em meio à tempestade. Mas, naquele dia específico, descobri que existe um ponto em que até mesmo eu começo a rachar. Tudo começou com a notificação discreta no meu celular. Eu estava sentado à cabeceira de uma mesa de reuniões, ouvindo um dos diretores falar sobre projeções de mercado. Voz monótona, gráficos projetados na tela, dezenas de olhos atentos. Eu mantinha o cenho franzido, mas não pelo que estava sendo apresentado. O celular vibrava ao meu lado e, quando o olhei, minha raiva se acendeu como gasolina em chamas. Uma foto. Outra. E mais outra e adivinhem, todas de Katherine. De vestido curto, cabelos soltos, sorrindo como se fosse a rainha do

CAPÍTULO 0082 Nunca gostei de admitir quando estava à beira do limite. Sempre fui o tipo de homem que lidava com pressão, que sabia separar emoção de negócios, mas naquela noite… tudo parecia diferente. O expediente tinha me esgotado e a cabeça latejava como se cada voz que ouvia ao longo do dia tivesse se transformado em um martelo invisível. Katherine. Maldita Katherine, a mulher que me tirava dos eixos - conseguiu me tirar do sério de um jeito que ninguém mais era capaz. Sua rebeldia estava me corroendo. Cada palavra atravessada, e gesto desafiador, adicionado ao olhar afiado que me fazia sentir como se eu não tivesse controle algum… tudo isso me esmagava. Eu precisava sair. Precisava beber, anestesiar a mente, calar as vozes que me lembravam do quanto eu estava perdendo o comando da situação. Foi assim que, após o expediente, me enfiei no bar em que costumava beber com meus amigos . Pedi a primeira dose, depois a segunda, e quando percebi, já estava bebendo como se o copo foss

CAPÍTULO 0084Aquela noite parecia não ter fim. Eu olhava o relógio da sala pela enésima vez, com o coração batendo forte, como se cada ponteiro que avançasse fosse um lembrete cruel de que Ethan não tinha voltado. Eram quase duas da manhã e não havia sinal dele. Levantei-me da poltrona, caminhei até a janela e empurrei a cortina com um gesto nervoso. A rua estava deserta, apenas os postes iluminando a calçada molhada pela garoa que caiu mais cedo. Nenhum carro estacionado e muito menos qualquer farol surgindo na esquina. Nenhuma sombra alta atravessando o portão. Nada. A não ser os seguranças fazendo a guarda da mansão.Suspirei uma vez em que andava de um lado para o outro como uma alma penada. O silêncio da casa estava me deixando nervosa. Para ocupar a mente, decidi ir até a biblioteca. O cheiro dos livros sempre me acalmava, como se cada página carregasse um antídoto contra a ansiedade. Passei os dedos pelas lombadas até parar em um clássico - Orgulho e Preconceito, de Jane Au

CAPÍTULO 0086Abro a porta do apartamento de Vlad com a chave que tenho desde que ele resolveu confiar em mim “para emergências”. Pois bem, essa era uma maldita emergência. Não queria ir para a empresa, sem antes desabafar com alguém. Depois de sair de casa e deixar Katherine com aquele sorriso no rosto — ainda segurando a cesta com flores, chocolate e o maldito ursinho que eu havia comprado para apaziguar minha própria culpa — só consegui pensar em uma coisa- eu precisava de conselho. E só havia um filho da mãe no mundo capaz de me ouvir sem frescura, Vlad. Entro sem cerimônia, atravesso a sala e vou direto para o quarto dele. Já estou fervendo por dentro, então não bato, apenas escancaro a porta. — Vlad! — praticamente grito, puxando o cobertor de cima dele. — Acorda, caralho, eu preciso de conselho. Ele se remexe, os olhos semicerrados, uma careta mal-humorada estampada no rosto. Só então percebo uma loira enrolada no corpo dele, completamente nua, agarrada como um polvo. Dro

CAPÍTULO 0088O dia como de costume se estendeu além do que eu havia planejado ter que ficar. O evento de gala do Instituto Joseph Lancaster foi impecável, exatamente como meu avô sempre gostou de orquestrar - elegante, lotado de pessoas influentes, negócios sendo discutidos por trás de taças de champanhe e sorrisos calculados. Sem deixar de lado a hora que ele nos pegou no pulo transando em uma das salas , meu avô não tinha jeito , adorava me pegar em momentos comprometedores. Mas, para mim, o que mais pesou foi o momento em que encontrei Katherine no berçário. Aquela imagem dela, de costas, com os ombros trêmulos e os olhos marejados diante dos recém-nascidos, não saía de dentro da minha cabeça. Agora, de volta à mansão, a silhueta dela subindo as escadas ecoava em meus pensamentos. O vestido longo se movia junto a cada passo, revelando uma delicadeza que me prendia mais do que eu queria admitir. Ela se queixou de dor de cabeça, disse que precisava descansar, e eu apenas assenti, r