Karina procurava o álbum de fotos com afinco, revirando cada canto da casa.Os dispositivos inteligentes só haviam se popularizado recentemente. Na juventude de Lucas, ainda era a época dos álbuns de fotos em papel.Foi debaixo da estante, num canto meio esquecido, que Karina finalmente encontrou o que procurava.Pegou um dos álbuns ao acaso. Na capa, Lucas sorria ao lado da família, o rosto iluminado por uma alegria serena.Ela não parou para analisar, folheou brevemente e fechou.Supôs que os álbuns estivessem organizados por ordem cronológica. Decidiu buscar os mais antigos, vasculhou até o fundo e puxou vários de uma só vez.Ao abri-los, se deparou com um Lucas ainda muito jovem, quase um menino, vestido com o uniforme escolar. Havia fotos com colegas, amigos e também com familiares.À medida que folheava, via o menino crescer lentamente diante de seus olhos.Karina examinava com atenção.Então, ao chegar ao terceiro álbum, parou de repente.Lá estava Heloísa, surgindo pela primeir

O que isso significava?Karina não disse nada, tampouco a interrompeu.Mas ficou completamente paralisada.Porque ela se lembrou.Muitos anos atrás, naquela época, Lucas havia acabado de passar por um transplante de fígado, e o caso de Eunice havia vindo à tona.Eunice causara um escândalo no hospital, e Karina tentara impedi-la.Naquele momento, ela dissera exatamente as mesmas palavras:— Você acha que venceu? Acha que a sua mãe é uma boa pessoa? Nunca pensou por que, todos esses anos, seu pai nunca se importou com você, só ficava assistindo enquanto eu te maltratava? É porque você é filha da sua mãe com outro homem.E como Karina reagiu naquela época?Achou estranho, acreditou que Eunice estava mentindo.Não levou aquilo a sério, não se importou nem um pouco.Eunice riu com frieza, encarando ela com olhar afiado:— Pelo seu rosto, lembrou de alguma coisa, não foi? Eu te avisei há tempos, sua mãe não é flor que se cheire. — Ela olhou direto para Karina. — Foi a Heloísa quem procurou

Eram Ademir e Stéphanie.Karina instintivamente deu dois passos para o lado, embora estivesse sozinha no elevador e houvesse espaço de sobra.— Tudo bem, tia, então vou desligar agora.— Karina. — Stéphanie, que sorria para ela desde o momento em que entrou, só se aproximou e segurou seu braço depois que ela desligou. — Encontramos você de novo. Está saindo do trabalho?Ultimamente, parecia que sempre acabavam se encontrando, sem nenhum motivo especial.Com Otávio internado, era natural que Stéphanie aparecesse com frequência por ali.— Sim.Karina assentiu com um sorriso, sem olhar para Ademir ao lado, como se ele simplesmente não estivesse presente.Ele, por sua vez, postado ao outro lado de Stéphanie, agia da mesma maneira.Stéphanie olhou de um para o outro:— Vocês dois...Nenhum respondeu. O silêncio se instalou entre eles.Felizmente, o elevador chegou ao andar.A porta se abriu, e Karina foi a primeira a sair:— Stéphanie, vou indo na frente.— Está bem. — Stéphanie sorriu e so

Do lado de fora da porta, Júlia viu tudo e não conseguiu conter as lágrimas nos olhos.— O que você está fazendo? — Zeca se aproximou e falou. — Não era para chamar eles para jantar? Por que está parada na porta sem entrar?Júlia, ansiosa, puxou o marido, tapou a boca dele com a mão e apontou para dentro.O que foi?Zeca espiou pela fresta da porta e viu os dois de mãos dadas, com as testas encostadas uma na outra.Zeca sorriu e disse:— Que bonito.— Vamos deixar eles ali mais um pouco. — Júlia sorriu, sem conseguir evitar. — Para o Túlio, a Karina é bem mais importante do que a comida. E a Karina é tão sensível, não vai deixar ele com fome.Zeca riu:— Pelo visto, uma boa coisa está para acontecer. Então, será que a gente já pode se preparar?Júlia ficou um instante surpresa e perguntou:— Se preparar para quê?— Você ainda não pensou nisso? — Zeca olhou para ela. — Preparar para quê? Claro que é para o casamento desses dois, ué.Ao ouvir aquilo, Júlia deu um tapa na própria testa e

Na verdade, assim como Levi, Heloísa também estava cheia de dúvidas e preocupações.— Não dá. — Heloísa pegou o celular, decidida a ligar para Karina. — Eu preciso perguntar para ela.— Heloísa. — Levi a impediu imediatamente. — Você já pensou que, se a Karina realmente só deixou de ir ao tratamento porque teve algum imprevisto, essa sua ligação pode acabar deixando ela desconfiada?Heloísa ficou paralisada:— Então me diz... O que eu deveria fazer?Levi respondeu:— Espera mais um pouco, tá bom?— É a única coisa que a gente pode fazer?— Por enquanto, sim. — Levi a envolveu nos braços, ajudando ela a voltar para o quarto. — Você conhece a personalidade da Karina... Se ela descobrir a verdade, talvez...Talvez o quê? Ele não completou a frase.Mas Heloísa entendeu perfeitamente.O rosto dela perdeu a cor, e ela assentiu levemente:— Eu entendi.Ela não tinha esse direito.Uma mãe que abandonou a própria filha... Que direito ela teria de se preocupar com ela agora?Naquela noite, não f