O eco da porta do escritório se fechando atrás de Jessica ressoou na alma de Luigi Calegari como uma sentença. Sozinho, na vastidão silenciosa de seu santuário profanado, ele se sentiu despojado de tudo, exceto de duas ordens claras, o ultimato de sua esposa: demitir Diana Monteiro e procurar ajuda. Era um caminho íngreme, solitário e assustador, mas era o único caminho que lhe restava se quisesse, um dia, sonhar em reconquistar o respeito de seus filhos e, talvez, um fragmento da mulher que amava.Pela primeira vez em semanas, uma fagulha de propósito se acendeu em meio às cinzas de sua autopiedade. A força de Jessica, sua fúria justa, paradoxalmente, o havia chacoalhado, o tirado do torpor de sua culpa. Com as mãos trêmulas, mas com uma nova determinação nos olhos, ele pegou o telefone. A primeira ligação foi para o Dr. Arruda."Arruda", ele disse, a voz rouca, mas firme. "Quero que você execute a rescisão imediata de qualquer e todo contrato de consultoria com Diana Monteiro, seja c

Enquanto a equipe de Luigi Calegari, em São Paulo, preparava uma defesa jurídica e uma contenção de danos corporativa, na quietude da Fazenda Calegari, Jessica montava seu próprio e muito mais letal ataque. Ela compreendia, com uma clareza nascida da dor e da intuição, que lutar contra a narrativa de Diana no mesmo terreno – o do escândalo, o da "amante traída" – seria rebaixar-se ao nível de suas inimigas e apenas alimentar o circo midiático. Sua arma não seria a emoção, mas a verdade. Fria, documentada e irrefutável.Passou dois dias em um estado de foco absoluto. As conversas com o Sr. Valadares eram frequentes, cada nova informação uma peça no quebra-cabeça que ela montava. O plágio do ensaio, a fundação fantasma registrada em nome de um laranja dos Moretti, o rastro de dinheiro que ligava as contas de Diana a empresas de fachada de Isabella – tudo era meticulosamente documentado, verificado e organizado em um dossiê.Jessica sabia que não poderia simplesmente jogar aquela informa

A decisão de Jessica de usar a tentativa de extorsão de Diana como uma armadilha final foi recebida por Dr. Arruda com uma admiração profissional e por Luigi com uma humildade sombria. Para Luigi, ser a isca para capturar a mulher que o levara à ruína era uma parte necessária e dolorosa de seu purgatório. Era a forma de provar a Jessica – e a si mesmo – que estava disposto a enfrentar seus demônios, a limpar a sujeira que ajudara a criar.O plano foi traçado com a precisão de uma operação militar no "conselho de guerra" liderado por Jessica. Luigi, sob a orientação de Dr. Arruda e da polícia, que fora discretamente acionada, concordaria em pagar a primeira parcela da chantagem exigida por Diana. O encontro seria em um local aparentemente neutro e seguro para ela – a suíte presidencial de um hotel de luxo, um cenário que certamente agradaria sua vaidade e seu senso de poder –, mas que estaria completamente preparado pela equipe de Valadares e pelas autoridades, com escutas e câmeras oc

A viagem de Luigi Calegari de São Paulo até a Fazenda Calegari foi a mais longa e silenciosa de sua vida. Cada quilômetro vencido na estrada parecia aumentar a ansiedade em seu peito. Ele não era mais o "patrão" retornando ao seu refúgio de fim de semana, mas um suplicante, um visitante em um território que antes fora seu, agora governado pela dor e pela mágoa da mulher que ele havia traído. Saíra de mais uma sessão de terapia naquela manhã, com as palavras do Dr. Matarazzo ecoando em sua mente: "Seu objetivo hoje não é buscar perdão, Sr. Calegari. É ser pai. Apenas isso. Seja presente, seja honesto com seus filhos, e, acima de tudo, respeite o espaço e as regras de sua esposa. A redenção não é um evento, é um processo."E era a esse processo que ele se agarrava.Ao chegar aos portões da fazenda, sentiu o coração apertar. O lugar estava mais bonito do que nunca, os jardins bem cuidados, os girassóis – o símbolo de seu amor e de sua esperança – balançando suas cabeças douradas ao vento

A revelação trazida pelo relatório do Sr. Valadares foi como uma chave que destrancou uma sala escura na alma de Jessica. A dor da traição de Luigi não se dissipou – era uma ferida profunda que continuaria a latejar por muito tempo –, mas a compreensão da magnitude da conspiração orquestrada por Isabella e Diana mudou o foco de sua dor. Ela percebeu que seu casamento não fora vítima de um simples erro ou de uma paixão passageira. Fora alvo de um ataque militar, uma campanha de aniquilação psicológica planejada com uma frieza diabólica. E Luigi, com todas as suas falhas e sua indesculpável fraqueza, fora o campo de batalha onde essa guerra fora travada.Essa nova perspectiva não trouxe o perdão, mas trouxe um propósito. Sua raiva, antes um sentimento corrosivo e difuso, agora tinha um alvo claro, uma direção. E ela compreendeu que sua estratégia de se isolar na fazenda, embora necessária para sua sobrevivência emocional inicial, estava, de certa forma, dando a seus inimigos exatamente