Capítulo 6

- Quer que eu fique? - Pergunto surpreso e ela maneia a cabeça afirmando.

-Por favor. -Vejo seus olhos me encararem em súplica. - Não vou conseguir dormir se estiver sozinha, confio em você.

Depois de ouvir aquelas palavras jamais negaria deitar ao seu lado.

- Só vou tirar o terno e os sapatos. -Afirmo começando a tirar o terno e o colete, desabotoando alguns botões da camisa social e jogo meus sapatos ao lado da cama junto com minhas meias.

Jessye observa todos os meus movimentos atentamente e de certa forma sinto-me constrangido e incomodado, mas jamais conseguiria deixá-la depois de ver tamanho desespero.

Sabendo que ela estava nua opto por deitar na parte de cima do edredom deixando que ela fique embaixo. Ela continua deitada de barriga para cima encarando o teto mais do que deveria.

Me deito de lado para observá-la melhor e acabo rindo ao ver suas bochechas vermelhas.

-Se fosse ficar tão constrangida não deveria ter cogitado a ideia de me chamar para deitar ao seu lado.

Seus olhos arregalados se voltam para mim e ela desce um pouco o edredom deixando seus lábios à mostra.

-Por favor não me deixe sozinha. É sufocante demais e tudo parece apertado, minha mente não consegue focar no que deve e quando vejo o desespero já tomou meu peito, a sensação ruim vai passar, só espere um pouco. -Sussurra envergonha.

- Não irei sair do seu lado, não se preocupe. -Sinto vontade de tocar seu rosto e seus cabelos, mas contenho meus movimentos.

Um constrangedor silêncio recai sobre nós e permaneço deitado ao seu lado vendo o edredom subir e descer com sua respiração pesada.

-Por que tem medo de lugares fechados Jessye? - Pergunto o que estava me incomodando e ela se encolhe.

Depois de longos minutos pensativa volta sua atenção para mim se deitando de lado para me observar melhor.

- Meu pai nunca me bateu quando fazia algo de errado, fugia, mentia ou tentava algo que ia contra suas regras. Minha punição era ficar trancada em um cubículo de um por um sem janela, luz ou ventilação. - Seu corpo todo estremece com as lembranças. - Eu não sei bem quando a fobia começou, mas se vejo que estou trancada sem poder sair, entro em desespero. É uma sensação horrível, desesperadora, parece que as paredes vão se aproximando e me reprendendo, o ar começa a faltar e não sei explicar é simplesmente sufocante. -Sussurra e vejo algumas lágrimas escorrer por seu rosto. -Desculpa.

-Você não deve pedir desculpas. -Quando vejo puxo seu delicado corpo em direção ao meu peito e ela chora baixinho enquanto acaricio seu cabelo. - Já passou, você está comigo agora, jamais trancarei você como seu pai fazia, também tenho traumas e medos Jessye, é normal e a certas feridas que só o tempo pode curar.

Encosto meus lábios em sua cabeça e o instinto de proteção se aflora em meu peito. Sei que Edgar pode não ser tão ruim quanto Donatel em alguns aspectos, mas também sei que ele é igualmente frio e não mede esforços para atingir seus objetivos.

-Se ele souber que te contei, minha mãe irá me bater muito. -Estremece em meus braços.

- Sua mãe não pode te machucar mais Jessye. Você é uma Voyaller e ninguém levanta a mão para um Voyaller. -Retiro alguns fios de cabelos loiros grudados de seu rosto para poder ver melhor sua face, mas ela esconde o rosto em meu peito.

Controlo a vontade de acertar o rosto de Edgar com um belo soco. Sei que é errado cogitar a possibilidade de dar uma dose de tortura para sua mãe, pois somos contra machucar mulheres, mas tenho certeza que se contasse a Eva o ocorrido ela não se importaria em dar uns tapas na mulher.

-Essa foi a educação que recebeu para ser esposa de um chefe? -Questiono sentindo toda a minha paciência se esvair aos poucos.

-Meus pais sabiam que não podiam contar com minhas irmãs para um possível casamento e como sou a mais nova começaram a me tratar de maneira diferente, pois seria a única que poderia fazer parte de um contrato. Minha mãe também foi criada assim e começou a limitar todos os meus movimentos e ações, me revoltei no começo, achava um absurdo tudo aquilo, mas comecei a ver que lutar era pior e aceitar foi a única opção ou então sairia daquela casa dentro de um caixão. -Murmura.

-Ssshh, já entendi. -Encosto os lábios em sua testa. - Não precisa me explicar mais nada. -Sussurro acariciando seus cabelos que sendo sincero amava a cor.

Loiros como fios de ouro.

-Voyaller, posso te fazer uma pergunta? -Questiona e acho engraçado a forma como me chama.

-Voyaller? -Faço uma careta mesmo sabendo que ela não consegue ver. -Isso soa tão Dante que chega a ser estranho. -Torço o nariz. -Me chame apenas de Jack e sim pode perguntar o que quiser.

Sei que deveria soltá-la, mas os tremores em seu corpo me fazem querer abraçá-la cada vez mais forte, afinal se tinha um ponto fraco em mim, era esse, ver alguém tão inocente e pura sofrer pelo peso das sombras que carregamos.

-Antes de nos casarmos você amava alguém? -Agora ela volta seus olhos para os meus analisando minha reação.

-Por que está me perguntando isso? -Questiono intrigado.

-Apenas curiosidade.

- Não, se quer saber se eu tinha uma namorada ou algo do tipo a resposta é não, era livre, não tinha compromissos com ninguém. -Deixo minha resposta clara para tirar ideias bobas de sua cabeça.

Seus olhos desconfiados me analisam com calma, mas ela logo volta a encostar a cabeça em meu peito em silêncio.

-Tem algo te afligindo é visível.

- Não é nada...

-Está mentindo. -A corto e ela se encolhe com meu tom. -Desculpa, não queria assustá-la, só não gosto que minta, tem algo lhe incomodando e eu sei que isso lhe tirará a paz, então vamos evitar discussões futuras e colocar os pingos nos "is" agora.

-Encontrei marcas de maquiagem em uma de suas camisas. -Sussurra. - Eu não estava espiando ou algo do tipo, a camisa apenas estava caída atrás do armário e a peguei do chão para colocar no cesto quando vi as marcas rosadas.

Solto um pesado suspiro fechando os olhos com força.

- Eu não estou te traindo Jessye. -Afirmo com convicção.

-Não estou te acusando. -Se defende. - Eu sei que não nos conhecemos e você mal me deve satisfações....

-Mal te devo? É claro que devo... sou seu marido independe da situação catastrófica em que nos encontramos, a partir do momento em que assinamos os papéis eu lhe devo satisfações de todos os meus atos assim como você dos seus. -Explico. - Eu não sei o que sua mãe enfiou na sua cabeça, mas pare de agir como ela mandou e seja você mesma ok? Você tem livre escolha dos seus atos, você é uma mulher independente e casada agora, pode agir como desejar desde que me respeite como seu marido, afinal lhe respeito como minha esposa e não trairia sua confiança. Sou homem de palavra e honra, nossa vida nos obriga a isso e você sabe disso, nossa palavra vale mais do que um pedaço de papel escrito à mão. Se for necessário matar meus desejos, pois você não quer que eu a toque, então entrarei em celibato, pois não tocarei em outra mulher. Aceitamos um ao outro Jessye, isso é confiança e respeito e eu respeitarei todos os seus desejos... -Arregalo os olhos ao sentir os lábios dela tocarem os meus de forma tímida me calando.

Apoio minha mãe em sua nuca dando intensidade aquele ato e quando vejo dou passagem para nossas línguas se enroscaram em um beijo um pouco desajeitado e inesperado, porém quente.

Um pouco ofegante ela se afasta escondendo o rosto entre as mãos. Não contenho uma risada e apoio meus dedos em seu pulso fazendo ela olhar para mim.

-Me pegou de guarda baixa. -Confesso e acho que seria impossível ela ficar ainda mais vermelha.

- Eu confio em você e quero tentar fazer esse relacionamento dar certo, mas confesso que fui restrita a muitas coisas e às vezes não sei como agir. Isso pode ser um problema e me sinto envergonhada, suas palavras de agora, bom, eu nem sei o que dizer e bem lá no fundo, acho que devo agradecer por ter sido você o escolhido, afinal, você me respeita e está claro que esperará meu tempo para exatamente tudo... -Toco seus lábios com as pontas dos dedos a calando.

- Não acredito que irei falar isso para você. -Coço a testa constrangido. -Sexo é bom Jessye, muito bom por sinal, mas não é a base de tudo. Confiança, convivência, amizade, sinceridade, boas conversas e pequenos momentos marcantes é o que mais aproxima um casal, então fique tranquila, ainda temos muito o que viver, além disso, existem algumas coisas que preciso lhe contar, mas ainda não é o momento, porém não se preocupe e não coloque coisas nessa cabecinha. -Apoio meu dedo em sua testa e uma suave risada ecoa por seus lábios me fazendo sorrir.

Dos poucos momentos que estávamos juntos essa foi a primeira vez que ouvia ela rir e confesso que gostei.

-Durma, pois amanhã será um longo dia, seu pai solicitou minha presença na Alemanha para minha apresentação como herdeiro do seu lugar. -Faço uma careta e quando percebo Jessye já ressonava em meus braços. -Ah, bem, é isso aí. -Toco seus cabelos com calma sentido os fios macios e longos em meus dedos.

Sabia que precisava tomar um banho e me deitar no sofá, mas era tão gostoso e relaxante acariciar aqueles fios que hora outra me pegava brigando com o sono até ele finalmente me vencer.

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