LUCIEN MORETTI – ITÁLIADa janela do meu escritório, eu observava a cidade adormecida.Tudo estava em ordem: os relatórios do tráfico de armas, os contratos assinados, os juramentos de lealdade selados com sangue.Tudo… exceto eu.Eu segurava um copo de uísque na mão.Girava o líquido entre os dedos, como se isso pudesse acalmar o tremor que me percorria por dentro.Na tela à minha frente, uma transmissão secreta.Uma câmera via satélite.Uma imagem congelada.Adeline.Ela estava no jardim, sorrindo com Anny.Não sabia que eu a observava.Que todas as noites, como um condenado, eu me agarrava àquela única cena para lembrar por que fazia tudo o que fazia.—Por que continua se torturando assim, filho? —perguntou meu pai da porta.Lucca tinha viajado a Milão para me acompanhar.No começo, ele acreditava que ainda havia volta, mas quando viu que não, começou a me treinar, a me ensinar como me mover neste mundo.Técnicas de luta letais, rápidas.Eu pedia sua ajuda. E agradecia por isso.O

ADDELINE DE FILIPPILucien não estava mais aqui.E, mesmo assim, tudo nesta casa falava dele.O eco do seu riso pelos corredores, o som dos seus passos subindo a escada, aquela forma única de dizer meu nome —como se o mundo parasse só porque ele me olhava.Ele tinha ficado anos longe, e eu achava que era isso o que queria.Que precisava dele distante para poder respirar.Não era isso que eu pedia?Que me deixasse em paz.Que não me sufocasse.Que não tentasse me salvar o tempo todo.Que não me amasse tanto.Foi isso que pedi.E ele me atendeu.Anos de silêncio entre nós.Mas agora que ele não estava mais em casa, depois de tanto tempo… o vazio que ele deixara parecia impossível de preencher.Nesses dias, a casa parecia diferente —como a calmaria antes da tempestade.Carregada. Silenciosa. Instável.E, nos últimos dias, pensei nele mais do que gostaria de admitir.E isso me irritava.Porque jurei que estava bem sem ele.Que era livre.Que não precisava dele.E, no entanto…A cama estav

ADDELINE DE FILIPPIDesde que Lucien voltou, ele ocupou novamente o antigo quarto —como se nunca tivesse ido embora.E agora que estava ali, aquele quarto já não era o meu refúgio.Eu não podia mais me esconder lá, dormir na cama dele, porque agora… ele estava nela.Ouvi ele conversar com meu pai.Iriam a um jantar, num lugar privado.E, mesmo que papai não quisesse que eu saísse, decidi ir assim mesmo.Sou teimosa. Sempre fui.E se Lucien ia… eu também.Vesti-me e esperei todos saírem.Segui-os até o restaurante.Chegaria de surpresa —e sabia que papai não me deixaria sozinha nem me mandaria de volta para casa.Eu era a princesinha dele.Jamais imaginei que o veria assim.Quando entrei no salão reservado do restaurante, a primeira coisa que vi foi Lucien de pé, as mãos cruzadas atrás das costas, enquanto três homens suavam diante dele.Um deles tremia —literalmente.—Eu não sabia que estavam me roubando, Lucien —disse o homem, com a voz trêmula—. Eu juro, não fui eu quem mandou!Luci