NARRAÇÃO DE SARA...Estou radiante! Descobri que poucas coisas são tão terapêuticas quanto um banho de loja. Julie não parava de falar um segundo sequer, saltitando de alegria a cada brinquedo, roupa e mochila escolhidos. Brady nos acompanhava em silêncio, mas aquele brilho imenso em seus olhos dizia tudo: éramos uma família.Encerramos o passeio em um restaurante aconchegante.No meio do jantar, o celular de Brady tocou. Ele olhou a tela, pediu licença e se afastou. Enquanto isso, observei Julie saboreando seu hambúrguer favorito. Toquei sua mão, sorrindo.— E aí, o que achou do dia?— O melhor dia do mundo! Mas eu quero levar um hambúrguer pra vovó... — meu sorriso fraquejou por um instante ao lembrar dela.— Está bem, vamos levar. — Julie se inclinou, baixando o tom como quem guarda um segredo.— Agora a gente tem um monte de dinheiro? — Ri e confirmei. Ela comemorou voltando a comer, e meu coração se apertou: toda mãe sonha em ver o filho com esse brilho nos olhos, acreditando em

NARRAÇÃO DE BRADY DAWSON...Confesso: não me lembro da última vez em que senti um profundo pesar por Stefan. Um amor não correspondido deve doer demais, pois não me imagino em sua situação — se acaso meu coração errasse as batidas por Sara enquanto ela mesma me desprezasse, ou até mesmo deixasse claro que outro homem é melhor. Isso fere até a masculinidade de um homem: ele se abate, perde o interesse até nas coisas mínimas. Ou, como Stefan disse, ele fez de tudo, enquanto o outro não fez nada por ela. Ainda assim é complicado, pois Evelyn não é obrigada a ficar com alguém por pena. Então torço para que ele siga em frente logo e esqueça essa fase de apaixonado.Ao entrar no quarto onde Sara estava, encontrei-a sentada ao lado da mãe, que dormia profundamente. Sara segurava um lanche para ela, mas não queria acordá-la. Notou minha presença e sorriu, acariciando os cabelos da mãe. Gesticulei com a cabeça, ainda segurando a maçaneta, chamando-a. Sara suspirou, deixou o lanche ao lado do a

NARRAÇÃO DE EVELYN...Jesus... O que está acontecendo? Estou sentindo que estou morrendo, estou ressecada, desidratada ao extremo... O que aconteceu? Minha cabeça pulsa sem parar. Dói só de abrir os olhos. Será que me acidentei? Não me lembro de sentir meu corpo tão fraco, tão dolorido. Sentia cheiro de shampoo misturado a vômito. Estou morrendo. Exatamente... só pode ser essa a explicação.Fiquei olhando para o teto, vendo-o balançar um pouco. Sentei enjoada, e a cabeça latejou ainda mais. Toquei na boca do estômago, querendo vomitar, mas me contive ao ver Sara naquele quarto, sentada em uma poltrona.— Amiga... eu estou morrendo — sussurrei, desejando um copo de água.Ela parecia o Aladim. Caminhou até o criado-mudo e pegou um copo.— Ontem você deu trabalho... — murmurou.Bebi a água com vontade, mas, curiosa e aflita, quando me faltou o ar, a encarei nervosa.— O que aconteceu?!— Do que se lembra? — Sara juntou as sobrancelhas, curiosa.Cerrei os olhos, pensativa.— Saí com Jack.

NARRAÇÃO DE SARANo dia seguinte, acordei bem cedo. Mesmo sonolenta, mesmo cansada, saí à procura de Evelyn. Eu sabia que ela iria despertar com uma ressaca moral daquelas... e não me enganei. Ela estava destruída.Precisei contar em detalhes a loucura da noite anterior. E, pasmem, quando mencionei que Stefan havia decidido dar a ela o espaço que tanto queria, Evelyn desabou. Chorou debaixo do chuveiro como se fosse sua primeira queda diante da vida.O som da água caindo, abafado pelo azulejo, se misturava ao soluço contido. Aquele choro me trouxe pena, mas também a lembrança do quanto Evelyn é orgulhosa. Nunca admite o que sente, mesmo quando está estampado em sua face: apaixonou-se por Stefan, e ele não mede esforços para conquistar o coração dela.Esperei. Aguardei que se recompusesse, certa de que, quando saísse, eu assumiria o que estava vivendo.Demorou. Quando enfim abriu a porta, veio enrolada na toalha, o vapor escapando junto com ela. Seu rosto estava tão vermelho quanto o c

NARRAÇÃO DE BRADY DAWSON...Dom Louis levou o café aos lábios, sorvendo lentamente como se tivesse todo o tempo do mundo. O som irritante do pires contra a mesa soou como um estalo nos meus nervos.— Então... — começou, ajeitando o punho do terno como quem se prepara para uma jogada de xadrez. — Você deve entender, Dom Dawson, que quando dois homens como nós dividem a mesma cidade, cedo ou tarde um terá de engolir o outro.Eu o encarei sem piscar, o gosto amargo do expresso ainda queimando na língua.— Engolir... — repeti com desdém. — Engraçado, Louis: você é o Dom da máfia francesa, apoiador da máfia americana, e cá estou eu. Estou no meu país, na minha cidade... Você é apenas uma visita, então não faça essa comparação — aqui é meu terreno. Onde eu mando...Apresentei meus demônios ao encará-lo, esfregando os dedos na xícara, tomado pela ideia de jogar café quente em sua face. Mas Christian estava ali, tentando conter qualquer atitude irracional da minha parte.O sorriso dele vacilo