BRANCAMaria é minha melhor amiga. Eu a conheci depois que seu irmão a trouxe de um lugar tão horrível que nem quero comentar. Ela era uma menina quebrada, ainda é. Eu fui a insistente. Fiquei atrás dela como carrapato, até que ela se abriu um pouco e me deixou entrar. Ela me encantou de início por ser uma das poucas pessoas que não “lambia” minha madrasta. Mas foi apenas o início. Com o tempo nos tornamos inseparáveis e confidentes. A amo como a irmã que nunca tive.E foi essa pessoa linda que me tirou do quarto e que deu pulos de empolgação quando eu disse que beijei o meu “convidado”.A parte que falei que fui rejeitada ela decidiu que não era importante. Ela pode ter guardado seu coração atrás de muralhas grossas, mas a menina romântica e sonhadora ainda existe, mesmo que tente sufocá-la.Maria acabou me convencendo a descer. Mas eu não tinha coragem de olhar para Florian. O evitei o tempo todo.Depois que ela saiu, eu fingi que estava tudo bem e fiquei na sala com ele, assistindo

BRANCATive que expulsar Florian do quarto para tomar banho. Sem condições dele tomar banho comigo. Minhas pernas estão moles com a despedida da casa. Não teve um cômodo sem nossa despedida, digamos assim.Tomo meu banho sem pressa. Logo Maria vai chegar e vou fugir daqui com Florian. Sei que é loucura. É muita loucura amar tanto um homem que nem mesmo fala sobre sua vida. Toda vez que faço perguntas, ele acaba desviando e me fazendo falar sobre mim. É loucura sair daqui levando apenas meus documentos depois de todos esses anos. Mas é uma loucura ainda maior ficar aqui à mercê das maldades da mulher do meu pai. Não posso simplesmente sentar e esperar ela sair da vida dele, outra tão ruim quanto pode tomar seu lugar.O problema nunca foi a minha madrasta, e sim meu pai, ele sim devia me amar e cuidar de mim. É o dever de todo pai.Se ele não me ama, pelo menos eu devo me amar e viver por mim. Só estava esperando a oportunidade de me libertar dessa maldade toda, e ela chegou. Florian é

FLORIANViajar no porta-malas não é nada confortável. Ainda mais amarrado. Ideia da maluquinha da Maria. Segundo ela, se abrissem e me encontrassem, elas podiam dizer que era uma surpresa para o pai de Branca. Um Seven refém. Jafar adoraria o presente. Já ouvi meu pai mencionar coisas sobre ele, nada legais.Enfim... parece que não foi preciso.O barulho de trânsito cessa depois do que me parece uma eternidade e logo o porta-malas é aberto.— Chegamos. — O sorriso de Branca é o que me recebe. Não supero esse sorriso, mesmo tendo o visto todos os dias durantes esses meses.Sou desamarrado e saio vendo que estarmos no estacionamento de uma casa muito bonita e moderna. Estou com sede.— Minha amiga não está. — Maria avisa.— Vamos ficar os três aqui por um tempo. — Branca declara olhando ao redor.Sua amiga nega balançando a cabeça freneticamente. Ao mesmo tempo ela dobra as mangas de sua blusa. Desde que a conheci, Maria usa roupas fechadas e largas, não importa o calor. Diferente de Br

BRANCAAcordo e vou até a janela, puxo a cortina preta e vejo que já amanheceu. Florian ainda dorme. Ele fica tão lindo dormindo. Sim, consegue ficar mais lindo.Decido explorar um pouco o quarto, já que quando chegamos acabei me ocupando com outra coisa. Esse homem me tira completamente o foco. Jamais imaginei que um dia perderia a noção por um corpo masculino. Como a vida é surpreendente. Sorrio e paro de olhar a tentação na cama, passando a olhar o ambiente. O quarto é uma mistura estranha. Como se mais de uma pessoa o tivesse decorado com gostos diferentes. É estranho, mas bonito.Coisas sobre esportes e viagens decoram o ambiente, assim como coisas sobre moda. Uma bíblia imensa aberta dentro da gaveta da penteadeira preta. Enquanto na rosa tinha muitos gloss e algumas maquiagens. Com certeza uma mulher ficou aqui. Talvez seja alguma parente dele. Não quero pensar que possa ser namorada. Afinal, ele disse que fui sua primeira. E sinto que posso acreditar nele.Paro um pouco a exp

BRANCA— O que você sabe do Florian? — escuto a pergunta e desvio o olhar do homem parado na porta com um sorriso pequeno, maldoso.Encaro o outro homem sentado na poltrona. Tão lindo. Eu suspiraria de deslumbre se não estivesse a ponto de surtar com tudo que aconteceu. Meu pescoço dói. Deve ter marcas terríveis.O suspiro que sai da minha boca é de cansaço físico e emocional.Relato tudo que aconteceu desde que encontrei Florian e levei para casa, passando pelo tempo que ficamos juntos sem ele nunca se mostrar violento assim. Falo também sobre nossa fuga e o tempo que passamos na casa da amiga de Maria. Quase o tempo todo ele me olha com pena. Seu olhar só mudava quando eu mencionava o nome da minha amiga. E literalmente se arregalaram quando deixei escapar que fizemos exame juntas e descobrimos que estamos grávidas juntas. Ele também pareceu surpreso quando eu falei que ela tinha o telefone dele.É como se minha amiga nunca tivesse ligado para ele.Penso em perguntar, mas acabo guar