Prelúdio para o caos

Quando eu paro para pensar sobre a nossa história com a dança, eu penso quão engraçado foi tudo, bem... No passado eu realmente me tornei uma rebelde líder de gangue adolescente ao lado da Aileen e do Brian, embora eles nunca tenham se dado muito bem. 

Éramos invencíveis em brigas, mesmo que elas não acontecessem mais com tanta frequência depois que a gente conseguiu mostrar para os outros nosso domínio, o resultado de anos e anos de bullying foi eu socar a cara de cada um deles, e mesmo que o domínio do território ocorra na maior parte das vezes com relação à venda de drogas e consumo de coisas ilícitas, na Kounicova era uma coisa mais briga de colégio, eu não deixava os meus companheiros se envolverem com essas coisas… Mesmo que eu tenha falhado com eles algumas vezes… 

Bem, e em uma dessas vezes que eu falhei e o diretor descobriu algumas coisas eu quase fui expulsa, mas no final das contas como punição nosso antigo diretor mandou que saíssem da “organização criminosa” como ele chamou, e fizéssemos parte do clube de dança que estava prestes a fechar, a Aileen não gosta muito de dançar mais ela é boa, já nós dois crescemos muito lá dentro e nos tornamos “aceitos” e conhecidos pelo colégio como bons dançarinos.

 Depois disso nossas brigas diminuíram bastante, mas quando saímos do ginásio o Brian foi para um colégio diferente do nosso, eu e a Aileen decidimos ficar invisíveis e sermos boas garotas depois que eu fui diagnosticada com Leucemia Mieloide Crônica, eu passei o pior ano da minha vida fazendo o tratamento, eu tive um monte de reações mais não desisti, e quando eu fiquei curada dela eu simplesmente não quis voltar ao que eu era antes, eu acho que já tinha me acostumado com a vida de boa menina, fora que eu já tinha dado tanta preocupação e desgosto para os meus pais que eu senti que devia isso á eles.

Assim eu me tornei a nerd que eu sou hoje. Nos primeiros meses no segundo ano, depois que eu estava completamente curada da minha doença, eu ainda pensei em voltar a dançar mais quando meus pais morreram, eu só achei que eu tinha o dever de estudar e depois entrar em boa faculdade, não dá mais para ficar sonhando em ser uma dançarina famosa.

- O que? Por que? Eu disse que ia continuar sendo a nerd, eu nem pensei em voltar a dançar – eu reclamei um pouco e meio que bati os pés com birra, mas pensando em como seria divertido voltar a andar com o Brian e se divertir como antes... Isso me deixa completamente encantada.

- Você não pode negar Olívia você quer voltar a dançar, e fora isso, com toda essa confusão com seu irmão, e essa possível relação com o Kris,  tudo está sendo muito estressante para você e com certeza está sendo uma grande merda, você tem que relaxar um pouco mais, guarda toda a sua ansiedade para quando você for prestar o vestibular.  Fora que não tem nada melhor do que dançar. -  eu concordo com o que ele está falando, mas ao mesmo tempo reconheço que o projeto que eu vou ter que fazer com o professor unicórnio é muito difícil... Eu tenho medo de não conseguir fazê-lo bem feito, principalmente agora depois do beijo...

- Eu acho que você pode ter razão, vai ser divertido... Eu acho que a pior parte são todas as coisas que estão acontecendo ao mesmo tempo no colégio, fora o fato de eu ter que ir sozinha, com você lá eu acho que posso tentar, a qual é você me conhece eu não gosto de conhecer muitas pessoas ao mesmo tempo, eu sou tímida!

-  Corta essa Olívia,  você deixou de ser tímida com no máximo 12 anos,  pensa direito,  faz tempo que não fazemos nada juntos,  mesmo se não tivéssemos nos desentendido por causa do Théo, não nos encontrávamos há várias semanas,  você nunca tem tempo e vive estudando, eu aposto que mesmo a Aileen não se encontra contigo para conversar dentro do próprio colégio de vocês.

-  Não exagera Brian, ela também estuda sabia, quando você fala assim parece que eu sou a única que estuda entre nós três… Mas eu admito que você está certo, minha vida está uma loucura, e eu deveria mesmo escapar um pouco disso, fora que eu tenho que curtir meus dias longe da loucura do Théo, chegando tarde e fazendo coisas que eu não posso, afinal sou uma alma festeira – eu tentei soar mais animada e também balancei as sobrancelhas, mas como resultado o Brian riu da minha cara, eu tenho certeza que eu não estou parecendo animada, mas não é que eu não esteja verdadeiramente animada com a ideia, eu só não consigo me imaginar gastando tanto tempo com algo que não seja estudo.

- Okay~ Você, Alma festeira? Conta outra piada, você não sabe se divertir – ele me zoou e eu tive vontade de bater nele agora. Eu só~ Depois que eu entrei no Ensino Médio eu não tive mais amigos ou companheiros para sair por aí farreando, entre eu, a Aileen e o Brian, com certeza o Brian é a alma festeira, nós duas gostávamos mais de dançar do que “farrear” propriamente dito – Okay vamos mudar isso. Primeiro você vai ver como é realmente legal a academia de dança, geralmente no meu horário temos o Ivan ele é o melhor dançarino da academia depois dos professores, o Matteo que é o nosso troll, ele realmente é ruim na hora de pegar as coreografias mais na hora que você olha ele dançando realmente parece que ele sabe dançar, a capacidade dele de enganar os outros é absurda, teorias conspiratórias dizem que na verdade ele fica possuído pelo espírito de um grande dançarino…

-  Eu não sei se eu acredito nessa história…  Então temos o senhor possuído,  alguém que é absurdamente bom dançando…  Quem mais participar desse lugar? -  não que eu estivesse procurando alguém em particular, mas vai que do nada não aparece o grande amor da minha vida, a pessoa que vai me fazer  esquecer dessa paixão absurda que eu tenho por um cara gay, vai que do nada ele aparece dançando Spice Girls lá dentro?  Uma garota pode sonhar não é mesmo?

- Bem tem o Ruan... Ele é meio parado e... Ele não fala muito com os outros, e eu não sei muitas coisas sobre ele... Tem as nossas veteranas Luna e Victória, elas são muito divertidas, eu tenho certeza que vocês vão se dar bem, só toma cuidado com a Luna ela é meio... Possessiva em relação ao Ruan… Mesmo que eles nem namorem de verdade. - Por que será que ele acha que eu vou me dar bem com a louca possessiva? Isso é uma espécie de indireta Brian? 

- Sim, você está falando dos membros de lá mas e depois? – ele falou que eu tinha que ir na academia primeiro, mas começou a divagar sobre as coisas lá, geralmente o Brian é muito direto, mas quando a conversa é sobre coisas que ele ama, ele sempre, sempre, sempre, se perde no meio da conversa.  

- Depois você vai ver como é a farra com eles – ele deu um sorriso maligno – Ah, você ainda é menor de idade... Bem a única boate legal que eles frequentam mesmo que pede identidade e você não pode entrar é a Seduction, mas poderíamos rodar um pouco o subúrbio eu aposto de que o Vargov não ligaria aquele cara ama dançar não importa o beco onde ele esteja, há há, você precisa ver quantas doses de uísque o Kalel consegue tomar antes de ficar bêbado, Olívia sério, você não vai acreditar na quantidade de álcool que ele pode ingerir... – como eu disse a alma festeira é o Brian, ele combina nisso com o Théo, eu lembro que houveram dias que eu fui para a casa da Aileen e eles saiam para boates juntos... Talvez daí tenha começado o romance entre eles dois. Mas isso não é algo que eu vou simplesmente perguntando nada,  tipo “ah foram nessas festas que você começou a se agarrar com meu irmão?” Embora fosse algo que eu totalmente diria alguns meses atrás,  estou tentando me transformar numa pessoa mais compreensiva? Bem, eu diria que eu estou me esforçando bastante para não pisar nos sentimentos das outras pessoas. 

“She’s my Black Pearl  She’s my Black Pearl” – meu celular interrompeu o monólogo do Brian, era o Kris e eu até sei sobre o que ele quer conversar. às vezes eu acho que a gente tá morando juntos há pelo menos 2 anos.

"Olívia, onde você está? Já vai dar meia noite volta para casa!”

Ele nem esperou eu responder antes de desligar na minha cara... Parece que o Kris já pensa que eu sou a irmã dele sem eu precisar dizer nada. Se bem que está verdadeiramente tarde,  em minha defesa eu coloco a culpa no Brian.

- Eu tenho que ir – eu resmunguei, afinal, estava sendo divertido estar com o Brian. É como sentir uma brisa fresca,  uma lufada de oxigênio na minha vida complicada, simplesmente porque eu não preciso fingir, nem me preocupar com nada, eu acho que dentre todas as pessoas com ele eu fico mais tranquila,  principalmente para falar de todas essas coisas sobre minha vida.

- Eu vou te deixar em casa Olívia, agora que eu moro com meu amigo eu não tenho mais toque de recolher – ele se gabou e eu admito me deu um pouco de inveja, antes, quando eu e o Brian morávamos perto um do outro, na casa dos nossos pais tínhamos que estar em casa no máximo ás 10 horas, mas sempre pulamos a janela e íamos um para a casa do outro até o dia que nossos pais pararam de se incomodar com nossa amizade. Bem, pelo menos os meus pais, o delegado Kral, pai do Brian, sempre me odiou e eu não acho que isso vai mudar algum dia.

- Ah, com quem você está morando? Eu conheço? – Eu acho que o Brian já me falou antes sobre esse cara mas eu nunca o conheci realmente, pelo menos eu acho que não, eu não vou mentir que desde a doença e a morte dos meus pais, eu não dei muita importância a várias coisas, é como se esse período da minha vida fosse nublado, eu só me lembro de passar meus dias dolorosamente triste e vontade de viver mantendo o foco nos meus estudos para poder não pensar em tudo que estava acontecendo.

- O nome dele é Leonard ele é super divertido, no começo eu pensei que ele fosse tão gay, ele simplesmente parece uma diva, sabe sobre moda, maquiagem… E se duvidar falar mais fino que o Théo, então para minha a grande surpresa, eu descobri que ele é hetero! Foi hilário. E a boa parte é que ele não tem nenhum tipo de preconceito com as pessoas, como classe social ou cor de pele, muito menos pela minha opção sexual. Já a parte ruim é que ele é muito bagunceiro e barulhento,  e algumas vezes ele traz umas garotas para dentro de casa que são, definitivamente incômodas. Teve uma vez que uma olhou para mim e insistiu que deveríamos ter um trio foi... Muito constrangedor.

Só de imaginar essa cena eu tenho vontade de rolar no chão rindo, eu fico imaginando o Brian com essa cara de macho “hetero top” tendo que explicar a razão dele não querer nada com ela.

- Esse Leonard parece ser divertido – eu tentei imaginar uma pessoa assim mas eu não consigo, ele deve ser uma figura.  Tipo uma mistura do Zen com o meu irmão quem sabe? Mesmo assim eu não acho que essa mistura não seria tão excêntrica quanto esse cara o Leonard parece.

O tempo e o caminho passaram rápido, já estávamos chegando na casa do Kris, esse caminho agora me é tão familiar, sinceramente eu ainda penso muito nisso, eu nunca passei tanto tempo longe do Théo, eu nunca morei tão longe do bairro em que eu nasci, essas ruas são diferentes as pessoas são diferentes... parece que tanta coisa mudou embora não tenha passado muito tempo desde que eu conheço o Kris.  Definitivamente isso se transformou em um ponto de viragem da minha vida.

- A casa do Kris é ali – eu apontei para casa dele e o Brian pareceu feliz.

- O meu apartamento é naquele quarteirão – ele apontou para uns prédios um pouco longe da casa do Kris mas não deixava de ser relativamente perto se formos comparar a distância para a casa do Théo.

- Vamos poder ir juntos para o colégio de manhã – eu sempre vou para o colégio andando sozinha, não é tão longe assim para pegar ônibus ou metrô, o Brian já terminou o colégio já que ele é um ano mais velho, agora ele só está trabalhando uma vez que ele não quis entrar na faculdade ainda. Eu digo isso porque eu tenho plena certeza que ele passaria no vestibular se quisesse. Querendo ou não, não ir para faculdade foi mais uma das maneiras que ele encontrou de se rebelar contra o pai dele.

Para falar a verdade eu nem sei o que o Brian quer fazer exatamente, no ano passado ele tinha sido chamado por um olheiro de uma empresa,  como ele toca guitarra e bateria, e incrivelmente também canta e dança, chamaram ele para ser um estagiário,  eles iam lançar um grupo mais ele não conseguiu se juntar a eles,  no final das contas, algumas coisas aconteceram, que eu realmente não sei ao certo com o grupo, quando eles foram lançados e fizeram sua estreia não eram as mesmas pessoas que estavam no começo do treinamento, algo assim, e bem, os caras que estreiaram com esse grupo não são muito bons mesmo então não foi uma grande perda na minha opinião, mas para o Brian foi um verdadeiro golpe eu fico feliz é dele não ter desistido de dançar nem cantar depois disso.  Eu acredito que ele vai ser um grande artista no futuro.

- Ir juntos significa eu te levar para o colégio – ele resmungou e eu ri um pouco, antes sempre íamos juntos e mesmo no início do colegial ele me levava para o colégio antes de ir para o dele, sempre foi muito divertido e isso me deixava menos ansiosa sobre ir para um lugar tão diferente da Kounicova. 

- Até amanhã Olívia - ele me deu um leve abraço na porta da casa do Kris e eu sorri. Realmente eu estava sentindo muita falta do Brian.

- Ei, amanhã vamos à casa da Sra. Seifert então me busca no final das aulas. - Eu falei meio que sussurrando com medo do Kris ouvir o que a gente estava falando na porta da casa dele. Eu não quero que ele saiba nada dessa história.

- Eu sei – ele respondeu antes de sair na direção do apartamento dele.

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- Cheguei... – eu me joguei no sofá do Kris tirando os meus sapatos, meus pés estão doendo tanto agora... Não que realmente tenha sido uma longa caminhada, é mais por que esse sapato está apertado e eu fiquei com preguiça de ir na loja comprar um novo. Parando para pensar eu nem sei de onde eu vou tirar dinheiro para isso,  eu ainda não vi se o meu cartão não foi bloqueado, afinal eu sou só uma dependente do Théo,  se ele quiser cancelar ele pode já que ele é o titular.  caramba fiquei até triste agora, eu nem tinha pensado em questões financeiras, finalmente eu me dei conta do fato de que o Kris está me sustentando agora

- Ele lhe trouxe em casa? -  O Kris apareceu do nada com uma roupa simples, bermuda e uma camisa preta, cabelo penteado e óculos de aro grosso, ele estava lindo. É Brian eu sou realmente azarada, muito azarada. Ele tá parecendo um daqueles modelos de ótica de rico. Como alguém fica bonito com óculos de aro grosso? 

- Sim, o Brian mora bem perto daqui, agora vamos voltar a sair juntos...Eu vou tentar a tática da reaproximação cautelosa - eu dei um sorriso zombeteiro e ele pareceu sorrir um pouco. Agora que eu cheguei em casa ele parece muito mais tranquilo do que na ligação -  Brincadeiras à parte, agora eu vou entrar na mesma academia de dança que ele frequenta. Na verdade o Brian se esforçou muito para conseguir se tornar um artista,  ele dança muito bem, mas ao mesmo tempo canta perfeitamente,  ele pode até dizer que não mas eu sei que é o sonho dele, ele deseja isso muito mais do que um curso superior e estabilidade financeira – eu falei as novidades e ele sorriu um pouco, eu acho que ele tinha alguns pensamentos meio ruins do Brian, meio que a culpa minha já que as únicas coisas que ele sabe dele são ruins, tipo as coisas que aconteceram por causa do Théo. Mas pode me chamar de um pouco paranóica, mas depois que eu toquei nesse assunto de academia de dança ele ficou estranho, mais ou menos, parecia meio mergulhado em lembranças.

- Eu lembro que quando tínhamos 17/21 anos eu e a Charlie participamos de audições e entramos para uma empresa, eu recebi um contrato de modelo de passarela por causa da minha altura, ela mesmo recebeu uma proposta parecida, a Charlie era muito alta chegava a ter quase 1,80 de altura, mas ela não quis porque o sonho dela era ser uma cantora, Ela ainda chegou a ensaiar, participar das aulas de dança e canto, chegou até ser produzido seu álbum solo, ela teve algumas propostas de contratos e programas mas... Quando ela morreu eu desisti de tudo isso. – ele falou triste, eu consigo ver as lágrimas se acumulando no canto dos olhos... Charlie... O Kris de repente sorriu tentando encobrir a tristeza

- Kris, eu... Eu queria perguntar uma coisa – eu comece calmamente, afinal até pra mim essa desculpa tá soando estranha – sua família, eles... Eles moram por perto, não é? Sua mãe... Ela, se ela vier aqui e me encontrar... Eu e a Charlie... Ela vai ficar em choque? Eu sei que a gente nunca falou sobre isso, mas eu tenho dois olhos sabe, eu consegui ver que a gente é muito parecida fisicamente... Menos a altura é claro – Essa foi a melhor história que eu inventei, eu não sei como abrir o tópico “mãe”... A única vez que ele falou dela para mim foi para dizer que ela foi a pessoa que contou para ele que a Charlie tinha cometido suicídio.

- Minha mãe... Não se preocupe com isso... Minha mãe é estranha... Embora fossemos filhos dela, minha mãe só se importava comigo, o pai da Charlie a deixou por que ele se apaixonou por outra pessoa, eu acho que a Charlie foi uma espécie de... Símbolo de ódio, ela sempre cuidou de mim como uma boa irmã mais velha, mas a mamãe a tratava de forma diferente, eu não sei, eu acho que o tratamento diferente vinha também por causa do meu pai, ele odiava a Charlie. E mesmo caráter dela é duvidoso, eu não tenho porque mentir sobre isso, eu nunca soube se ela amava meu pai de verdade ou se ela estava interessada apenas no dinheiro dele, mas meu pai amou muito ela, demais até... Até que ele não aguentou mais e saiu, mesmo que eles não tenham se divorciado eu sei que a razão do término do relacionamento deles se deve ao fato de que ela nunca esqueceu esse cara o Sr. Kylián, o verdadeiro pai da Charlie. Meu pai... está morando no Canadá agora. Ele queria que eu fosse embora com ele também, mas eu não consigo sair daqui, esse lugar tem muitas lembranças, embora às vezes eu pense que teria sido muito melhor se eu tivesse viajado com ele  – ele falou baixo, sinceramente é por isso que eu fico me sentindo tão mal em tocar nesse assunto com ele, a forma com que ele fala, e essa expressão de sofrimento, na verdade eu tenho muita pena dele. 

Mas se eu for parar para pensar no que a Lucy falou, e o que ele falou sobre essa mulher... Ela parece certamente o tipo de pessoa que poderia ter traído o marido com o ex, tido uma filha e a abandonado. Com certeza tem caroço nesse angu. Então... Parece que minhas respostas estão mesmo com a Sra. Seifert, eu posso especular à vontade, mas apenas ela vai me dar as respostas desse mistério. No entanto... Isso tudo é muito complicado.

Caramba isso não é justo, a cada vez que eu olho pro Kris eu sinto como se eu tivesse uma arma apontada para cabeça dele, sei lá, como se eu pudesse matá-lo e ele não desconfiasse de nada, coisas assim. Ele vai ficar muito magoado comigo se souber por outra pessoa o que eu descobri...E muito menos que eu tô desconfiando da mãe dele…  Na verdade eu estou precisando meter na família dele, e vai que eu tô errada, vai que eu apareço na porta dessa senhora só para aterrorizar ela, vai que ela pensa que eu sou o fantasma da filha morta dela?

- Minha mãe nunca viria nesta casa. Ela odeia esse lugar então não se preocupe com isso – ele terminou de falar sobre a família dele e caímos em um silêncio incomodo. Enquanto ele provavelmente está pensando na Charlie eu penso em como eu vou fazer a mãe dele me contar a verdade.

- Kris... Vamos assistir um filme? – eu falei assim que o clima ficou tenso demais e ele me olhou meio rindo,  eu acho que nesse ponto, nós dois somos previsíveis.

- Qual você quer? – ele apontou para uma pilha de DVD’s em cima da cômoda e eu comecei a procurar pelos títulos. Haviam muitos filmes infantis, um monte de séries da Disney mas me chamou a atenção o Box com os filmes de Star Wars, e eu sou secretamente viciada nisso.

- Então? – ele perguntou me tirando dos meus devaneios

- Podemos ter uma maratona Star Wars? Eu amo esses filmes – eu perguntei totalmente alegre, e ele... ficou surpreso?

- A Charlie amava Star Wars... Ele sempre disse que gostaria de ser um Jedi... E eu a perturbava chamando de Yoda por causa das orelhas – ele sorriu nas lembranças... Parece que hoje mesmo que eu não queria eu estou trazendo as lembranças da Charlie de volta... Ahr, eu queria poder dizer para o Kris que talvez eu seja irmã dele, mas... Eu não quero dizer isso para depois não ser verdade e mais uma vez o Kris perder alguém.

- Kris eu… - Será se eu conto? - Eu tenho a mesma orelha... Então esse comentário foi um pouco ofensivo, sabe? - eu não sabia o que fazer, por um momento eu pensei em contar toda a verdade, eu desisti na última hora e tudo isso está me deixando incomodada, sério, é... Sufocante, para dizer o mínimo.

- Tudo bem, eu vou fazer pipoca, faz muito tempo desde que eu assisti esses filmes. - ele sufocou um suspiro e saiu da sala, ele está triste, está bem óbvio mas... Eu não posso fazer nada para ajudar...

Kris... Me desculpa, eu vou ser egoísta dessa vez.

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~ Ding Dong

- Olívia! a campainha tá tocando! – o Kris gritou para mim da cozinha, esse bunda preguiçosa! Ele pode muito bem levantar e abrir a porta mas é muito mais fácil gritar para mim ir abrir.

Droga eu estou atrasada. juro que nunca pareceu tão difícil arrumar meu cabelo, eu vou cortar essa merda fora, não é como se eu gostasse particularmente do meu cabelo batendo na cintura, isso foi algo que a minha mãe quis... Escuta o que eu to dizendo, foi uma péssima ideia ter assistido filmes até altas horas da madrugada!

- Olívia! – ele gritou mais uma vez e isso começou a me irritar, por que diabos ele só não abre a porcaria da porta? Ele tem duas pernas muito boas e duas mãos, ele não é aleijado então por que raios esse... Argghh, maldito preguiçoso. 

- Já to indo seu bunda mole – eu resmunguei quando passei pela cozinha correndo para abrir a maldita porta, e era o Brian, como eu já havia previsto, agora eu queria saber por que esse maldito não teve a decência de apertar a merda da campainha idiota do Kris apenas uma vez, ta achando que eu sou surda ou o que? .

- Ainda não tá pronta!? – ele meio resmungou meio gritou comigo, aish esses dois, que merda eu sei que eu tô atrasada, mas essa bosta de fuinha de cabelo nojento não quer ficar no lugar certo, por que em um mundo de pessoas de cabelos lisos maravilhosos, e pessoas com cachos bem definidos, eu fui nascer no meio do caminho? Com esse cabelo meio cacheado que não pára no lugar e parece ter vida própria?

- Entra, cala a boca e espera eu comer qualquer coisa, já to indo – eu só resmunguei abrindo a porta um pouco mais e correndo de novo para a cozinha, o Kris ainda estava de mau humor e comendo algumas panquecas, pelo menos ele fez o favor de fazer o café da manhã.

- Eu posso – O Brian apareceu de repente na cozinha e sem esperar nenhum tipo de permissão começou a comer panquecas com a gente, ele tem um dente doce, eu sempre soube disso mais fica meio óbvio vendo ele mergulhar as panquecas em xarope de morango.

- Já pegou né? – eu disse irônica e ele me deu língua, ele já estava indo para o segundo prato de panquecas e eu ainda nem tinha conseguido comer a minha primeira, aish, entra na minha casa, senta na minha mesa e come da minha comida sem permissão e ainda quer me matar de fome comendo meu café da manha todinho sem me dar? Que tipo de melhor amigo eu fui arranjar. Meio emburrada e como “meio que” minha forma de “vingança” eu roubei o xarope dele.

- Vocês dois são duas crianças – o Kris riu de nós dois e deu as panquecas que ele estava comendo para o Brian, elas já estavam mergulhadas em Xarope, não tanto quanto o Brian usa, mas foi o suficiente para ele corar como uma adolescente. Ai, ai Brian tu tem é um fetiche com os meus “irmãos” é? Eu ri da minha piada interna, mesmo que ela não seja exatamente uma piada, mas não deixa de ser engraçado, pensar que o Brian sempre acaba corando feito uma menininha perto dos meus "irmãos".

- Vão logo ou vão se atrasar – Logo o Kris repreendeu a gente, e eu me vi obrigada a abandonar minhas panquecas e sair correndo com o Brian dali, e pra melhorar minha vida ele ainda estava reclamando que poderia ter comido mais panquecas se eu não fosse tão desorganizada, eu juro que nunca mais fico assistindo filmes com o Kris até tão tarde da madrugada, já que aquele ingrato não teve a decência nem de me acordar cedo.

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