O silêncio que se abateu sobre o escritório de Luigi Calegari após a saída tempestuosa e humilhada de Isabella e Giovanni Moretti era mais pesado do que qualquer tempestade. Dr. Arruda, o advogado, com sua eficiência habitual, já havia tomado as primeiras declarações, acionado contatos e começado a traçar a estratégia legal para lidar com o desastre iminente e a fraude colossal. Ele partiu há pouco, prometendo retornar no dia seguinte com uma equipe completa.Restaram apenas Luigi e Jessica, imersos na quietude opressora, cercados pelos destroços invisíveis de uma noite que deveria ter sido de celebração e que se transformou em um campo de batalha. Dona Matilde, com uma discrição que beirava a telepatia, materializou-se com uma bandeja contendo duas xícaras de chá fumegante e alguns biscoitos, depositando-a sobre a mesa de centro sem dizer uma palavra. Seu olhar para Jessica, no entanto, não continha mais a severidade habitual, mas algo que se assemelhava a um respeito perplexo.Luigi

Os dias que se seguiram à noite da revelação foram para Jessica Souza como caminhar sobre uma névoa densa, onde o familiar se misturava com o extraordinariamente novo e assustador. Ela continuava a executar suas tarefas domésticas na mansão Calegari, mas o peso dos olhares era diferente. Os poucos funcionários com quem cruzava demonstravam uma curiosidade reverente; Dona Matilde, uma eficiência tingida de um respeito quase solene. E Luigi... Luigi a tratava com uma consideração que a deixava constantemente sem jeito, o coração aos pulos a cada "Jessica, você precisa de algo?" ou "Como você está se sentindo hoje?".A oferta dele – tornar-se sua assistente pessoal – pairava sobre ela como uma possibilidade vertiginosa. Em seu pequeno quarto alugado, à noite, revirava a ideia na cabeça. A parte lógica lhe dizia que era uma loucura. Ela, Jessica Souza, sem formação específica, sem experiência em escritórios corporativos, como assistente de um dos CEOs mais poderosos do país? Seria um alvo

A manhã seguinte à pequena vitória legal e ao abraço impulsivo no escritório de Luigi Calegari amanheceu com uma atmosfera sutilmente alterada na mansão. Para Jessica Souza, cada olhar trocado com Luigi, cada palavra, parecia carregada de um significado oculto, da lembrança daquele contato físico que foi breve, mas eletrizante. Ela se pegava revivendo o calor dos braços dele ao seu redor, a proximidade de seus corpos, o cheiro dele impregnando seus sentidos. E corava, repreendendo-se pela tolice de dar tanta importância a um gesto que, para ele, poderia ter sido apenas a efusividade do momento.Luigi, por sua vez, parecia travar uma batalha interna. Havia uma formalidade quase exagerada em seu comportamento matinal, como se tentasse erguer novamente as barreiras profissionais que o abraço havia momentaneamente derrubado. No entanto, por baixo dessa fachada, Jessica percebia uma nova intensidade em seu olhar quando ele se dirigia a ela, uma curiosidade, talvez até uma ternura, que ele

A notícia trazida pelo Dr. Arruda sobre a tentativa dos Moretti de congelar os ativos da Calegari caiu como um raio no já conturbado escritório de Luigi. A noite, que prometia um breve respiro após dias de tensão, transformou-se instantaneamente em um quartel-general de crise. Mapas estratégicos foram substituídos por pilhas de documentos legais, o silêncio da mansão quebrado pelo toque incessante dos telefones e pelas vozes urgentes de advogados e assessores.Jessica, ao lado de Luigi, sentiu a adrenalina percorrer suas veias, varrendo para longe o cansaço e a decepção do momento romântico interrompido na biblioteca. Ali, sob a luz fria das lâmpadas do escritório, com o futuro da Calegari novamente em jogo, ela não era a mulher com o coração secretamente apaixonado; era a assistente eficiente, o braço direito, a aliada que ele precisava.Passaram a noite em claro. Dr. Arruda, do outro lado da linha de uma videoconferência constante, guiava-os através do jargão legal, explicando as im

O "dia de descanso" que Luigi sugerira após a noite de vigília e a vitória contra os Moretti começou com uma quietude quase ensurdecedora na mansão Calegari. Para Jessica Souza, cada rangido do assoalho de madeira no corredor, cada tique-taque distante de um relógio antigo, parecia amplificar o eco do que quase acontecera no escritório ao amanhecer. O calor do quase-beijo, a intensidade no olhar de Luigi, a sensação de seus dedos roçando sua pele – tudo estava gravado em sua memória com uma clareza que a fazia corar e suspirar em igual medida.Ela acordou tarde em seu suntuoso quarto de hóspedes, o corpo ainda pesado de cansaço, mas a mente elétrica. O que significava aquele momento? Teria sido apenas o resultado da exaustão e do alívio? Ou algo mais profundo, algo real, havia finalmente rompido a superfície? O medo e a esperança travavam uma batalha em seu peito.Luigi, por sua vez, parecia ter se enfiado em uma concha de formalidade ainda mais rígida. Quando seus caminhos se cruzaram