Beatriz franziu a testa. Já não conseguiu se segurar e interrompeu, direta:— Ele não disse nada porque nem foi ele que comprou. Quer ligar pra ele agora e colocamos os três na linha pra esclarecer?Leonardo ficou sem palavras...“Essa garota... Precisava mesmo levar tão a sério? Era só se deixar tocar, mais nada.”— Nem precisa de confronto. Sou amigo dele, claro que sei... — Respondeu Leonardo com um sorriso amarelo, tentando disfarçar.— Eu não sou amiga dele. Então, pra manter a justiça, liga agora e pergunta pra ele. — Beatriz foi fria e direta.Diante do silêncio do outro lado, Beatriz insistiu:— Doutor Leonardo, quando o senhor disse que o Sr. Eduardo foi pessoalmente até a loja buscar o presente, já ficou evidente a incoerência. O senhor mesmo comentou que ele vive atolado de compromissos. Com o tempo que gastaria indo até lá, ele já teria fechado um contrato de bilhões.“Na verdade, eu só queria criar um contraste, sabe...Mas quem diria que Beatriz levaria tudo tão ao pé da

Eduardo levantou os olhos, mas logo voltou a abaixá-los. Espetou o último pedaço do filé e comeu, sem pressa.— Não tô curioso. Não tem nada a ver comigo. — Disse ele, limpando a boca com o guardanapo, num tom calmo e distante.Leonardo arqueou a sobrancelha.— Pela sua cara pensativa agora há pouco, eu jurava que você estava morrendo de curiosidade.— Só achei estranho. Foi a primeira vez que ouvi falar de um casamento por contrato de dois anos, só isso. — Respondeu Eduardo, impassível.Leonardo deu uma risadinha, mas não insistiu no assunto. Terminaram a refeição, e Eduardo se adiantou em pagar a conta.— Valeu, amigo. Na próxima é por minha conta. — Disse Leonardo.— Não precisa. — Respondeu Eduardo.— Ih, não vai aceitar? A Beatriz falou que vai me chamar pra um jantar de agradecimento. Eu podia te levar junto, hein. — Disse Leonardo, sorrindo com malícia.Eduardo ficou em silêncio por meio segundo.— Não é comigo o convite. Não vou. — Respondeu, com o rosto inexpressivo.Ao sair d

— Foi? — Leonardo ficou sem entender.O que havia de errado no que ele disse? Pra ele, tudo soara muito natural, muito convincente...— Você disse que o Sr. Eduardo pediu pra você interceder. Mas isso, na prática, é impossível. Eu e ele já resolvemos tudo. Ele não teria motivo pra te pedir isso. — Explicou Beatriz, calma, mas direta. “Ah... Então eu já tinha começado errado desde a primeira frase.Beleza... Era isso que o Eduardo quis dizer quando me deu aquele recado na saída.Ele sabia que eu ia inventar alguma coisa... E não confiava.”— Então, no fim das contas... Por que você me ligou? — Perguntou Beatriz novamente, com objetividade.— Cof... cof... — Leonardo deu duas tossidinhas desconfortáveis, uma das poucas vezes que se viu sem graça diante de uma mulher. — Na verdade... Eu só queria saber o que aconteceu entre você e o Eduardo. Que tipo de desentendimento vocês tiveram.— Então podia ter perguntado diretamente. — Retrucou Beatriz, sem paciência pra rodeios. “Eu queria ser

— Não, fui eu não! Imagina! Eu nem tenho tanta moral assim. — Respondeu Leonardo, quase rindo. — Isso dá um trabalho danado. A gente até é amigo, mas fazia anos que não nos víamos nem trocávamos mensagem. Então, Srta. Beatriz, não precisa mais duvidar. Ele fez tudo isso especialmente por...Leonardo queria dar aquela força pro amigo. Soltar logo um “foi tudo por você”, bem romântico e impactante.Mas antes que ele pudesse completar a frase...— Foi a Letícia, com certeza. — Disse Beatriz, cortando de forma precisa.— Não...Leonardo tentou negar, mesmo sabendo que Eduardo realmente tinha dito que foi a Letícia quem pediu.Mas, poxa... Numa hora dessas, a irmã podia muito bem sair de cena e deixar o palco pro irmão brilhar, né? Só assim os dois iam se aproximar de verdade.— Não. — A mesma palavra saiu da boca da Beatriz, firme e seca.Ela tinha entendido. De repente, tudo fez sentido.— Fui eu quem pediu ajuda à Letícia. No sábado, nós conversamos sobre isso, e ela sugeriu começar pela

— Na verdade... Acho que ele queria mesmo te ver. Só um almoço, assim, como velhos amigos. — Disse Beatriz, quando Letícia finalmente terminou de desabafar. — Mas não entenda errado. Só no sentido de amizade mesmo. Tipo, “faz tempo que a gente não se vê, vamos marcar alguma coisa”.— Amigos? Ele e eu? — Letícia revirou os olhos. — Ele é amigo do meu irmão, não meu.“Que papo de reencontro de amigos, nada.Se fosse mesmo amizade, ele teria me procurado em algum momento nos últimos seis anos, não?Só agora, depois que o Eduardo voltou, é que o Leonardo de repente decidiu que precisava tanto me ver?Ah, vá.”Ele estava era fazendo joguinho. Era de propósito.Usando o nome dela, como sempre. Não porque realmente queria vê-la.— Eu não aceitei. — Disse Beatriz, tranquila.— E nem devia! — Rebateu Letícia com firmeza. — Ele que se vire com essa tal festa de agradecimento. Se não quiser ir, melhor ainda, você economiza uma refeição! Você convidou ele com toda boa vontade, e ele ainda usa meu