Gabrielle     A cidade lá fora pulsava como um organismo vivo. Luzes coloridas piscavam em fachadas de arranhões, letreiros de néon refletiam em vidros de carros luxuosos que cruzavam as avenidas sem pressa, como se a madrugada pertencesse aqueles que sabiam aproveitá-la. Tudo ao redor exalava poder e influência, uma energia quase magnética que eu nunca havia sentido antes.     Dentro do carro, o silêncio entre nós não era desconfortável, mas carregado de uma estranha tensão. O tipo de tensão que se forma quando se está prestes a cruzar um limite invisível, sem saber exatamente o que há do outro lado.     Gadreel estava sentado ao meu lado, com o celular nas mãos, escrevendo mensagens rápidas e concisas, sua expressão perfeitamente relaxada. Ele parecia completamente alheio ao que me

Lucas Park7 anos atrásMinha cabeça pulsava com uma intensidade esmagadora, como se uma bomba-relógio estivesse instalada dentro do meu crânio, cada segundo marcado pelo tic-tac seco de um mecanismo invisível prestes a explodir. A dor reverberava em ondas pulsantes, ecoando dentro da minha mente como uma sentença inevitável.Tentei abrir os olhos, mas foi como se minhas pálpebras estivessem seladas por uma camada espessa de cola mal aplicada—fraca demais para mantê-las fechadas, mas forte o suficiente para dificultar qualquer movimento. A claridade que invadiu minha retina era lancinante, uma lâmina incandescente perfurando diretamente meu cérebro. Tudo que consegui foi entreabrir uma pequena fresta, apenas para ser atingido por um brilho cortante, tão cruel quanto a luz do sol após horas trancado em um quarto escuro. Senti o fundo dos meus olhos

Lucas Park     A voz de Gadreel assumiu um tom mais baixo, arrastado, cheio de uma cautela calculada, como um predador se aproximando da presa no momento exato para o bote.     — Estou cuidando dela perfeitamente, Less, não se preocupe. — Sua falsa tranquilidade era como o tilintar de gelo em um copo de veneno. — Agora, quero que nos faça um pequeno favor...     A forma como sua voz mudou me deixou em alerta. Eu soube, no instante em que aquela pausa calculada aconteceu, que Gabrielle não ouviria mais nada do que sua mãe dissesse. Ele a estava isolando, manipulando a conversa de forma que apenas suas palavras importassem.     Meu corpo inteiro se enrijeceu.     Cada músculo, cada tendão parecia prestes a se partir ao meio com a tensão que tomava conta de mim. Meus punhos estavam tão cerra

Lucas Park     Esfreguei o rosto, tentando dissipar o cansaço e a frustração que se acumulavam em meu peito.      — Por que estamos reunidos a essa hora? — perguntei, de má vontade, sem paciência para rodeios.     Eu odiava quando o dia começava assim, porque sabia que o que viria depois, sem dúvida, só pioraria meu humor.     E eu nem sequer tinha tomado a porra do café da manhã ainda.     Como poderia? Mal conseguia engolir um copo d’água. A ansiedade, a irritação e a mágoa se acumulavam dentro de mim como um veneno corrosivo, a ponto de tornarem qualquer necessidade básica irrelevante.     — Talvez porque você deixou que um pervertido depravado levasse nossa garota embora — murmurou Castillo, lan&c

Gabrielle     Senti minhas pernas vacilarem, e juro que, se não fosse pelo firme apoio dele, mantendo-me colada ao seu corpo, eu teria cambaleado como se o chão sob meus pés tivesse desmoronado. O mundo ao meu redor se tornava um borrão indistinto, enquanto minha mente tentava desesperadamente processar o que estava acontecendo.      Ele não era Murilo.     O choque me atingiu como um golpe frio no estômago. Minha respiração ficou presa na garganta, e um calafrio percorreu minha espinha. Como era possível? Cada detalhe, cada traço… A mesma altura, o mesmo olhar intenso e penetrante, como se pudesse enxergar através de mim. Mas, ao mesmo tempo, algo estava errado, deslocado, como uma nota desafinada em uma melodia perfeita.     Minha primeira reação foi instintiva: segurei a mão que