EllieEu terminei de contar a primeira parte e o silêncio que se seguiu foi brutal. Quase físico. Como se cada palavra que eu tinha dito tivesse se transformado em pedra e caído no meio da sala, esmagando o ar, esmagando todo mundo. Ninguém disse nada. Ninguém se mexeu. Até o maldito estalo da lareira pareceu respeitar a pausa — como se até o fogo tivesse ficado sem coragem de crepitar diante da minha história.Vi Sebastian esconder o rosto nas mãos, como se quisesse arrancar a própria pele. Ele não conseguiu me olhar. Nem tentou. Anabelle me encarava com os olhos cheios d’água, mas sem saber se podia chorar. Acho que ela não sabia o que fazer com a dor que não era dela.E eu? Eu só conseguia ficar ali, encostada na lareira, segurando aquele copo como se fosse minha única âncora. O calor das chamas batia nas minhas costas, mas por dentro… por dentro eu estava congelando.A pergunta veio suave, quebrada.— O que aconteceu depois? — foi Lauren quem teve coragem de perguntar.Eu engoli se

AngelDepois que Lauren se despediu e sumiu pela porta da frente com o celular colado à orelha, eu continuei parada no mesmo lugar, meio zonza. O nome de Adam ainda ecoava na minha cabeça como uma martelada seca. Eu não fazia ideia do que era perder alguém assim. Na verdade… eu nunca tinha tido ninguém dessa forma. Nem amor, nem paixão de verdade, só uma coleção de histórias incompletas e conversas abandonadas no meio.Meu estômago doía como se eu tivesse lutado junto com Ellie naquela arena, e nem era física a dor — era o tipo de dor que apertava por dentro, atrás do peito, sem aviso.Ellie e Dominic recusaram o convite para dormir na mansão. Ellie disse que precisava do próprio espaço, que queria pensar. E Dominic apenas lançou aquele olhar de irmão que diz "eu vou com ela porque alguém tem que garantir que ela coma algo e durma". Eles prometeram voltar no dia seguinte, ou quando um de nós tivesse alguma ideia brilhante de como derrubar um monstro.Foi então que o Diabo apareceu na s

AngelO Diabo, com toda sua teatralidade habitual, se levantou como se estivesse prestes a nos apresentar um grande número de mágica. E começou a desfiar o plano dele — ou pelo menos o que ele chamava de plano. Era mais um rascunho maluco, cheio de buracos, curvas improváveis e um toque bem pessoal de "vou improvisar no meio da ação".— Estamos falando de um novo filme de Missão Impossível — Lauren disse, cruzando os braços com aquela expressão típica de quem já estava se arrependendo de ter se envolvido nisso.— Acho que seria mais como Assalto ao Banco Central — Charlie completou, meio divertido.O Diabo piscou para ele, aquele tipo de piscada que fazia a temperatura da sala subir três graus, e Charlie travou. A mão dele foi direto ao pescoço, como se estivesse ajustando uma gravata imaginária.Ellie foi a segunda a interrompê-lo. — Idiota suicida — ela disse, com a calma de quem já viu a morte de perto e não tinha paciência pra heroísmos estéticos. — Não é a sua bunda que vai esta

SebastianEu estava começando a odiar até mesmo a sombra do Diabo.Desde que o plano havia ganhado forma, ele e Charlie andavam juntos demais. O motivo oficial era encontrar um carro não rastreável para a fuga. Mas eu conhecia o Diabo. E ver aquele olhar protetor voltado para Charlie me causava algo que eu não queria nomear.Raiva?Ciúmes?Medo?Talvez um pouco de tudo.Mas por outro lado… Ellie.Ela tinha vindo jantar na minha casa. Não para discutir o plano, não para debater armamentos ou rotas de invasão. Só… veio. Sentou à mesa, riu com Lauren, escutou minha playlist ridícula de jazz antigo e comeu o frango assado que fiz sem qualquer talento culinário.E por algumas horas, eu acreditei que havia esperança.Então, claro, tudo desabava de novo quando eu voltava ao mundo real.Anabelle mal olhava na minha cara.Dormíamos na mesma casa, respirávamos o mesmo ar, e mesmo assim ela parecia quilômetros longe. Quando falava comigo, usava o tom neutro de quem fala com um estranho. Sem meu