— Sr. Daniel, por favor, não nos entenda mal. Não subornamos ninguém da sua empresa, muito menos invadimos nada. A culpa foi minha por não ter avisado seu assistente com antecedência. Na última vez em que o Grupo Pereira firmou parceria com a Aurora, ocorreram algumas visitas, certo? Para facilitar os trâmites, a Aurora emitiu um crachá de acesso temporário, válido até o término do projeto conjunto. — Rafael explicou às pressas.Daniel lançou um olhar firme a Rafael. Ao escutar a explicação, lembrou que aquilo, de fato, havia sido acordado.Ainda assim, virou-se com fúria para o intruso mais ao fundo e falou com os dentes cerrados:— Quem conduziu a negociação desde o início foi o Gustavo. O crachá foi emitido em nome dele, não em seu nome, Sr. Gabriel.A raiva era tanta que Daniel quase chamou Gabriel pelo nome completo. Mas estavam no refeitório da própria empresa, e ele precisou se conter.— E mais: o próprio Gustavo deixou claro que o Sr. Gabriel não teria mais envolvimento com est

Murilo quase escorregava ao ser puxado pela força bruta de Gabriel. Precisou fincar os pés no chão para se manter firme, enquanto o suor lhe escorria pelas costas.Meu Deus... Aquele Sr. Gabriel podia até parecer apenas alto, sem ser especialmente musculoso, mas de onde vinha tanta força?Murilo, um homem de meia-idade e já acima do peso, com seus noventa quilos bem distribuídos, mal conseguia contê-lo.Ofegante, ainda lutando para segurá-lo, falou com a voz entrecortada:— Sr. Gabriel, Sr. Gabriel, por favor... Tente se acalmar. Podemos conversar com calma.— Conversar o caralho! Eu quero é abrir a cabeça desse Daniel agora mesmo! — Gritou Gabriel, furioso.O suor aumentava no rosto de Murilo.Cada frase vinha carregada de palavrões. E agora ele falava em partir alguém no meio.Sr. Gabriel estava completamente fora de controle. A presença dele se tornava cada vez mais ameaçadora.Murilo não ousou dizer mais nada. Tinha medo de que, de tão exaltado, Gabriel acabasse agredindo até a ele

— Então... É verdade que você se divorciou do Sr. Gabriel?— Ah! Não me leve a mal, tá? Se não quiser falar, tudo bem... — Acrescentou a colega, apressada, visivelmente sem jeito.Beatriz assentiu com um leve movimento de cabeça. Sua voz saiu calma, sem emoção:— Sim. Ontem de manhã pedi folga, lembra? Foi para comparecer à audiência de segunda instância.A colega arregalou os olhos, surpresa.Claro... Casamento de gente rica. Até o divórcio precisa de segunda instância. Que confusão.— Mas olha... Às vezes, divorciar é o melhor caminho. Vida de esposa de milionário não é fácil. Agora você pega a parte que te cabe, vira uma mulher independente, cheia da grana, e arruma uns modelos bonitões só pra diversão... Quantos quiser! — Disse, tentando animá-la.Beatriz sorriu de canto, sem responder.Ela nunca se importou com o dinheiro de Gabriel. Nem queria, nem ia querer.E sobre bancar modelo... Melhor nem pensar nisso. O que mais sentia era cansaço, um cansaço que vinha da alma.Ontem à noi

Pelo canto dos olhos, Daniel notou a tela do celular de Beatriz. Era a aba de conversas vinte mensagens não lidas. Todas de uma única pessoa...Eduardo.Como rival que acompanhava com atenção redobrada, Daniel reconheceu de imediato o avatar e o nome sem apelido. Eram mais do que familiares para ele.Vinte mensagens... Sinal claro de que Beatriz e Eduardo vinham conversando com frequência. E de forma bem próxima.Uma amargura silenciosa começou a crescer dentro de Daniel. Um incômodo difícil de explicar, mas impossível de ignorar.Ele aceitava ter perdido para Gabriel. Beatriz conhecia o ex-marido havia anos. Havia uma paixão silenciosa de mais de uma década ali.Mas Eduardo?Daniel tinha estado ao lado de Beatriz por muito mais tempo. Acompanhara seus altos e baixos. Então por que Eduardo teria o direito de chegar depois e, ainda assim, ultrapassá-lo?Talvez porque, na noite anterior, tivesse sido ele quem a levou embora. E agora, continuavam trocando mensagens com tanta frequência...

A última mensagem dele foi:[Eu errei. Me desculpa. Sério, desculpa mesmo.]Beatriz, pela primeira vez, ficou em silêncio. Mordeu levemente o lábio.Então, no fim das contas, Eduardo só estava brincando com ela. Não tinha gravação alguma. Nem vídeo nenhum.“É… Bem a cara dele.”O pedido de desculpas a fez lembrar da discussão que tiveram dias atrás, ali mesmo, na Aurora. Naquela ocasião, ele a provocou tanto que ela perdeu a paciência. E, assim que percebeu que ela ficou irritada, Eduardo se apressou em pedir desculpas.Beatriz suspirou, por dentro.“Como é que alguém, com quase trinta anos na cara, consegue ser tão infantilmente desagradável?”Se ele fosse só ruim, tudo bem, um cretino puro. Seria mais fácil odiá-lo. Mas não... Ele sempre aparecia com pedidos de desculpas, e, da última vez, ainda mandou um presente caríssimo como retratação.Beatriz permaneceu com a expressão impassível.“Esse Eduardo… Ele é…”Antes que conseguisse encontrar um adjetivo apropriado, as luzes do departa