Comunicação

Ally Cannon POV’s

Quando dei por mim, estava sonhando que estava nos braços de Jason. 

Era sempre Jason. Eu sonhava com ele e ansiava por ele. Podiam existir milhares de homens, mas era a eletricidade do seu corpo que eu gostaria de sentir. E, em meu sonho, eu sentira claramente o corpo dele colado no meu, causando choques elétricos. 

E aquilo era bom. No meu sonho, eu só sentia o toque macio de suas mãos em minha pele e o calor de suas carícias em mim. O sonho era bom. Pacífico. Mas a realidade não. A realidade era bem diferente e dolorida. 

Quando abri meus olhos dormentes, senti bastante dor na cabeça e uma ânsia de vômito forte demais. Parecia que meu estômago estava virado do lado avesso e minha cabeça estava latejando, como se eu tivesse tomado o maior porre do mundo. Imagens difusas do acidente passavam por minha mente. Eu lembrava de algumas luzes, lembrava de sentir uma dor na cabeça e lembrava da mão de Jason em minha nuca. Agora, eu nem tinha certeza se lembrava de verdade de coisa alguma.

Analisei o ambiente ao meu redor e percebi que estava em um hospital diferente. As cores desse hospital eram diferentes do hospital tão colorido do Dr. Garrett. O cheiro de desinfetante e doença também era diferente - o meu hospital tinha um cheiro gostoso de esperança (graças a um spray de baunilha especial desenvolvido pelo Dr). Esse hospital cheirava a analgésico e viroses (com muito desinfetante de eucalipto).

Passei as mãos pela área ardida da minha cabeça e descobri um relevo esquisito e grudento. Parecia um adesivo. Lembrei claramente do ruído seco que minha cabeça fizera ao acertar o painel e percebi que se tratava de um curativo. Fora isso, eu estava em perfeito estado de saúde. Meus cabelos estavam molhados e pareciam terem sido lavados recentemente com um xampu com cheiro de melancia. 

Uma melancia bem doce.

Me recostei no leito, me sentindo sonolenta mais uma vez e sem lembrar muito bem porque eu estava ali e porque meu cabelo estava com aquele cheiro diferente. 

Foi então que um turbilhão de pensamentos me atingiu - e todos, é claro, diziam a mesma coisa. Mais especificamente, todos falavam da mesma pessoa. Jason.

Jason. 

Onde ele estava? Será que estava bem? Eu não lembrava dele ter se machucado, mas eu lembrava que ele gritava muito. Eu lembrava de, em minha inconsciência, ouvir ele gritando com alguém. Eu lembrava da sua voz furiosa. Eu lembrava dele ter me pedido para não dormir. E então tudo ficou preto. Eu nem sequer sabia como tinha chegado até esse lugar. 

Acariciei minha própria cabeça, tentando me lembrar. Mas, nada vinha. E eu estava sozinha em meu quarto de hospital. Suspirei porque Jason provavelmente só me deixara aqui e tinha ido embora retornar à sua vida de bad boy fora da lei enquanto eu teria que esperar pela manhã pra ter uma merda de uma alta e poder dormir na minha cama e mudar o cheiro do meu cabelo pro habitual. 

Estiquei as pernas e comecei a alongar todo o meu corpo para a noite, que seria longa. Sentindo os primeiros indícios de insônia, procurei o botão de emergência e acionei uma enfermeira para solicitar remédios para dormir. 

Uma enfermeira chegou, sorridente. Ela devia ter quase 60 anos e andava com uma certa dificuldade, mas parecia uma avó que assava biscoitos sempre que via seus netos; tinha aquela espécie de expressão de gente que está sempre de bom humor e vê o lado positivo das coisas. 

-Oh, você está acordada! - ela disse, exibindo um sorriso maior ainda - Ele estava ansioso por isso. Vou chamá-lo. 

-Ele quem? - perguntei, mas ela já tinha virado-se para a porta e saído correndo em passos largos. 

Quem estivera ali me esperando acordar? Será que meu acidente já era notícia em meu hospital e o Dr. Garrett estava ali? Ou, será que MacMallcom ficara sabendo e viera me dar um esporro pela publicidade negativa? Tantas questões rondavam minha cabeça que eu me sentia zonza - e isso não tinha nada a ver com meu machucado dolorido. 

-Toc toc. 

Olhei para a porta. Era Jason. Senti meu coração errar algumas batidas. Ele estava, indescritivelmente, bonito. Como eu não reparara isso algumas horas atrás? Seus cabelos pareciam emoldurar seu rosto de uma forma muito mais atraente que em todas as outras vezes. Ele parecia um anjo sombrio com todas aquelas roupas pretas - mas seu rosto...Seu rosto era tão belo quanto qualquer obra de arte que Michelangelo ou qualquer artista era capaz de produzir. 

-Jason. - eu murmurei, sentindo a fraqueza em minha voz rouca. - Eu não es….

-Não fale. - ele mandou, ainda parado no batente da porta, sem aparente coragem de se aproximar - Eu falei com o médico e ele disse que é melhor você ficar em repouso total. Isso inclui usar sua voz. 

Pensei um pouco à respeito, quando uma ideia me ocorreu, porque eu precisava me comunicar com ele. Estiquei uma mão, pedindo que Jason viesse até mim. Ele pareceu pensar durante bastante tempo sobre a ideia. Seus pés pareciam querer vir imediatamente, mas ele avançava e recuava na mesma medida. Até que ele suspirou e se aproximou, puxando uma cadeira para sentar ao lado do meu leito. 

-Você precisa prestar atenção, ok? - sussurrei, pedindo.

Jason fez sua tradicional cara de irritado.

-O que eu disse sobre não falar, Allison? - ele reclamou, mordendo os lábios de irritação. 

Assenti para ele e ofereci uma mão. Quando ele veio colocar sua mão em cima da minha, puxei seu braço. Virei seu antebraço para mim e levantei sua blusa de manga comprida preta. 

A pele nua de seu antebraço também soltava aquele cheiro delicioso de todo o seu corpo. Era branco como mármore com a tatuagem de um leão sombrio bem marcada por praticamente quinze centímetros. Olhei para ele, pedindo atenção mais uma vez. Jason olhava, impassível, o que eu estava fazendo. 

Comecei a passar o dedo em sua pele e senti ele se arrepiar com o movimento.

-O que você está…

Ele começou a dizer, mas eu olhei para ele em repreensão, pedindo que lembrasse da sentença que eu tinha dito antes. Ele precisava prestar atenção. 

Comecei a desenhar letras em sua pele.

A primeira frase era “você está bem?”

Eu desenhava lentamente cada letra e ouvia Jason sussurrando e formando a frase para si mesmo.

-Estou. - ele respondeu, depois de alguns segundos. Sua pele estava arrepiada ante ao meu toque. - Estou ótimo, Allison.

Continuei dedilhando ele mais uma vez. “Eu estava preocupada”. 

Jason soltou sua tradicional risadinha de escárnio. 

-Comigo ou com você? - ele perguntou, em um aparente deboche. 

“Você” dedilhei e senti Jason se arrepiar mais ainda. Ele pigarreou alto para me distrair de sua pele. 

-Obrigado, Allison. Mas não era necessário, especialmente uma vez que você mesma causou o acidente. Me dando um tapa na cara, eu ainda não esqueci. 

“Me desculpe” escrevi e fiquei olhando para ele, esperando uma resposta sincera. Jason olhou fundo em meus olhos e suspirou, assentindo.

-Tudo bem. - ele murmurou - Me desculpe também. 

Dei um sorrisinho e escrevi, divertida, em seu braço. “Não”.

Jason me olhou, ofendido e arrancou seu braço de minhas mãos enquanto eu ria. 

-Não tem como esperar algo diferente de você, Allison. - ele resmungou, indo em direção à porta. - Vou estar na sala de espera até que você saia e vamos voltar para seu apartamento sem chamar atenção nenhuma da mídia. Vou providenciar outro carro e….

-Jason. - falei, ignorando a dor que falar me causava e olhando fundo em seus olhos verdes - Obrigada. 

Jason revirou os olhos, indignado, mas não reclamou mais uma vez do fato de eu estar falando - ele sabia que não mandava em mim.

-Pelo que? - ele perguntou, colocando as mãos nos bolsos do casaco distraidamente. 

-Por tudo e qualquer coisa. - respondi, dando de ombros. Descobri que isso também era um pouco dolorido agora. 

Jason assentiu, aparentemente ainda ressentido e virou-se para sair mais uma vez.

-E Jason? - chamei, sentindo vergonha da situação em que estava, mas me sentindo frágil o suficiente para lançar essa cartada. 

-Sim? 

-Pode ficar comigo essa noite? - perguntei, forçando minha voz a parecer mais rouca do que já estava. Forçando ele a sentir piedade de mim. - Eu estou com medo de ficar sozinha. 

Jason sustentou meu olhar por vários segundos, como se estivesse me desafiando a dizer que estava mentindo. Mas isso não aconteceu. Continuei sustentando toda a eletricidade entre nós dois. Ele suspirou e veio em minha direção mais uma vez.

-Eu não me importo com você, Allison. - ele sussurrou, se aproximando bastante de mim em meu leito. - Só estou te devolvendo um favor. 

Lembrei vagamente da primeira noite de Jason em minha vida, quando ele me pedira para dormir junto com ele em minha cama. Aquilo parecia fazer séculos. Eu lembrava que, naquele dia, eu estava acariciando seus cabelos. Seus cabelos eram meu vício particular, algo que eu adorava…

-Tudo bem. - respondi, assentindo e me encolhendo em meu leito. 

-O que está fazendo? - Jason perguntou, olhando minha movimentação. - Isso parece desconfortável. 

-Achei que você ia querer se deitar. - respondi, me acomodando no canto oposto da cama. Sorte que ela tinha grades, caso contrário eu cairia com certeza. 

-Eu posso ficar na cadeira, sem problemas, Allison. - Jason respondeu, como se fosse óbvio, ainda me olhando de solsaio. 

-Quando eu te fiz esse favor, eu não fiz desse jeito. - reclamei, olhando para ele. 

Jason suspirou como se estivesse sendo obrigado à fazer a última coisa que ele queria no mundo.

-Eu nem sei se eu vou caber. - ele reclamou, tirando os sapatos e os casacos para se deitar. 

Jason entrou no leito com muita dificuldade e protestos da parte de sustentação da cama, que rangeu furiosamente. Ele se acomodou, ombro a ombro, comigo.

-Está desconfortável. - Jason disse, fazendo menção de se levantar - Eu te disse, Allison. Não cabem duas pessoas. 

Coloquei uma mão em seu peito, impedindo que ele levantasse. 

-Cabem sim duas pessoas, Jason. Mas não assim. - falei, liberando espaço para que os ombros de Jason caíssem na cama e eu pudesse me deitar em cima dele. 

Deitei em seu peito macio e coloquei uma perna em cima de sua cintura, sentindo Jason estremecer. Enfiei um dos meus braços por trás de sua cabeça, pousando uma mão em seus cabelos, enquanto o outro ficava acariciando seu peito cheiroso. 

-Viu, Jason? - sussurrei, fazendo minhas pernas passearem pelo caminho da sua cintura, até sua pélvis, até o que parecia uma pequena ereção ocorrendo em suas partes íntimas. 

-Cabe uma pessoa e meia, Allison. - Jason rosnou. - Porque você está deitada em cima de mim e...O que é isso?

Só então Jason notou que eu estava usando uma daquelas camisolas de hospital que eu tanto adorava - e nada por baixo. Com o subir e descer da minha perna se esfregando em seu corpo, Jason com certeza conseguia ver minha bunda desnuda. 

-Ally. - ele protestou e sua mão veio veloz até a coxa da perna que eu estava movimentando, me forçando a parar. - Chega. 

-É só um abraço. - resmunguei, fazendo uma voz mais fina que o normal. - Você não abraça as pessoas? 

Jason ficou me olhando como se finalmente notasse que eu era uma rival à sua altura e ele estava caindo. Ele esticou os braços e alcançou seu casaco, colocando-o em minha cintura, cobrindo toda a parte debaixo do meu corpo. 

-Eu não estava com frio. - reclamei, observando um Jason já de olhos fechados, me ignorando.

-E eu não estava afim que vários homens aleatórios vissem sua bunda. - Jason respondeu rápido demais, como se saber as coisas em menos tempo fosse gerar menos impacto. 

Levantei uma sobrancelha, sabendo que ele não estava vendo.

-O que isso te importa? - perguntei.

Jason abriu apenas um olho para me encarar.

-Importa que publicamente você é minha namorada e eu não vou passar essa vergonha. 

Vergonha??? 

Jason definitivamente escolhera as palavras erradas. 

Senti minhas mãos tremerem e tentei controlar o ataque de raiva que estava prestes a vir. 

Mas foi em vão.

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