Passei os dias que se seguiram ao lado de Thane, ainda submerso em coma. Os curandeiros precisaram remover toda a toxina que os anciãos introduziram na corrente sanguínea dele, e só então o processo de cura pôde começar. De acordo com o relatório deles, ele reagia bem, embora ainda necessitasse de alguns dias para restabelecer-se por completo.Enxuguei o rosto dele com uma toalha húmida e deixei que meus dedos percorressem, com delicadeza, cada mecha de seu cabelo. Aproximei-me e depositei um beijo em sua testa, logo em seguida outro em sua boca. Eu sabia que, quando despertasse, nada mais seria como antes. Voltei ao meu quarto para tomar banho antes de visitá-lo novamente.A solidão daquele ambiente me sufocava, e eu invariavelmente terminava em pranto.Só percebi que adormecera quando uma respiração áspera e irregular me despertou. Thane estava acordado.Os curandeiros afirmaram que ele permaneceria inconsciente por vários dias, porém despertou antes do previsto, e meu coração dispar

Passei a noite inteira sentada diante da porta de Thane, implorando e suplicando, porém ele não apareceu em momento algum e, ao amanhecer, acabei me levantando.Eu não havia perdido apenas Axel. Também perdera o amor de Thane, e somente então me dei conta dessa dupla tragédia.Como minha vida chegara a esse ponto? Num instante tudo parecia um conto de fadas do qual eu não desejava despertar, e agora se transformara num pesadelo absoluto.Em certos dias eu questionava o sentido da própria existência. Já não enxergava motivo para permanecer ali, embora tampouco quisesse partir, talvez porque, bem no fundo, ainda mantivesse a esperança de que, em algum momento, Thane me perdoaria.Deitada na cama, permaneci encarando o teto e ignorando as reiteradas batidas na porta. Eu não queria ver ninguém e tinha certeza absoluta de que não era Thane quem chamava. O visitante insistia com tenacidade, o que acabou me irritando. Por fim me levantei, caminhei até a entrada e a escancarei com o semblante

Entrei no quarto de Axel. Fazia tanto tempo desde a última vez… desde que ele… se fora.Eu teria desabado em lágrimas, caso ainda existisse alguma. A saudade apertou ainda mais meu peito.Abri a gaveta dele e um sorriso tênue surgiu em meus lábios quando encontrei o exemplar de “As Fantasias de Barbara”. No fim, ele realmente o descobrira, embora jamais o houvesse devolvido à biblioteca. Parece que eu não fora a única a considerar aquele livro… interessante.Retirei suas roupas do closet e as aspirei profundamente. Fechei os olhos e, por um instante, consegui fingir que ele continuava ali. Consegui acreditar que tudo o que sucedera não passara de um pesadelo atroz.Não consegui largar as roupas. Me deitei em sua cama, abraçada com força ao tecido, e adormeci.Restavam apenas doze horas para tomar minha decisão e, mesmo assim, eu ainda não mudara de ideia. Axel merecia viver....Eu sabia que estava sonhando, embora tudo parecesse absurdamente real.Axel jazia sobre a grama verde, sem c

Observei os soldados prestarem homenagem a um dos seus, Axel. Os membros da Alcateia não eram os únicos ali. Lobos de alcateias distantes viajaram para honrar o funeral, e, embora eu tivesse prometido a mim mesma que não choraria, as lágrimas escaparam sem pedir licença.Olhei para Thane. A mágoa ofuscava-lhe o olhar, contudo ele não derramou uma única lágrima.— Como você consegue? — Perguntei. — Como permanece tão firme num momento como este?— Se soubesse o quanto eu desejo alguns minutos de fraqueza… Olhe à sua volta. Todos estão de luto. Em horas assim precisamos manter-nos fortes. Isso devolve esperança aos demais. — Respondeu, e ele tinha razão.Reconheci Alfa Zack, Alfa Cain, Alfa Pius, Alfa Trent e Gabriel, o novo Alfa do Clã Corvos. Minha mãe ficara em casa para cuidar dos assuntos do clã.Nina, prima-em-segundo-grau de Axel e visitante pouco frequente, também marcara presença. Os olhos dela, inchados e vermelhos, denunciavam noites em claro. Caminhei até sua companhia e perm

A MALDIÇÃO DE LYCAN (LIVRO 2)CAPÍTULO UM— Olá… Mamãe. — A criatura chamou, e a névoa que constituía metade do seu corpo se adensou até formar pernas sólidas.Aquele “homem” não guardava a menor semelhança comigo. Era alto e esguio, ostentava cabelo preto rente ao couro cabeludo, e os olhos azuis, única característica que partilhávamos, exibiam um tom muito mais escuro. Cílios densos lhe moldavam o olhar, conferindo-lhe um ar ainda mais enigmático.Senti a intranquilidade crescer dentro de mim e recuei, passo a passo.— Eu não sou sua mãe.— Está mentindo. — Ele não teve dificuldade em perceber a falsidade na minha voz. Ainda que não se parecesse comigo, havia uma ligação palpável que me alcançou assim que contemplei aquele rosto.— Assim que pude, vim até você. — Explicou ele. Apesar da aparência humana, nada ali parecia pertencer à nossa espécie.— O que fez com a feiticeira? — Indaguei, mantendo a distância.— Ela me manteve cativo, mamãe. Eu permaneci completamente sozinho.— Você