POV Magnus O calor do sangue queimava minha pele. Aelyra estendeu a pequena mão. Nela, não havia inocência. Nem compaixão. Havia o selo do antigo. — Se você me aceitar, pai — sussurrou ela, com olhos como poços sem fundo — então o mundo será dividido. A luz nunca mais voltará. Minha respiração era fogo. Ajoelhei diante dela. — Eu aceito. Ela pousou os dedos sobre minha testa e sussurrou em uma língua que eu não conhecia, mas que meu sangue reconhecia como se sempre tivesse ardido em mim. Uma onda atravessou meu corpo. E eu vi tudo. Vi minha linhagem amaldiçoada. Vi os deuses esquecidos sob as pedras. Vi o futuro... queimando. — Agora somos um — disse ela. — Você não é mais só o Alfa dos homens... é o Pai da Noite. Meus olhos arderam. Meu corpo rugiu. E quando me levantei, o chão tremeu. Eu era a besta de minha filha. Mas mesmo no meio da profecia... eu ainda a procurava. Liah. Minha mulher. Minha ruína. Minha rainha. --- POV Liah O portão das torres se rompeu

POV Magnus O salão da fortaleza parecia respirar com as paredes. Um silêncio denso, carregado de poeira, sangue e segredos. A fumaça dos últimos corpos queimados ainda pairava no ar, como uma maldição suspensa. Caminhei até o trono — vazio. O couro negro da almofada ainda quente, mas a presença dela já não estava ali. Apenas seu perfume. Aquele maldito perfume de lua, morte e desejo. Ela havia partido. E não me esperou. Fechei os punhos, tentando conter o impulso de destruir algo. Liah era agora mais do que apenas minha fêmea. Ela era... a coroa. A escuridão. O símbolo da ruína e da salvação de um reino que implodia por dentro. E mesmo assim, mesmo sabendo disso — eu a desejava como nunca. Quis tomá-la. Mas ela me rejeitou. De novo. Com aqueles olhos que um dia imploravam por mim… e agora sangravam desprezo. A porta da ala norte se abriu com violência. — Majestade... — o guerreiro hesitou, com os olhos arregalados. — Sua filha... a jovem... ela está... diferente. Meus sentid

POV Liah O salão da coroa estava lotado de rostos mascarados por sorrisos falsos e ambição. Mas eu os via. Um a um. Cada um daqueles malditos que se ajoelharam diante da coroa de Magnus, mesmo sabendo que ele manchara o trono com o sangue da mulher que jurava proteger. Agora, diante de mim, todos aguardavam minha resposta. O alfa temido havia pedido minha mão para selarmos uma aliança eteria que nem Magnus conseguiu selar um dia. Vestia preto. Um vestido ajustado que parecia ter sido moldado com sombras e cetim. Não por vaidade. Mas por guerra. Porque mulheres como eu não se vestem para encantar — se vestem para ferir. Rhaziel Dorn mantinha sua mão estendida. Seus olhos dourados me encaravam com uma devoção que beirava a loucura. Um Alfa cruel, mas estrategista, mais novo, mais astuto, e, acima de tudo… um homem que não se curvava nem diante do próprio desejo. Ao meu lado, meus filhos. Rael com os olhos semicerrados, já atento ao peso das espadas e das palavras. Aelyra… ah,

POV Liah O salão das sombras estava mergulhado num silêncio espesso como veludo negro. Reunidos ao redor da mesa de obsidiana, os líderes dos clãs renegados falavam baixo, entre sussurros e olhares desconfiados. O brasão da lua partida ardia nas tapeçarias, e o símbolo da Rainha da Noite era mantido apenas por respeito — ou por medo. Mas eu sabia. Não confiavam em mim. Muito menos… na minha filha. — Aelyra não é uma criança comum, Rainha — disse o Alfa Dorian, a voz marcada por um tremor velado. — Ela faz as pedras sangrarem. O tempo obedece a seus sussurros. Os deuses a temem. Isso… não é natural. — Nem você é — retruquei, o olhar cortante. — Mas segue vivo. Alguns recuaram nos assentos. Outros fecharam os punhos. — Há rumores — disse a matriarca de Ferro Áureo, seus olhos pintados com sombra de carvão. — Que Aelyra é a verdadeira ameaça. Que a Primeira Luna não governa… ela devora. — Devora os traidores — rebati, erguendo-me. Meu vestido de cetim escuro arrastava-se como

POV Liah A sala do trono ainda estava envolta em fumaça e silêncio. O chão abaixo de mim queimava levemente, como se o mármore negro tivesse absorvido a profecia de Aelyra e agora pulsasse com o mesmo poder sombrio. Eu sentia os olhos do reino sobre mim. Ajoelhados. Calados. Temerosos. Mas nenhum deles me via como uma vítima. Eu não era mais a serva de cama. Eu não era apenas a fêmea marcada do Alfa cruel. Eu era a Rainha da Noite. A Primeira Luna. E quem ousasse duvidar disso… queimaria comigo. Levantei-me devagar, o sangue seco ainda colando minha túnica aos flancos. A espada ainda em minha mão. A coroa de ferro e espinhos nas mãos de Rhaziel. E diante de todos — diante até mesmo de Magnus — permiti que ele a colocasse sobre minha cabeça. Houve um rugido nos céus. E naquele instante… nasceu uma lenda. Mas por dentro… Eu ainda era mulher. Ainda havia uma parte de mim que tremia — não de medo, mas de lembrança. Lembrei do toque de Magnus. Do gosto do sangue dele n