POV: EmilyO mar à minha frente parecia calmo demais, como se zombasse da tempestade que habitava dentro de mim. O som das ondas quebrando suavemente contra as pedras não conseguia acalmar meu coração. E, pela primeira vez em muito tempo, eu estava com medo de mim mesma. Do que eu sentia. Do que desejava. Do que não conseguia abandonar.A viagem para Paraty, proposta por Sofia como uma tentativa de fuga emocional, deveria ser uma pausa. Um respiro. Mas, em vez disso, era um espelho – e tudo o que eu via refletido era caos.Sebastian estava aqui. Com seu sorriso fácil, seus olhos intensos e aquele jeito absurdamente livre de quem não devia explicações a ninguém. Ele fazia perguntas que ninguém nunca teve coragem de fazer. E enxergava em mim coisas que eu mesma tentava esconder.— Você acha que consegue fugir disso? — ele me perguntou, mais cedo, enquanto caminhávamos na areia molhada. — Dele? De você?Fingi que não entendi, mas entendi. Alexander. E, agora, Noah também. Como se eu tive

POV: AlexanderEra estranho como o silêncio podia ser tão ensurdecedor. Desde que Emily foi embora daquela casa, tudo parecia suspenso no tempo. Cada cômodo que eu atravessava ainda carregava o cheiro dela, os vestígios de sua presença. Mas agora, tudo parecia vazio. Era como viver numa casa fantasma, onde o que me assombrava não eram os objetos, mas as lembranças.Tentei seguir com minha rotina. Levantar cedo, treinar, mergulhar nos documentos da empresa, atender ligações... Mas nada preenchia a lacuna que ela deixou. Emily era caos e ordem ao mesmo tempo. Com ela, eu me perdia. Sem ela, eu me desintegrava.Naquela manhã chuvosa, aceitei um convite antigo de Davi, um antigo colega de faculdade que hoje gerenciava um clube exclusivo na cidade. Ele insistia que eu precisava sair, espairecer. Disse que estaria lá com algumas "amigas". Normalmente, eu não aceitaria. Mas naquele dia, alguma parte do meu orgulho ferido queria provar que eu ainda tinha controle sobre mim mesmo. Estava engan

POV: AlexanderHá silêncios que gritam mais do que palavras.E o silêncio de Emily, nos últimos dias, tem sido ensurdecedor.Desde que a vi partir, desde que a verdade se interpôs entre nós como uma lâmina afiada, tudo ao meu redor perdeu o contorno. A mansão parece maior, mais fria. As paredes antes cúmplices de nossos segredos agora me encaram com julgamento. E eu… eu não sou mais o mesmo.Emily não está aqui, e minha vida deixou de fazer sentido.Tentei ocupá-la com reuniões, cifras, ameaças veladas a inimigos imaginários — tudo inútil. Até mesmo o prazer sádico de controlar cada detalhe do mundo ao meu redor perdeu o sabor. Ela era o caos que eu ansiava, a desordem que me completava. Agora, resta só o controle… e ele é patético sem ela.Às vezes, encaro o copo de uísque como se fosse seu reflexo. Outras, reviro nossa antiga cama como se ainda pudesse encontrar o calor do corpo dela ali, perdido entre os lençóis.Em vão.Ela se foi.E levou com ela o que restava de mim.— Senhor Ca

POV: EmilyOs dias têm passado num ritmo estranho, como se o tempo tentasse me ensinar algo que ainda não consigo entender. Cada amanhecer traz uma mistura de esperança e medo que eu não sei bem como lidar. Sinto que estou no limiar entre o que fui e o que posso ser, mas a estrada para essa nova versão de mim mesma parece longa e cheia de sombras.Desde que deixei Alexander, minha vida virou um campo minado de emoções contraditórias. Eu queria me libertar, queria respirar sem ele sufocando minhas escolhas, mas não imaginei que esse alívio viesse acompanhado de uma saudade tão profunda que me apertava o peito a cada instante.Sentada na pequena cafeteria perto da editora, com o caderno sobre o colo, sinto o peso dessa decisão. Escrever virou meu refúgio, o único lugar onde consigo ser honesta comigo mesma. No papel, as palavras fluem como se conseguissem dar sentido ao caos que eu carrego dentro.Sinto a presença dele em cada página, em cada frase que rabisco — mesmo que ele não saiba.

POV: EmilyNunca imaginei que a paz pudesse ser tão barulhenta. Desde que voltei para minha casa, desde que coloquei um ponto final em Alexander — mesmo que temporário, mesmo que incerto — o silêncio se tornou o meu mais cruel companheiro. As paredes carregam o eco do meu passado, e cada canto parece sussurrar os nomes que eu tento esquecer: Noah. Alexander. E, acima de tudo, o meu próprio.Mateo não está mais na cidade. Depois da exposição, depois da dor e do peso de tudo que escrevemos juntos, ele decidiu ir para Buenos Aires visitar a família. Disse que precisava respirar outros ares, e eu entendi. Ele carregava uma dor que o mundo não quis ouvir, e quando encontrou a minha, se prendeu a ela como um espelho partido. Mas agora, sem ele, a solidão se torna ainda mais afiada.Meus dias são divididos entre escrever, beber chá e tentar entender quem eu sou longe deles. Descobri que ainda gosto de músicas antigas e de escrever de madrugada, que choro quando vejo filmes românticos idiotas